Mais sobre os Cravos de Abril...

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  • segunda-feira, 27 de abril de 2009
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  • A Revolução dos Cravos teve uma ampla e relativamente livre cobertura da imprensa brasileira, apesar do país ainda estar sob a égide do regime ditatorial inaugurado em 1964. Uma das explicações possíveis para isto é o fato de que a censura sobre o noticiário internacional era muito mais branda – na verdade, quase inexistente – do que aquela exercida sobre o noticiário interno. Tal fato levou, inclusive, os grandes grupos de comunicação do Brasil a investirem maciçamente em suas editorias internacionais, começando assim a manterem um corpo de correspondentes permanentes nas principais capitais do mundo, deixando de serem meros repetidores das agências de notícias internacionais. No entanto, se os acontecimentos em Portugal eram noticiados com bastante liberdade, tal lógica não se aplicava à produção artística e cultural do período: em 1974, Chico Buarque de Hollanda, um dos recordistas em composições censuradas durante a ditadura, teve a sua canção “Tanto Mar” - composta em homenagem ao processo revolucionário em curso do outro lado do atlântico - proibida pelo Departamento de Censura. Nesta canção é feita uma comparação (um tanto melancólica) entre a situação de Portugal, onde as Forças Armadas tinham aberto os caminhos da liberdade, e a do Brasil, em que os militares eram os principais responsáveis pela opressão. Naquele momento, “Tanto Mar”, com sua letra original, foi lançada somente em Portugal, já que no Brasil só pôde ser registrada uma versão instrumental, presente em um álbum ao vivo do Chico e da Maria Bethânia, com a gravação de um show no Canecão. Em 1978, com a abertura política iniciada por Geisel e Golbery já em processo bem adiantado, “Tanto Mar” é finalmente liberada pela censura, só que, naquela altura do campeonato, sua letra original estava completamente datada e defasada. Assim, no seu disco gravado nesse ano, Chico registra a canção com uma nova letra, num tom de retrospectiva dos acontecimentos daqueles últimos quatro anos em Portugal(e no Brasil). Compare abaixo as duas versões:

    Letra de 1974

    Sei que está em festa, pá
    Fico contente
    E enquanto estou ausente
    Guarda um cravo para mim
    Eu queria estar na festa, pá
    Com a tua gente
    E colher pessoalmente
    Uma flor no teu jardim

    Sei que há léguas a nos separar
    Tanto mar, tanto mar
    Sei, também, que é preciso, pá
    Navegar, navegar
    Lá faz primavera, pá
    Cá estou doente
    Manda urgentemente
    Algum cheirinho de alecrim

    Letra de 1978

    Foi bonita a festa, pá
    Fiquei contente
    Ainda guardo renitente
    Um velho cravo para mim
    Já murcharam tua festa, pá
    Mas certamente
    Esqueceram uma semente
    Nalgum canto de jardim

    Sei que há léguas a nos separar
    Tanto mar, tanto mar
    Sei, também, quanto é preciso, pá
    Navegar, navegar
    Canta primavera, pá
    Cá estou carente
    Manda novamente
    Algum cheirinho de alecrim
     
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