Serra em intercurso com a extrema direita

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  • quarta-feira, 20 de outubro de 2010
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  •  Por Saul Leblon no Blog das Frases da Carta Maior

    Como um picollo Fausto, Serra emprestou sua candidatura à ressurgencia da extrema direita na vida política nacional. A desesperada tentativa de derrotar a esquerda da qual ele já participou um dia não observa mais qualquer concessão à ética e à própria biografia. Assiste-se a uma entrega constrangedora. “Obsceno” resumiu a professora Marilena Chauí, no ato dos intelectuais e artistas em apoio a Dilma Rousseff, realizado segunda-feira, no Rio. A filósofa exibia uma propaganda do tucano, assinada por ele, ilustrada com a frase bíblica : "Jesus é a verdade e a vida". "Isso é religiosamente obsceno. É politicamente obsceno... É uma violência contra o ecumenismo religioso”, fuzilou a professora Chauí.

    Nada demais para Serra, cuja hipocrisia se despiu na figura da esposa, Monica, que saiu do anonimato para a história como dublê de Regina Duarte nessas eleições. Psicólogoa e bailarina, em 1992 ela narrou às alunas um aborto feito em condições difíceis, mas não hesitou em sair às ruas dos subúrbios do Rio para acusar a candidata petista de ser a favor ‘de matar as criancinhas’. É esse o diapasão do tudo ou nada a que se entregou a sobra daquilo que foi um dia o projeto social-democrata do tucanato paulista.
    A poucos menos de duas semanas das eleições, Serra terceirizou sua candidatura a forças e apelos obscurantistas em busca do voto do medo e do reacionarismo quase caricatural. Não há constrangimento no seu olhar. Ao contrário, quando ganha pontos na pesquisa, Serra demonstra a felicidade dos traidores, aquele lampejo de ‘deu certo’, logo, a vitória legitima qualquer coisa. É assim que tem se esponjado, entre engolir hóstias sem fé e chafurdar no lamaçal de água benta falsificada atulhado de detritos históricos que ameaçam ressuscitar o que há de pior na política nacional. Os ataques ao Programa Nacional de Direitos Humanos que envergonham até tucanos históricos, como Paulo Sergio Pinheiro, consolidam seu nome como um assustador cavalo-de-tróia da brasa-dormida do fascismo herdeiro de Plínio Salgado. O pior é que não há aqui qualquer força de expressão. Kelmon Luiz de Souza, responsável pela encomenda de 20 milhões de panfletos que simulam chancela da CNBB para ataques tucanos a Dilma, tem um cartão de visitas que não deixa margem a enganos. Assessor de Dom Bergonzini, bispo de Guarulhos, da ala direita do clero que seria o ‘mandante-laranja’ da encomenda, Kelomon tem outras ocupações não menos esclarecedoras. Ele divide o seu tempo entre os afazeres na sacristia de Guarulhos e a presidência da Associação Theothokos, uma ONG ligada a setores de ultradireita da Igreja Ortodoxa, cujo portal está registrado em nome da Casa de ‘Plínio Salgado, o aspirante a Hitler nativo dos anos 30/40.

    Não para aí o intercurso da candidatura Serra com a regressividade moral e política. A gota d'água que multiplica reações –atos e manifestos-- de repulsa e espanto na academia em relação a sua candidatura foi a revelação recente de que uma dos provedores de ‘conteúdo’ dessa engrenagem que expele calúnias e extremismo fascista pela Internet , sediado em Brasília, chama-se Nei Mohn, nada menos que o presidente da "Juventude Nazista" em 1968. [leia em Carta Maior: "Dilma é alvo de grupos de extrema-direita e neonazistas"]. Informante do Cenimar, Mohn tem uma ficha corrida que detalha a especialidade dos seus serviços, entre eles atentados a bomba, na década de 80, mas, sobretudo, a falsificação de informações para denegrir a reputação de religiosos que denunciavam torturas, assassinatos e desaparecimentos. Trata-se de um talento familiar que se transfere de pai para filho. Seu filho, o advogado Bruno Degrazia Möhn trabalha para um grande escritório de advocacia de Brasília contratado para prestar serviços a Daniel Dantas, cuja irmã foi sócia da filha de Serra em polemica empresa de serviços registrada em paraísos fiscais. São coincidências demais para serem apenas coincidências. Tudo indica que não há improviso nesse processo. Assim como a gráfica que rodou panfletos contra Dilma pertence à irmã de um dos coordenadores da campanha de Serra, o mesmo provedor que hospeda o site do candidato [Newssender/Locaweb Serviços de Internet S/A] está integrado à rede de boatos contra Dilma, coordenada pelo assustador braço do ex-agente da Cenimar.

    Evidencias desse tipo, de que uma coalizão de direita e extrema-direita tomou de assalto a candidatura demotucana com o beneplácito de seus principais personagens, incluindo-se o candidato e a esposa, embaraçam amigos e conhecidos e explicam o mal-estar que tende a se espalhar na academia. É esse mal-estar que tem gerado uma benigna resposta na forma de manifestos e atos de apoio a Dilma que se multiplicaram nos últimos dias. A letargia que predominou nos meios intelectuais durante boa parte do processo eleitoral parece ter se esgotado diante dos riscos À democracia e à dignidade do país embutidos no vale-tudo da coalizão demotucana. É esse movimento que tende a tomar conta do espaço político até 31 de outubro, consolidando uma linha divisória expressa no título do mais recente manifesto lançado na academia. Nascido na Unicamp –onde Serra deu aula— o texto abre com um resumo do estado de espírito que se generaliza nos meios intelectuais de todo o país: “Porque Dilma sim; porque não Serra”[leia neste blogue esse e outros manifestos e atos de apoio a Dilma].
     
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