A lentidão da Justiça acaba de enfiar numa oportuníssima saia justa dois integrantes do diminuto grupo de interlocutores que o presidente Lula ouve com alguma atenção. Nesta quinta-feira, quatro anos depois da publicação da entrevista em que o jornalista Franklin Martins disse o que acha do ex-presidente Fernando Collor, o ministro Franklin Martins, chefe da Secretaria de Comunicação Social, foi condenado pelo Tribunal de Justiça do Rio a pagar ao senador governista Fernando Collor uma indenização de R$ 50 mil.
Em julho de 2005, entrevistado pela revista Brasília em Dia, o comentarista político da TV qualificou de “corrupto”, “ladrão” e “chefe de quadrilha” o político derrotado meses antes na eleição para o governo de Alagoas. Abstraída a adesão à base alugada, a trajetória percorrida por Collor nestes quatro anos não registra nenhum episódio que pudesse modificar as declarações de Franklin, sabidamente avesso a mudar de ideia ou revogar conceitos.
O ministro sessentão não se arrepende, por exemplo, do que fez o lider estudantil. Se pensasse como hoje, ressalva, não repetiria alguns episódios e escolhas. Mas não inclui entre esses momentos que não valeriam replay o sequestro do embaixador americano Charles Burke Elbrick, nem a opção pela luta armada. Se não faz reparos relevantes ao desempenho do Franklin de 1968, é evidente que a versão 2005 dispensa revisões.
Há quatro anos, durante o escândalo do mensalão, o jornalista encerrava os comentários com uma observação recorrente: enquanto não fosse localizada a origem do dinheiro, o Brasil estava proibido de acreditar na existência do mensalão. Até a grama da Praça dos Três Poderes já sabe que boa parte do dinheiro vinha das verbas de publicidade que Franklin hoje administra. Nem por isso a fé foi abalada: continua achando que o mensalão só existiu na cabeça da turma do contra.
Pode-se presumir, portanto, que acha de Collor o que sempre achou. Para justificar o convívio com o ex-troglodita de direita convertido à seita governista, o ex-revolucionário comunista recitou a oração que Lula ensinou: em nome da governabilidade, vale até vender a mãe. Será mais complicado justificar o ameno convívio entre a vítima do roubo e o ladrão que identificou há tão pouco tempo.
Franklin ainda não abriu a boca sobre o caso. A menos que ingresse na Ordem das Carmelitas Descalças, terá de dizer algo. Collor é mesmo corrupto? Chefiou ou chefia quadrilhas? Ou fez acusações absurdas e mereceu a punição? O Brasil que presta aguarda as respostas. Com paciência ─ e com prazer.