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Fim de jogo para Mendes


A moral do presidente do STF, Gilmar Mendes, já tão abalada pela vexante reportagem de Leandro Fortes, na Carta Capital, ruiu por inteira ontem, depois do depoimento na CPI dos Grampos do sargento Aílton Carvalho de Queiroz, chefe da Seção de Operações Especiais da Secretaria de Segurança do Supremo Tribunal Federal. Esperava-se apenas que confirmasse que uma varredura no último dia 10 de julho constatara a existência de grampo. O depoimento disse algo diferente, inesperado e que coloca Mendes em péssima situação.

Segundo Queiroz, a varredura indicou uma provável escuta, mas que poderia ser motivada por sinais de TV. Mais preocupante disse em seguida: o relatório elaborado por ele, com o que foi apurado, e totalmente sigiloso, foi entregue à presidência. Questionado sobre a autoria do vazamento, que foi parar em destaque na revista Veja, foi claro: “Imagino que foi a própria presidência (quem vazou). Eu faço o relatório em duas vias e ele é entregue ao chefe de gabinete da presidência."

Luis Nassif foi conclusivo em seu blog: “Gilmar endossou uma conclusão falsa, em cima de um relatório inconclusivo, e uma possível fraude - o caso do suposto grampo preparado pela ABIN. E provavelmente passou para a revista o terceiro mote: o depoimento da desembargadora sobre supostos grampos, que não tinha uma informação conclusiva sequer”.

O depoimento atordoou a mídia. O G1, site das organizações Globo, deu a notícia, com o título afirmando: “Queiroz sugere que presidência do Supremo vazou relatório sigiloso”. Mas, o jornal O Globo, do mesmo grupo, em sua edição de hoje, dedica apenas uma nota de 10 linhas para afirmar que o sargento confirmou indícios de grampo no STF.

Minhas apostas são de que esta CPI acabou, junto com mais esta patética ação golpista. Mas não vamos esquecer o assunto. Faço minhas as palavras de Paulo Henrique Amorim:

E o Conselho Nacional de Justiça, não tem nada a declarar?
E o Ministério Público Federal, não tem nada a declarar?
E os outros dez ministros do Supremo – vão assistir à desconstrução moral da mais alta Corte?


***

Atualizando: Renato Parente, secretário de comunicação do STF, envia e-mail ao Luis Nassif, contestando afirmações no blog. Estranhamente, diz que “é desejável deixar à parte questões pessoais e empresariais, que em nada dizem respeito ao tribunal”, algo em que nenhum momento Nassif faz referência. Confusão de destinatário? Seria destinado a Carta Capital que revela os grandes negócios de Gilmar Mendes com o Instituto Brasiliense de Direito Público (IDP), onde é sócio? De qualquer forma, está evidente que o ministro acusou o golpe. E confusamente tenta reagir, via um de seus subordinados. A resposta de Nassif é uma lição de boa reportagem, três perguntas fundamentais. Vale a pena acompanhar o desenrolar deste novo episódio.

Não resisto a um comentário: quem diria? Aquelas manchetes escandalosas, dias e dias seguidos, sem nenhum fato novo, foram parar na blogosfera. Aparentemente, nada agora vai para o papel ou a TV. O elefante foi varrido para debaixo do tapete.
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Marx e a Crise Financeira Internacional.

O fragmento de texto que posto abaixo foi escrito há mais de cem anos por Karl Marx, pensador que - juntamente com Keynes - tem sido constantemente declarado morto e enterrado pelos arautos do liberalismo, mas que a história, esta velha teimosa, insiste sempre em ressuscitar. No entanto, este texto parece que foi escrito ontem por algum observador mais crítico e arguto da atual crise financeira internacional.

Um mundo feito de papel

Em um sistema de produção em que toda a trama do processo de reprodução repousa sobre o crédito, quando este cessa repentinamente e somente se admitem pagamentos em dinheiro, tem que produzir-se imediatamente uma crise, uma demanda forte e atropelada de meios de pagamento.
Por isso, à primeira vista, a crise aparece como uma simples crise de crédito e de dinheiro líquido. E, em realidade, trata-se somente da conversão de letras de câmbio em dinheiro. Mas essas letras representam, em sua maioria, compras e vendas reais, as quais, ao sentirem a necessidade de expandir-se amplamente, acabam servindo de base a toda a crise.

Mas, ao lado disto, há uma massa enorme dessas letras que só representam negócios de especulação, que agora se desnudam e explodem como bolhas de sabão, ademais, especulações sobre capitais alheios, mas fracassadas; finalmente, capitais-mercadorias desvalorizados ou até encalhados, ou um refluxo de capital já irrealizável. E todo esse sistema artificial de extensão violenta do processo de reprodução não pode corrigir-se, naturalmente. O Banco da Inglaterra, por exemplo, entregue aos especuladores, com seus bônus, o capital que lhes falta, impede que comprem todas as mercadorias desvalorizadas por seus antigos valores nominais.

No mais, aqui tudo aparece invertido, pois num mundo feito de papel não se revelam nunca o preço real e seus fatores, mas sim somente barras, dinheiro metálico, bônus bancários, letras de câmbio, títulos e valores. E esta inversão se manifesta em todos os lugares onde se condensa o negócio de dinheiro do país, como ocorre em Londres; todo o processo aparece como inexplicável, menos nos locais mesmo da produção.

Fragmento de O Capital, Volume 3, Capítulo 30, "Capital-dinheiro e capital efetivo", Karl Marx (1818-1883).
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Piada bacteriológica

Para o blog não ficar parado, aí vai um velho cartum sobre bactérias em crise existencial. É um pouco menos hermético do que o outro cartum bacteriológico que eu havia postado um tempo atrás.

Durante a semana, prometo desenhar algo novo. Se não para o blog, pelo menos para o Sindiágua...

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Gabeira, Paes e Joseph Fouché


Enquanto falta inteligência na cobertura de nossa mídia oficial sobre as eleições municipais, incluindo seus amestrados comentaristas, em blogs há olhares mais pensantes. Rodrigo Vianna, ex-repórter da TV Globo, que em 2006 manifestou seu repúdio à parcialidade da emissora nas eleições presidenciais, lembra em seu blog do personagem Joseph Fouché, ex-companheiro de Danton e Robespierre, que sobreviveu aos novos tempos, traindo suas antigas idéias, aderindo aos vencedores. É retratado em livro de Stephen Zweig, de 1928. Boa lembrança para entendermos um tanto sobre as adaptações dos candidatos que disputam o segundo turno aqui no Rio de Janeiro. O blog é ótimo, e o livro uma grande sugestão.
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