Ditadura das minorias?
"O Brasil atingiu um nível de tolerância intolerável". Mentira. Nosso país é uma panela de pressão de intolerância. A começar pela intolerância de certos "cronistas", tão rápidos em identificar "minorias" que estariam oprimindo as maiorias, mas sem se admitirem eles próprios como uma minoria mais insignificante do que a suposta "minoria" que eles acusam de opressora. Se comparados ao conjunto da sociedade, tais "cronistas" são completamente inexpressivos e só se fazem ouvir, por se disporem a dizer, na mídia, aquilo que seus patrões permitem. E a insignificância não está só no seu número - uma meia dúzia de paus mandados - mas, sobretudo, no seu discurso raso e tendencioso.
Trazer a questão do eventual bloqueio de uma via pública por um pelotão de ciclistas para o centro do debate sobre o direito de ir e vir, é um truquezinho tão manjado quanto cretino. Bem ao nível e ao gosto desses davis coimbras que infestam a mídia.
E no mais das vezes, no cotidiano, o que acontece a um ciclista que ainda ousa aventurar-se sozinho no transito caótico de Porto Alegre? Como fica o direito de ir e vir desse cidadão que tem de lidar com as bestas feras motorizadas da cidade? Tal debate só poderia ser colocado nesses termos, se os ciclistas, tendo garantido o seu próprio espaço de circulação, invadissem o espaço dos automóveis, o que nem de longe é o caso. Eles precisam disputar os espaços com os carros numa desvantagem desleal, muitas vezes correndo risco de vida. Mas, para o "cronista" da RBS, esse parecer ser um dado irrelevante já que, de acordo com sua peculiar percepção da realidade a "vítima pode tudo, no Brasil." Os "inimigos do motor à explosão, defensores intransigentes da tração animal" sempre podem xingar o motorista e "chutar a lataria do carro". Desde que, fazendo a ressalva que o "cronista" "esqueceu" de fazer, consigam sair de baixo do automóvel que os atropelou e recolocar no lugar a perna ou o braço que lhes foram arrancados.
É muito comum tais "cronistas", no afã de legitimarem seus pontos de vista e fiéis ao seu complexo de vira latas, recorrerem a exemplos daquilo que acontece no que eles consideram como o "primeiro mundo". Por que no "primeiro mundo é assim, por que no primeiro mundo é assado". Mas existem exemplos e exemplos, aqueles que convém mencionar e aqueles para os quais deve-se fazer olho branco.
Um dos poucos bons exemplos que podemos tirar desse "mundo civilizado", ao qual nossos "cronistas" recorrem com tanta frequência, é justamente o uso que se faz da bicicleta por lá. Na zorópia, um cidadão ciclista não é um cidadão de quinta categoria em cima do qual pode-se passar com o carro. A bicicleta é muito bem vista como um veículo de transporte, um sinônimo de modernidade, até, por tantas razões que seria tedioso enumerá-las aos leitores.
Mas está aí um exemplo que não nos serve, pois implica numa discussão em profundidade sobre a reformulação e democratização do espaço urbano, sobre o modelo de cidade onde queremos viver. Ainda mais quando temos um perfeito modernoso, que não colocaria um centavo na construção de uma ciclovia, mas se dispõe a trazer para nossa cidade a tal fórmula indy, torrando dinheiro público nessa bobagem, com o objetivo de compensar sua ineficácia, seu descompromisso com a população, sua falta de projeto, de rumo, mas sempre disposto a abraçar qualquer delírio megalômano na caça ao voto dos incautos, tudo dentro da lógica do "governo espetáculo".
E nisso o prefeito pode contar com o silêncio obsequioso desses "cronistas". Se não for pelo "nobre" motivo de garantir o emprego evitando emitir opiniões que possam desagradar ao patrão, no mais das vezes é simplesmente por que não conseguem ver o mundo com seus próprios olhos, acostumados que estão a vê-lo pelos olhos desse patrão.
Bizarro o malabarismo retórico do "cronista" e seu esforço para nos empurrar goela abaixo essa salada indigesta sob a forma de, vá lá..."crônica". Mistura alhos com bugalhos, ciclistas, homofobia, políticos...
É verdade, enxovalhar o parlamento é o esporte preferido da nossa população. Pela crítica que os brasileiros fazem aos políticos, o Brasil deveria ser uma país imune a corrupção. Mas então quem elege os políticos corruptos? Quem elege as "bestas" como Bolsonaro? Mais uma vez nosso "cronista " fica pelo meio do caminho perdido no emaranhado q ele próprio teceu. Sim, por q não é só a população q esculhamba o parlamento! Tem mais alguém fazendo isso. E esse alguém é a mídia. São recorrentes as matéria sobre corrupção na política veiculadas de maneira oportunista por uma mídia que se arvora a baluarte moral da sociedade. Um paradoxo, quando se sabe que grande parte desses políticos corruptos se elegem com o apoio da mídia. A eleição do Collor é o melhor exemplo. Isso quando esses mesmos políticos não operam concessões de mídia através de laranjas, o que também e uma ilegalidade.
Trazendo essa conversa mais para perto de nós, ou melhor, mais para perto do "cronista" errebessiano, podemos afirma que a empresa onde ele trabalho tem sido um verdadeiro seleiro (ou seria chiqueiro?) onde foram engordados vários desse políticos, através dos quais a RBS assumiu o poder em nosso estado.
Um poder tentacular, que vai desde o controle da mídia na região sul do Brasil, num sistema ilegal de propriedade cruzada, até interesse imobiliários que destroem a legislação urbana, subjugando a cidade à especulação predatória do capital. Se Porto Alegre está transformando-se em uma cidade inabitável, isso se deve a essa relação promíscua entre políticos servis e interesses privados dos quais a RBS é uma típica representante.
Nesse ponto cabe recuperar o discurso do "cronista" sobre minorias que tiranizam maiorias. Se os ciclistas são uma minoria e os "cronistas" da mídia corporativa são mais minoria ainda, o que dizer de uma família que mantém todo um estado atrelado aos seus interesses, usando o poder da mídia para moldar a realidade de acordo com sua vontade, publicando estultices como essa "crônica" do David Coimbra?
Eugênio
06/06/2011