Sacis de todo o Brasil, unamo-nos!

(Ilustração: José Luiz Ohi/Reprodução: SOSACI)

No “Manifesto Antropofágico” (1928), Oswald de Andrade afirmava: “Só a Antropofagia nos une. Socialmente. Economicamente. Filosoficamente”. Disto, não discordo: a antropofagia é a marca da identidade nacional brasileira. Se quisermos teorizar mais, podemos recorrer à Boaventura de Souza Santos: a nossa cultura é uma “Cultura de Fronteira” caracterizada pelo acentrismo, pelo cosmopolitismo, pela dramatização e a carnavalização das formas e pela carga barroca. Portanto temos horror à xenofobia. Mas ser cosmopolita não significa aceitar o colonialismo cultural imposto pela globalização totalitária. De novo o “Manifesto Antropofágico”: “Contra todos os importadores de consciência enlatada. A existência palpável da vida. E a mentalidade pré-lógica para o Sr. Lévy-Bruhl estudar. (...) Contra a verdade dos povos missionários, definida pela sagacidade de um antropófago, o Visconde de Cairu: – É mentira muitas vezes repetida (...) A nossa independência ainda não foi proclamada. Frase típica de D. João VI: – Meu filho, põe essa coroa na tua cabeça, antes que algum aventureiro o faça! Expulsamos a dinastia. É preciso expulsar o espírito bragantino, as ordenações e o rapé de Maria da Fonte. Contra a realidade social, vestida e opressora, cadastrada por Freud – a realidade sem complexos, sem loucura, sem prostituições e sem penitenciárias do matriarcado de Pindorama”. Por que toda esta digressão? Hoje no mundo anglo-saxão comemora-se o “Halloween”. O Problema é que nas colônias do Império do Norte isto também começou a ser feito. Os cursinhos de inglês iniciaram esta moda há alguns anos atrás. Depois as escolas regulares também começaram a fazê-lo. Hoje até as escolas públicas dos morros e das periferias aderiram à onda: nossas crianças pobres se vestem de bruxas como as americanas e dizem “Travessuras ou Gosturas?”. Mas não comem como as americanas (Salve, Carlos Lyra!). Por isto, meus aplausos aos Deputados Aldo Rebelo e Ângela Guadagnin que, em 2005, apresentaram o projeto de lei que institui o dia 31 de outubro como o “Dia do Saci”, em todo o Brasil (em alguns estados, como São Paulo, isto já está vigindo através de leis estaduais). “Tupi or not tupi, that is the question. Contra todas as catequeses”. O que temos de sangue celta está diluído no sangue misturado de nossos ancestrais portugueses (juntamente com o de judeus, árabes, germânicos, romanos, gregos, fenícios e os que mais passaram pela Península Ibérica)que, por sua vez, aqui em Pindorama também se misturaram com ameríndios, africanos, japoneses,alemães e tantos outros que se diluíram nesta imensa "nova civilização , mestiça e tropical, orgulhosa de si mesma", como a definiu o mestre Darcy Ribeiro. Portanto, basta de "Halloween"! Viva o Dia do Saci!

Manifesto Sacizista

Elaborado pela SOSACI(Sociedade dos Observadores de Saci)

Um espectro ronda a indústria da cultura. Como já ocorrera durante a I Guerra Mundial – quando os chamados “povos civilizados” se matavam entre si nos campos da Europa, como lembra Monteiro Lobato em seu “Inquérito”, escrito em 1917 –, o espectro do Saci voltou para dar nó na crina das potências que invadem os outros países com uma “indústria cultural” predadora e orquestrada.

O Saci é reconhecido como uma força da resistência cultural a essa invasão. Na figura simpática e travessa do insigne perneta, esbarram hoje, impotentes, os x-men, os pokemon, os raloins e os jogos de guerra, como esbarravam ontem patos assexuados e ratos com orelhas de canguru.

É tempo, pois, do Saci expor abertamente seus objetivos, lançando um manifesto e denunciando o verdadeiro espectro: o espectro do imperialismo cultural. Para tanto, outros expoentes do imaginário cultural brasileiro – como o Boitatá, a Iara, o Curupira e o Mapinguari – reuniram-se e redigiram o presente manifesto.

A cultura popular é um elemento essencial à identidade de um povo. As tentativas insidiosas de apagar do imaginário do povo brasileiro sua cultura, seus mitos, suas lendas, representam a tentativa de destruir a identidade do nosso país. A história de todas as culturas até hoje existentes é a história de opressores e oprimidos. Hoje, como ontem, o Saci apóia, em qualquer lugar e em qualquer tempo, qualquer iniciativa no sentido de contestar a arrogância, a prepotência e a destruição de que é portadora a indústria cultural do império.

O Saci não se reivindica como símbolo único e incontestável da cultura popular brasileira. O Saci trabalha pela união e pelo entendimento das várias iniciativas culturais que devolvam ao nosso povo a valorização de sua identidade cultural. O Saci não dissimula suas opiniões e seus objetivos e proclama, abertamente, que estes só podem ser alcançados por um amplo movimento de resistência cultural, denunciando os malefícios da indústria cultural imperialista. Que ela trema à idéia de uma resistência cultural popular. Nesta, o Saci nada tem a perder a não ser seus grilhões. E tem um mundo a ganhar.

Sacis de todo o Brasil, unamo-nos!
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A crise é a mãe da oportunidade

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E sobre a tal da democracia...



Nada melhor que ver e ouvir o Prêmio Nobel, José Saramago, lançando luz sobre a cegueira.

Trecho do documentário “Encontro com Milton Santos”, de Silvio Tendler.
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Balanço das eleições (2) – Togas e votos

Uma das marcas destas eleições municipais foi o assassinato da democracia, patrocinado pelo TSE e seus TREs, que cercearam a liberdade de expressão garantida na constituição brasileira, enquanto em nada atuaram para impedir o abuso do poder econômico. Há fatos graves que merecem atenção de toda a sociedade. E sobre isso, acho preocupante não ler manifestações públicas ou comentários em blogs. Inclusive por eles, e toda a própria internet, serem alvos declarados deste cerceamento, apenas não consumado pelas dificuldades práticas que impediram a fiscalização. Uma única exceção, que eu tenha tomado conhecimento, foi a isolada manifestação de Idelber Avelar em seu blog, em 19 de outubro, quando disse que a “judicialização do debate político é daninha e deve ser combatida. (...) Por isso acho cínico e intolerável que algum blogueiro passe a considerar natural que um partido político seja proibido de, caramba, imprimir um panfleto”. Opinião solitária, depois compartilhada por alguns comentaristas em seu blog, que levantaram um problema grave e impossível de ser abraçado pela cúmplice mídia oficial.

Vamos juntar e pensar sobre fatos conhecidos:

A liberdade de expressão

Um novo conceito debutou em 2008, o da “propaganda negativa”. Não está na lei, a Resolução nº 22.718, que regula o Código Eleitoral, mas na jurisprudência estabelecida nos tribunais, exercida severamente pelos seus fiscais e propagada com estridência pela mídia. Diversos materiais foram apreendidos em 2008, adesivos retirados de militantes e panfletos considerados apócrifos por não estarem com a devida assinatura da campanha, seus candidatos, siglas etc, que é o que rege a Resolução. Imaginem o inusitado da lei que fez fiscais do TRE, em plena Av. Rio Branco, no Centro do Rio, recolherem adesivos da União da Juventude Socialista, a UJS, que mostravam Fernando Gabeira ao lado de César Maia, José Serra e FHC. “Propaganda negativa” por não registrarem também o candidato Eduardo Paes, seu vice, e os vários partidos que compunham a aliança no segundo turno. Haja desafio para a diagramação em tão restrito espaço. As incoerências foram várias e fizeram vítimas.

Um caso exemplar: no dia 16 de outubro, O Globo publicou toda uma nobre página sobre a apreensão de uma Kombi com material irregular de campanha de Eduardo Paes. Havia lá faixas com a inscrição: "Sou suburbano com muito orgulho", em referência à declaração do candidato do PV contra a vereadora Lucinha (PSDB), material de sobra de campanha da vereadora eleita Clarissa Garotinho e panfletos assinados por uma associação de moradores, considerados apócrifos apenas por não seguirem as normas da lei, com as devidas assinaturas de campanha. O presidente da Associação de Moradores do Morro São José da Pedra foi ouvido e negou autoria. E a palavra “apócrifos” foi grafada diversas vezes ao longo do texto.

No dia seguinte, mais uma página em destaque sobre o episódio. Poucos fatos novos, mas a apuração ao longo do dia descobriu que o presidente da associação era quadro do PMDB. De novo foi ouvido, confirmou seu histórico com o PMDB e voltou a negar a autoria do panfleto. O título da reportagem: “Todos os caminhos da Kombi levam ao PMDB”.

Trocando em miúdos. A rígida e parcial legislação eleitoral, que obriga campanhas a normas grotescas, como a de fazer constar em cada material assinatura de campanha oficial, permitiu o sensacionalismo do jornal. Em um dia o grande crime era o de panfletos serem apócrifos. No segundo, de serem assinados pelo PMDB. Uma nítida manobra diversionista.

Mas, graças a leitor deste blog, vamos ao conteúdo do panfleto para tirarmos algumas conclusões. Diz ele:

Vamos dizer não a diminuição da qualidade de vida da Zona Oeste

A posição do candidato à prefeitura do Rio de Janeiro, Fernando Gabeira, ao fazer críticas desrespeitosas à vereadora Lucinha, contrária à instalação do lixão em Paciência, é, no mínimo, surpreendente.

Parece incoerente uma vez que o deputado Luiz Paulo, seu vice, e a vereadora Lucinha sempre se posicionaram contrários ao lixão.

As alianças que estão sendo formadas neste segundo turno podem ajudar a entender a natureza deste ataque. Todos sabem que o prefeito César Maia, que apóia declaradamente a candidatura de Gabeira, tem interesse na instalação deste lixão em Paciência.

Amigo de Julio Simões, César pode ter condicionado seu apoio no segundo turno à instalação do lixão. Julio é “o tubarão do transporte de lixo” e recebeu R$ 15 milhões por mês (R$ 180 milhões por ano) da Conlurb durante toda a gestão do prefeito. Ele quer ser o dono de Paciência e trazer à Zona Oeste todo o lixo da cidade e de outros municípios. Só isso explica a opinião do candidato à Prefeitura sobre a posição da vereadora.

Porém é preciso observar os fatos. Ao chamar a vereadora Lucinha, combativa defensora da população da Zona Oeste, de “analfabeta política”, de visão suburbana e precária, numa conversa ouvida por jornalistas, Gabeira mostra ao que veio.

Assoc. de Moradores do Morro São José da Pedra


Eu pergunto: tirando a ilegalidade, conseqüência da burocrática e rigorosa lei, o que este conteúdo tem de errado?

Eu digo, nada. Muito pelo contrário, há nele questões mais relevantes para os interesses da população do Rio de Janeiro do que muito do que foi discutido em mornos debates na TV. A questão do lixo passa por duas empresas, a de Julio Simões, a maior transportadora brasileira e uma outra, a Marquise, que disputam e dividem interesses dentro da comprometida Assembléia Legislativa, fato que o mesmo jornal O Globo noticiou diversas vezes. Tal queda de braços já levou a acaloradas discussões dos parlamentares, várias comissões na Alerj, com uma cobertura pífia da mídia. Levantar o assunto na campanha é altamente positivo, e tarefa obrigatória da sociedade organizada, mas infelizmente negada pela legislação eleitoral.

O abuso do poder econômico

Tenho poucas informações do restante do Brasil, mas no Rio de Janeiro imperou o uso do poder econômico no resultado das eleições. O fato dos governadores dos três maiores estados brasileiros terem elegido os prefeitos de suas capitais já merecia um voto de desconfiança. O visível uso do dinheiro, inclusive público, para patrocinar uma horrenda demonstração da nossa barata mão de obra, que segurava placas poupando postes, outra. E novas questões ficaram claras sobre como os Tribunais Eleitorais foram omissos em controlar o abuso do poder econômico. Matéria do jornal O Globo de 26 de outubro demonstra que dos 51 novos vereadores eleitos, 19 o foram graças a artimanha dos centros sociais. Uma aberração, comparada aos piores métodos dos coronéis de nosso passado colonial. Basta uma política clientelista a uma comunidade carente para transformar milagrosamente em votos pouquíssimos investimentos. Algo que foi usado por 37% da nova Assembléia, mais que um terço dela. Exemplo está na tal vereadora Lucinha, a mais votada, que controla seis centros sociais.

E o que nossos juízes eleitorais fizeram? Olharam para o outro lado, mais preocupados em impedir o povo organizado de manifestar sua opinião. Querem um exemplo? Está no mesmo O Globo de 26 de outubro, data do segundo turno das eleições municipais, em entrevista de Rogério Nascimento, procurador regional eleitoral, representante do Estado em nome da população, para nele fazer valer nossos direitos na legislação. Ao passar o bastão para a nova procuradora, Silvana Battini , fez um balanço de problemas. Diz ele sobre os centros sociais:

“A disputa acirrada trouxe também o abuso de poder econômico e os centros sociais são o maior problema e maior sintoma do abuso de poder econômico. Tivemos muitos candidatos vitoriosos que devem seu mandato a esses centros. Isso eu sempre defendi e não tive nenhuma decisão da Justiça que abraçasse esta bandeira. É um erro grave achar que centro social é um mal necessário. É grave a conseqüência para a democracia, porque tira a igualdade de condições entre candidatos.”

Boa constatação. E deveria o jornal melhor apurar os motivos que levaram a Justiça a não abraçar esta bandeira. Mas segue o procurador em seus pensamentos, em outras considerações sobre o processo eleitoral:

“O TRE precisa urgentemente se capacitar para enfrentar o uso da internet para as eleições de 2010 e as campanhas difamatórias ou irregulares. Hoje, a computação permite imprimir de forma rápida e barata, e a cidade está cheia dessas gráficas.”

Pois é, amigos da blogosfera, como deve ser difícil abraçar a bandeira do controle do abuso do poder econômico, melhor acabar com a manifestação crítica de quem tem um blog, quem pode fazer facilmente um panfleto para denunciar tal prática. É mais barato e eficiente acabar com a livre expressão. Não havendo reclamações, não há problema. Nada diferente do que se faz nesse país há alguns séculos.
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Algumas oitavas acima

O Globo de hoje guarda em suas páginas internas uma sensacional pérola.
As eleições americanas ocupam mais espaço neste jornal do que no NYT, vocês sabem. Colonialismo é com a gente mesmo.
Mas hoje há um momento de superação. Reservar espaço para texto e fotografia em um considerável tamanho para estampar "a casa onde obama perdeu um poodle" me cheira a subserviência.
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Pravda Paulista

Andei sumida, como nosso querido Jurandir andou por uns tempos, mas sem querer comparar minhas modestas opiniões com a impressionante produção do meu sócio, lá vou eu :)

Tá, então. Semana passada os jornais deram destaque – a ponto de transformar em manchete – o pronunciamento do Ministro Guido que os bancos brasileiros não estavam quebrando, e que, ora bolas, - e tirando a tal frase totalmente de seu contexto - o que, claro, se ele está falando isso, devemos nos preocupar! E assim estava estampado nas primeiras páginas. Ok. Ok. Também me lembro de FH afirmando que não mudaria o câmbio antes de uma certa eleição.

Então deveríamos usar a mesma fórmula a respeito dos comentários do governador de São Paulo? Aí nos enganamos. Não rola metadiscurso Nunca. Não há filtro. O que ele diz é sempre a Verdade. Ele é o Pravda. Então ele não concorre com o mineiro carioca que quer fazer aliança com Lula? Ele não acha que a disputa para 2010 não começou? Ele realmente queria o melhor para a cidade de São Paulo? Tá, então.

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Balanço das eleições municipais (1)

Nesta segunda, amanheceremos com várias análises dos resultados das eleições municipais. A disputa continuará na interpretação dos números, sobre quem e quais partidos foram vitoriosos. Há o que dizer, mas gostaria de chamar a atenção para outras questões que remetem a melhores reflexões:

1) A crise financeira mundial não compareceu nestas eleições. Deveria. Para o ralo foram mais do que os 686 trilhões de dólares. Junto, naufragaram as principais idéias do neoliberalismo sobre um mundo governado pelo mercado, com estado mínimo. A inegável vitória de José Serra, que será incensada por sua mídia nos próximos dias, terá pela frente o desafio de reinventar um novo discurso. O esboço já foi dado na campanha de fazer colar a crise no vazio de um tucano para enfrentá-la. Torcida pelo quanto pior melhor, desqualificação cotidiana de qualquer decisão do governo. Mesmo assim, quando os tamborins de 2010 esquentarem, será preciso muita lábia para esconder a contestação ideológica sobre as baboseiras econômicas do tucanato e seus aliados.

2) Nas duas maiores capitais a disputa final ficou claramente marcada pela diferença entre classes sociais antagônicas, com as classes médias se aliando às elites e com forte papel no processo. É fenômeno interessante para análise de nossos acadêmicos. Vale ler com atenção o comentário de Altamiro Borges em seu blog na última sexta, que usa referências fundamentais como o livro “Classe média: desenvolvimento e crise”, de Márcio Pochmann. Em São Paulo elas foram vitoriosas, com sua aversão às soluções de atendimento aos seus nordestinos, com o protesto à perda de privilégios no trânsito, com uma sensibilidade ao discurso direitista de sua mídia. No Rio, quase conseguiram graças à criação de um neolacerdismo, agora mais colorido, graças à mídia que há muito pinta o conservador Fernando Gabeira como um candidato moderno, avançado e progressista. O último parágrafo de Miro sobre a classe média vale quase como uma tese:

“Egoísta e egocêntrica, ela não percebe que o país não se desenvolverá, inclusive alavancando as suas camadas médias, sem justiça social; que a miséria estimula a violência e criminalidade; que a barbárie acirra o apartheid social, com os presídios para os pobres e os condomínios fechados, cercados de segurança e câmeras, para os abastados. Ela se opõe às políticas públicas a serviço do conjunto da sociedade e depois reclama dos congestionamentos provocados pela “civilização do automóvel” privado. Critica o Bolsa Família, mas sonha com sua bolsa de estudo no exterior. Diz não ser racista e preconceituosa, mas cada vez mais se parece com a elite fascista da Bolívia.

3) Faltou aprofundamento nas questões políticas e ideológicas. Os debates foram pouco esclarecedores. Particularmente aqui no Rio de Janeiro, onde nem aconteceram no primeiro turno. Deve-se em grande parte ao papel nitidamente inibidor do TSE na regulação destas eleições, que legislou para evitar o aprofundamento da discussão política, enquanto fazia vista grossa para os abusos de poder econômico. Algo a ser comentado em próximo post.

4) Teve papel no resultado os equívocos da esquerda, que não soube interpretar as disputas entre campos políticos e ir além de interesses imediatos de resultado para suas legendas. Vale esperar se mais esta lição terá algum efeito de mudança. Com o capitalismo em crise aguda, resta saber se a esquerda conseguirá um mínimo de ação unitária para ocupar mais espaço. Deveriam estudar o pessimismo de Eric Hobsbawm, que recentemente deu entrevista sobre a crise financeira e alertou para o perigo do fortalecimento da direita:

“Nos anos 30, o claro efeito político da Grande Depressão a curto prazo foi o fortalecimento da direita. A esquerda não foi forte até a chegada da guerra. Então, eu acredito que este é o principal perigo. Depois da guerra, a esquerda esteve presente em várias partes da Europa, inclusive na Inglaterra, com o Partido Trabalhista, mas hoje isso já não acontece. A esquerda está virtualmente ausente. Assim, me parece que o principal beneficiário deste descontentamento atual, com uma possível exceção – pelo menos eu espero – nos Estados Unidos, será a direita.”
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Coisas que eu aprendi nesta campanha eleitoral - 2



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Drops Pós-Eleitorais.

Hoje está acontecendo o segundo turno das eleições para Alcaide da mui leal e heróica Cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro. Como escrevo antes do término da votação, ainda não sei quem será o ungido para nos guiar nos próximos quatro anos: se o ex-esquerdista com discurso neoudenista e de viés tucano ou se o ex-tucano com discurso neolulista. De qualquer forma, neste apagar das luzes, gostaria de deixar o registro de algumas situações por mim vividas ou testemunhadas ao longo da campanha eleitoral:

1- Foi de impressionar o fundamentalismo verde que tomou conta de parte dos cariocas nas últimas semanas, contaminando, inclusive, boa parte do meu círculo de relações. Do jeito que os ânimos estavam exaltados, só faltou eu ser agredido fisicamente ao manifestar em público a minha posição crítica em relação à candidatura de Fernando Gabeira. Se no início da conversa a reação era de espanto – “Como alguém com sua formação intelectual e sua trajetória política pode não apoiar o Gabeira? -, em um segundo momento, partia-se para o campo da agressão verbal e, geralmente, o diálogo terminava de maneira abrupta. O mais engraçado é que aqueles que ainda aceitavam escutar os meus argumentos até o fim, na maioria das vezes, não conseguiam se contrapor a eles e encerravam a discussão com afirmações do gênero: “Eu voto nele, porque é o candidato do sonho”, “Minha intuição me diz que Gabeira é o melhor candidato”, “Tenho certeza que a Cidade vai amanhecer mais feliz na segunda-feira, caso ele ganhe”. Com isto, não havia jeito: quando o debate sai do campo da lógica e da racionalidade e resvala para questões metafísicas, fica impossível discutir qualquer coisa de forma séria. Então, só me restava tirar o time de campo...

2- Desde antes do primeiro turno, circula uma estória de que o Gabeira, ao participar de um ato de campanha (ou debate, depende da versão) teria sido chamado de viado e que, então, teria reagido dizendo que, mesmo que ele fosse, isto não era importante, pois não “iria governar com o cu” (os detalhes da estória variam de acordo com cada relato). Diversas pessoas vieram contar-me este episódio (também o recebi por e-mail) e algumas delas, inclusive, afirmaram ter estado presente na ocasião. O problema é que segundo uma das versões isto aconteceu na UFRJ; segundo outra, na UERJ; de acordo com uma terceira, durante uma caminhada na orla; em uma quarta versão, isto ocorreu em uma panfletagem no Centro e por aí vai. Na verdade, este boato não passa de uma daquelas lendas urbanas que surgem não se sabe de onde. Em 1986, quando Gabeira foi candidato a governador pela coligação PT-PV (campanha da qual participei ativamente, como membro da coordenação estudantil da mesma), tal estória já rolava, só que, naquele momento, os apoiadores das outras candidaturas (Darcy Ribeiro e Moreira Franco) a contavam de forma irônica e pejorativa, associando-a uma suposta homossexualidade de Gabeira e, como resultado disto, ao seu “despreparo” para assumir um cargo tão importante. Hoje, tal relato foi resgatado pelos eleitores do candidato do PV, em um sentido diametralmente oposto: ele mostraria o raciocínio rápido e a inteligência de Gabeira e, portanto, a sua capacidade para se tornar o novo prefeito do Rio de Janeiro. Assim, não pude deixar de lembrar-me das reflexões de Marc Bloch sobre as “notícias falsas”, feitas a partir da sua experiência como militar no front durante a Primeira Guerra Mundial, ao perceber como os boatos mais absurdos eram difundidos nos campos de batalha e como os soldados estavam predispostos a acreditar neles. Tais reflexões culminaram na escrita de uma das obras-primas da historiografia do século XX, “Os Reis Taumaturgos”, onde ele analisa a crença no milagre régio da cura das escrófulas, durante a Idade Média. Neste livro, Bloch expõe a idéia de que mais importante do que discutir a veracidade do milagre em si, é procurar entender a mentalidade coletiva que gerou esta crença. De certa forma, ao encarnar as aspirações de determinados setores da sociedade carioca e ao trabalhar de forma extremamente hábil alguns momentos de sua trajetória política e pessoal, Gabeira conseguiu criar em torno de si uma certa aura mítica. O problema é que uma sociedade – ou setores dela - que precisa desesperadamente de mitos, geralmente, traz em si um grande déficit de realidade concreta, como bem diria o Boaventura de Souza Santos.

Agora, ao fim do processo eleitoral, só desejo que as patrulhas verdes - independentemente do resultado das eleições - esqueçam-se de mim a partir de amanhã e que algumas relações não tenham ficado estremecidas devido à tensão pré-eleitoral. Afinal, o que posso fazer se meu coração é vermelho?
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Mensagem à população de Belo Horizonte

Patrus Ananias, publicado no site do PT em 24/10/2008
Pessoas amigas têm me procurado direta ou indiretamente através da rede da Internet perguntando qual candidato apoio na disputa pela Prefeitura de Belo Horizonte.Como declarei em várias oportunidades não apóio nenhum candidato nestas eleições.

Durante o processo eleitoral no primeiro turno, tornei públicas as razões da minha posição. Não obstante meu desejo e empenho em participar e contribuir para consolidar e ampliar as grandes conquistas que a população belorizontina, especialmente os pobres e trabalhadores, teve nos últimos 16 anos, fui literalmente alijado do processo juntamente com outros companheiros (as) do PT, das esquerdas, das forças democrático-populares, dos movimentos sociais, da base de apoio do governo Lula. Poderia ter sido perfeitamente possível, se houvesse vontade política, construir uma candidatura que unificasse todas essas forças, com amplas possibilidades de vitória. Prevaleceu, infelizmente, uma concepção centralizadora, autoritária de alianças:sem qualquer fundamentação programática e de compromissos sociais. Dispensou-se a militância e apostou-se numa campanha baseada inteiramente no marketing. O Partido dos Trabalhadores desapareceu no processo eleitoral de Belo Horizonte.
Muitos conhecem minha história com Belo Horizonte, cidade onde fui vereador e prefeito e que me confiou mais de 300 mil dos 520.045 votos que tive quando fui candidato a deputado federal em 2002. Há quase cinco anos à frente do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, meu compromisso com os mais de 66 milhões de pessoas pobres no Brasil não interrompe a minha relação com Belo Horizonte e Minas Gerais, apenas a repõe em outra dimensão.
Atendendo solicitação da direção nacional do PT e de integrantes do diretório estadual, dediquei-me às campanhas do PT, onde o partido pôde hastear as suas bandeiras, em várias cidades do Brasil, em especial às de Minas Gerais. Por sete finais de semana seguidos e algumas noites pude visitar 47 cidades mineiras e outras 15 em diferentes Estados do Brasil. É de alegrar o coração ver como o nosso povo, sobretudo os mais pobres, possui uma enorme identidade com as nossas causas, as causas do PT e das forças democrático-populares. É um contato revigorante que nos restaura o sentido primeiro de nossa militância: construir a paz no desenvolvimento integral das pessoas e das potencialidades da nossa gente. Ainda esta semana estarei em Juiz de Fora, Petrópolis e Contagem, levando meu apoio às companheiras e companheiros que disputam o segundo turno.
Votarei no próximo domingo, considerando atentamente e até o último momento as propostas e o comportamento de cada candidato. Não tornarei público o meu voto porque isso só faz sentido quando é pública a nossa adesão a uma candidatura. E a adesão plena só se dá no compartilhamento das idéias, dos sonhos e dos projetos em campanhas que nos mobilizam no mais fundo do coração e dos sentimentos.Infelizmente não é o caso de Belo Horizonte.
Belo Horizonte, 21 de outubro de 2008
Afetuosamente,
Patrus Ananias
Comentário do blogueiro:
Patrus Ananias é um dos raros políticos que a gente vota com prazer, aquele orgulho da simples manifestação de voto. Se estivesse em Belo Horizonte para votar amanhã, faria isso com tristeza. Deveria fazer um esforço enorme para decidir em quem votar (frise-se, não é tarefa fácil dada à conjuntura eleitoral da cidade). Em geral, não considero a opção de anular o voto, mesmo quando as candidaturas colocadas não sejam do meu agrado.

A tal convergência do governador Aécio Neves representa aquele antigo sonho da direita de eliminar a política. Não é uma convergência em torno de idéias, projetos, mas de interesses de agrupamentos políticos. Alguém (ou milhões de pessoas) não será convidado para a festa, aquele momento de repartir o bolo. Nesse sentido, a grande maioria ficará de fora, simplesmente alijada do processo político. De certa maneira, foi o que aconteceu em Belo Horizonte. As forças políticas democráticas populares que elegeram Patrus foram convidadas para ficar de fora do novo jogo de interesses que permeia a política mineira.

É isso que dá quando a política perde o sentido e as pessoas passam a simplesmente valorizar a idéia vaga de “gestão”. Esta devia ser um instrumento para operacionalizar com eficiência as escolhas políticas, mas jamais um fim em mesmo. Perde-se o referencial, e as escolhas políticas passam a importar cada vez menos. Não importa se investe em transporte público ou viadutos. Mas é claro que importa, ou será que não podemos mais dizer aos burocratas de plantão qual a cidade que queremos.
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A cidade e seu futuro



O prefeito de São Paulo a ser eleito em 2008 estará chamado, como o foram todos os seus antecessores, a governar uma cidade que é um enigma a ser decifrado e uma potência a ser controlada. Se desejar inscrever seu nome na história, terá de ir além de rotinas e procedimentos-padrão, ser mais que administrador, coordenar mais que comandar.

Trata-se de algo universal. Estima-se que mais de 50% da população mundial vivam em cidades. Elas crescem por toda parte, transbordam seus centros e espalham-se pelas periferias, desafiadoras. Impõem-se como arranjos implacáveis, que “civilizam” sem piedade, redefinem perfis e padrões, sufocam outros modos de ser. Todas as grandes decisões políticas e culturais são tomadas em cidades e estão nelas os principais núcleos geradores de vida moderna.

Vivemos sempre mais em cidades, mas elas são cada vez menos polis. Continuam a nos seduzir, mas não mais nos concedem um estilo de vida desejável. As cidades do nosso tempo estão se convertendo em amontoados de pessoas e não conseguem fornecer, a seus moradores, condições de usufruir as vantagens da aglomeração: o encontro, a diversidade, o aprendizado da diferença e do respeito pelo outro, a luta coletiva. Em muitos momentos, assemelham-se a praças de guerra, teatro de batalhas inglórias, de um corpo-a-corpo travado com armas que vão da faca e do revólver à agressão verbal, à chantagem emocional, à ausência de cortesia e delicadeza, à indiferença. Massas de excluídos, sem-teto e desempregados perambulam quase a esmo, em meio a “incluídos” fechados em si e carentes de uma idéia de futuro. São Paulo não é exceção.

São assombrosas as dificuldades para que se reformem as cidades. A política só se ocupa delas como objeto de gestão, não de convívio, mais como espaço de mercados e automóveis que de pessoas. O planejamento urbano já não dispõe de força persuasiva e legitimidade. Está sendo subvertido pela dinâmica do capitalismo global e boicotado pelos mercados. Os interesses digladiam sem projetos e consensos. As cidades parecem à deriva, como se não conseguissem ser alcançadas pela razão política democrática e republicana. Tornam-se alvo fácil da razão técnica exacerbada, de administradores focados em controle e na construção compulsiva de obras e factóides.

É verdade que novas modalidades de gestão despontam no horizonte, anunciando articulações de novo tipo entre técnica e política, decisão e participação, gestão e cidadania. É verdade, também, que a rotatividade política propicia a chegada de novas pessoas e idéias ao governo das cidades. Os próprios moradores movimentam-se sempre, ativando a reinvenção urbana. E as tecnologias da informação ajudam a impulsionar redes de comunicação e cooperação que se colam às utopias em gestação.

Não é suficiente.

Como tornar sustentáveis nossas cidades e impedir que suas toxinas prejudiquem seus habitantes? Que fazer para livrá-las da racionalidade instrumental do poder e da técnica e abri-las à sensibilidade política, ao prazer estético, ao calor humano da democracia? Neste mundo de mercados escancarados, interessa pouco a cidade competitiva e funcional, produtivista e repressiva. Para vivermos e convivermos com dignidade, precisamos de cidades agradáveis, capazes de expressar seus encantos, proteger e promover seus habitantes. Cidades seguras: não a cidade policiada, que veta a vida noturna ou o andar distraído, mas a cidade aberta, dialógica, de todos e para todos, que se auto-organiza.

São Paulo cresceu desordenadamente, com pressa errática. Foi sendo arrumada meio ao acaso, “planejada” a partir de óticas imperfeitas. Tornou-se uma cidade de bairros inventados, de avenidas para automóveis, de poucas praças, em que as antigas edificações são destruídas como coisas velhas, descaracterizadas ou largadas à especulação. Uma cidade de máquinas e negócios, mais que de pessoas, onde se circula e se caminha com dificuldade, respirando mal e sem tempo de olhar a paisagem ou os outros.

Mas é absurdo combater as cidades, desprezá-las ou fugir delas. São Paulo nos perturba e incomoda, mas também nos fornece condições para imaginar formas superiores de convivência e luta pela vida. Não deveríamos temê-la e sim aproveitá-la melhor. É insensato cogitar do recuo a comunidades ideais que negariam os males da modernização e realizariam o desejo de que se estabelecessem relações pessoais intensas, repletas de solidariedade, paz e harmonia.

A idéia de uma cidade sem problemas, conflitos e ruído social é uma ficção descolada da vida contemporânea. Paralisa, em vez de libertar. Cidades não são arranjos abstratos. Nascem do dia-a-dia coletivo, da história e da cultura enraizada, da surpresa e do inesperado, não do planejamento rígido, desejoso de substituir a face naturalmente tensa da cidade por uma harmonia de prancheta. Seu melhor motor é a democracia participativa organizada, impregnada de vida pública e diferenciação.

Quando olhamos São Paulo com atenção, descobrimos que por sob a feiúra se ocultam muitas belezas, por sob o caos há ordem, por sob a desorientação geral pulsam projetos de destino. Quando vamos além das aparências, vemos uma cidade de pessoas que constroem variadas formas de convivência e cultura, que lutam por uma vida melhor e querem governos melhores, capazes de escutá-las.

São Paulo é apenas aquilo que precisamos redescobrir a cada dia: uma cidade de carne e osso, verde e cimento, máquinas e pessoas, ordem e caos. E é nela como construção coletiva, com suas virtudes e contradições, que devemos pensar para agir. Se descobrirmos como politizá-la, organizá-la democraticamente, enchê-la de cidadania e cultura, se soubermos em suma urbanizá-la de modo pleno, teremos o futuro.

Que os eleitores e o próximo prefeito, ou prefeita, procurem assimilar essas expectativas. [Publicado em O Estado de S. Paulo, 25/10/2008, p. A2]

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Votar ou anular o voto em Beagá?

É triste o final da encenação eleitoral que está acontecendo em Belo Horizonte. O "projeto aliança por BH" - ou melhor, aliança para os projetos políticos de Pimentel e Aécio - foi reprovado pela população. O problema é que as opções que restaram nesse segundo turno são para dar dor no estômago. De um lado um aventureiro cheio de chavões, mas sem nenhum conteúdo, de outro lado, um candidato-laranja que não conhece a cidade, e que representa a despartidarização da política - isto é, a política só serve para projetos pessoais (nesse caso, de Aécio e Pimentel).
O PT sai perdedor da lambança costurada pelo Pimentel, e isso independe do resultado de domingo. O partido já perdeu desde o início quando o prefeito abandonou os aliados (como o PC do B) e deixou de fora justamente os melhores do partido - Patrus, Dulci, só para citar alguns. É assim mesmo: impossível sair algo bom vindo de Virgílio Guimarães. Nem aqui vou relembrar suas atitudes desastrosas para o PT.

Como Belo Horizonte é uma cidade que está no meu coração, como o Atlético Mineiro, sinto-me obrigado a expor minha contrariedade com que houve nessa eleição municipal. Bem que não estarei mais na cidade para ter que decidir entre votar e anular meu voto. Mas meus amigos do Blog Pedreira na Vidraça fizeram um quadro com os motivos para anular o voto. Mesmo que sua decisão seja escolher um dos candidatos no domingo, o Quadro Comparativo (clique no quadro para ampliar a visualização) ao lado fala por si só. Como se vê, a que ponto chegou a eleição em Beagá.
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Medida de precaução ?


Quem entra hoje no site da prefeitura de Porto Alegre encontra apenas a seguinte mensagem:

"Por medida de precaução e visando a conclusão tranqüila do processo eleitoral em curso, a Prefeitura de Porto Alegre, acolhendo decisão em caráter liminar da juíza da 161ª Zona Eleitoral, retirou seu Portal de Internet temporariamente do ar. Esperamos retomar esta prestação de serviços em breve".

Medida de precaução coisa nenhuma. A página foi retirada do ar por determinação da juíza eleitoral Helena Marta Maciel por "extrapolação da mera divulgação de atos administrativos". Em outras palavras, uso de um espaço público para fazer campanha eleitoral para o prefeito José Fogaça.
RSURGENTE
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Vai faltar tapete



Alan Greenspan, o homem que comandou o FED por 18 anos, foi ontem ao congresso americano prestar esclarecimentos sobre a crise. Ele, que sempre foi tratado como o sábio, o cientista, um dos maiores ideólogos do moderno liberalismo, desta vez teve que enfrentar o desconforto das explicações. Reconheceu que errou. Homem de números, disse que era equívoco da ordem de 40%. Pouco. Resultou em apenas alguns dígitos, 15 para ser exato, dos 668 trilhões de dólares do buraco no cassino.

Os principais jornais americanos amanheceram nesta sexta com destaque para o mea-culpa do homem que acreditava na auto-regulação do mercado, reconhecendo agora “uma falha no modelo que eu concebia como a estrutura crítica de funcionamento que define como o mundo funciona”. Mas os jornais brasileiros acharam coisa pouca, deixaram no máximo discretas chamadas na primeira página. Preferiram continuar sua sanha em provar ao seu eleitorado que este governo não consegue enfrentar o rombo do Greenspan, melhor eleger o José Serra em 2010 para nos salvar. Sim, dizem que a medida provisória tem o perigoso cheiro de estatização, coisa de comunista, e tome desqualificação, seria o Proer do Lula.

Mas tem um desafio grande para a mídia do Serra: como justificar que para o ralo foi exatamente a ideologia que seus editoriais tanto louvaram durante anos? Que o mito do estado mínimo virou mico? Que toda esta baboseira era ferrenhamente defendida pelos políticos de seu jardim?

Terão que varrer para debaixo do tapete um José Serra que estava alinhado exatamente às idéias de quem agora reconhece erro. Juntando com todo o fracasso da administração do Estado de S. Paulo, é mais lixo que tapete.
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Abrimos o armário do Kassab

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Sinal dos tempos

Uma menina de 15 anos passa vários dias sob a mira do revólver do namorado da amiga. É liberada pelo seqüestrador e depois mandada de volta ao cativeiro pela polícia (!?!). Leva um tiro na cara. Vai parar no hospital, enquanto sua amiga é morta pelo seqüestrador. Tudo isso transformado em um show televisivo macabro e repugnante.

Depois de toda essa experiência traumática, o que ela sente a respeito? Vontade de ser visitada pelo Alexandre Pato, naturalmente...
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Femme Fatale.

Ouvi o Velvet Underground pela primeira vez, no início da adolescência, na velha Fluminense FM. Aquelas canções soavam muito diferentes de tudo o que eu já tinha escutado até então. Era uma combinação explosiva: a voz e a poesia cortantes de Lou Reed, o experimentalismo instrumental de John Cale, a guitarra econômica e ao mesmo tempo ousada de Sterling Morrison... Literalmente, pirei. Mas, naquele momento, o que me deixou absolutamente fascinado foi a voz de Nico em “Femme Fatale”: a tonalidade grave e o inglês cantado com sotaque alemão causaram em mim uma sensação, ao mesmo tempo, de estranheza e doçura. Imediatamente, procurei mais informações sobre a dona daquela voz que me havia impressionado tanto e descobri uma das mais interessantes figuras dos loucos anos 60. Modelo belíssima, atriz em filmes de Fellini e Philippe Garrel, musa de Andy Warhol, parceira de cama de alguns dos homens mais desejados da época como Alain Delon e Jackson Browne, amiga de Bob Dylan e Brian Jones, Christa Päffgen – seu verdadeiro nome - teve uma vida intensa e agitada. Após o seu antológico disco com o Velvet Underground – o da famosa capa com a banana, desenhada por Warhol – desenvolveu uma carreira solo extremamente original (que ela já havia iniciado na fase pré-Velvet), com belos álbuns marcados por profundos sentimentos e inúmeras experimentações sonoras (a gravação feita por ela de “These Days”, do Jackson Browne, é de cortar os pulsos de tão bonita e melancólica). Depois de toda uma existência de loucuras, regadas à álcool e drogas, Nico morreu de forma extremamente prosaica, após ter sofrido uma queda enquanto andava de bicicleta, em Ibiza, há exatamente vinte anos. Bem, por que logo agora fui me lembrar da Nico? Acontece que minha cabeça agitada e não muito normal tem por hábito estabelecer associações instantâneas e inesperadas entre músicas e imagens. Assim, quando vejo nas ruas cenas que me impressionam, imediatamente meu cérebro programa uma música, como se fosse a trilha sonora de um filme. E ontem, ao passar pelo Centro do Rio meio esvaziado pelo feriado do Dia do Comerciário, vi uma mulher belíssima andando pela calçada que divide as pistas da Almirante Barroso. O rosto expressivo, a pele clara, os cabelos escuros cortados à chanel e a écharpe agitada pelo vento destes dias com jeito de outono formavam uma cena que era pura poesia. Assim, a trilha sonora que me veio à cabeça não podia ser outra: “Femme Fatale”, na voz da linda e misteriosa alemã.

Here she comes,
You'd better watch your step,
She's going to break your heart in two,
It's true.

It's not hard to realize,
Just look into her false colored eyes,
She'll build you up to just put you down,
What a clown.

'Cause everybody knows (She's a femme fatale)
The things she does to please (She's a femme fatale)
She's just a little tease (She's a femme fatale)
See the way she walks
Hear the way she talks.

You're written in her book,
You're number thirty-seven, have a look.
She's going to smile to make you frown,
What a clown.

Little boy, she's from the street.
Before you start you are already beat.
She's going to play you for a fool,
Yes it's true.

'Cause everybody knows (She's a femme fatale)
The things she does to please (She's a femme fatale)
She's just a little tease (She's a femme fatale)
See the way she walks,
Hear the way she talks.

(“Femme Fatale” – Lou Reed)
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Quando a sociologia abraça a estética





Sou amigo de Bruno Liberati há quase quarenta anos. Estudamos na mesma época na Escola de Sociologia e Política de São Paulo, no começo dos anos 1970. Foi lá que Liberati iniciou a carreira que acabou por consagrá-lo como um dos melhores e mais instigantes ilustradores, cartunistas e chargistas brasileiros. Equilibrando-se entre as ciências sociais e o desenho, enveredou pelo jornalismo e foi trabalhar no Jornal do Brasil, onde permaneceu por três décadas. Hoje é free-lancer e continua a cada dia melhor, produzindo a todo vapor, numa clara demonstração das possibilidades de integração criativa entre a consciência sociológica e a sensibilidade artística.

Visitas regulares a seu blog – o Liberati News – pode comprovar facilmente isso. São postagens diárias riquíssimas em desenhos, cartuns, ilustrações e textos cheios de humor, ironia e interpelação crítica da realidade. Para mim, as caricaturas são um caso à parte, por recobrirem – com uma pena precisa e perceptiva – um amplo panteão de figuras-chave do nosso tempo. Com sua permissão, pretendo reproduzir algumas delas por aqui, a partir de hoje.

Passem sempre que puderem pelo Liberati News e curtam uma empolgante experiência estética e política. Aprendo muito sempre que faço isso.

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Tiras do Sindiágua

Para não deixar o blog parado, aí vai uma sequência de tiras que eu desenhei para o Sindiágua-RS. Apresentando Batista, o privatista.



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Carta ao governador José Serra

Caro governador,

Espero que nas próximas horas o senhor venha a público pedir desculpas pelo fracasso de sua política de segurança. Com ela, aguardo o sepultamento do termo “choque de gestão”, empregado por seu partido para definir um novo modelo de administração pública, já que na prática demonstrou ser apenas uma bravata de propaganda. Como eu, muitos perceberam na última semana que é de sua responsabilidade as trapalhadas da polícia paulista que permitiram que uma refém voltasse ao cativeiro, uma invasão fosse feita sem os devidos cuidados, levando à morte uma jovem de 15 anos. Pouco antes, sua intransigência em lidar com uma greve foi exposta a todo o Brasil, em uma inacreditável batalha entre polícias.

Sua gestão prioriza o choque, no caso o do batalhão da PM, contra grevistas e persegue a população empobrecida na ânsia de apresentar números satisfatórios contra a violência. Mas não investe em investigação, menos ainda em táticas acertadas para proteger cidadãos.

O senhor critica injustamente a greve dos policiais civis por ser um movimento político partidário, mas é a sua gestão que apenas serve a propósitos eleitorais. Prova é que o seu orçamento de 2008 enviado à Assembléia Legislativa foi duramente criticado por parlamentares por este motivo, pois viabilizava uma estratégia política para dar visibilidade ao governo em ano eleitoral, priorizando investimentos em obras e infra-estrutura. Projetos sociais, saúde e educação ficaram prejudicados. Ilustrativo dos seus propósitos é o aumento em 110% nas verbas de publicidade.

Mesmo com a estreita cumplicidade da mídia, alimentada com esta boa verba, está sendo difícil esconder o fracasso de sua gestão. As evidências ficaram mais fortes, apesar do empenho de jornalistas como Renato Machado, que na edição do Bom Dia Brasil do último dia 17, sobre o conflito de policiais na porta do Palácio dos Bandeirantes, disse em tom grave: "A população de São Paulo assistiu atônita a mais um exemplo da crise que assola a segurança pública no Brasil”. Chega a ser patética a tentativa de livrá-lo de responsabilidade. Como “no Brasil”? A crise estava a poucos metros do senhor!

E governador, quando se desculpar, aproveite também para pedir perdão por todas as baboseiras que seu partido acreditava e propagava sobre um moderno capitalismo com estado mínimo, com o mercado regulando as necessidades humanas . Estas idéias vieram abaixo agora, quando até a Islândia, aquele perfeito exemplo de capitalismo moderno, segundo seus gurus, ruiu quanto não havia estado para ajudar na queda do cassino mundial.

Perdeu, assuma seu fracasso e invente outro discurso.
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O vale-tudo da corrida eleitoral

É hipocrisia imaginar que na corrida político-eleitoral o vale-tudo não é a regra, mas a exceção. A campanha da Marta Suplicy em São Paulo errou na estratégia eleitoral ao abordar a vida privada do candidato Kassab, mas não quer dizer que a eleição é uma peleja entre mocinhos. É um erro permitir que a campanha eleitoral invada indevidamente a vida privada do candidato. Esse é apenas um princípio. Todavia, o maior erro em termos de estratégia eleitoral é que a campanha da Marta devia prever a reação negativa da mídia, apesar de estar aí uma grande hipocrisia.
Os petistas reclamam que a mídia sempre escancara a vida privada deles, mas quando acontece com seus adversários, essa mesma mídia insurge indignada. É público e notório que a vida privada de Lula e Marta Suplicy (só para citar alguns) foi e continua sendo invadida descaradamente pela grande mídia que a todo custo busca proteger a vida privada do candidato Kassab. Marta Suplicy foi e continua sendo vítima de preconceitos resultados da invasão de sua vida privada (algumas verdadeiras calúnias). Esse é mais um caso de indignação seletiva.
Estrategicamente, a candidata Marta Suplicy deveria ter reconhecido o erro no início, pedido desculpas, sem abandonar a estratégia de levar ao eleitor mais informação negativa sobre seu adversário. Seria uma escolha tática, e não tem nada a ver com a noção de certo ou errado. Aliás, em eleição a idéia de certo ou errado é bobagem. Tanto é verdade que contra o PT vale-tudo, e ninguém fica espantado.
Tudo indica que Marta Suplicy só viu o comercial depois de sua divulgação, mais tal fato não é atenuante para ela. A responsabilidade da campanha é sempre do candidato (a). Assim, ao perceber a repercussão negativa, a melhor estratégia é sempre reconhecer o erro, pedir desculpas e manter a estratégia de outra forma (desde que ainda se acredite que a estratégia possa surtir resultado eleitoral).
Uma maneira inteligente de abordar a suposta homossexualidade do candidato Kassab é questionar a existência da Secretaria de Desburocratização. Para que foi criada? Teria sido para abrigar na administração de Kassab o deputado Rodrigo Garcia? Quais os critérios que levaram sua escolha? No final, alguém acabaria levantando a questão do homossexualismo de Kassab, sem precisar que a campanha abordasse sua vida pessoal.

Também é importante questionar o estrondoso crescimento do patrimônio de Kassab desde que iniciou na política no governo de Celso Pitta. O comercial de Marta Suplicy traz essas questões, mas a mídia ignora, centrando somente na sua suposta indignação. Nesse episódio, a mídia sem pudor propaga que a candidata tem preconceito contra homossexuais. É o vale-tudo da mídia contra Marta Suplicy. Contra Marta Suplicy o vale-tudo é permitido.
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Os panfletos contra Gabeira e a mordaça da Justiça Eleitoral

Antes de iniciar este post quero dizer que torço pela vitória do Gabeira no Rio. Apesar de estar numa aliança pouco defensável, não dá para engolir o candidato metamorfose-ambulante do Eduardo Paes. Feito essas considerações, agora vamos aos panfletos.
A mídia tratou inicialmente os panfletos como avulsos como se fossem apócrifos. As fotos dos panfletos são claras: o PT, PSB, PDT e PC do B assinaram os panfletos, com CNPJ e tudo (como manda o figurino). Ou seja, não esconderam que os panfletos eram ou tinham o apoio desses partidos. Nada foi feito às escuras. No entanto, isso foi ignorado inicialmente, numa tentativa de associar os panfletos ao PMDB do candidato Paes, principalmente porque uma Kombi que distribuía os panfletos trabalhou na campanha da vereadora eleita Clarissa Garotinho (PMDB).

Além disso, os panfletos também foram tratados de forma pejorativa, como se fosse um ataque desleal ao candidato Gabeira. Os panfletos têm os dizeres “Diga não à continuidade de César Maia, pense nisto!”. Não há na frase nenhum ataque desleal ou qualquer calúnia ou difamação contra Gabeira, como próprio assinalou a Justiça Eleitoral. Como Gabeira tem apoio do prefeito César Maia, e o PV, PSDB e PPS participa da sua adminstração a muitos anos, é uma interpretação política plausível.

Está claro também que não é Gabeira que apóia César Maia, mas o contrário. Da mesma, o presidente Lula recebe apoios de políticos de diversos partidos e trajetórias, mas nada autoriza a concluir que o presidente apóia todos que os apóiam. Todavia, a candidatura de Gabeira permite essa interpretação de continuidade da gestão de César Maia. Obviamente, Gabeira e César Maia são políticos bem diferentes, o que nos leva a acreditar que os governos serão bem distintos. Porém, a candidatura Gabeira não é ruptura do governo César Maia. Também não é a candidatura de Eduardo Paes, criado nas hostes do prefeito carioca e que até a pouco tempo engrossava as fileiras do PSDB, partido que participa ativamente da gestão César Maia.
Os partidos PV, PSDB e PPS participam do governo de César Maia. Aliás, é o PSDB quem comanda a Secretaria de Saúde, a área de pior avaliação do governo César Maia. Então o panfleto não falou nenhuma mentira, pois tanto deverá haver mudanças quanto continuidade. Certamente não é o caso de ruptura. Se a continuidade persistir na saúde (o que não acredito) num futuro governo Gabeira, a população não tem muito a comemorar.
Segundo o dirigente petista, a apreensão é arbitrária: “O PT tem candidato no Rio no segundo turno. Mas esse não é um panfleto pró-Paes. É meu direito de liberdade. Estamos na ditadura militar? Não estamos fazendo nada às escuras. A apreensão é arbitrária, para beneficiar o Gabeira. Agora vão amordaçar os partidos?”. O TRE, no entanto, entende que o panfleto representa propaganda negativa, apesar de não ser difamatório ou calunioso, e visa influir a opinião do eleitor. Para o TRE, a Resolução 22.718 da Propaganda Eleitoral, é obrigatório informar o nome do candidato, do vice e da coligação beneficiada. Que coisa estranha essa do TRE querer legislar de como os partidos podem emitir suas opiniões! Em que lugar está a mídia que se professa defensora da liberdade de opinião? Ah, o partido responsável pela confecção do panfleto é o PT, e para este não tem esse negócio de liberdade. Tome mordaça no PT. É assim mesmo: alguns grupos (políticos ou não) tem mais liberdade de expressar suas opiniões. Não basta o desigual acesso aos meios de comunicação de massa.

Este é mais um equívoco da Justiça Eleitoral. É bastante similar à mordaça que a justiça eleitoral impôs na Internet. Não vejo porque a Justiça Eleitoral deva proibir partidos de expressarem suas opiniões, mesmo que isso beneficie determinada candidatura. É um tipo de mordaça que tenta limitar as formas de propaganda política. Agindo assim, a Justiça Eleitoral deveria fechar ou impedir cobertura jornalística das eleições de todos os jornais, revistas, televisão, etc., privando os eleitores de informação, pois não há dúvida de que as matérias supostamente jornalísticas dos grandes veículos de comunicação estão sempre a serviço de uma ou outra candidatura. Ou seja, tem sempre alguém sendo beneficiado. Ou será que alguém duvida de que a grande imprensa apóia Gabeira no Rio, Kassab em São Paulo e Márcio Lacerda em Belo Horizonte. Dessa praga a Justiça Eleitoral não tem como se livrar.
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Você sabe onde está o poste que estava aqui?




O Fogaça e sua "tropa" comeu!

Resultado de um acidente, estava caído no canteiro central na esquina das ruas Princesa Isabel e Santana.

Mas levou nove meses para digeri-lo. Que parto! Passava por ele todos os dias.

É a cara de um governo incompetente que diz não poder parar!

Mas que merda de governo!
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Coronel Mendes, osso duro de roer...


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Quem lava mais branco?

Fiquei curioso hoje para entender a lei que regula as eleições municipais. São Google ajudou para descobrir a “Resolução nº 22.718” do TSE, na verdade uma instrução ao Código Eleitoral, este sim a lei, de 1997. A atual resolução é novinha, saiu do forno este ano. A cada eleição os juízes se reúnem para retocar o tal código. E não param de mudar. Ontem mesmo, vejam só, depois do primeiro turno, os ministros do TSE estiveram reunidos para mais uma mudancinha. Segundo seu presidente, Carlos Ayres Brito, na verdade uma “explicitação para distinguir, mais uma vez, a mídia impressa da mídia representada pelo rádio e pela TV”. Tudo bem. Entendi que os advogados do grupo Estado fizeram um bom trabalho. A instrução é aparentemente rígida com as TVs e rádios na manifestação de compromissos com candidatos. E o grupo Estado não tem TV e rádio. E tem compromissos, imagino. Paciência. Apenas os invejo pela impossibilidade que tenho em contar com advogados que ao menos pudessem me explicar as notícias do dia, que motivaram minha curiosidade.

O jornal O Globo deu enorme destaque em sua edição de quinta-feira à apreensão de uma kombi com propaganda irregular. Seus ocupantes foram parar na Polícia Federal, onde haverá inquérito a ser enviado ao Ministério Público. As acusações são graves, segundo o jornal: abuso do poder econômico, crime contra a honra e/ou propaganda negativa. E ouviram o juiz Luiz Márcio Pereira, coordenador de Fiscalização de Propaganda Eleitoral, que foi taxativo em levantar a hipótese de “ação orquestrada”. O motivo principal para tal afirmação foram panfletos apócrifos encontrados contra o candidato Fernando Gabeira.

A primeira questão é que os panfletos não são exatamente apócrifos, estão assinados pela Associação de Moradores do Morro São José da Pedra. Foi ouvido o presidente da associação, que negou a autoria, mas disse que poderia haver confusão com outra associação do mesmo nome, em outro lugar. Quanto ao conteúdo, o jornal afirma que se tratava de uma denúncia que vincula Gabeira a um suposto esquema de recolhimento de lixo que envolveria o prefeito Cesar Maia. Os panfletos atribuem as críticas feitas pelo candidato à vereadora Lucinha (PSDB) ao fato de o prefeito, que apóia Gabeira, ter interesse na instalação deste lixão, pois seria amigo de Julio Simões, o tubarão do transporte de lixo.

Li a lei, mas sem advogados para melhor orientação, confesso que não entendo como estas pessoas serão enquadradas. A acusação de abuso de poder econômico com o material apreendido na Kombi é piada frente ao que vimos no primeiro turno. A cidade foi inundada por bandeiras e cartazes ambulantes. Mais grave, vi candidatos a vereador em frotas de carros 0km, pintados com suas imagens, tal como os de empresas. Propagandas riquíssimas que nem em quatro anos há rendimentos de um vereador para pagar tais gastos. Desconheço que alguma fiscalização do TRE tenha se preocupado em fazer esta conta.

E o que seria “propaganda negativa”, ou “crime contra a honra”? Denunciar os reais interesses dos candidatos? Defender parte da população atingida por um projeto polêmico, que já foi noticiado pela própria imprensa? À sociedade, como participar? Ela não pode denunciar, manifestar seu descontentamento sem cair no rigor da lei? É o que me pareceu ao ver as duas propagandas hoje na TV, obra da magistral lei que transforma os dois candidatos em meros produtos, sem idéias. Músicas com letras para todos cantarem ocupando a maior parte do tempo. Nada de debate, zero de polêmica, apenas parcas idéias conhecidas, bravatas de campanha. O conteúdo se foi. Os dois candidatos conservadores tentando vender a sua marca. Algo puramente simbólico. Parece a disputa entre duas marcas de refrigerante. Para a alegria do TSE, vamos escolher entre a Coca-Cola e a Pepsi.
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...para quem precisa de...

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Brigada Fashion Week


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Entra em campo o Tapetão! - 2

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Entra em campo o Tapetão!

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Fim de jogo para Mendes


A moral do presidente do STF, Gilmar Mendes, já tão abalada pela vexante reportagem de Leandro Fortes, na Carta Capital, ruiu por inteira ontem, depois do depoimento na CPI dos Grampos do sargento Aílton Carvalho de Queiroz, chefe da Seção de Operações Especiais da Secretaria de Segurança do Supremo Tribunal Federal. Esperava-se apenas que confirmasse que uma varredura no último dia 10 de julho constatara a existência de grampo. O depoimento disse algo diferente, inesperado e que coloca Mendes em péssima situação.

Segundo Queiroz, a varredura indicou uma provável escuta, mas que poderia ser motivada por sinais de TV. Mais preocupante disse em seguida: o relatório elaborado por ele, com o que foi apurado, e totalmente sigiloso, foi entregue à presidência. Questionado sobre a autoria do vazamento, que foi parar em destaque na revista Veja, foi claro: “Imagino que foi a própria presidência (quem vazou). Eu faço o relatório em duas vias e ele é entregue ao chefe de gabinete da presidência."

Luis Nassif foi conclusivo em seu blog: “Gilmar endossou uma conclusão falsa, em cima de um relatório inconclusivo, e uma possível fraude - o caso do suposto grampo preparado pela ABIN. E provavelmente passou para a revista o terceiro mote: o depoimento da desembargadora sobre supostos grampos, que não tinha uma informação conclusiva sequer”.

O depoimento atordoou a mídia. O G1, site das organizações Globo, deu a notícia, com o título afirmando: “Queiroz sugere que presidência do Supremo vazou relatório sigiloso”. Mas, o jornal O Globo, do mesmo grupo, em sua edição de hoje, dedica apenas uma nota de 10 linhas para afirmar que o sargento confirmou indícios de grampo no STF.

Minhas apostas são de que esta CPI acabou, junto com mais esta patética ação golpista. Mas não vamos esquecer o assunto. Faço minhas as palavras de Paulo Henrique Amorim:

E o Conselho Nacional de Justiça, não tem nada a declarar?
E o Ministério Público Federal, não tem nada a declarar?
E os outros dez ministros do Supremo – vão assistir à desconstrução moral da mais alta Corte?


***

Atualizando: Renato Parente, secretário de comunicação do STF, envia e-mail ao Luis Nassif, contestando afirmações no blog. Estranhamente, diz que “é desejável deixar à parte questões pessoais e empresariais, que em nada dizem respeito ao tribunal”, algo em que nenhum momento Nassif faz referência. Confusão de destinatário? Seria destinado a Carta Capital que revela os grandes negócios de Gilmar Mendes com o Instituto Brasiliense de Direito Público (IDP), onde é sócio? De qualquer forma, está evidente que o ministro acusou o golpe. E confusamente tenta reagir, via um de seus subordinados. A resposta de Nassif é uma lição de boa reportagem, três perguntas fundamentais. Vale a pena acompanhar o desenrolar deste novo episódio.

Não resisto a um comentário: quem diria? Aquelas manchetes escandalosas, dias e dias seguidos, sem nenhum fato novo, foram parar na blogosfera. Aparentemente, nada agora vai para o papel ou a TV. O elefante foi varrido para debaixo do tapete.
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Marx e a Crise Financeira Internacional.

O fragmento de texto que posto abaixo foi escrito há mais de cem anos por Karl Marx, pensador que - juntamente com Keynes - tem sido constantemente declarado morto e enterrado pelos arautos do liberalismo, mas que a história, esta velha teimosa, insiste sempre em ressuscitar. No entanto, este texto parece que foi escrito ontem por algum observador mais crítico e arguto da atual crise financeira internacional.

Um mundo feito de papel

Em um sistema de produção em que toda a trama do processo de reprodução repousa sobre o crédito, quando este cessa repentinamente e somente se admitem pagamentos em dinheiro, tem que produzir-se imediatamente uma crise, uma demanda forte e atropelada de meios de pagamento.
Por isso, à primeira vista, a crise aparece como uma simples crise de crédito e de dinheiro líquido. E, em realidade, trata-se somente da conversão de letras de câmbio em dinheiro. Mas essas letras representam, em sua maioria, compras e vendas reais, as quais, ao sentirem a necessidade de expandir-se amplamente, acabam servindo de base a toda a crise.

Mas, ao lado disto, há uma massa enorme dessas letras que só representam negócios de especulação, que agora se desnudam e explodem como bolhas de sabão, ademais, especulações sobre capitais alheios, mas fracassadas; finalmente, capitais-mercadorias desvalorizados ou até encalhados, ou um refluxo de capital já irrealizável. E todo esse sistema artificial de extensão violenta do processo de reprodução não pode corrigir-se, naturalmente. O Banco da Inglaterra, por exemplo, entregue aos especuladores, com seus bônus, o capital que lhes falta, impede que comprem todas as mercadorias desvalorizadas por seus antigos valores nominais.

No mais, aqui tudo aparece invertido, pois num mundo feito de papel não se revelam nunca o preço real e seus fatores, mas sim somente barras, dinheiro metálico, bônus bancários, letras de câmbio, títulos e valores. E esta inversão se manifesta em todos os lugares onde se condensa o negócio de dinheiro do país, como ocorre em Londres; todo o processo aparece como inexplicável, menos nos locais mesmo da produção.

Fragmento de O Capital, Volume 3, Capítulo 30, "Capital-dinheiro e capital efetivo", Karl Marx (1818-1883).
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Piada bacteriológica

Para o blog não ficar parado, aí vai um velho cartum sobre bactérias em crise existencial. É um pouco menos hermético do que o outro cartum bacteriológico que eu havia postado um tempo atrás.

Durante a semana, prometo desenhar algo novo. Se não para o blog, pelo menos para o Sindiágua...

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Gabeira, Paes e Joseph Fouché


Enquanto falta inteligência na cobertura de nossa mídia oficial sobre as eleições municipais, incluindo seus amestrados comentaristas, em blogs há olhares mais pensantes. Rodrigo Vianna, ex-repórter da TV Globo, que em 2006 manifestou seu repúdio à parcialidade da emissora nas eleições presidenciais, lembra em seu blog do personagem Joseph Fouché, ex-companheiro de Danton e Robespierre, que sobreviveu aos novos tempos, traindo suas antigas idéias, aderindo aos vencedores. É retratado em livro de Stephen Zweig, de 1928. Boa lembrança para entendermos um tanto sobre as adaptações dos candidatos que disputam o segundo turno aqui no Rio de Janeiro. O blog é ótimo, e o livro uma grande sugestão.
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