por Maneco
Pode ser que tenha sido o famoso “balão de ensaio”…Em todo o caso, dias atrás, a colunista Rosane Oliveira, de ZH, lançou nota aventando a possibilidade de Fernando Lemos, atual presidente do Banrisul, ser nomeado para a vaga de João Carlos Bona Garcia no Tribunal de Justiça Militar. Seria uma premiação a Lemos pelos serviços prestados ao projeto de governo de Yeda. Foi Lemos, é sempre bom lembrar, que conduziu a venda das ações do Banrisul. Mais: Lemos esteve no centro de um dos muitos bate-bocas entre a governadora e seu vice Paulo Feíjó. À época, Feijó denunciou publica e formalmente a gestão que Lemos comandava no Banrisul. Mas mantendo Lemos, Yeda garantiu ao seu combalido governo o significativo apoio do senador Pedro Simon, padrinho político do rapaz.
Não é pouca coisa. Simon, ao lado do deputado federal Eliseu Padilha, é uma das mais influentes lideranças do PMDB gaúcho. E Yeda precisava desesperadamente manter o partido na sua base de apoio. O tempo provou que a governadora, outrora tão inábil na condução política, jogou bem ao não se incompatibilizar com o PMDB. Os votos peemedebistas de Alceu Moreira, Gilberto Capoani, Fernando Zachia e outros, foram fundamentais para sepultar as investigações sobre os vários casos de corrupção denunciados no governo tucano. Foram também essenciais para impedir que o processo de impeachment de Yeda tivesse prosseguimento.
Mas na política não há inadimplência. Quem faz conta, tem que pagar. Ao colar sua imagem à de Yeda, Simon praticamente incinerou sua fama de político intrasigentemente ético. Experiente como é, o senador sabe o peso de uma decisão assim. Por que então, sujeitou-se a todo o tipo de crítica? Logo ele, que auto-reivindicava a fama de “derrubador de ministros”?
A explicação pode estar na importância de manter ao alcance das mãos o controle do Banco do Estado do Rio Grande do Sul. Como diria um gaiato gaudério: “É bom este Banrisul, hein?”. O fato é que mesmo denunciado por Feijó e mesmo custando ao senador Simon um grande naco de sua fama de ético, Fernando Lemos segue na presidência do banco.
Só que agora, com José Fogaça definido como candidato à sucessão de Yeda, é inevitável que o PMDB descole do governo tucano. Mesmo que isto não seja, de fato, possível, ao menos para efeito de aparência, o gesto será necessário. E em o PMDB saindo, lá se vão os cargos de confiança que o partido detém na administração.
No segundo escalão e até no secretariado, isto se resolve na política. Mas e Lemos? O que fazer com ele? O furo neste caso, sabem todos os tucanos e peemedebistas, é bem mais embaixo. É aí que surge o tal “balão de ensaio”. Algum iluminado deve ter sugerido: - E se ele fosse para o Tribunal de Justiça Militar? - Boa!, deve ter respondido outro alguém, para em seguida acrescentar: - Nem Yeda, nem Simon ficariam mal porque teriam garantido a ele uma aposentadoria milionária e vitalícia.
Faltou apenas combinar com a imensa maioria dos desembargadores, com uma significativa parte dos operadores do direito e com todos os setores minimamente sérios do Estado que defendem abertamente a extinção do Tribunal de Justiça Militar. Que Yeda tenha se livrado do coronel Mendes premiando-o com um posto de conselheiro no tribunal de sua corporação, até faz algum sentido embora não se justifique. Mas nomear um administrador, um homem de negócios, um executivo de banco para julgar casos de PMs insubordinados e suspeitos de crimes? Se fizer isto, Yeda não estará dizendo “muito obrigado” a Fernando Lemos mas, ao contrário, estará praticamente decretando sua incapacidade para outras funções da vida pública que tenham, efetivamente, alguma relevância. Ora, se Lemos é tão bom que leva Simon ao sacrifício e faz até a governadora brigar com seu vice, jogá-lo fora assim não guardaria a menor coerência.
O deputado Elvino Bohn Gass, líder do PT, fez uma boa síntese disso tudo: “A se confirmar a excrescência administrativa que seria a nomeação de Fernando Lemos para o Tribunal de Justiça Militar, a governadora Yeda, que resiste à extinção daquele aleijão jurídico, estará oferecendo ao povo gaúcho mais uma prova da inutilidade do órgão ou, no mínimo, de sua pouca seriedade. Porque a afinidade de Lemos com as questões de um tribunal militar é similar a de Yeda com Paulo Feijó.”