Sobre a Legislação Anti-Fumo.


Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
Muda-se o ser, muda-se a confiança;
Todo o mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.

Não sou fumante, embora, como quase todo mundo que foi adolescente entre os anos 60 e 80 do longínquo século XX, tenha dado as minhas tragadas, pois afinal naqueles remotos anos fumar era "cool", "cult" e "in". Ser um não-fumante era algo que, inevitavelmente, prejudicava a vida social de um indivíduo, além de – horror dos horrores – interferir negativamente em qualquer possibilidade de sucesso com o sexo oposto. Afinal, estar com um maço de cigarros no bolso era uma espécie de rito de passagem para a idade adulta. Mas, como diz aquele velho poema atribuído a Camões, “todo o mundo é composto de mudança”, e os novos tempos chegaram. Fumar tornou-se “careta” e tal ato passou a ser visto como um verdadeiro atentado à saúde pública, ao mesmo tempo em que se começou a construir uma espécie de “consenso” social contra os fumantes. Assim, estas pobres almas começaram a ser encaradas como responsáveis por boa parte dos males dos tempos (pós?) modernos (Por sinal, aproveito para recomendar o maravilhoso filme “Obrigado por Fumar”, que atira, de forma certeira, em todas direções!) e tal consenso acabou traduzindo-se, nos últimos tempos, em draconianas legislações anti-tabagismo, como as recentemente aprovadas no Rio de Janeiro e em São Paulo. Bem toda esta conversa, é para introduzir um texto que recebi por e-mail, de autoria de um querido colega, Luís Maffei, Poeta e Professor de Literatura Portuguesa da Universidade Federal Fluminense, que reproduzo aqui com a devida autorização. Mesmo sendo um não-fumante, como registrei no início desta breve introdução, o meu espírito libertário e o meu profundo senso prático – que vive a me advertir sobre como são inócuos os efeitos de qualquer legislação repressiva – me fazem concordar, na íntegra, com as palavras escritas pelo Maffei.

Nas duas principais cidades brasileiras fumar torna-se um ato proibido, a não ser em espaços cada vez mais restritos. Há quem odeie cigarro, perdendo de vista que o ódio costuma ser mais perigoso que o fumo – por exemplo, não sei se Hitler fumava, mas sei que odiava. Hoje em dia, os cidadãos sentem-se no direito de odiar também o fumante. É comum ver, no meio da rua, cenas como alguém, ao passar por outro que esteja fumando, abanar as mãos como fosse vítima de uma grande violência. Caso a violência de fato exista, que efetivamente se tomem medidas para reduzir os cigarros no mundo. O problema é que, além de a questão do fumo ser vista apenas sob o prisma médico – juro que há outros, diversos: o cultural, o econômico, o histórico etc., e o prisma médico é a grande justificativa –, será o cigarro a única violência hodierna e o fumante o único agressor?
Diante do panorama que se nos apresenta, haverá uma severa vigilância cidadã contra o fumante que eventualmente violar a lei que o impede de fumar, por exemplo, numa arena esportiva onde circula bastante ar. O indivíduo que acender seu cigarro será imediatamente alvo de uma polícia sem farda ou pistola, numa espécie de exercício saudável da lei e da intolerância. Aliás, não se tolera o cigarro, não se tolera que alguém dele goste, não se tolera esse alguém. Mas se tolera tanta coisa... Tolera-se álcool. Ainda é cool beber, seja na dimensão sofisticada do bom vinho, seja na dimensão festiva da cerveja. Algo me chama a atenção: beber excessivamente faz mal à saúde, mas se propagandeiam bebidas nas nossas mídias, e sempre num clima de festa. O único senão é dirigir automóveis, mais nenhum. Desse modo, toleram-se, em geral, os bêbados, e mais ainda num país que tanto respeita certo poeta que quer “o lirismo dos bêbedos”. Não se pode beber em arenas esportivas. O indivíduo que conseguir tomar sua cerveja num estádio decerto não será alvo de nada. “É a vida”, escreveu o mesmo poeta.
Então está tudo bem, não é? Ainda no caso da bebida, certa companhia passou a chamar seus consumidores por um adjetivo que liga os consumidores ao nome da companhia. Tudo bem. Há qualquer coisa que permite que se beba com tanta tolerância e enfrenta o cigarro de modo totalitário. Sim, totalitário, violento, monossêmico e pouco inteligente, como nossa sociedade tem costumado ser. Como é tratado o indivíduo que coloca o volume do som de seu carro em um nível insuportável e sai pela rua desfilando sua sei-lá-o-quê? Com tolerância. E isso é proibido pelas leis de trânsito, e isso se vê com cada vez mais frequência. Mas se tolera. Volto à cena do abano das mãos: o sujeito que passa por alguém que fuma é vítima de alguma violência? E o que ouve os sons a que o submete o citado motorista? Está realmente tudo bem, não é?
Há essas e outras tantas violências por aí, mas tudo bem, que se impeça maciçamente o consumo do cigarro. É realmente melhor para as consciências que uma vítima seja escolhida e executada. O resto? Tudo bem com o resto, e que se beba, se liguem sons... Nós, fumemos ou não, continuaremos, tudo bem, ouvindo o que vem (sabem o que costuma vir, não?) de certos automóveis, achando líricos os bêbados (mesmo que eles agridam gente na rua, tudo bem), pensando que odiar e banir um único hábito resolve um bocado de nossos problemas. Falta muito pouco para nossa definitiva felicidade social.
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Business, of course!

Foto: Antonio Paz / Palácio Piratini

Na abertura do 17º Festival Mundial de Publicidade de Gramado (04 de Junho de 2009), a governadora Yeda Crusius foi agraciada com a Medalha Maurício Sirotsky Sobrinho.

"A honraria é concedida a personalidades que se destacaram por suas contribuições ao segmento da comunicação e da publicidade. "(JusBrasil)

Seguindo esta lógica surreal, qual será a próxima criatura a receber tão importante comenda?

Carlos Crusius (marido da governadora), deputado federal José Otávio Germano (PP), deputados estaduais Luiz Fernando Zachia (PMDB) e Frederico Antunes (PP), presidente do Tribunal de Contas do Estado, João Luiz Vargas, Walna Villarins Meneses (assessora da governadora), Delson Martini (ex-secretário geral do governo estadual), Rubens Bordini (vice-presidente do Banrisul e ex-tesoureiro da campanha de Yeda). Todos denunciados pelo Ministério Público Federal por enriquecimento ilícito e dano ao erário público.

"se quedarán las pelotas ..."
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Outros Drops.

Sempre que eu escrevo algum post com referências musicais ou quero compartilhar alguma canção com os leitores do "Abobrinhas", costumo utilizar o site de compartilhamento de músicas "MP3Tube", que recentemente mudou de nome para "Yehplay". No entanto, há alguns dias parece que ele saiu do ar (definitivamente?), pois quando digita-se o endereço da sua página, automaticamente ocorre o redirecionamento para um site de jogos. Com isto, as músicas linkadas em vários dos meus textos no "Abobrinhas" - inclusive em um dos últimos, "Qualquer Música, Uma Certa Canção..." - não estão mais acessíveis, como se pode notar pelo "sumiço" do Player do MP3Tube nos posts. Preciso encontrar, com urgência, um outro site do gênero. Assim que o fizer, recoloco as músicas.
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Anteontem, assistindo ao "Jornal da Globo", fiquei absolutamente atônito (mas não surpreso!)com o lobby feito pela emissora da Família Marinho em favor da empresa norte-americana Boeing, no processo de compra de novos caças para a Força Aérea Brasileira. Mencionando, muito de passagem, o nome das outras empresas que disputam a concorrência, a Saab (Suécia) e a Dassault (França), o programa fez uma longa reportagem mostrando as vantagens do Caça Super Hornet, da fabricante norte-americana, e as intenções da Boeing em transferir tecnologia para o Brasil, seguindo "orientações" do governo Obama. Tudo isto, com direito a uma longa entrevista de William Waack, com um dos diretores da empresa. Enfim, propaganda pouca é bobagem. E viva a nossa imprensa livre, isenta e imparcial...
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Acordei hoje, não sei por qual motivo, com um poema na cabeça, "Viver sempre também cansa", do poeta português José Gomes Ferreira. Escrito em 1931, ele permanece profundamente atual. É só substituir o nome de Mussolini pelo de algum líder político contemporâneo que se caracterize pela escrotidão e pelas tendências fascistóides. Tenho certeza que não faltarão candidatos...

Viver sempre também cansa
O sol é sempre o mesmo e o céu azul
Ora é azul, nitidamente azul,
Ora é cinzento, quase verde
Mas nunca tem a cor inesperada

O mundo não se modifica
As árvores dão flores
Folhas, frutos e pássaros
Como máquinas verdes

As paisagens também não se transformam,
Não cai neve vermelha
Não há flores vermelhas que voem
A lua não tem olhos
E ninguém vai pintar olhos à lua

Tudo é igual, mecânico e exacto

Ainda por cima os homens são os homens
Soluçam, bebem, riem e digerem.
E há bairros miseráveis sempre os mesmos,
Discursos de Mussolini
Guerras, orgulhos em transe,
Automóveis na corrida.

Pois não era mais humano
Morrer por bocadinho,
De vez em quando,
E recomeçar depois,
Achando tudo mais novo?

Ah! Se eu pudesse suicidar-me por seis meses,
Morrer em cima de um divã
Com a cabeça sobre uma almofada,
Confiante e sereno por saber
Que tu velavas, meu amor do Norte.

Quando viessem perguntar por mim,
Havias de dizer com teu sorriso
Onde arde um coração em melodia,
“Matou-se esta manhã
Agora não o vou ressuscitar
Por uma bagatela”

E virias depois, suavemente,
Velar por mim, subtil e cuidadosa
Pé ante pé, não fosses acordar
A Morte ainda menina no meu colo.
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Trilha Sonora do Dia: "Famous Blues Raincoat", de Leonard Cohen.
Infelizmente, sem o MP3Tube para compartilhá-la...
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O contraponto da mídia

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O Pântano Tucano começa aqui...

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