Quércia, o comprador de ilusões

Quércia é um político como poucos. Controla o PMDB paulista a mais de 20 anos. Em 2002, aliou-se a Lula e ao PT para viabilizar seu retorno a um cargo majoritário numa candidatura para o Senado Federal. Naquele ano, assim como 2010, eram duas vagas em disputa. No lado lulista, as candidaturas ao Senado eram de Aloísio Mercadante (PT) e Orestes Quércia (PMDB). Apoiando o candidato Serra estavam José Aníbal (PSDB) e Romeu Tuma (PFL). Quércia comprou a ilusão de tornar-se senador com o apoio de Lula e do PT. Quércia iniciou embaixo nas pesquisas. Quando começou a subir, Lula e o PT embarcaram na candidatura de Mercadante e o resultado é do conhecimento de todos. Lula e PT não tinham densidade eleitoral para eleger os dois senadores de São Paulo naquela eleição, e naturalmente escolheram no final aquele candidato do partido. Algo fácil de entender. Não tem qualquer traição, é o jogo. O outro eleito foi Romeu Tuma (PFL), da aliança de José Serra.

Em 2010, o roteiro do filme tem tudo para se repetir. Serra deverá conduzir não só sua candidatura presidencial, mas também a sucessão do Palácio dos Bandeirantes. O PSDB terá candidato do partido para o governo estadual. A cadeira de vice-governador ficará com o DEM, provavelmente Afif Domingos. Quércia será candidato a senador no arco da candidatura de Serra presidente. O outro candidato da coligação deverá vir do PSDB. Serra e seus aliados dificilmente conseguirão eleger os dois senadores em disputa. Assim como em 2002, um senador deverá vir da aliança de Serra, e a outra vaga deverá mesmo ficar com o lulismo, provavelmente Mercadante do PT. Novamente cria-se o cenário para a candidatura de Quércia ser rifada, mas da próxima vez por José Serra. No fim das contas, o PSDB irá querer garantir uma cadeira a mais para o Senado. Ou seja, Quércia será abandonado mais uma vez. Até lá, Quércia continua comprando ilusões.
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O milionário comercial da SABESP

Quem primeiro levantou a bola para criticar o comercial da Sabesp é o jornalista Luis Nassif em seu site. Veja aqui.
A Sabesp é a empresa de saneamento do governo paulista. Presta serviços para a população do Estado de São Paulo. Recentemente lançou uma campanha comercial nacional na televisão. Por que uma empresa que presta serviços dentro de um Estado precisa fazer um comercial nacional? A única resposta para gasto desmedido é propaganda política para seu mandatário maior, o governador do Estado.

A campanha de 2010 já começou, e a conta é paga pelo usuário da Sabesp, que presta um serviço de qualidade duvidosa. A turma de Serra joga mesmo pesado. É dinheiro de empresa pública para o ralo para promover sua candidatura presidencial. E tudo com a conivência da grande mídia. Aliás, a grande mídia está satisfeitíssima com mais uma polpuda verba publicitária. Fica a pergunta: Cadê o Ministério Público? Onde foi parar a indignação de certos meios? Será que a conta será paga com o SerraCard?
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Um bode expiatório conveniente à Itália

Maria Inês Nassif

Do Valor Econômico, de 22/01/2009

A história que resultou na condenação de Cesare Battisti à prisão perpétua pela justiça italiana em 1993 poderia ser o roteiro de um de seus romances policiais, se não tivesse transformado o próprio escritor num cavaleiro errante. Pelos fatos que levaram à sua condenação, o ministro da Justiça, Tarso Genro, certamente não cometeu nenhuma heresia ao conceder a Battisti o status de refugiado político. "Um dos fundamentos muito próximos do diferimento do refúgio político é de que se o condenado teve direito à defesa. O Estado italiano alega que sim. Na avaliação que nós fizemos do processo, ele não teve direito à ampla defesa", afirmou o ministro, justificando a sua decisão.

A autobiografia de Battisti, "Minha fuga sem fim", traz fatos em favor da convicção do ministro. Se o escritor for extraditado para a Itália, cumprirá prisão perpétua sem ter passado por um tribunal e pagará por quatro assassinatos que o bom senso não permite que sejam relacionados a ele. Nunca esteve num tribunal para defender-se dessas acusações - e, de volta à Itália, não será ouvido por nenhum juiz. A condenação foi feita com base na acusação de um ex-militante da mesma organização, um "arrependido" que negociou anos a menos na sua pena (muitos anos, aliás) em troca de incriminar outras pessoas. Não foi apresentada nenhuma prova, testemunha ou um único indício. Dois dos homicídios foram cometidos no mesmo 16 de fevereiro de 1979, a 500 km de distância um do outro. O outro foi o de um comandante de uma prisão, em junho de 1978. E, por fim, teria assassinado o policial Andrea Campagna, acusado de torturas. Nesse último caso, a testemunha ocular descreveu o agressor como um barbudo louro, medindo 1,90 m. Battisti é moreno e tem 1,70 m. Foram encontradas armas no apartamento onde o escritor vivia com outros italianos clandestinos, mas a própria polícia constatou que elas nunca haviam sido disparadas.

Segundo o livro de Battisti, a organização da qual fazia parte, o grupo dos PAC (Proletários Armados para o Comunismo), organizara-se no período de crítica ao stalinismo, era totalmente descentralizado e nada impedia que um punhado deles, em determinada região do país, fizesse ações e se assumisse como parte do grupo. Seria difícil, assim, que todos os que militavam nos grupos dispersos pela Itália se conhecessem.

Após maio de 1978, quando as Brigadas Vermelhas executaram Aldo Moro - relata - as organizações de esquerda (em geral) se apavoraram e mergulharam na discussão sobre a continuidade da luta armada. Os PAC refluíram para um princípio que já era um pé fora da luta armada (até então, diz Battisti, pelo menos no grupo que militava, as ações se resumiram a "apropriações" para manter os clandestinos; somente os quatro assassinatos que lhe foram imputados pela Justiça italiana foram atribuídos aos PAC). Mas, excessivamente descentralizado, um dos núcleos do grupo reivindicou o assassinato do comandante da prisão, no verão de 1978. Foi quando Battisti rompeu com o grupo. "Juntamente com parte dos militantes de primeira hora, naquele momento decidi virar a página e renunciar definitivamente à luta armada", diz, no livro. Isso quer dizer que, quando ocorreram os outros três assassinatos dos quais é acusado, ele sequer era militante do PAC.

O escritor foi preso na violenta repressão que sucedeu a morte do democrata-cristão Aldo Moro. No processo criminal, ninguém atribuiu a ele qualquer relação com a morte do comandante da prisão. Foi testemunha, todavia, de métodos pouco convencionais de interrogatório. Foi dessa época também a lei de delação premiada, que fez proliferar "arrependidos". Battisti conseguiu fugir com a ajuda daquele que, "arrependido" no futuro, jogaria sobre ele todas as culpas. Era Pietro Mutti.

Fora da prisão, Battisti recusou a proposta de aliança feita por Mutti, que comandava um tanto de jovens num grupo chamado Colp, que não se sabe o que significa. Mutti foi detido em 1982 - Battisti já estava longe, em Paris, depois de uma passagem pelo México. Nos "tribunais de exceção" italianos criados à época por leis especiais, Mutti, ameaçado de prisão perpétua, foi farto em acusar ex-companheiros de crimes. Especialmente Battisti. O escritor beneficiado pelo ministro Tarso Genro também foi acusado por outros integrantes do PAC, de tal forma que, de todos os envolvidos com o grupo, apenas ele foi condenado à prisão perpétua. Foram tantas as contradições resultantes desse jogo de se safar jogando a culpa no outro que o próprio tribunal de Milão, em decreto de 31 de março de 1993, reconheceu: "Esse arrependido (Mutti) é afeito a "jogos de prestidigitação" entre seus diferentes cúmplices, como quando introduz Battisti no assalto de Viale Fulvio Testi a fim de salvar Falcone, ou Battisti e Sebastiano Masala no lugar de Bitti e Marco Masala no assalto ao arsenal Tuttosport, ou ainda Lavazza ou Bergamin no lugar de Marco Masala nos dois assaltos veroneses" - segundo trecho citado pela escritora Fred Vargas no posfácio do livro.

Diante de tantas contradições e de tantos fatos mal explicados, inclusive um asilo revogado na França (depois de um atuante trabalho de lobby italiano), fica a dúvida de por que interessa tanto ao governo italiano coroar Cesare Battisti como o bode expiatório de um período negro na Itália, onde não apenas a luta armada enevoou o país, mas as instituições se ajustaram a uma guerra contra o terror usando métodos pouco afeitos à ordem democrática. Talvez reconhecer erros no processo que levou à condenação de Battisti tenha o poder de expor a falta de legitimidade de ações policiais e judiciais desse período difícil da Itália.

Maria Inês Nassif é editora de Opinião. Escreve às quintas-feiras

E-mail maria.inesnassif@valor.com.br
Comentário do blogueiro: Mais um bom artigo sobre o caso Battisti. Uma análise equilibrada, sem aquele ranço ideológico que a mídia tem propagado. É impressionante como qualquer decisão política no Brasil, por mais justificável que seja, encontra na mídia sua ressonância rancorosa, produzindo páginas de lixo jornalístico simplesmente para tentar desgastar o governo. A mídia está no seu direito de ter o seu lado na política. Tem que tomar cuidado para não ter o destino do DEM, cada vez mais desacreditada.

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A jogada de mestre de José Serra

A nomeação do ex-governador Geraldo Alckmin para a Secretaria de Desenvolvimento do governo paulista unifica o PSDB no Estado mais importante da federação. É uma demonstração de habilidade política do governador, deixando Aécio Neves sem aliados em São Paulo nas suas pretensões de obter a candidatura presidencial. Se alguém ainda tinha dúvidas de qual candidato o PSDB deverá lançar em 2010, cada movimento de José Serra fica mais evidente sua candidatura. Aécio Neves encontra-se encurralado dentro do próprio partido, e precisa logo encontrar uma saída política. Serra, por outro lado, deve preservar Aécio, do contrário corre o risco de ter dificuldade no segundo maior colégio eleitoral do país.

Até pouco tempo Serra colecionava erros na articulação política. Após perder a queda-de-braço com Alckmin em 2006, Serra parecia disposto a esmagar o grupo político do oponente no PSDB paulista. A imagem de desagregador só reforçava. A aposta de risco na campanha eleitoral do município de São Paulo só confirmava o DNA Serra. O cálculo político de Serra provou-se correto. Antes disso, Serra consolidou o apoio à candidatura presidencial dentro dos partidos aliados tradicionais (DEM e PPS). Tal movimento deslocou seu concorrente, o governador Aécio Neves, para buscar apoio nos partidos que orbitam em torno do lulismo. Ou seja, enquanto Serra aumentava o controle sobre seu futuro político, Aécio flertava no campo adversário, uma missão bem mais difícil para se obter o sucesso.

O primeiro grande acerto de Serra foi trazer o PMDB de Orestes Quércia para o seu consórcio de poder. De fato, os preciosos minutos do PMDB garantiram a vitória eleitoral de Gilberto Kassab (DEM), um fiel aliado para sua candidatura. Desta vez, Serra surpreende novamente, trazendo para sua órbita um possível dissidente dentro do PSDB paulista, o ex-governador Geraldo Alckmin. Dessa forma, Serra unifica o partido dentro de São Paulo, fechando as portas para uma dissidência pró-Aécio em São Paulo.

Além de unificar o partido no Estado, trazer Alckmin para seu governo melhora a imagem de José Serra. Da mesma forma que reconciliou com um antigo adversário, Orestes Quércia do PMDB, Serra agora reconcilia com um adversário dentro do próprio partido. O desagregador torna-se agora o político da reconciliação. Por fim, Serra ganha mais uma opção para a sucessão do governo paulista. Ter uma candidatura forte ao governo estadual, o que o PSDB ainda não tinha, torna-se mais fácil seu caminho para obtenção da cadeira presidencial. Assim, caso a candidatura de Aloísio Nunes Ferreira não decole, Alckmin é uma opção com densidade eleitoral no Estado.

O ex-governador Geraldo Alckmin, com a secretaria do governo paulista, obtém visibilidade para manter-se no páreo. Com a derrota presidencial e a eleição municipal, o grupo político de Alckmin ficou enfraquecido. Sua entrada no governo Serra o coloca novamente entre os postulantes para o governo paulista em 2010. Mesmo que a indicação do partido recaia para alguém mais próximo a Serra, Alckmin poderá reunir-se condições para lançar-se a uma cadeira no Senado. Ou seja, Serra encurtou a reabilitação de Alckmin, e ganhou mais um aliado. É um futuro bem mais promissor que entrar na aventura política de Aecinho.
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Artilheiro

E o primeiro gol do Grêmio na temporada foi marcado de cabeça. Ou melhor, de cabeção.


O Grêmio pode não ter o renomado artilheiro francês, mas não deixa de ter o seu homógrafo, o Henry. Ou Pinduca, para os brasileiros.
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