Presidente Lula cumprimenta Presidenta eleita Dilma Rousseff



(Vídeo: Ricardo Stuckert/PR)

Após a divulgação do resultado oficial da votação no segundo turno das eleições presidenciais deste ano, o presidente Lula e a primeira-dama Marisa Letícia receberam a recém-eleita presidenta Dilma Roussef no Palácio da Alvorada. “Presidenta!”, cumprimentou Lula, dando em seguida um forte abraço.


Fonte: Blog do Planalto
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Três mitos sobre a eleição de Dilma

Marcos Coimbra, da Carta Capital

Enquanto o País vai se acostumando à vitória de Dilma Rousseff, uma nova batalha começa. Nem é preciso sublinhar quão relevante, ojetivamente, é o fato de ela ter vencido a eleição, nas condições em que aconteceu. Ela é a presidente do Brasil e, contra este fato, não há argumentos.

Sim e não. Porque, na política, nem sempre os fatos e as versões coincidem. E as coisas que se dizem a respeito deles nos levam a percebê-los de maneiras muito diferentes.

Nenhuma versão muda o resultado, mas pode fazer com que o interpretemos de forma equivocada. Como consequência, a reduzir seu significado e lhe diminuir a importância. É nesse sentido que cabe falar em nova batalha, que se trava em torno dos porquês e de como chegamos a ele.

Para entender a eleição de Dilma, é preciso evitar três erros, muito comuns na versão que as oposições (seja por meio de suas lideranças políticas, seja por seus jornalistas ou intelectuais) formularam a respeito da candidatura do PT desde quando foi lançada. E é voltando a usá-los que se começa a construir uma versão a respeito do resultado, como estamos vendo na reação da mídia e os “especialistas” desde a noite de domingo.

O “economicismo”

O primeiro erro a respeito da eleição de Dilma é o mais singelo. Consiste em explicá-la pelo velho bordão “é a economia, estúpido!”

É impressionante o curso que tem, no Brasil, a expressão cunhada por James Carville, marqueteiro de Bill Clinton, quando quis deixar clara a ênfase que propunha para o discurso de seu cliente nas eleições norte-americanas de 1992. Como o país estava mal e o eleitorado andava insatisfeito com a economia, parecia evidente que nela deveria estar o foco do candidato da oposição.

Era uma frase boa naquele momento, mas só naquele. Na sucessão de Clinton, por exemplo, a economia estava bem, mas Al Gore, o candidato democrata, perdeu, prejudicado pelo desgaste do presidente que saía. Ou seja, nem sempre “é a economia, estúpido!”

Aqui, as pessoas costumam citar a frase como se fosse uma verdade absoluta e a raciocinar com ela a todo momento. Como nas eleições que concluímos, ao discutir a candidatura Dilma.

É outra maneira de dizer que os eleitores votaram nela “com o bolso”. Como se nada mais importasse. Satisfeitos com a economia, não pensaram em mais nada. Foi o bolso que mandou.

Esse reducionismo está equivocado. Quem acompanhou o processo de decisão do eleitorado viu que o voto não foi unidimensional. As pessoas, na sua imensa maioria, votaram com a cabeça, o coração e, sim, o bolso, mas este apenas como um elemento complementar da decisão. Nunca como o único critério (ou o mais importante).

A “segmentação”

O segundo erro está na suposição de que as eleições mostraram que o eleitorado brasileiro está segmentado por clivagens regionais e de classe. Tipicamente, a tese é de que os pobres, analfabetos, moradores de cidades pequenas, de estados atrasados, votaram em Dilma, enquanto ricos, educados, moradores de cidades grandes e de estados modernos, em Serra.

Ainda não temos o mapa exato da votação, com detalhe suficiente para testar a hipótese. Mas há um vasto acervo de pesquisas de intenção de voto que ajuda.

Por mais que se tenha tentado, no começo do processo eleitoral, sugerir que a eleição seria travada entre “dois Brasis”, opondo, grosso modo, Sul e Sudeste contra Norte, Nordeste e Centro-Oeste, os dados nunca disseram isso. Salvo no Nordeste, as distâncias entre eles, nas demais regiões, nunca foram grandes.

Também não é verdade que Dilma foi “eleita pelos pobres”. Ou afirmar que Serra era o “candidato dos ricos”. Ambos tinham eleitores em todos os segmentos socioeconômicos, embora pudessem ter presenças maiores em alguns do que em outros.

As diferenças no comportamento eleitoral dos brasileiros dependem mais de segmentações de opinião que de determinações materiais. Em outras palavras, há tucanos pobres e ricos, no Norte e no Sul, com alta e com baixa escolaridade. Assim como há petistas em todas as faixas e nichos de nossa sociedade.Dilma venceu porque ganhou no conjunto do Brasil e não em razão de um segmento.

O “paternalismo”

O terceiro erro é interpretar a vitória de Dilma como decorrência do “paternalismo” e do “assistencialismo”. Tipicamente, como pensam alguns,como fruto do Bolsa Família.

Contrariando todas as evidências, há muita gente que acha isso na imprensa oposicionista e na classe média antilulista. São os que crêem que Lula comprou o povo com meia dúzia de benefícios.

As pesquisas sempre mostraram que esse argumento não se sustenta. Dilma tinha, proporcionalmente, mais votos que Serra entre os beneficiários do programa, mas apenas um pouco mais que seu oponente. Ou seja: as pessoas que tinham direito a ele escolheram em quem votar de maneira muito parecida à dos demais eleitores. Em São Paulo e Minas Gerais, por exemplo, os candidatos do PSDB aos governos estaduais foram eleitos com o voto delas.

Os três erros têm o mesmo fundamento: uma profunda desconfiança na capacidade do povo. É o velho preconceito de que o “povo não sabe votar” ue está por trás do reducionismo de quem acha que foi a barriga cheia que elegeu Dilma. Ou do argumento de que foram o atraso e a ignorância da maioria que fizeram com que ela vencesse. Ou de quem supõe que a pessoa que recebe o benefício de um programa público se escraviza.

É preciso enfrentar essa nova batalha. Se não, ficaremos com a versão dos perdedores.

Marcos Coimbra é sociólogo e presidente do Instituto Vox Populi. Também é colunista do Correio Braziliense.
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A DIREITA VAI SE REARMAR PARA COMBATER DILMA

Ao se despedir, no domingo, Serra tentou dar um recadinho: "Para os que nos imaginam derrotados, eu quero dizer: nós apenas estamos começando uma luta de verdade" e que "minha mensagem de despedida neste momento, não é um adeus, mas um até logo. A luta continua, viva o Brasil." 

Parte da fala do líder da "Marcha-à-Ré" (a versão atual da "Marcha com Deus e a Família") , tem explicação no senso comum da política: é muito difícil para políticos profissionais, como Serra, admitir uma derrota definitiva. Para eles, sempre haverá a expectativa de um retorno triunfal num amanhã qualquer.

Mas o que importa é a mensagem principal veiculada do pronunciamento do derrotado: ele dá a senha para a organização de um enfrentamento ao governo Dilma que vai além da simples e natural postura oposicionista. Com a ajuda da velha mídia golpista e das forças reacionárias que conseguiu ressuscitar, eles vão partir para cima.

Mas o que explicaria esta postura, que tem tudo para seguir com a mesma fúria vista na campanha eleitoral? A resposta é simples: jamais passou pela cabeça da direita perder esta eleição.

Pensavam eles que o ciclo se encerraria com o fim do mandado de Lula, pois pela primeira vez a foto do presidente mais popular da história do Brasil não estaria na urna eletrônica, e que seria absolutamente impossível ao PT encontrar um candidato à altura de Lula. Portanto, para a direita, seu retorno tinha dia a hora marcados para ocorrer.

Detalhe: só faltou combinar isto com o povo brasileiro detalhe. 

Quando se deram conta de que Dilma seria um páreo duro, partiram para o tudo ou nada, porque eles tinham a percepção - correta, diga-se - de que a vitória da candidata de Lula poderá estender o ciclo de governos petistas para bem mais além do que apenas mais um mandato. E com um agravante: Dilma seria "mais de esquerda" do que Lula (que bom!), o que significaria um aprofundamento das medidas de caráter mais socializante, o que horroriza a aristocracia atrasada de Pindorama, que se vê diante não apenas mais uma era sem poder servir-se do Estado e do patrimônio público, mas ainda o estreitamento do seu espaço de operação.

Isto explica a aglutinação das forças reacionárias em torno de Serra, com vigor nunca visto na história recente da política brasileira: até setores do reacionarismo tupiniquim que pareciam definitivamente sepultados, como a sociedade Tradição, Família e Propriedade - TFP, ponta-de-lança do golpe de 64 e a parcela ultra-reacionária da Igreja Católica, encarnada na figura do bispo-panfleteiro de Guarulhos, reapareceram. Somaram-se a estas forças a representação do neopentecostalismo atrasado.

Nesta esteira, as palavras do "até logo" de Serra ganham significado mais profundo. Haverá uma pequena (pequeníssima) trégua por conta do embalo do tamanho da vitória de Dilma e do tempo que a direita necessita  para se reorganizar. Mas não nos enganemos: vem chumbo grosso pela frente.
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Derrotados pela arrogância


Dilma está eleita e as razões para este fato consumado podem ser lidas abaixo, no meu último post, datado de 27 de junho. Pelo menos a maior parte delas.

Para resumir, pode-se aceitar que o cone de trânsito transmutou-se em presidente por conta de um Lula que vestiu, sem pudores, a farda de presidente-militante , por um TSE frouxo o bastante para não enquadrá-lo e, sobretudo, por uma campanha de rádio e televisão competentíssima.

Na outra ponta, aquilo que sacramenta qualquer vitória eleitoral: a campanha de Serra errou mais. Erros novos, como a tragédia anunciada de um jingle citando Lula – e, pelo-amor-de-deus, uma foto de Lula com Serra na abertura do programa. Erros irritantemente velhos, como embarcar na agenda das privatizações proposta pela campanha petista, que já havia derrotado Geraldo Alckmin em 2006. Erros inexplicáveis, como não mostrar um só corredor de hospital lotado em uma campanha de oposição que dizia ter como carro-chefe a saúde.

Não quero – e não vou – me estender no tema campanha. Em primeiríssimo lugar porque tudo o que eu tinha a dizer sobre esta última foi dito no final de junho. Depois, não sou sou eu quem tem que fazer isso. E o motivo deste post é justamente este: ninguém mais parece disposto a fazê-lo.

A contar estas primeiras 48 horas, o que se vê é o melô do – perdão pela expressão – corno-manso. No afã de não parecer derrotada, a oposição comemora, com aplauso de boa parte de sua militância, os 44% obtidos. Há os que ficam, inclusive, fazendo as contas por estado e, até mesmo, por município: “parabéns para o Cú-do-Mundo porque lá Serra ganhou com folga“.

Eu não sei se vocês se dão conta do quanto estas primeiras 48 horas evidenciam uma arrogância ímpar. Nas entrelinhas – e, às vezes, literalmente – o que esta postura demonstra é: “nós fizemos tudo certo; o povo é que não sabe votar“.

Não vou, aqui, discutir a capacidade intelectual do eleitor. Já fiz isso no passado. Não faço mais. O eleitor que realmente enche urnas é pragmático, não liga para valores abstratos como democracia e quer saber o que tem a ganhar votando em fulano ou beltrano. Ao mesmo tempo, ele acredita em milagres e tende a ser sensível à figura de um salvador, um líder carismático – desde que, é claro, os botões emocionais sejam acionados corretamente.

Certa ou errada, é assim que a coisa é. E eu só precisei perder uma eleição presidencial, a de 2006, para entender que este é o jogo. Fosse a oposição menos arrogante, a afirmação que deveria imperar nestas primeiras 48 horas é: “nós não conseguimos falar com o povo que – para ficar na linguagem corrente – não sabe votar“. Ao invés disso, preferem comemorar os altos índices obtidos em estados com melhores índices de escolaridade – como se isto não fosse uma prova vexatória de seu fracasso, de que eles, vamos de caixa alta?, NÃO SABEM FALAR COM QUEM ENCHE URNA.

Sinto em avisá-los: se a oposição não abandonar este melô do corno-manso em prol de uma discussão séria, aberta, sobre os inúmeros erros de suas últimas três campanhas eleitorais… Se insistir em apontar o dedo para o povo ao invés de apontá-lo para os que tomaram decisões – e os que escolheram os que tomaram decisões – ao longo desta campanha, nada vai mudar. Vai ser um festival de derrotas até o final dos tempos.



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