Dilma no Céu

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  • sexta-feira, 4 de dezembro de 2009
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  • Caiu um forte raio em Brasília. Desses que o governo afirma que são capazes de causar um blecaute. Ele caiu justamente no Palácio do Planalto. Para espanto de alguns e alívio de outros, o raio deu de cair exatamente na cabeça da ministra Dilma Rousseff, que foi literalmente torrada. Sem nada o que fazer, ela se dirigiu ao Além.

    Ela tinha certeza de que iria para o Inferno. Mas, como o capeta não veio buscá-la, resolveu tentar a sorte no Céu.

    Já no portal, encontrou São Pedro com uma meia dúzia de assessores.

    "Antes de entrar aqui, a senhora precisa passar por um julgamento", disse-lhe o guardião do Paraíso.

    "Eu quero um advogado!"

    "Não temos. Os advogados do tipo que a senhora precisa foram todos para o outro lado. A senhora vai ter de se defender sozinha."

    "Está bem. Eu sei me virar!"

    "Comecemos pela sua juventude. É verdade que a senhora foi guerrilheira?"

    "Fui! Do Colina e da VAR-Palmares! E era líder! Pode perguntar lá embaixo que tem um montão de gente que confirma!"

    "Eu não entendo. A senhora tem orgulho de ter sido terrorista?"

    "No Brasil isso pega bem. Tem até um órgão do governo que paga indenizações."

    "Consta aqui na sua ficha que a senhora se dedicava a tarefas que não têm nada que ver com uma guerra revolucionária. Roubar cofres, por exemplo."

    "É, vai fazer o quê...? Nós expropriamos um que tinha nada menos que US$ 2 milhões!"

    "E o que vocês fizeram com o dinheiro?"

    "Uma parte nós repartimos com os companheiros dos outros grupos."

    "E o resto?"

    "Não tinha resto. Era para as nossas despesas. Era eu mesma que cuidava do dinheiro."

    "Bom, vamos passar adiante. A senhora ficou alguns anos presa, depois tratou de estudar."

    "Eu me graduei, depois fiz o mestrado e o doutorado. Pode ler na minha página na internet."

    "Tem gente que diz que a senhora não fez nem uma coisa nem outra..."

    "Eu vou lhe dar a mesma resposta que dei para a imprensa: fiz o curso de mestrado, mas não o concluí. Depois eu voltei para a escola, a Unicamp, para fazer o doutorado. Também não me formei porque virei ministra..."

    "A Unicamp informou que a senhora nunca se matriculou lá..."

    "Isso é mentira!"

    "Hum, trata-se de uma carreira bem peculiar... Aqui, na sua ficha, consta também que em 1989 a senhora foi nomeada diretora-geral da Câmara Municipal de Porto Alegre e foi demitida pelo presidente da Casa porque chegava tarde ao trabalho."

    "Isso é mentira!"

    "A senhora é conhecida como a mãe do PAC. E há quem diga que é, também, madrinha do apagão."

    "Isso é mentira! Só porque eu fui ministra da área energética por alguns anos, eu sou agora responsabilizada por tudo!"

    "Dizem que foi a senhora que formulou o atual modelo de energia."

    "Isso é mentira! Quando eu assumi, todas as usinas hidrelétricas já estavam lá!"

    "A que a senhora - que entende do assunto - atribui o apagão?"

    "Vou-lhe dar a versão oficial do governo: eram três linhões. Acontece que caíram três raios ao mesmo tempo, um em cada um. Os três entraram em curto-circuito e deu no que deu."

    "É uma visão, no mínimo, curiosa... No governo passado houve racionamento de energia porque as chuvas não vieram e os reservatórios de água das usinas hidrelétricas ficaram vazios. Vocês eram da oposição na época e exploraram eleitoralmente o fato. E agora?"

    "O apagão do FHC se deu por incompetência. Já o nosso foi devido ao clima, conforme eu já expliquei..."

    "Já sei, três raios caíram simultaneamente nas três linhas... E vai por aí afora. Há quem diga que houve sobrecarga do sistema e ele caiu..."

    "Isso é mentira! Os raios caíram nos linhões e o assunto está encerrado. Não se fala mais nisso."

    "Escute, para a senhora, tudo é mentira."

    "Isso também é mentira!"

    "Vamos mudar de assunto. A ex-secretária da Receita Federal depôs no Congresso afirmando, com todas as letras, que esteve em seu gabinete, no Palácio do Planalto, e que a senhora lhe pediu para aliviar a barra num processo..."

    "Isso é mentira! Nunca estive com essa mulher!"

    "Ela disse, recentemente, que tem como provar o que falou... Além do mais, o prédio é inteiramente monitorado. Basta procurar a gravação que a questão fica resolvida."

    "Vamos encontrar uma versão conciliatória. Eu admito que a recebi no meu gabinete, mas foi para tratar de outros assuntos."

    "Quais?"

    "Não me lembro mais. Como canta o Roberto Carlos, "são tantas emoções..."

    "Bom, dona Dilma, sinto muito, mas a senhora não preenche os requisitos mínimos para entrar no Céu. Eu não entendi porque Satanás não se dispôs a recebê-la. Aguarde um momento que eu vou telefonar para ele."

    São Pedro saiu da sala, pegou o seu celular e ligou diretamente para o "coisa ruim".

    "Oi, Lúcifer, porque é que você não foi receber a Dilma Rousseff?"

    "Eu não quero nem saber dessa mulher!", explicou o príncipe das trevas. "Se ela vier para cá, em dois minutos vai estar mandando em todo mundo. Essa mulher tem cabelo na venta, é nervosa, irritadiça e impaciente. Estou fora!"

    "E o que é que eu faço com ela?!", desesperou-se São Pedro.

    "Eu sei que foge dos regulamentos, não deixe o Chefão saber disso, mas o que se pode fazer é pedir desculpas e devolvê-la para o Ministério do Lula. Os dois se entendem bem porque, no fundo, se merecem..."

    João Mellão Neto, jornalista, deputado estadual, foi deputado federal, secretário e ministro de Estado
     
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