“A separação momentânea é boa porque o contato constante faz com que as coisas se tornem muito monótonas, semelhantes e difíceis de serem distinguidas. Até as torres não parecem tão altas quando vistas de perto, ao passo que as coisas pequenas e cotidianas da vida crescem sobremaneira. Assim acontece com as paixões. Os hábitos tradicionais, que mediante a proximidade se apoderam do homem por inteiro e adquirem forma passional, desaparecem assim que seu objeto imediato perde-se de vista. As grandes paixões, que em virtude da proximidade de seu objeto se convertem em hábitos tradicionais, crescem e recuperam seu vigor sob a influência mágica da distância. Assim é com meu amor. Tal como o sol e a chuva quando agem nas plantas, o tempo só faz com que ele cresça. Meu amor por você, quando você está longe, surge tal como é na realidade: um gigante, que absorve toda a energia do meu espírito e todo o ardor do meu coração. Por sentir uma grande paixão, sinto-me de novo um homem.
A diversidade de temas em que o estudo e a cultura moderna nos enredam, tanto quanto o ceticismo com que necessariamente viciamos todas as impressões subjetivas e objetivas, têm o dom de nos tornar pequenos, fracos, ranzinzas e indecisos. Mas o amor – não o amor pelo homem feuerbachiano, não pelo metabolismo de Woleschott, não pelo proletariado, mas o amor pelo amorzinho, ou seja, por você – transforma novamente o homem em homem”.
[Marx, Carta a Jenny von Westphalen, 21/06/1856. Citada por Ernst Fischer, O que Marx realmente disse, Ed. Civilização Brasileira, p. 11]