E agora, José?

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  • sexta-feira, 25 de junho de 2010
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  • A pergunta que não quer calar: E agora, José?

    do Vermelho

    Quando escreveu a poesia “José”, na década de 40, Carlos Drummond de Andrade obviamente nem desconfiava que um dia ela serviria como uma luva para ilustrar a conjuntura política brasileira. Este dia chegou ontem (23), com a divulgação da pesquisa Ibope que mostra o presidenciável da oposição de direita, José Serra (PSDB), em situação periclitante, com cinco pontos de desvantagem sobre Dilma Rousseff (PT), sua principal adversária na corrida presidencial.

    Em maio, quando consolidou-se a ascensão de Dilma nas pesquisas, a oposição minimizou o fato dizendo que o crescimento da petista deveu-se à exposição dela na propaganda partidária na TV e que o mês seguinte, junho, seria o “mês de Serra” pois o PSDB, o DEM, o PTB e o PPS exibiriam suas propagandas na TV tendo o presidenciável tucano como ator principal.

    “Maio é o mês da Dilma. Junho será o nosso mês”, afirmou o presidente nacional do PSDB, Sérgio Guerra, no dia 24 de maio. Na mesma ocasião, Guerra disse que “no momento em que alguém tem uma movimentação intensa nos meios de comunicação, é evidente que vai levar vantagem” e ainda reafirmou que a estratégia de campanha de Serra estava correta e não seria alterada.

    Alguns dias depois, no início de junho, uma reunião da cúpula tucana foi convocada pelo ex-presidente FHC para cobrar mudanças nos rumos da campanha. Aécio Neves pediu ao colega paulista que fosse mais agressivo com a adversária petista e os aliados sugeriram que Serra centralizasse menos a campanha, especialmente na escolha das agendas, acelerasse a escolha do vice e desse mais atenção à montagem dos palanques regionais. As recomendações tinham como objetivo garantir que junho seria mesmo o “mês de Serra’, como havia previsto Guerra. Mas não foi.

    Junho está acabando, os partidos da direita pró-Serra cumpriram o prometido e violaram a lei eleitoral para colocar o tucano como ator principal de seus programas na rádio e na TV. Serra seguiu parte das recomendações dos aliados. Mesmo assim, o dado concreto até agora, trazido pela pesquisa Ibope de ontem (23), mostra que nada adiantou. Dilma continua subindo (está com 40% dos votos, tinha 37% na pesquisa anterior) e Serra continua caindo (está com 35%, tinha 37 antes).

    A oposição foi pega de surpresa pelo resultado da pesquisa. Sérgio Guerra chegou a colocar em dúvida os dados do Ibope. Alegou que pesquisa interna do PSDB mostra números mais favoráveis a Serra.

    A frustração oposicionista recoloca a questão sobre os acertos e desacertos da estratégia de campanha tucana. Depois de ensaiar elogios ao governo e depois recuar, alterando o tom para um discurso mais agressivo contra Dilma e o PT, restam poucas alternativas a José Serra a não ser construir novas lendas como a de que a campanha mesmo só começa depois da Copa, ou de que nos debates ele irá superar Dilma e reconquistar o eleitorado.

    Porém, o Ibope mostra que é cada vez maior o eleitorado que está decidido a votar na candidata que dará continuidade ao governo Lula. E uma parcela dos votos que Serra tem hoje vem justamente de pessoas que ainda não sabem que Dilma é esta candidata. O tucano lidera apenas no Sul e entre os mais ricos.

    Até mesmo em São Paulo, reduto eleitoral do tucanato, Serra começa a patinar. Isso sem falar em Minas Gerais –citada na poesia de Drummond– onde Aécio parece pouco disposto a trabalhar em prol do ex-governador paulista.

    Diante deste quadro desanimador, o que Serra poderá fazer para tirar votos de Dilma e recolocá-los em sua cesta? Esta é uma pergunta que a coordenação da campanha tucana está aflita para responder.



    O jornal Valor Econômico traz, nesta quinta-feira, matéria na qual questiona se os tucanos estariam dispostos a seguir o exemplo de Alckmin em 2006 e passar a bater mais duro no presidente Lula mesmo sabendo que, hoje, Lula desfruta de uma popularidade muito maior do que tinha há quatro anos.

    O jornalista Luiz Gonzalez, marqueteiro de Serra, é contrário a campanhas com ataques a adversário, que considera improdutivas. Serra também, mas o fato é que o tucano vem lentamente elevando o tom das críticas ao presidente. Na convenção de Salvador ele cunhou a frase: “Luis XIV achava que o Estado era ele. Nas democracias e no Brasil, não há lugar para luíses assim”.

    “Serra procura demonstrar convicção sobre a linha escolhida. Mas a campanha tucana, em junho, esteve permeada de assuntos negativos. A demora na escolha do candidato a vice na chapa do PSDB, por exemplo, indica insegurança e dificuldades internas para a definição do nome. Serra prefere fazer de conta que se trata de uma aflição de jornalistas, mas o fato é que o debate alimenta o noticiário negativo sobre a campanha. A pesquisa também atrapalha as últimas conversas sobre o vice e sobre a montagem dos palanques regionais – Serra entra mais fraco do que estava nas negociações”, avalia o Valor, que cita ainda várias outras “derrapadas” do candidato tucano.

    O jornal O Estado de S. Paulo também questionou a estratégia atual de Serra. Em editorial, afirmou que “para continuar a ter chances, Serra precisará encontrar um novo discurso e uma nova estratégia de campanha… Fora disso, só lhe restará esperar por um erro da adversária… Se quiser ganhar, Serra vai ter que partir para o ataque”.

    Resta saber se o tucano vai seguir o script desenhado pela mídia aliada. Até o momento, parece disposto a não mudar uma vírgula em sua estratégia errática de campanha. Mas é provável que nem ele mesmo tenha certeza do que fazer. Pensando com seus botões, deve estar repetindo a pergunta de Drummond: “E agora, José?”

    Da redação,

    Cláudio Gonzalez

    texto surrupiado do Vi o Mundo



    Dilma cresce com rejeição a Serra

    Por Fabricio Vasselai

    Caro Nassif,

    Ainda sobre a pesquisa IBOPE, gostaria de fazer alguns breves comentários a partir de análise que fiz para um grupo de estudos que acompanha pesquisas opinião eleitoral.

    1) embora concorde com sua avaliação sobre a saturação de imagem de Serra, não creio que era exatamente a isso que Coimbra se referia em seu texto, mas sim a algo até mais simples: se aparição na TV ajuda candidato porque o torna conhecido, alguém como Serra que vinha se beneficiando do chamado "recall" (fato de já ter sido candidato ao cargo) acaba não se beneficiando da exposição nas mídias. Daí que no meio das pesquisas já se soubesse antecipadamente que as propagandas de PSDB, DEM e PPS de nada ajudariam Serra, ao contrário das expectativas por parte da imprensa torcedora.

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