LÊNIN ANTECIPOU O WIKILEAKS

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  • domingo, 12 de dezembro de 2010
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  • Diplomacia Exposta


    "Inaugurar pactos de paz, depois dos quais não deverá haver acordos diplomáticos secretos, mas sim uma diplomacia franca e sob olhos públicos."  (Primeiro os 14 pontos do presidente Wilson, 1918)


       No alto verão de 1914, milhares de europeus de idade variada apresentaram-se voluntariamente às juntas de alistamento militar. Por todo o lado sentia-se uma euforia patriótica que fez com que a guerra que se avizinhava fosse a mais popular da história do ocidente. Estavam exultando em poder disparar uns contra os outros naquilo que foi provavelmente o maior surto de estupidez coletiva do mundo contemporâneo.
       No entanto, todos tinham motivos nobres para pegar em armas. A causa, acreditavam, era nobre: defender a pátria. E, se for preciso, morrer por ela.
       Até os partidos da 2ª Internacional Socialista que juraram fazer uma greve geral contra a guerra sucumbiram à maré belicista, votando nas verbas necessárias para municiar os exércitos e as marinhas. Somente um minúsculo grupo de exilados russos, liderados por Lênin, então um desconhecido que vivia em Berna, na Suíça, não se deixou seduzir pelo clamor sanguinário. Em setembro de 1915, reunido em Zimmerwald com outros socialistas, ele defendeu a tese de que "a guerra imperialista deveria se tranformar em guerras civis", para por abaixo a ordem reinante. Mas foi uma declaração inócua.
       Dois anos e dois meses depois, Lênin e os bolchevistas tomavam de assalto o poder na Rússia enquanto o czarismo ruía estrepitosamene. Seu primeiro movimento foi tirar o país da guerra e fazer a paz.
       De qualquer modo, a Rússia, exausta e com o exército amotinado, não podia mais continuar enfrentando as potências centrais (impérios Alemão e Austro-Húngaro).
       Deu-se, então, que os aliados ocidentais (Grã-Bretanha, França e EUA) jogaram todo o seu peso no sentido de evitar isso. Precisam do soldado russo no front leste para fixar parte dos alemães por lá. 
        A resposta de Lênin foi a publicação dos "documentos secretos" encontrados no cofre do Ministério d Exterior russo e imediatamente publicados no jornal Yzvestiya entre 10 e 23 de novembro de 1917. Foi a maior exposição até então conhecia das vísceras de um Estado.
       Lá estavam as provas de que a matança que havia devorado 16 milhões de vidas não tinha nada a ver com "defesa a pátria", mas era um vergonhoso jogo de toma-lá-dá-cá de territórios acertado entre os chefes de Estado das potências. a guerra, enfim, fora travada com fins imorais!
       O Presidente dos Estados Unidos, W. Wilson, um sincero idealista, dada a repercussão do episódio, terminou por colocar nos seus Quatorze Pontos (apresentados ao Congresso e 8 de janeiro de 1918 o compromisso de abolir com a diplomacia secreta como proposta futura a ser seguida por todas as nações.
       Agora, no caudal da guerra americano-afegã, assistimos outra vez à divulgação de uma massa impressionante de de "documentos secretos" pelo WikiLeaks, que de certo modo cumpre com o programa do presidente Wilson que desejava arejar as relações entre os Estados . Só que os tempos do idealismo foram-se há muito tempo com a morte dele.
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    O artigo acima, do prof. Voltaire Schilling, publicado na imprensa portoalegrense no dia 07 do corrente, mostra que os americanos se lixaram para as idéias do presidente Wilson, mas também demonstra que a atitude de Lênin (aliás também esquecida pelos seus sucessores) antecipou a imperiosa necessidade de que os negócios públicos, inclusive os que dizem respeito às relações internacionais, devem ser trazidos ao conhecimento dos cidadãos, única forma de promover o controle social sobre os todos os governos e evitar as aberrações que custaram, ao longo da história, milhões de vidas.

     
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