Ontem comecei a escrever um post sobre a sordidez do artigo do César Benjamin publicado na Folha de São Paulo e sobre o poço sem fundo em que a nossa mídia golpista mergulhou, mas confesso que não tive estômago para terminá-lo. Esta história toda me deixou profundamente enojado e me leva a pensar sobre como será a campanha eleitoral do próximo ano: com certeza, vai ser aberta uma nova caixa de Pandora de onde sairão todas as torpezas e canalhices possíveis e imagináveis. Assim, desisti de escrevê-lo e para me desinfetar de toda esta sujeira - além de manter a tendência iberista dos meus últimos textos - resolvi postar algo infinitamente mais limpo e definitivamente mais belo: a canção “Perdidamente”, do Trovante. Surgida na segunda metade dos anos 70, esta banda foi uma das responsáveis pela renovação da música portuguesa naquele período e "Perdidamente" foi um de seus maiores sucessos. Na verdade, esta canção é um poema da Florbela Espanca chamado “Ser Poeta”, que foi musicado pelo grupo e gravado em 1987. Tendo se dissolvido em 1991, o “Trovante” voltou a se reunir em 1999, a convite do Presidente Jorge Sampaio, para uma única apresentação - que é de onde foi retirado este vídeo - na comemoração dos 25 anos da Revolução dos Cravos.
Eis os versos de Florbela:
Ser poeta é ser mais alto, é ser maior
Do que os homens! Morder como quem beija!
É ser mendigo e dar como quem seja
Rei do Reino de Aquém e de Além Dor!
É ter de mil desejos o esplendor
E não saber sequer que se deseja!
É ter cá dentro um astro que flameja,
É ter garras e asas de condor!
É ter fome, é ter sede de Infinito!
Por elmo, as manhãs de oiro e de cetim...
É condensar o mundo num só grito!
E é amar-te, assim perdidamente...
É seres alma, e sangue, e vida em mim
E dizê-lo cantando a toda a gente!
Em tempo: Existe uma bonita - e pouco conhecida - gravação brasileira desta canção feita pelo ator e cantor Saulo Laranjeira. Mas esta eu deixo para postar em outra ocasião...