Gabeira e os Subúrbios do Rio de Janeiro.

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  • sábado, 11 de outubro de 2008
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  • Fachadas de Casas, em Piedade (2008) e a Estação Ferroviária de Madureira (1937).

    Sem entrar no mérito da atuação parlamentar da vereadora Lucinha que - como a maioria dos vereadores do Rio de Janeiro, inclusive os quem têm sua base eleitoral na Zona Sul e na Barra/Recreio – tem sido eleita e reeleita através de práticas assistencialistas traduzidas nos indefectíveis “Centros Sociais” mantidos por ela, o comentário do Deputado Federal e candidato à Prefeito Fernando Gabeira a seu respeito – amplamente noticiado pelos meios de comunicação ao longo dos últimos dias – foi de um elitismo levado ao extremo. Ao dizer que a vereadora é dotada de uma “visão suburbana e precária”, o nobre Deputado – que tem procurado construir ao longo dos anos uma imagem pública de “paladino” da “ética” e das “causas libertárias” - demonstrou possuir uma visão bastante preconceituosa – que é compartilhada por muitos dos moradores das zonas mais abastadas desta cidade partida – em relação à região onde mora a maior parte da população da urbe carioca. Assim, só nos resta perguntar: o que será que o verde parlamentar entende por “visão suburbana”? Ou melhor, será que ele tem uma real noção do que sejam os subúrbios do Rio? Não sei. Mas, neste momento, só peço a benção de Lima Barreto, Pixinguinha, Aracy de Almeida, Nélson Rodrigues, Noel Rosa, Candeia e de tantos outros ilustres suburbanos e/ou moradores da Zona Norte e lhes rogo para que intercedam junto ao Todo-Poderoso para que esta velha Cidade de São Sebastião não tenha, mais uma vez, um “prefeito virtual” que ache que o Rio de Janeiro termina no Túnel Rebouças.
    Para encerrar este comentário, tenho uma sugestão a fazer ao novo prefeito do Rio de Janeiro: já que o pivô do desentendimento entre Gabeira e Lucinha foi a instalação de um Aterro Sanitário, no Bairro de Paciência (a vereadora é contra), por que não instalar o tal Aterro no terreno onde fica o vigésimo-terceiro Batalhão da PM, no Leblon? Afinal de contas, é uma propriedade de mais de 35 mil metros quadrados, o governo do estado está estudando se desfazer dela, situa-se em uma área central que reúne todas as condições para o acesso dos caminhões de lixo e, isto é o mais importante, no Leblon não moram pessoas de “visão suburbana e precária” e que, portanto, não ficariam contra um projeto tão útil para a Cidade.

    Em tempo: dois ilustres moradores da Zona Sul – Vinícius de Moraes e Chico Buarque de Hollanda – estão entre os que melhor traduziram – na letra de “Gente Humilde”, parceria dos dois com o grande músico Garoto - a poesia dos velhos subúrbios da Central do Brasil:

    Há certos dias
    Em que eu penso em minha gente
    E sinto assim,
    Todo o meu peito se apertar
    Porque parece,
    Que acontece de repente,
    Como um desejo,
    De eu viver sem me notar...
    Igual a como,
    Quando eu passo no subúrbio,
    E muito bem,
    Vindo de trem, de algum lugar,
    E aí me dá,
    Uma inveja dessa gente,
    Que vai em frente,
    Sem nem ter com quem contar.
    São casas simples,
    Com cadeiras na calçada,
    E na fachada,
    Escrito em cima, que é um lar!
    Pela varanda,
    Flores simples e baldias,
    Como a alegria
    De não ter como lutar.
    E eu que não creio,
    Peço a Deus, por minha gente,
    É gente humilde,
    Que vontade de chorar...
     
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