Laerte Braga
A escolha dos presidentes da Câmara dos Deputados e Senado Federal, historicamente, tem obedecido ao critério de proporcionalidade das bancadas. Não é um modelo, digamos assim, que se restrinja ao Brasil, mas a vários países do mundo onde não exista o bi-partidarismo. Simples. Com dois partidos o majoritário indica os presidentes das duas casas.
Num modelo partidário como o que temos o que se faz é colocar as bancadas na balança e compor as mesas diretoras de acordo com peso de cada uma, mas sempre através de acordos, nunca de imposições.
Severino Cavalcanti, recentemente, atropelou esse processo e se elegeu presidente da Câmara derrotando o petista Virgílio Guimarães. O próprio Aécio Neves rompeu esse critério contra Inocêncio Oliveira, acordo entre as bancadas e candidato oficial de FHC. Venceu. Mas mesmo assim, diferente de Severino, buscou equilibrar a sua chapa observando o critério da proporcionalidade.
Não há sentido em falar na candidatura do senador eleito Aécio Neves para a presidência do Senado por conta da votação que obteve em seu estado, ou como compensação para o PSDB derrotado nas urnas nas eleições de 2010.
Se for para ser levado em conta o percentual de votação do mais votado para o Senado, ou para a Câmara, Tiririca terá que ser o presidente da Câmara. Aécio no Senado, Tiririca na Câmara.
Tem dois lados essa manobra, ou esse balão de ensaio. O primeiro deles é colocar o senador eleito por Minas na condição de uma das vestais do poder Legislativo, um cargo chave e facilitar a construção efetiva de sua candidatura presidencial em 2014. É não pensar no Brasil e apenas num projeto político pessoal, no máximo de uma ou duas regionais do seu partido.
Outro lado é a tentativa de colocar na presidência do Senado um líder da oposição ao futuro governo Dilma Roussef e para isso Aécio joga com um fator importante. Dilma vai ter que se desdobrar para montar o Ministério dentro do leque partidário que a elegeu (O PMDB tem um apetite pantagruélico) e segurar os que eventualmente não tenham sido contemplados.
Na prática é a exibição pública da falência do modelo político brasileiro.
Terminada uma eleição já se começa a trabalhar para outra, buscando criar dificuldades para o vencedor.
São os tais patriotas.
PT e PMDB devem decidir junto com os demais partidos da coligação que elegeu Dilma Roussef os nomes que vão presidir a Câmara e o Senado. O PSDB é oposição, minoria e não creio que neste momento Aécio tenha essa bola toda, mais ou menos a de assumir a posição de condestável da República.
O peso da oposição tanto na Câmara como no Senado servirão para definir eventuais e proporcionais cargos nas respectivas mesas diretoras.
Noutro plano o senador eleito por Minas Gerais mostra-se disposto a enfrentar desde agora o problema Geraldo Alckimin. A seção paulista do PSDB não desistiu de tentar retomar o controle do Brasil e o governador eleito de São Paulo pode vir a ser o nome do esquema Serra/FHC para as eleições de 2014.
Esse é o pulo do gato.
No meio dessa embrulhada toda, que é meramente tucana, a perspectiva é que Aécio saia do PSDB e funde um outro partido, seria mais ou menos a trajetória de Collor, que sem respaldo nos grandes partidos fundou o seu PRN – PARTIDO DA RECONSTRUÇÃO NACIONAL – e deu no que deu. A candidatura à presidência do Senado junta tudo isso num balaio só.
A voracidade com que Aécio se atira – sempre através de alguns “amigos” – à busca de posições no centro do palco sugerem que o mineiro esteja mais para qualquer outra coisa que político mineiro. A não ser que tudo não passe de jogo de cena, ou Aécio esteja apenas se colocando dentro do seu partido. Quem sabe avisando a sua saída?
Chegou a dizer isso antes das eleições.
Um professor do ensino fundamental em Minas Gerais recebe pouco mais que 900 reais de salário. O tal choque de gestão de Aécio foi uma extraordinária máquina publicitária em torno da imagem do então governador, neto de Tancredo Neves, nada além disso. “Aécio é neto e não Tancredo”, a afirmação foi feita várias vezes por FHC.
A saúde em Minas, depois de quase oito anos de atuação do secretário Marcus Pestana (eleito deputado federal na base de ambulâncias) é um setor privatizado em função de empresas de amigos tucanos, muitas das quais onde o próprio ex-secretário se faz representar por laranjas.
Aécio é uma dessas balelas muito bem vendidas por um forte esquema publicitário e não leva em conta que os estragos de oito anos de nada, mas muros pintados como se tudo tivesse sido feito, terão que ser organizados agora por Antônio Anastasia, um sujeito que entre outras coisas foi o responsável pela criação do fator previdenciário, ou seja, aquele que liquidou com as aposentadorias e pensões no Brasil (era assessor de ministério de deputados e senadores no Congresso Nacional Constituinte, o que à época se chamou CENTRÃO).
No caso específico das eleições em Minas a ordem do bom senso era correr do cruz credo e o cruz credo tanto era o senador Hélio Costa, como o governador Anastasia. Uma constatação que é possível não existir o menos pior.
E de quebra ainda levaram para o Senado o patético Itamar Franco. Um projeto pessoal e mais nada.
O ex-quase prefeito de Aracaju.
A preocupação de Aécio é também a de sumir na poeira em meio a outros senadores. Deixa de ser o número um de um importante estado da Federação, Minas e virar um entre oitenta e um senadores.
O Senado, com um ou outro momento de exceção, via de regra escândalo, além de ser um clube de amigos e inimigos cordiais é uma igreja com sino de madeira. Bate bate e não ecoa. Só nos escândalos.
Aécio precisa de eco para sua movimentação.
Sugiro mandar um currículo para a GLOBO e candidatar-se ao BBB-11, ou tentar uma telenovela da mesma rede.
Ou quem sabe tomar posse com a clássica melancia pendurada no pescoço.
São alternativas para manter-se na ordem do dia, ecoar em todo o Brasil e tentar manter-se vivo tanto dentro do PSDB, como no cenário geral da política.
Essa gente não absorve derrota, não tem características democráticas, são filhos de elites políticas que dominam o Brasil desde Cabral, só pensam em eleições e conquistas de poder, nada além disso.
Se a coisa aperta têm sempre pronta uma frase de efeito, uma aparente saída digna.
Mas o professor mineiro continua ganhando salário de fome no milagre que chamam de “choque de gestão”.
Há anos atrás havia a mania de faquires. Um brasileiro de nome Silki, se exibia em várias cidades do País e chegou a bater o recorde de dias em jejum, recorde mundial. É uma alternativa, quem sabe?
Pode entrar para ao OPUS DEI também. A turma está louca para tomar o poder no Brasil e reviver a Idade Média. É uma opção.