Hackers do mundo, uni-vos!!!

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  • quinta-feira, 9 de julho de 2009
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  • Em defesa da Pirataria Legítima

    Um texto para hackers e leitores inteligentes


    Jorge Machado


    versão 1.03 -
    24.07.2007
    (se copiar esse texto, manter a formatação e estilo)

    Nossos amigos da indústria têm usado eficientemente os veículos da imprensa para culpar e criminalizar crianças, jovens e adultos que compartilham arquivos na Internet, tratando-os da mesma forma que aqueles que fazem comércio ilegal. A ambos dão o nome de “piratas”. No nosso ponto de vista, compartilhar é uma coisa, comercializar é outra.

    Não culpamos os jornalistas, pois sabemos que a grande mídia não vive do anúncio de gente pequena, mas de grandes empresas. Sabemos que não é escolha deles.

    Entendemos que existem algumas confusões a respeito das práticas de compartilhamento. O que são produtos piratas? O que é o compartilhamento pela Internet? Qual é a diferença entre comércio e pirataria? Quem são os piratas? Que tal entendermos o contexto do problema para responder a tais perguntas?

    O objetivo desse texto é, de forma simples, direta e divertida, proporcionar uma visão mais global sobre essa questão. Vamos falar da pirataria do Caribe, já que seus símbolos são referenciados freqüentemente pelos amigos da indústria.

    Segundo um amigo nosso, foi uma corporação de editores monopolistas de Londres, chamada Conger, a primeira a usar o termo “pirata” para o comércio ilegal. Isso em meados do século XVIII, quando adquirir livros a preços justos era algo impensável, pois os livros dessa corporação custavam cerca de três vezes mais que os produzidos pelos colegas escoceses. Para a felicidade de todos, a Conger não existe mais. Mas o termo “pirata” para se referir ao comércio ilegal ficou.

    Pela forma com que os piratas são retratados na imprensa, eles deveriam ter poucos amigos. Nós afirmamos que eles têm muito mais amigos do que parece - além das crianças. Apostamos que os leitores desse texto gostarão mais ainda dos piratas. Nós, que defendemos o compartilhamento, viemos aqui limpar a honra deles – na verdade a nossa própria barra, já que somos chamados de “piratas”. A partir de alguns exemplos históricos, vamos mostrar o que é a pirataria legítima. O leitor inteligente vai deduzir o resto.


    Um texto para todos os tipos de hackers

    Escrevemos para os hackers. Quem é o hacker? É o sujeito que adora fazer perguntas. Ele não se conforma em ficar com uma dúvida e está sempre buscando a resposta. E a cada resposta pode vir uma nova pergunta. Ele quer ver como é “de verdade”, como funcionam as coisas. Ele está longe de ser o sujeito típico saído da maioria de nossos sistemas educacionais! Pois gosta de questionar!

    O hacker adora desafios! É assim que ele aprende. Não nos referimos apenas ao hacker do computador, mas ao da Música, das Letras, das Ciências e das Artes, pois há hackers em todas as áreas. Se está pensando que o hacker é criminoso, explicamos: o que comete crimes se chama cracker. O hacker é o do bem. (Anota aí, amigo jornalista).

    O bom cientista sabe que a ignorância é o motor da ciência. Ele precisa analisar, checar, ir mais a fundo. Que tal explorar as incertezas, considerando que as respostas obtidas são, no máximo, temporárias? Assim é o hacker. Ele está sempre atrás do conhecimento. E isso consegue através dos OUTROS. E quando descobre algo interessante, mostra à comunidade. Os hackers perceberam que se cada um compartilha com a comunidade o que sabe, todos saem ganhando. No final, uns ajudam os outros. E com isso surgem muitas inovações. Por isso, o hacker mais apreciado é aquele que dá maiores contribuições à comunidade. É assim que ele cria. Os bons artistas e cientistas se parecem com os hackers. São atentos a tudo que ocorre a seu redor. Estão sempre ouvindo e lendo algo, buscando novas idéias. E precisam mostrar o que fazem aos OUTROS, pois se realizam através do reconhecimento que a sociedade lhe dá.

    E que eles têm a ver com o pirata? Veremos adiante.


    O que significa pirata?

    O termo pirata vem do grego peiratés (πειρατής), que vem do verbo peiraooo (πειραω), que significa "esforçar-se", "tratar de", "aventurar-se". O termo peiraoo também está relacionado com apeiratos que significa “experimentado”.

    Vamos diferenciar bucaneiros e filibusteiros de piratas. Os primeiros atacavam barcos, tinham hábitos pouco saudáveis e estavam fixado nas costas. Os filibusteiros usavam embarcações bastante leves e não possuiam meios nem conhecimentos para navegar em alto-mar. Os piratas viviam em alto-mar. Suas embarcações eram maiores, adequadas e equipadas para longas viagens. Para atravessar grandes distâncias era necessário ter conhecimentos náuticos e astronômicos avançados, além de mapas detalhados (que eram raros, secretos e caros). Ademais, tinham que ter uma forte disciplina e planejamento para enfrentar longas viagens e as intempéries de quem navega em águas pouco conhecidas. Não devia ser fácil. Ou seria?

    Os corsários, eram piratas com carta de corso. A carta de corso o colocava em proteção de algum Estado. Tanto entre piratas e corsários, as tripulações eram de várias nacionalidades e origens, incluindo negros livres e indígenas. Em geral, cada membro da tripulação era selecionado por suas habilidades. Também havia músicos e pintores nos barcos. (Pensa aí, hacker, se você fosse o capitão, quem você ia colocar no seu barco?)


    Como surgiram os piratas?

    Nos limitemos aos fatos. Havia um Império que exercia domínio sobre os mares. Sua frota era conhecida como “La Armada Invencible”. Tempos de Felipe II, rei da Espanha. Esse Império tinha construído um notável monopólio comercial com suas colônias e controlava as principais rotas. Eram terras que foram tomadas violentamente da população indígena. Também eram tempos da Inquisição, do uso da religião para a expansão do poder e expropriação. Esse império usava a mão de obra escrava para extrair e transportar as riquezas que roubava. E o que faziam as “grandes nações” na época? Os franceses foram obrigados a se aliar aos poderosos vizinhos. A Holanda foi invadida e dominada, sofrendo também com a perseguição religiosa aos protestantes. A Inglaterra estava incapaz de reagir. Os demais também foram dominados pelo medo. Essa máquina de guerra de Felipe II era alimentada pela riqueza saqueada da América.

    Nesse ambiente surge a pirataria no Caribe. Durante muitas décadas, a única resistência que os espanhóis encontraram nos mares veio dos piratas e corsários, apoiados pelo povo livre da costa.


    A galera e os piratas

    Os piratas usavam muitas artimanhas para capturar um barco. Uma delas era navegar a grande distância, fora da visão da embarcação a ser atacada, e esperar dias até achar o momento certo para se aproximar - como uma manhã com denso nevoeiro – com seus barcos leves e velozes.

    Não havia escravos em barcos piratas. Quando atacavam, seja uma colônia ou um galeão, os escravos encontrados eram libertados. Pois eram gente do povo, como os piratas. Sabe uma forma de reconhecer um pirata? Por esse grito:

    -AFUNDEM AS GALÉS!

    Galé é o nome dado aos barcos remados por escravos. O galeão (galeón) era uma galé grande. Grande para caber bastante produto roubado. Eram máquinas movidas a escravo: quando não serviam mais, estes eram jogados ao mar como se fossem pneus velhos.

    Para pirata, lugar de Galé era no fundo de oceano!

    Um barco pirata era a grande esperança de liberdade para quem vivia na galera (aah rá... agora sabe de onde vem o termo!). Por isso a GALERA estava sempre ao lado dos piratas. Era só encostar o barco que começava a rebelião lá embaixo. E da GALERA surgiram grandes piratas! (Percebeu hacker? No nosso lado é a torcida é grande!). Um deles foi o africano Diego, contramestre de Francis Drake.

    Os negros fugidos eram chamados pelos espanhóis de cimarrones. Cimarrón é o nome que davam para animal doméstico que escapa de seu dono. A forma como tratavam os índios não era muito diferente. (Hacker, isso foi no passado, hoje a Espanha é um dos países onde os piratas têm mais amigos!)

    Os negros livres e os índios eram os grandes amigos dos piratas. Foi com os índios que os piratas conheceram o tabaco e adquiriram o hábito de usar o cachimbo. Para os índios, o tabaco é sagrado, tem que ser puro e não se traga (não é isso que se vende misturado com pesticidas, fungicidas e aditivos viciantes). Através da fumaça do tabaco, acreditavam poder ”limpar” as energias ruins e conectar com seus ancestrais e as forças da natureza. Foi assim que ensinaram aos piratas. Eles também aprenderam algumas coisas estranhas com os índios: que havia muitas entidades mágicas na natureza e que se podia contar com a energia e poder dos animais. E piratas gostavam muito de serpentes, dragões e aves. Para os piratas, assim como os índios, tudo estava ligado na natureza. (Energias e seres mitológicos... Até parece coisa de oriental, não é hacker?! Ah, hacker você deve ter lembrando que tem dragão até na mitologia nórdica! E diz a lenda que foi um chinês resgatado no oceano que os ensinou que brinco na orelha num certo ponto estimula a visão).

    E essa coisa de tapa-olho? Será que todos os cegos da época decidiram virar piratas? Você acredita nessa história? Fala sério! Já deve ter sacado que o tapa-olho cego era para aguçar a visão. E tem mais, servia para confundir o adversário na luta corporal. Pensa aí, hacker: bastava um movimento do corpo ou uma brisa do mar para aquele pedacinho de pano subir...

    Nas aldeias indígenas e nas comunidades de negros, podiam descansar, reparar o barco, conseguir víveres e preparar suas próximas empreitadas antes de ficar semanas no mar. (Será que alguém acredita que os piratas eram camponeses que plantavam mandioca e banana?) O povo livre da costa era fonte preciosa de informação sobre o movimento dos barcos espanhóis.

    Quem tem muitos amigos se sente bem protegido, percebeu? Principalmente se você está contra aqueles que tratam seus amigos como se fossem gente indigna. Trate bem eles, pois quando precisar deles, estarão contigo. Diz aí, se você morasse na costa também ia dar uma mão para os piratas, não é!? Aposto que sim? (Ah rá... Aposta é coisa de pirata! E tem povo que adora apostar até hoje! Que falem nossos amigos ingleses!)

    Piratas fazem comércio?

    Piratas faziam ESCAMBO. Registra: E-S-C-A-M-B-O. Escambo significa TROCA. É a troca direta de excedente. Piratas não eram comerciantes. Comércio não é pirataria. Comércio é comércio. Pirataria não tem dinheiro envolvido. No máximo, serve como medida. Repito, medida. Pois nossa mente precisa de medida para calcular, dividir.

    Onde você acha que os piratas podiam depositar seu dinheiro? Você acha que os paraísos fiscais do Caribe existiam naquela época? Banco de pirata? Só se for embaixo da terra, mas sem taxas de juros, correção monetária e com o alto risco de não achar mais o endereço!

    Ah rá, hacker! E você comprando a história errada esse tempo todo! Andava com a consciência pesada, não é? Não carregue esse peso nas costas! Registra aí:

    ESCAMBO = TROCA

    COMÉRCIO = COMPRA E VENDA

    Anotou? Nem precisa. Você é uma cara inteligente, não esquece nunca mais!

    Quem faz comércio não pode ser chamado de pirata. Pirataria Legítima é troca!

    Quando alguém chamar um camelô de pirata, você pode falar: “Pirata o escambau!” E escambau vem de escambo! Hacker, se quem troca é pirata, você é um!

    Pirata dividia mesmo. Chega a ser engraçado. Em museus europeus é possível ver peças de ouro e prata com marcas de machadadas. Só assim para dividir as peças grandes! E imagine as cacetadas para quebrar o metal! Pelo visto, às vezes não dava certo!

    O que era tomado do Império era dividido para possibilitar outras trocas. E quem vive de troca, tem que fazer as coisas circularem. O barco de pirata tinha que ser levinho para navegar rápido. E quem tem muitos amigos em diferentes lugares, pode se dar ao luxo de levar pouca coisa! Quem leva muita coisa é galeão do Império, que tem de ser grande para caber todo o produto do roubo. Além disso, eles precisavam pagar as guerras que arrumavam mundo afora (ei, hacker, naquele tempo não havia o petróleo). Ah... Você deve estar pensando “que bom que os piratas deram uma lição nesses malvados! Eles iam gastar tudo com bobagem!” Isso mesmo, o problema era que na época ninguém podia dar umas palmadinhas nos bumbuns deles. Exceto, é claro, os piratas!


    Recapitulando

    Um Império cujo poder se apoiava numa enorme máquina de guerra e em monopólios econômicos, que se alimentam reciprocamente. Leva a cabo uma guerra religiosa que espalha o terror no mundo, cujo objetivo é aumentar ainda mais seu poder, baseado no medo. Apesar das injustiças e atrocidades cometidas, nenhuma nação era capaz de enfrentá-lo. Algumas, inclusive, se aliaram cômoda e cínicamente a ele. É esse contexto que surgem os piratas e seus amigos ousados, com seus barcos leves e rápidos. Uau, dá um filme muito legal. E bem atual!

    Está certo que os piratas fizeram suas maldades, mas agora estamos em tempos de procurar a paz e fazer novos amigos. Vamos estender as mãos para aqueles que têm problemas com os piratas da informação. Os primeiros a serem convidados a subirem no nosso barco serão os advogados. Quem sabe, depois, os nossos amigos jornalistas.

    Nossos amigos advogados são muito inteligentes. Assim como os piratas, gostam de porto seguro. Os advogados sabem que é próximo a um porto seguro onde se constrói uma boa fortaleza. Eles vivem fazendo cálculos métricos com base nas leis e nas vírgulas das leis. Esses caras são inteligentes mesmo. E pessoas inteligentes gostam de desafios! Que tal atravessar o oceano se orientando pelas estrelas e com a luz do luar?

    Consegue imaginar o céu estrelado visto do alto-mar? Inspirador, não? Dá para imaginar navegar sem farol, sem radar, sem GPS, sem o etcétera eletrônico? E se surge um rochedo no meio do nada? Deveria ser emocionante, não é, hacker? Eram as estrelas que guiavam esses caras! Também, olhar para onde mais? Em todo caso, tinha que ser fera, não acha? Será que bêbados, brigões e gente fora de forma ia agüentar essa parada? Bucaneiro tem que dar um jeito na própria vida para virar pirata! É como cracker querendo dar uma de hacker. Fala sério!!

    Os caras de hollywood deveriam pensar mais antes de fazer os filmes!


    Compartilhamento é a única forma de Pirataria

    O comércio de informação existe devido aos monopólios que geram um bloqueio artificial. Se fulano vende CDs ou filmes está apenas tirando proveito de uma situação que provavelmente não foi ele quem criou. O que ele comercializa não é um produto pirata, são apenas cópias ilegalmente vendidas. Não existe produto pirata. Pois pirata não produz “produto”. Existe produto falso. Mas isso não é coisa de pirata, é coisa de comerciante!

    A regra é simples: tem dinheiro na jogada não é pirataria. Senão se convenceu, leia essa história da Vovó.


    O delicioso bolo da vovó

    Imagine um bolo suculento. Digamos que seja um bolo de chocolate recheado com castanhas. Muito mais que isso, foi feito por quem? Pela Vovó! Isso mesmo, falamos daquela senhora maravilhosa que sempre te bajulou. A Vovó tem bastante tempo disponível para fazer as coisas com carinho para seu netinho. E ela quer fazer tudo o que não pôde fazer quando era mãe. É como ser “mãe pela segunda vez”. Não é assim que elas falam?

    Imagine aquela delícia do bolo da Vovó. Feito com aquele jeitinho e experiência que só ela tem. Ela sabe exatamente como fazer o bolo para te agradar. Hum, dá água na boca! E você esperou a semana inteira pelo bolo. Até sonhou com ele. Aqueles recheio derretendo na sua boca... Humm

    O bolo da Vovó é famoso nas redondezas. Os vizinhos todos conhecem. Eles ficam até torcendo para os netinhos virem no final de semana, pois sabem que pode sobrar um pedacinho para eles!

    Você chega na casa da Vovó, e ela está fazendo o bolo. Imagine aquele cheiro delicioso vindo da cozinha. Uahhh! Seu estômago está roncando. Ela diz para você comer um biscoitinho ou uma fruta enquanto espera sentado na sala. Você nega categoricamente. Seu estômago já estendeu um tapete vermelho para o bolo. Tem que ser o bolo! Compreensível, você esperou a semana inteira por essa delícia, não é agora que vai “jogar a toalha”, não é hacker?!

    O tempo se arrasta. Suas pernas já estão trêmulas. Você já perguntou umas três vezes “falta muito, vovó?”. De repente, ouve a voz amável da velhinha avisar lá da cozinha “O bolo está pronto, netinho”. Antes de você pular do sofá, a Vovó logo emenda: “Mas tem que esperar esfriar antes de comer! Nada de comer antes da hora!”

    O bolo repousa solenemente em cima da mesa. Aquele cheiro já havia se espalhado por toda a casa e arredores. Você está quase surtando. Seus instintos mais primitivos ameaçam vir à tona. Mas você se controla. Afinal, você é um cara do bem, um hacker, não um cracker. Onde já se viu, magoar a querida Vovó!

    Você esperava pacientemente na sala. Sorrateiramente, algum espertinho pula o muro, entra sem ninguém perceber na cozinha e ZAZ! Leva o bolo!!

    A Vovó volta para a cozinha, não vê nada. Vai à sala e lhe diz: “Seu fominha, que fez com o bolo?! Não lhe falei para esperar!

    Você fica chocado. Algo grave aconteceu. Com a voz embargada, só consegue balbuciar, “nã-não fui eu!”. A Vovó, essa senhora que limpou muito seu traseiro, te conhece pelo avesso. Ela percebe que não está mentindo e se dá conta de tudo: “Não pode ser!”.

    Pânico e desespero. Onde está o bolo da Vovó?! Não pode ser verdade! Que pesadelo! Levaram o bolo da Vovó! Você e a vovó correm para a rua. Imagine a cena, hacker: você quase morrendo de esperar o bolo e alguém faz uma dessa! Só pode ser cracker!

    Alguém grita: “Chamem a Polícia, levaram o bolo da Vovó!” Alguns vizinhos saem à rua (Ah rá... E ficaram sem o naquinho também!). “Devolva meu bolo, seu malvado!” grita a Vovó inutilmente com todas suas forças.

    (Tá vendo, Vovó. É a desigualdade social. Que tal se todos tivessem acesso ao seu bolo? Onde estão seus ideais? Acha que não dá mais para mudar o mundo nessas alturas? E a militância nos movimentos sociais, Vovó? A vovó achou que ia passar sem críticas nessa história? Nada disso, a gente quer que você vá dar uma mão pro seu netinho, antes que processem ele por compartilhar arquivos...).

    Foi-se o bolo da Vovó. Que experiência traumática... Não vai chorar, né, hacker!?

    Agora imagine que alguém pula o muro, leva o bolo, mas, incrivelmente, ele continua lá! No mesmo lugar, sobre a mesa!! Como isso? levaram o bolo, mas ele continua lá!

    Depois outra pessoa leva. E outra. E outra. E outros levam dos demais. Que loucura é essa?!

    Com a informação é isso. Passou o tempo em que os espanhóis, e antes deles, os índios, perdiam seu bolo, digo seu ouro. Agora são tempos de paz. Tem para todo mundo. Os piratas da informação não precisam dividir peças a machadadas, nem bolos a facadas. Já foi o tempo em que se espetava alguém para conseguir o que se queria. Hoje, simplesmente se consegue uma cópia perfeita sem tirar nenhum naquinho do original para se compartilhar com os amigos. E o bolo continua onde está! Não é lindo isso, meu amigo?


    A Internet é uma Rede de Compartilhamento!

    A Internet é uma rede de compartilhamento. Ela foi criada para compartilhar: a) banco de dados; b) banda de transmissão; c) processamento de dados.

    Isto significa que se você está usando ela, está compartilhando. Que outra coisa alguém esperaria de uma rede feita para o compartilhamento? Parece tão óbvio, mas tem gente que ainda não captou! Ou será que não quer entender? Dá para ser mais claro?!

    Como evitar que se compartilhe numa rede de compartilhamento? Impondo barreiras inúteis? Violando a privacidade? Processando milhares de jovens?

    Num cabo de fibra ótica com a espessura de um fio de cabelo passam 17 bilhões de bits por segundo. É uma torrente de bits. É informação que flui como luz, colorida como um arco-íris. Nessa luz, circulam imagens, livros, sons. Enfim, a criatividade humana. Dá para imaginar que tem amigo que insiste em botar sujeiras de bits inúteis, ineficientes e dispendiosas no meio do caminho?

    Como sustentar uma artificial escassez de bits? O que faz a Internet ser o que é, é o fluxo. A pirataria legítima é bolo da Vovó para todo mundo! Se a Vovó quiser vender, problema dela. Os piratas não vão impedir, mas já que tem para todo mundo, não vão deixar de comer também!


    Esse discurso é legal. Mas e o autor, como é que fica?

    O autor é muito importante. Tão importante que cada vez mais o chamamos de criador. Bonito, não é? Mas, o mais honesto seria chamá-lo de co-criador. Pois ninguém cria sozinho. Ou cria? Vivemos numa bolha? Se vívêssemos numa bolha, seríamos uma bolha dentro da bolha. Se algum artista acredita que cria só, deve ser um artista-bolha!

    Graças aos OUTROS somos muito mais do que bolhas. Pois os OUTROS passam as idéias para nós desde que nascemos. Ou melhor, antes, desde a barriguinha da mãe (Se não acredita, pergunta à sua mãe ou à Vovó, hacker).

    O que é, afinal, o autor sem os OUTROS? Ainda bem, que não precisamos pagar por todas as idéias que utilizamos dos OUTROS! Imagine como citá-los, nominá-los, pagar royalties? Não dá para conceber. Seria uma impropriedade intelectual! Ufa! Ainda bem que existem os OUTROS para nos passarem suas idéias! Cada coisa legal que dá para criar a partir das idéias dos OUTROS!

    Será que o autor, ou melhor, co-criador, não deveria devolver o que criou a partir dos OUTROS? Ah... Rá Hacker... Você já deve ter percebido que não é o autor que está querendo impedir! Alguns deles estão meio na dúvida, é claro. Mas o problema é que alguns amigos nossos que gostam de falar no nome do autor, não estão pensando nele, mas sim no seu próprio bolso.


    E os OUTROS?

    - Ah, mas quem se importa com os OUTROS hoje em dia?

    Nós, os piratas da informação, nos importamos! Por isso, compartilhamos com os OUTROS! Não sabemos exatamente quem são os OUTROS, mas estamos agradecidos por AINDA existirem. E não estamos muito felizes com a atual situação. Pela simples razão que o “seu” e o “meu” está atrapalhando a criatividade. Esse é o foco do conflito.


    Conclusão

    Navegar e criar com liberdade. Isso é algo muito importante. Estamos em um tempo de paz e pedimos para nossos amigos que parem de controlar ou tentar censurar a Internet. Cuidem dos crimes comuns, do comércio ilegal, dos problemas ambientais e sociais. Imaginamos que nossos amigos não vão insistir nessa coisa suja de violar a privacidade. Não roubamos o bolo da vovó de ninguém. Ele está lá, é só olhar.

    A esta altura, nossos amigos perceberam que o conhecimento e a criatividade dependem do acesso à fonte. Perceberam que é graças a nós, que compartilhamos sem exigir nada em troca, que a Internet é tão interessante. Perceberam que a fonte da criação tem que estar sempre acessível para que a criatividade não pereça. Como seria a rede se ela tivesse sido desenhada por advogados? Uma infinidade de autorizações, licenças, avisos, advertências, dispositivos anti-trocas, obstáculos e burocracia de todo tipo? Talvez os cibercafés tivessem que funcionar dentro de cartórios. E se a Rede fosse desenhada apenas pelas corporações? Só se poderia navegar com cartão de crédito. Seria como viajar de táxi. Nem todos poderiam pagar, não é verdade?

    Como seria a Internet se fosse do jeito que eles querem? Muitas das inovações que proporcionam lazer e alegria aos nossos amigos talvez nem tivessem existido. Pensa aí, não foram hackers que fizeram muito daquilo que você mais usa?

    O problema da rede é que foi desenhada para servir aos OUTROS. Mas, as pessoas não são mais educadas para servir aos OUTROS. E a sociedade se organiza cada vez mais de forma que o indivíduo possa tirar o máximo de beneficio dos OUTROS. E pior, que se aproprie daquilo que é dos OUTROS, como se fosse exclusivamente seu! E quais são os direitos dos OUTROS? Cada vez mais os OUTROS se parecem com o povo que vivia na galera: ajudavam a enriquecer alguns poucos, mas mal tinham ar puro para respirar!

    No passado, havia galeões bem armados que não gostavam da gente. Talvez não existisse outro símbolo maior de injustiça naquela época do que aqueles galeões cheios de riqueza roubada, empurrados pela força de escravos, saindo de um triste porto rumo à Europa.

    No entanto, eles andavam tão carregados que eram lentos demais. Bastava uma pequena névoa para um de nossos barcos encostar. O Império tinha medo dos piratas, pois sabia que a galera que levava o barco estava do lado deles! Além disso, na nossa perspectiva, faltava apenas um pouco de coragem para o marujo da galeão mudar de lado. Qualquer um era aliado em potencial, até mesmo o capitão! Bastava aceitar COMPARTILHAR. Mas essa era uma linguagem que o Império não entendia. Por que? Porque não aprendeu a COMPARTILHAR.

    Nossos amigos são inteligentes para perceber que não somos contra o comércio que fazem, queremos apenas continuar a fazer nossas trocas livres com o povo miúdo que vive na costa.

    Embora eventualmente alguns de nossos amigos queiram criar inimigos para justificar suas atitudes, insistimos que desistam disso. A história mostrou que o Império dominava seus escravos pelo medo. E isso não deu certo com os piratas.


    Valeu hacker.

    http://www.forum-global.de/jm/artigos.htm

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    Artigo nota 10!
     
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