CENAS DE UMA DITADURA - 09 - "SOU ESPÍRITA!"

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  • segunda-feira, 13 de junho de 2011
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  • -“Sou espírita!!”

    Disse com voz firme ao Irmão Reitor dos Maristas de Varginha, MG, onde estudava interno em 1962.

    Nem era espírita, mas detestava ter que acordar às seis da manhã e ir à missa antes sequer do café. Uma ladainha em latim, no frio matinal  de Varginha, sob a rígida vigilância de  todos os Irmãos.

    Então achei uma solução para não ir: proclamar-me espírita, e invocar meu direito constitucional.
    Isto aos 14 anos.
    A Escola acatou, mas me acordava do mesmo jeito e me deixava sozinho do lado de fora da capela até a missa acabar. Pior a emenda que o soneto.

    (Retorno a 1962 para até eu mesmo entender como começou minha  militância política.).

    Com essa coisa de proclamar-me espírita, não bastava ser espírita, tinha que parecer espírita. 
    Aos domingos o Colégio me liberava para ir ao culto espírita. Onde? Eu, vindo do Rio, estudando interno numa cidade mineira...mas eu tinha que ir...agora era manter minha conquista libertária de fugir do latinório.

    Acabei encontrando pessoas espíritas na cidade. Senhores idosos, todos maçons,  que estavam tentando reconstruir e reabrir o Centro Espírita Humildade e Caridade, na Rua Rio de Janeiro. Por sinal a mesma rua da luz vermelha: a Zona de Meretrício. A Luz vermelha eu não sei, mas o Centro continua lá até hoje. Inclusive com a farmácia para pobres, que criei.

    Juntei-me  a eles,  e era o caçula da turma.

    Todos os domingos lá ia eu,  e muitos mais,  levar alimentos doados aos pobres da cidade. O que havia sido um ato de rebeldia contra a  o ritual católico transformou-se na minha primeira ação social coletiva.

    Afinal, Centro pronto, reinaugurado, eu era jovem demais para fazer parte da Diretoria. Fui eleito Presidente da Mocidade Espírita de Varginha, e por conseqüência  membro da Diretoria Regional da Mocidade Espírita de Minas Gerais.

    Que situação! Mas era um aprendizado. Comecei ali a tomar conhecimento da miséria que nos cercava.

    Até que num domingo, caminhando pela Praça do Cemitério, fui abordado por dois cidadãos: Garrone e Célio Segundo Salles . Disseram que me observavam, de longe, que compreendiam meu altruísmo mas que eu precisava saber  que havia formas mais profundas de se combater a miséria e a fome. Que havia um país no mundo onde a miséria havia acabado... e que o Homem podia resolver a História sem precisar de Deus...e deram-me para ler o livro “Dois Mundos” que relatava como era a União Soviética.

    Pinóquio estava sendo levado, seduzido, ao Circo do Strombolli. Mal sabia eu...

    Agora sim, no próximo post:  “O MOVIMENTO D E LIBERTAÇÃO DE VARGINHA”
     
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