CENAS DA DITADURA - 05 - "O INCÊNDIO NO "APARELHO""

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  • domingo, 5 de junho de 2011
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  • Durante a semana foram rodados as centenas de manifestos da "Frente de Esquerda Revolucionária" – FER .


    Ficaram guardados na minha casa. Um apartamento onde eu morava com meu PAi, no Rio, após a morte da minha mãe.  Guardados no forno de um fogão 4 bocas.

    Naquela noite de sábado, com meu pai viajando, este “revolucionário” que vos escreve, misto de profissional da luta com adolescente porra-louca, passou a ferro  a calça Levis branca, e partiu para uma farra orgíaca nas areias da Praia da Boa Viagem em Niterói.
    Mas, oh, desleixo da juventude: esqueceu o ferro elétrico ligado.

    Ao  voltar -   com a aurora -  deparo-me com a cena: guardas civis  à porta do apartamento. Dona Therezinha, a vizinha da LBV foi logo me avisando:
     -“Pegou fogo na sua casa”.

    Quis entrar, um guarda me impediu.
    -“Estamos aguardando a chegada de outros policiais”.
    Mas um dos guardas falava comigo, em tom de brincadeira, usando o yorubá como linguagem. Eu sequer entendia o que falava, mas deduzi que a merda estava feita e que ele queria me avisar.
    Pedi ao menos para entrar e pegar um casaco, pois estava frio. Eles confabularam, e o tal que falava uma língua estranha  me deu cobertura dizendo ao outro:
    -“Ele é de menor...o negócio não é com ele... Pode entrar. Mas não mexa em nada.”
    Entrei e  vi nosso “produto revolucionário” espalhado por toda a mesa da sala e pelas poltronas: centenas de  folhas com o título da FER.

    Como o apartamento estava vazio na hora do fogo, os bombeiros reviraram tudo, inclusive o fogão para evitar explosão, e deixaram para o botim policial, os manifestos.
    Disse aos guardas, quando percebi o “crime” exposto:
     “- Vou ali na padaria comprar pão, querem?”.
    E fugi da cena, da Ilha, e da legalidade.

    Meu pai  chegou de viagem , em casa , mais tarde e foi imediatamente preso pelos agentes do DOPS, levado para a Rua da Relação,  como “perigoso subversivo”. Coitado, logo ele que sequer sabia do que se passava e que jamais havia se metido com a resistência à Ditadura. Imaginem o choque .

    Para a polícia estava claro que o “criminoso” era ele, não poderia ser o jovenzinho inocente da foto ao lado.

    Próximo, “ÁRABES CLANDESTINOS, A POLOP, OS MICHÊS,  E EU”.

     
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