2012 - Carlos Alberto Sardenberg

O mundo não mergulhou na segunda recessão. Houve crescimento - baixo, é verdade, mas sempre algum ganho de produto e renda. E alguns países e regiões, como partes da Ásia e da América Latina, foram até bastante bem, com expansão acima dos 5%.

Os Estados Unidos também não caíram numa segunda recessão. A maior economia do mundo fechou o ano com crescimento pouco acima de 2%. É menos do que o potencial americano, mas é o melhor resultado entre os maiores países ricos. A taxa de desemprego caiu e o governo começou a venda das ações de empresas e bancos que haviam sido estatizados. Estão sendo reprivatizados.

Os Estados Unidos também não despencaram no abismo fiscal. Na última hora, Obama conseguiu um acordo com os republicanos, regulando aumento de impostos e corte de gastos públicos. É parcial, mas saiu, aliás confirmando o diagnóstico atribuído a Churchill: "Pode-se sempre confiar em que os americanos farão a coisa certa, uma vez esgotadas todas as outras possibilidades."

A China não sofreu a temida aterrissagem forçada, nem sua estrutura política entrou em colapso. O crescimento econômico desacelerou e manteve-se entre 7,5% e 8% ao ano, talvez até mais saudável que o ritmo anterior. E iniciou-se uma completa troca de comando na direção do partido e do governo, operada de modo planejado e organizado. A nova liderança anuncia reformas na direção correta, de poupar menos, gastar mais e ampliar o consumo interno.

A zona do euro não entrou em colapso. Nenhum país abandonou a moeda.

Espanha e Itália não afundaram na crise da dívida, nem na turbulência política. Ficaram mais pobres em 2012, é verdade, e é triste, mas chegaram ao fim do ano financiando suas dívidas a juros menores do que no início do período. Seguem as políticas de ajuste e reformas, que começam a produzir os primeiros resultados. Os governos conservadores desses dois países mantiveram suas posições.

Já François Hollande, que se elegeu com o mote "abaixo a austeridade", criou na França uma confusão de política econômica bem parecida com a brasileira. Designou um superempresário para fazer um diagnóstico da baixa competitividade francesa (como Dilma convidou Gerdau), aplicou uma ou outra das medidas sugeridas (como a redução do imposto sobre a folha de salários, de novo como Dilma), mas ao mesmo tempo desencadeou políticas intervencionistas que assustaram o empresariado e reduziram o nível de investimentos (de novo ...).

A Corte Constitucional francesa considerou inconstitucional o imposto de 75% sobre a renda superior a um milhão de euros anuais - que havia sido outro grande tema de campanha socialista. Antes disso, Gerard Depardieu já havia renunciado à cidadania francesa. Para ele, o governo Hollande "pensa que sucesso, criatividade e talento precisam ser punidos".

Ministros socialistas atacaram sua "falta de patriotismo e de solidariedade". Depardieu respondeu com sua biografia: começou a trabalhar aos 14 anos como operário gráfico; em 45 anos, nos tempos mais recentes como ator e empresário, juntou uma bela fortuna; ao longo desse tempo, criou empregos e pagou 145 milhões de euros em impostos. Que querem mais? Mudou-se para a Bélgica, enquanto a popularidade de Hollande caía para 35%.

Já Angela Merkel segue firme em suas políticas e convicções. Dos grandes europeus, a Alemanha foi a única a apresentar algum crescimento no ano passado.

Dirão: o jogo ainda não acabou, há muitas variáveis no ar. Sim, como sempre será. Mas é certo que as previsões pessimistas ou simplesmente as previsões do pensamento mais à esquerda não se realizaram. E não se realizaram pela ação política. Super-Mário, o presidente do BC Europeu, Mario Draghi, salvou o euro. La Merkel, acreditem ou não, manteve o euro e a União Europeia de pé, reclamou reformas que começam a ser implementadas em diversos países. O presidente do BC americano, Ben Bernanke, evitou um desastre global. Obama se reelegeu e, aos pouquinhos, vai arrumando a economia e as contas públicas.

Já no Brasil, foram as previsões otimistas que deram errado. A presidente Dilma passou o ano inteiro dando lições de crescimento nos fóruns internacionais. Atacou as políticas americana e europeia, culpou-as pelos problemas locais, e fez propaganda do modelo brasileiro-lulista. Para colher o quê? Crescimento de menos de 1% e inflação perto de 6% - combinação pior que a média latino-americana, pior que a média asiática, pior que a média mundial, pior que os Brics, pior que EUA e pior que Alemanha.

Tem uma poderosa carta na manga - o desemprego baixo, mas cuja força está sob ameaça.

2013? Fica para a próxima.

Fonte: O Globo
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Infarto adiado - Celso Ming

O Congresso dos Estados Unidos apenas adiou o infarto das contas públicas. Os grandes problemas fiscais estão longe de terem sido resolvidos. A agonia continua ao longo dos próximos dois meses.

Graças à decisão que derrubou a isenção do imposto sobre a renda da parcela mais rica da população americana, os cortes automáticos de despesas que teriam de começar agora em janeiro foram evitados.

Mas o rombo das contas públicas dos Estados Unidos continua alto. Sem uma nova autorização do Congresso, a partir de março, o Tesouro não poderá mais emitir títulos com o objetivo de aumentar a dívida federal acima do atual teto de US$ 16,4 trilhões (já atingido), correspondente a cerca de 73% do PIB americano.

O aumento da arrecadação proporcionado pelas decisões tomadas na madrugada de ontem tirou a economia americana da UTI, mas não evitará um desempenho mais baixo da atividade econômica. As primeiras estimativas divulgadas por empresas de consultoria são de que pode tirar em 2013 quase 1 ponto porcentual do crescimento do PIB. Também não deve concorrer para aumentar os postos de trabalho. O atual nível de desemprego, de 7,7% da população ativa, tende a ficar por aí mesmo.

O acordo arrancado com enorme queima de energia política não equaciona as contas públicas. Por enquanto, mantém-se elevada a aceitação dos títulos do Tesouro dos Estados Unidos. É o principal ativo das reservas técnicas dos bancos centrais, dos fundos de investimento e das seguradoras. Mas o crescimento da dívida dos Estados Unidos segue em direção do insustentável, nível que ninguém se atreve a definir onde fica, mas que todos sabem que existe.

Mesmo se, em março, o Congresso concordar em aumentar o teto da dívida americana e, assim, impedir a suspensão imediata dos pagamentos, ainda ficará para ser resolvida a necessidade de cortes extras de despesas da ordem de US$ 1,2 trilhão em dez anos.

Por isso, o alívio pelo acordo, que o mercado financeiro ontem refletiu, não deve perdurar. Ficou demonstrado que os políticos americanos adoram manter a vaquinha balançando sobre o precipício. Mas também se viu que entre eles há razoável percepção de que uma solução ruim é melhor que a ruína de todos. Na undécima badalada do relógio, sempre sai um acordo que evita o pior.

Como este acordo não elimina as incertezas, o mundo dos negócios tenderá a atuar relativamente travado. Os investidores não se sentirão encorajados a despejar dinheiro na economia enquanto não houver clareza sobre o comportamento futuro das contas públicas.

O problema principal está longe de ser econômico. Ele é fundamentalmente político. Consiste em definir como a conta da crise deve ser repassada para a população. Os republicanos entendem que devam ser cortadas as despesas sociais, especialmente de seguro-desemprego e seguro saúde (Medicare). Os democratas preferem o aumento de impostos, sobretudo sobre os mais ricos e os de maior renda. A curto prazo, não há perspectiva de desempate. O impasse seguirá por mais tempo.

Fonte: O Estado de S. Paulo
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Novas batalhas nos EUA - Míriam Leitão

A aprovação do acordo fiscal americano confirma os temores. Apesar de se ter evitado o "abismo", mostrou como está tenso o ambiente político americano. As reportagens de bastidor contam até de palavrões entre líderes. A votação atravessou o réveillon e deixou muito em aberto. O primeiro trimestre terá, pelo menos, uma nova queda de braço sobre o teto da dívida.

O "Político", agência digital de análises políticas, revelou que a poucos metros do Salão Oval, em um dia de reunião em torno do acordo, o presidente da Câmara, John Boehner, virou-se para o líder dos democratas no Senado, Harry Reid, e de dedo em riste afirmou: "vá se..." . O resto da frase em português e em inglês começa com a letra "f". Reid perguntou do que ele estava falando e Boehner repetiu o, digamos, agressivo convite. Segundo o site, a cena foi vista por várias testemunhas. Um pouco antes, Reid tinha acusado Boehner de comandar uma ditadura na Câmara.

Boehner acabou votando a favor do acordo, junto com outros 84 deputados republicanos e isso permitiu a aprovação da proposta que evitou o "abismo fiscal", ou seja, os cortes automáticos de gastos e a elevação geral de impostos. Evitou-se o pior, mas apenas na undécima hora, levando o estresse político americano muito além do razoável.

Há 17 meses a data já havia sido estabelecida como o prazo fatal para que os dois partidos nas duas casas chegassem a um acordo que evitasse o ajuste automático. O que se esperava é que, mesmo levando a negociação até um momento próximo do último prazo, eles não chegariam ao ponto de ficar balançando sobre o abismo em plena noite de réveillon e tivessem que votar no dia 31, no Senado, e 1º de janeiro, na Câmara. Mas foi o que fizeram.

Votaram contra o acordo 151 deputados oposicionistas, entre eles, o líder republicano Eric Kantor. Boehner teve que endurecer pelo menos nas declarações, porque quer continuar sendo presidente da Câmara. Ele disse que a maioria dos eleitores decidiu manter a Câmara sob controle dos republicanos para que eles façam oposição. E é o que farão, prometeu. O ex-candidato republicano à presidência do país, Paul Ryan, também votou a favor, mas ontem divulgou uma nota se explicando. Pode-se imaginar que serão duros os próximos embates.

Boehner admitiu que se o acordo não fosse fechado os republicanos seriam considerados culpados pelo tumulto financeiro que começaria hoje. Mas para eles significou ajudar a aprovar a primeira elevação de impostos em 20 anos. Será o fim da redução da alíquota que incide sobre quem ganha por ano US$ 400 mil, se for solteiro, ou US$ 450 mil o casal. Volta a vigorar a alíquota de 39,6%.

Não arrecadará o suficiente para fazer a diferença no enorme déficit americano, mas assim se evitou o corte no seguro-desemprego e em outros gastos sociais, e uma elevação de impostos para a classe média. O próprio Obama admitiu que "o déficit continua muito alto" e o país está investindo muito pouco "no que precisamos para que a economia cresça tão rápido quanto deveria".

Em dois meses, republicanos e democratas estarão revivendo esse ambiente envenenado na discussão da elevação do teto da dívida americana. Como se vê, o calendário tem outras datas em vermelho para decisões na área fiscal.

Portanto, o que fica da leitura de quão extremados foram os debates nos momentos finais, e quanto se estendeu o tempo além do razoável, é que novos embates radicais vão acontecer este ano. Novos momentos de tensão já estão contratados e novos palavrões poderão ser ouvidos nos diálogos entre republicanos e democratas.

Fonte O Globo
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Justiça chilena detém acusados de matar o cantor Victor Jara

Compositor foi torturado e assassinado durante a ditadura de Augusto Pinochet

SANTIAGO - A Justiça chilena deteve nesta quarta-feira um dos dois acusados de ser autor do assassinato do cantor e compositor chileno Victor Jara. Outros três acusados de cúmplices se entregaram também nesta quarta pelo crime que ocorreu há quatro décadas durante a ditadura de Augusto Pinochet.

Depois de um julgamento longo, as investigações forenses concluíram que os então tenentes Hugo Sánchez Marmonti e Pedro Barrientos Núñez foram os autores dos 44 tiros que acertaram o trovador chileno, simpatizante do governo de Salvador Allende.

Sánchez se entregou à polícia, e no caso de Barrientos haverá pedido de extradição, já que ele vive nos Estados Unidos, informou o juiz do caso, Miguel Vásquez.

Jara, autor das famosas músicas “Te recuerdo Amanda” e “El derecho de a vivir en paz”, foi detido junto com professores e alunos da Universidade Técnica do Estado depois do golpe de Estado de 1973.

Segundo testemunhas, Jara foi torturado e teve suas mãos quebradas antes de ser assassinado, em 16 de setembro de 1973. Seu corpo foi encontrado três dias depois perto de um cemitério.

Também se entregaram nesta quarta os militares Edwin Dimpter, Nelson Hasse Mazzei e Jorge Smith Gumucio, três dos seis suspeitos de terem sido cúmplices do crime.

Apesar da detenção dos culpados, fontes judiciais explicaram que todos têm a possibilidade de solicitar a liberdade por meio de fiança. Até agora, permanecem reclusos em um quartel.

A ordem de detenção deve ser ratificada por um tribunal superior, em um processo que poderia prolongar por anos.

A defesa do militar Raúl Jofré, outro dos supostos cúmplices, informou que ele deve se entregar nas próximas horas. Em relação aos outros acusados, Roberto Souper permanece internado em uma clínica psiquiátrica e Luis Bethke Wulf não foi localizado.

A família do cantor elogiou a decisão do tribunal e considerou que o caso pode abrir precedentes para outros semelhantes.

- Se o caso de Victor continuar como uma ponta de lança, seguiremos pedindo justiça para Victor, e com a esperança que a justiça seja feita para todos - disse Joan Jara, viúva do cantor.

Durante o regime de Pinochet, morreram ou desapareceram cerca de 3.000 pessoas. Além disso, foram torturadas em torno de 28.000, incluindo a ex-presidente Michelle Bachelet.

Fonte: O Globo
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Sururu na roda - Da melhor qualidade

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