MAU EXEMPLO DE SERRA

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  • domingo, 30 de maio de 2010
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    Por Sitônio Pinto  (o criador do "Lula lá" )
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    O que terá levado o bibliotecário William Rodrigues Marques a se fantasiar de estudante de Medicina, e, assim caracterizado, deambular pelos jardins da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre? Ele estava vestido com a bata dos cirurgiões, e passeava por onde não devia: o lado de fora, área de acesso vedado às equipes de cirurgia em uniforme de campanha, devidamente esterilizadas para suas intervenções.
    Que dizer: William foi pego não porque entrou, mas porque teria saído. Os cirurgiões não podem sair, e William queria sair fantasiado de cirurgião nesse período pré-carnavalesco que antecede a Copa dos Mundos. Ele veio de longe, desde Manaus, para ser preso em Porto Alegre, onde estuda biblioteconomia. Não se contentava em ser um aprendiz da gerência dos livros. Ele queria ser médico, ou acadêmico de Medicina, profissão preferencial da maioria dos jovens brasileiros -- que não se contentam em ser técnicos ou bacharéis noutros ramos do conhecimento menos prestigiados pela sociedade.
    O falso brilho dos anéis seduz o jovem que não se conforma em ser operário, comerciário, agricultor, num país onde não se dá valor às profissões trabalhadoras. Quase todos querem ser doutor, mesmo que a pedra do anel tenha o brilho pobre das crisólitas. Não se dão conta que os atuais Presidente e Vice-Presidente da República não tenham títulos e anéis, e conduzido bem o País. Na primeira vez em que foi diplomado Presidente, o operário Luiz Inácio disse que aquele era o primeiro diploma que recebia na vida.
    Poucos jovens se lembram disso, ou eram meninos quando o Presidente disse isso, soluçando, as lágrimas molhando o papel. Preferem seguir o exemplo de um certo Serra, ex-governador de São Paulo, que também galgou esse alto posto sem bacharelado: mesmo gestor do estado mais rico do Brasil, Serra não se conformava em não ter um diploma de bacharel e propalava, aos quatro ventos dos sete mares, que era economista e engenheiro. Podia até ter dito mais, pois foi ministro da Saúde sem ser médico, como William queria ser.
    Esse é um mal que assola o País: ninguém quer ser trabalhador, só quer ser doutor. Como se o doutor não fosse um trabalhador. Um veste macacão; outro, o jaleco de cirurgião – que lhe dá acesso ao bloco cirúrgico, mas não aos jardins da Santa Casa. Se William estivesse envergando um macacão, poderia ter andado pelos jardins suspensos do Hospital, pois é livre a circulação em território nacional em tempo de paz. Aliás, ele ainda pode alegar isso em sua defesa. Atribuíram-lhe o crime de falsa identidade; outro não podiam, pois ele não cobrou por serviços nem prometeu cura por vantagem econômica.
    O jovem William apenas seguiu o mau exemplo de um certo Serra, candidato a presidente da República, que diz ser formado em economia, pensando, com isso, seduzir o eleitor brasileiro – que nas duas últimas eleições preferiu um auto-didata. Pois já basta de doutores que garatujam suas receitas para esconder, nos garranchos mal-traçados, seus erros de português, escritos no jargão da ignorância.
    Nove entre dez brasileiros aprovam Lula – que não é doutor, mas torneiro-mecânico, e quer Dilma, mulher de aço, para substituí-lo na oficina Brasil.
     
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