Entrevista: Álvaro Uribe

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  • segunda-feira, 26 de julho de 2010
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  • O Globo - 26/07/2010

    Poucas horas antes de estourar a mais nova crise diplomática envolvendo as relações de seu país com a vizinha Venezuela, o presidente colombiano, Álvaro Uribe, recebeu a reportagem do jornal de Bogotá "El Tiempo", para fazer um balanço de seus oito anos de mandato. Uribe não esconde a frustração com o alto número de assassinatos e o que considera ameaças vindas do país vizinho. Segundo ele, o celular será um trunfo na busca por mais segurança na Colômbia.


    Do El Tiempo

    De qual momento do seu mandato o senhor mais se orgulha presidente?

    URIBE: Esta tarefa pela Colômbia é de muita responsabilidade, cheia de dificuldades. Houve momentos de felicidade: quando se resgatam sequestrados, quando as operações correm bem.

    Acabamos de ver uma fotografia em que o senhor está chorando. Isso aconteceu muitas vezes nestes oito anos de governo?

    URIBE: Que as câmeras tenham me flagrado, uma ou duas vezes.

    Como foi?

    URIBE: Tenho que confessar que às vezes era incontrolável. Por exemplo, quando voltei do Club El Nogal (na noite do atentado das Farc que deixou quase 40 mortos, em fevereiro de 2003). Chorei muito, sentia dor pelos assassinatos e raiva dos terroristas.

    Há muitos anos o senhor sabe em que lugar da Venezuela estão os líderes das Farc. O senhor sai do poder desolado por não tê-los capturado?

    URIBE: Não entendo por quê, existindo tanta clareza nas normas do direito internacional, esses terroristas não foram capturados. Vou embora triste por eles seguirem com a capacidade de fazer danos a outro país.

    A Colômbia deve renunciar ao ataque a líderes guerrilheiros que estão no exterior?

    URIBE: A prioridade sempre deve ser a aplicação das normas do direito internacional. Um bombardeio como o realizado contra (Raúl) Reyes (membro do secretariado das Farc, morto em 2008) é um ato de um "Estado de necessidade" para defender o povo colombiano, mas não é aconselhável, por ser propenso a uma má interpretação. Quando se quer proteger o povo colombiano de um terrorista, damos a má interpretação de que se está maltratando o território de um país irmão. Nosso interesse nunca foi maltratar o povo irmão do Equador.

    O senhor põe na balança o êxito político interno do ataque a Reyes e o déficit gerado por este episódio na política externa?

    URIBE: Não, nunca faço estes cálculos. Quando se está trabalhando pelo bem da pátria, só se pensa no interesse superior de seus compatriotas. Neste caso, poderia ter superado as dificuldades diplomáticas pedindo renúncias de militares. Mas o que acontece com a vontade das Forças Armadas em lutar contra o terrorismo, se o presidente não assume responsabilidades e trata os militares como fusíveis que se queimam e devem ser retirados, como forma de evitar dificuldades políticas?

    Qual é o número mais importante que o senhor deixa ao país?

    URIBE: Não me preocupo com os bons números. Só me angustio pelos que foram maus.

    Quais, presidente?

    URIBE: Por exemplo, o fato de ainda termos mais de 15 mil assassinatos. Quis chegar a um índice de desemprego inferior a 8%, e estávamos perto disso, mas vieram duas crises, uma na economia internacional, e a crise particular com a república irmã da Venezuela. E logo quando o desemprego caía - já havia baixado para 10,7%! Parou em 12%.

    O senhor será prefeito de Bogotá? Estará no gabinete de seu sucessor?

    URIBE: Vou ser cooperador. (...) Vou pedir permissão ao presidente Santos para ser cooperador, mas usando apenas um celular. Trabalhar com a Força Pública e ajudar-lhe, ao mesmo tempo, a desarmar a sociedade.

    O celular, então, será a nova arma para buscar a segurança?

    URIBE: Nas cidades em que a telefonia está bem organizada, com as linhas disponíveis para chamar a Força Pública, o celular ajuda muitíssimo. Se cada cidadão se compromete a ajudar, e se houver zelo para responder, as coisas podem melhorar muito.

    O que o senhor faz pelo celular: busca informação, lê?

    URIBE: Tenho Twitter. Por enquanto ainda me ajudam com o site.

    O senhor envia muitas mensagens pelo celular?

    URIBE: Sim, claro. Creio que não são menos de 150 por dia.

    Pessoalmente?

    URIBE: Sim. Quero cobrar eu mesmo o governo. Não tenho mexido no correio eletrônico. Faço tudo por mensagem de texto e chat. E também me propus a responder aos telefonemas que chegam a mim. Tenho que reservar um tempo estes dias, porque estou com atraso de mais de 80 ligações. No dia 8 de agosto, quero dizer: até ontem, quando fui presidente, procurei responder todas as chamadas.

    * O "El Tiempo" faz parte do Grupo de Diários América (GDA)

     
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