A crise da mídia

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  • quarta-feira, 3 de dezembro de 2008
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  • A sentença do juiz De Sanctis marca mais um capítulo das infâmias recentes do cartel midiático brasileiro. A imprensa foi participante ativa do massacre ao juiz, junto a parlamentares e ao presidente do STF. A opinião pública saiu majoritariamente com a alma lavada. Não entrou no jogo e comemorou a decisão. Esta nova derrota, que soma às variadas tentativas frustradas de organizar oposição ao atual governo, leva às inevitáveis reflexões sobre o papel da mídia, sua atual força e sua notória crise. E são nestas dificuldades econômicas onde há algo a ser pensado, que talvez ajude a melhor explicar tantos desastres.

    Vale agora a releitura de um texto de março de 2004 do professor Guastavo Gindre, membro do Comitê Gestor da Internet do Brasil. Nele, um bom relato das dificuldades da mídia para entender a mudança de seus negócios, os erros praticados e a tentativa de pressionar o Estado para salvar suas empresas. Em um resumo da ópera: durante o governo FHC, certamente alertados por seus consultores, as empresas de comunicação entenderam que no breve futuro celulares falariam com as TVs, os jornais em papel perderiam força, a internet chegaria a muitos e tudo iria mudar em sua forma de fazer negócios. Convergência era palavra nova. Tomaram várias decisões. A Folha criou o UOL, em parceria com a Abril, depois com a Portugal Telecom. O Estado de São Paulo investiu na BCP, de telefonia celular, assim como a RBS se associou à Telefônica de Espanha. A Abril investiu em provedor de acesso, portais temáticos, canais de televisão paga, etc. A Globo diversificou indo da eletrônica (NEC) à transmissão de dados (Vicom), passando por pager, TV a cabo e Internet. Neste mundo novo, nem tudo deu certo, com micos notórios, que foram somados às dívidas anteriores, em dólar, resultado de outros erros de avaliação. Talvez tenham lido e acreditado na Miriam Leitão, prata da casa, paciência.

    O resultado foi um rombo de R$ 10 bilhões no setor, onde a Globo detinha 60%. Isto em um cenário de perda de publicidade e queda de circulação de seus impressos. Para se ter uma idéia do estrago, em abril de 2007 o ex-ombudsman da Folha, Marcelo Beraba, em entrevista ao Observatório da Imprensa, reproduzida no Vermelho, dizia: “Os três grandes jornais perderam nos últimos cinco anos aproximadamente um terço da circulação. Isso equivale a dizer que um deles já teria acabado”.

    Mas, para efetivamente entender o ponto: assim que o governo Lula tomou posse, os representantes do setor formalizaram em Brasília um pedido de ajuda. Chegaram à época comentar algo em torno de R$ 2 bilhões, dinheiro via BNDES. O que nunca aconteceu. O resto da história fica agora melhor conhecido.
     
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