Agora é pra valer

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  • segunda-feira, 23 de novembro de 2009
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  • Texto de Maria Lucia Victor Barbosa*

    Lula da Silva é saudado internacionalmente como um homem da “esquerda herbívora”, um moderado, um conciliador. Sempre fazendo piadas, usando metáforas futebolísticas, falando bobagem, bem-humorado é como se o presidente fosse o estereótipo do brasileiro, o “homem cordial” de que falou Sérgio Buarque de Holanda.

    Para ser mais amado lá fora só faltava Lula ser carioca e não pernambucano aclimatado em São Paulo , porque estrangeiros são loucos pelo Rio de Janeiro de praias paradisíacas cheias de mulheres quase nuas, de povo feito de sol e mar. Para os visitantes bala perdida é pura adrenalina no país do carnaval e do futebol.

    Entretanto, se Lula da Silva é o “cara” da “esquerda herbívora”, inofensiva, festiva é estranho que ele viva em idílios políticos com Hugo Chávez, Fidel Castro, Evo Morales e demais ditadores que representam a fina flor da esquerda primata do Terceiro Mundo.

    Parece que os caras lá de fora têm certa dificuldade em entender o Brasil e seu governante, percebendo apenas superfícies folclóricas e deixando de lado visões mais profundas sobre atitudes, comportamentos e ações que se desenrolam no país real em contraste com o país imaginário.

    Sintomática a complacência internacional com o presidente da República e sua diplomacia tangida pelo chanceler de fato, Marco Aurélio Garcia, quando aqui é recebida a figura abjeta de Mahmoud Ahmadinejad, o perigoso fanático que persegue, prende, mata seus opositores; não tolera liberdade de pensamento, religiosa ou das minorias; viola direitos humanos; frauda eleições, apóia grupos terroristas, diz que o Holocausto não existiu e prega de forma obsessiva a destruição de Israel.

    Essa figura daninha e monstruosa, rejeitada pelas potências ocidentais que temem que Ahmadinejad desenvolva a bomba atômica, foi agraciado com um convite do “filho do Brasil”, que afirmou que o receberia de braços abertos.

    No rastro dos salamaleques o ministro da Defesa, Nelson Jobim, afrontou o presidente israelense, Shimon Peres, quando da visita deste ao Brasil no último dia 11, ao dizer de forma arrogante que o Brasil fala com quem quiser.

    Quem sabe o ministro da Defesa acredita no persa, quando esse hipocritamente afirma em sua carta dirigida “à grande nação brasileira” que é “defensor da justiça, da ternura e da paz no mundo.

    Por certo Jobim ignora que Ahmadinejad está estendendo cada vez mais sua influência sobre a América Latina, sobretudo, através da Venezuela e da Tríplice Fronteira onde estão bases operacionais do Hezbollah e de outros terroristas.

    Muito “terna” a besta-fera do Irã quando nega uma das piores manchas da humanidade, o Holocausto.

    Será que nosso “herbívoro”, que é a cara do país como ele mesmo disse certa vez, tem noção do que foi esse genocídio?

    Será que também nega as torturas, indignidades, horrores, mortes, tudo que foi infligido de mais pérfido aos homens, mulheres e crianças que cometeram o único “crime” de serem judeus?

    Pode ser simplesmente que tudo isso seja indiferente ao cara porque apenas lhe interessa negócios com o Irã, o que faz lembrar o título de um filme passado há muitos anos: “De como aprendi a amar a bomba atômica”.

    Afinal, nós também enriquecemos urânio.

    Possivelmente a visita de Ahmadinejad, a intromissão do Brasil em Honduras, o antiamericanismo e o antissemitismo do governo petista e seu achego a ditadores, não impedirão que os olhos do mundo Lula da Silva continue como um esquerdista “herbívoro” e cordial. Talvez, apenas a Itália não esteja gostando no momento de ser taxada de fascista pelo ministro da Justiça, Tarso Genro, mas se resignará a não receber de volta o terrorista Cesare Battisti.

    Entretanto, para quem consegue observar certos sinais fica evidente que um processo cuidadosa e lentamente desenvolvido vai transformando a “esquerda herbívora” em “carnívora”.

    É que para alcançar ao poder mais alto da República o PT, em sua quarta tentativa, deixou de lado a linguagem virulenta, prometeu o paraíso aos ricos e aos pobres, vestiu seu “Lulinha paz e amor” de Armani e domesticou-lhe um pouco as maneiras.

    Uma vez no poder, uniu-se a gregos e troianos, esbanjou populismo, cooptou partidos e instituições, mandou às favas a ética, dominou o Congresso através de mensalões e outros “benefícios” e agora, chegando à reta final do segundo mandato, recrudesceu o ataque à imprensa e coroou seu domínio com a anulação do STF, conforme ficou demonstrado no caso do terrorista italiano.

    Com isso, definitivamente, o PT se tornou um partido acima da lei e, assim, sem nenhum pejo, trouxe de volta ao seu alto comando notórios mensaleiros, devidamente abençoados pela candidata Rousseff. Afinal, corruptos são os outros.

    Ao mesmo tempo, o PT retornou à idéia de Estado ampliado, do discurso requentado da esquerda revolucionária, da crítica ao neoliberalismo que tão bem praticou em sua fase “herbívora”.

    Não há dúvida de que se a dama de aço ganhar começará a fase “carnívora”.

    E Lula corre o risco de ouvir de sua escolhida: “Cale-se, você já ficou tempo demais, as rédeas estão conosco, agora é para valer”.

    * Maria Lucia Victor Barbosa é socióloga

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    Lula é criticado por legitimar Ahmadinejad

    VISITA POLÊMICA

    Para analistas internacionais, visita pode afetar influência do presidente e ajudar iraniano a legitimar governo

    Publicada em 23/11/2009 às 23h44m

    Gilberto Scofield Jr

    O presidente Lula recebe o presidente iraniano, Mahmou Ahmadinejad, no Palácio do Itamaraty em Brasília

    WASHINGTON - A decisão do Brasil de apoiar as pretensões nucleares do Irã - aliada às críticas que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem feito aos Estados Unidos, à maneira como o país vem lidando com a questão hondurenha e até à postura pouco crítica a abusos do governo de Hugo Chávez nos terrenos da liberdade de imprensa e direitos humanos - pode prejudicar a relação entre o Brasil e os EUA e atrapalhar as pretensões da política externa brasileira de consolidar o país como grande líder global e regional.

    ( Imprensa internacional destaca riscos diplomáticos sobre visita de Ahmadinejad a Lula )

    A opinião é de analistas das relações entre os EUA e o Brasil, que vem sendo acusado de perder o equilíbrio e a sensatez na sua ânsia de "agradar a todos os países". Segundo a mídia internacional, a visita pode atrapalhar a influência internacional de Lula ao mesmo tempo em que oferece a Ahmadinejad a chance de legitimar seu governo, tão criticado internacionalmente por causa de seu controverso programa nuclear e ligação com grupos terroristas.

    ( Imagens de Ahmadinejad em Brasília e dos protestos )

    A visita também provocou protestos no Peru, onde mais de cem pessoas da comunidade judaica local se concentraram em frente à embaixada brasileira e entregaram à representação uma carta expressando "mal-estar" e "preocupação" com o encontro.

    ( Deputado faz protesto contra visita de Ahmadinejad ao Brasil )

    O deputado democrata americano Eliot L. Engel, que preside o subcomitê de América Latina da Câmara de Representantes, disse que o convite do Brasil ao presidente iraniano foi um "grave erro".

    Membros de uma comunidade judaica peruana protestaram, em Lima, em frente à embaixada brasileira - AFP

    A professora de ciências políticas internacionais da Universidade George Washington, Cynthia McClintock, afirma que, com a declaração de Lula ontem, o Brasil ajuda a legitimar as demandas de Ahmadinejad, colocando o país numa situação "não exatamente positiva", já que Lula não pressionou o presidente iraniano em nada: do monitoramento internacional de seu projeto nuclear, a sua polêmica reeleição ou as violações de direitos humanos no país.

    - É uma vitória iraniana importante ter Lula como aliado em sua política de enfrentamento dos EUA e da União Europeia - diz ela.

    Para Eric Farnsworth, ex-funcionário do governo Bill Clinton e vice-presidente do Conselho das Américas, em Washington, a visita de Ahmadinejad, assim como a defesa de Lula a Chávez, podem ter servido como um balde de água fria nos planos do presidente Barack Obama de usar o presidente brasileiro como uma espécie de procurador na América Latina:

    - Afinal, quem quer um país tão próximo do Irã, um pária internacional, sentado no Conselho de Segurança da ONU?

     
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