Em uma manobra de bastidores liderada pelo Brasil, diplomatas ligados ao presidente de facto de Honduras, Roberto Micheletti, foram expulsos ontem de uma reunião do Conselho de Direitos Humanos da ONU. Por trás do episódio - que levou a um impasse de quase um dia na sede de Genebra da organização - estava a batalha envolvendo o reconhecimento internacional do governo golpista.
O Brasil e países latino-americanos se recusavam a deixar a reunião do órgão começar com o embaixador hondurenho Delmo Urbizo, pró-Michelleti, na sala. Já o diplomata afirmava ser o representante de um governo legítimo, insistindo que não sairia da sala. Ao final do dia, entre gritos e bate-bocas nos corredores e salas da ONU, Urbizo foi acompanhado por seguranças para fora da reunião.
Legalmente, o encontro foi apenas suspenso a pedido do Brasil. A participação do diplomata pró-Michelleti na organização será avaliada por assessores legais em Nova York. A ONU afirma que ainda não expulsou Urbizo e uma posição oficial deve ser anunciada hoje.
O hondurenho, porém, foi impedido de retornar à sala e vários diplomatas consideraram a expulsão como fato consumado. “Fui expulso. Colocaram até guardas para me retirar”, reconheceu ao Estado Urbizo.
No início da manhã, a presença do embaixador hondurenho na sala impediu o início do encontro. Brasil, Argentina e outros países comunicaram o presidente do conselho, o belga Alex Van Meeweun, que não aceitariam retomar os trabalhos com Urbizo na reunião.
“A orientação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do chanceler Celso Amorim é de que eles (diplomatas pró-Micheletti) não podem participar”, explicou a embaixadora do Brasil, Maria Nazareth Farani Azevedo. Segundo ela, há resoluções e decisões em um número suficiente para impedir que um representante de Micheletti seja aceito em uma reunião da ONU.
O belga tentou mediar a situação e propôs que Urbizo permanecesse na sala, mas sem falar. O Brasil rejeitou a proposta. Ao final, a embaixadora havia conseguido sua meta: evitar a participação de todos os representantes de Micheletti.
Comentário de Reinaldo Azevedo:
Amorim não pode conviver com o representante de um país que depôs um golpista, onde todas as instituições funcionam normalmente. O negócio do Brasil é puxar o saco de um genocida do Sudão, de um tirano em Cuba, de um tiranete na Venezuela, de um filonarcotraficante na Bolívia, de outro filonarcotraficante no Equador, dos próprios narcotraficantes da Colômbia, de um assassino em massa líbio, de um fascista islâmico no Irã… Seu negócio é apoiar para a Unesco um anti-semita. Como diz um comercial, essa é a praia do Megalonanico, esse é seu clube.
O governo brasileiro não vai se contentar enquanto o sangue não correr e escorrer pelas ruas de Tegucigalpa. Não está apenas prejudicando o presente dos hondurenhos - quer também solapar seu futuro ao tentar comandar a resistência até mesmo ao governo que sairá das urnas daqui a dois meses, em eleições livres.
Amorim desmoraliza a respeitável história da nossa diplomacia. O que falta a Micheletti para ser apreciado pelo Megalonanico, a exemplo dos governantes do Sudão, Irã, Cuba, Venezuela, Bolívia… Democracia é que não é. A resposta só pode ser uma: cadáveres.