Matutava com chopinhos na véspera do feriadão o que dizer sobre a trama da demissão do nosso PHA, quando ouvi este diálogo na mesa ao lado. Pronto, era tudo o que eu queria:
− E afinal, quem demitiu o Paulo Henrique Amorim?
− Ele diz que foi o Citibank. Mas há outras versões.
− Quais?
− Bom, todos concordam que o motivo foram as críticas no Conversa Afiada à criação da BrOi, a mega telefônica que surgiria da fusão da Oi com a Brasil Telecom. Certamente ele estava incomodando o negócio. Uns dizem que foram os tucanos da Oi, estes que foi o governo, via os fundos de pensão, na Brasil Telecom, dona do IG. O Citi? Se, não estava sozinho. Ainda ninguém sabe, apenas existem palpites. Palpite por palpite eu tenho os meus.
− O IG disse que foi reestruturação do negócio, ele não tinha audiência. Cascata, né? O cara lidera o Prêmio IBest, do próprio IG.
− A forma da demissão diz muito sobre o autor. Ele foi demitido com raiva, para ficar apagado. Quiseram sua morte e a ocultação do cadáver. Algo ingenuamente estúpido, resultado da forma passional da decisão. Dos possíveis suspeitos, quem poderia ter tanta ira?
− Certamente não os fundos de pensão.
− Óbvio. Estes até poderiam ter acatado a demissão, mas não agiriam com aquela cólera boçal.
− Mas o que esta raiva diz?
− A demissão do PHA foi executada pela diretoria do IG, que pertence a Brt, comandada pelo Caio Túlio Costa, ex-ombudsman da Folha, tucano de carteirinha. A raiva tem a assinatura do pássaro bicudo.
− E os fundos se omitiram ou votaram pela cabeça do PHA?
− Pode ser uma versão, eles querem muito fechar o negócio. Você vê alguma reação deles contra a demissão? Os caras são mais de 40% da Brt.
− E o negócio é bom mesmo pra eles e pro governo, tal como o PIG diz?
− Talvez, se não forem mais uma vez engabelados. O que parece mesmo é que a idéia da nova empresa foi bem vendida. Imagino que usaram uma boa apresentação em PowerPoint, mostrando que os espanhóis e os mexicanos vão tomar conta da telefonia brasileira. Seriam todos devorados pela concorrência internacional em xis tempo. Imagine gráficos bem montados, cheios de dados, aquelas animações bregas, com a assinatura de uma consultoria de grife...
− Imagino, faz sempre sucesso. Não faz sentido então a versão do PHA que foi o Citi?
− Até faz, mas explica pouco. O Citi está doido para passar a mão na grana e sair do jogo. O banco está na frente da fila para ser o próximo a cair no precipício da crise americana. O FED já tirou o corpo fora, enquanto os caras fazem um papelão em mendigar dinheiro pelo mundo afora. Já pegaram de chineses e árabes. Mas a coisa tá braba. A ajuda do BNDES aqui é tudo o que eles estão querendo, e com urgência.
− Do BNDES?! Limpinho?
− Não diretamente. O BNDES daria a grana do investimento da Oi na nova empresa, que compraria a parte do Citi na Brasil Telecom. O PHA vinha martelando isso, realmente é insólito...
− ... um banco de um governo dito de esquerda salvar um banco americano da falência, o que nem o tal FED vem fazendo...
− Esse é o ponto. O PHA está certíssimo em bater, inclusive no BNDES, seu presidente, que tem uma visão de fomentar uma “burguesia progressista” brasileira, como método de avançarmos em “nosso grande projeto de transformação social”. É até bonito, bem desenvolvimentista, mas aí vem o PHA e lembra sobre o caso da Ambev, que criaram com a conversa de ser uma grande empresa brasileira, rios de impostos previstos, blá blá blá e a Ambev vira belga (!!!)
− Então, o que atrasa a criação da BrOi?
− Imagina tentarem acertar todos os interesses, mudar a lei, com o Daniel Dantas na brincadeira, tentando costurar todos os seus objetivos...
− Cara, sempre ele.
− Ele tem participação pequena na Oi e na Brt, mas isso pouco significa, é assim que ele manobra. Na fusão sai o Citi do tabuleiro, um inimigo hoje do seu Opportunity. Conseqüência direta: cresce o terreno para o baiano no negócio. E sabe-se lá mais o quê ele vai abocanhar. O sujeito é o rei dos contratos de gaveta, talvez tenha acertos com o Sérgio Andrade, da Oi, sócio dele em outras empresas, ou mesmo com o Carlos Jereissati, o outro sócio...
− É o irmão do Tasso, presidente do PSDB?
− Ele mesmo. Já se desentenderam seriamente no passado. Há uma história conhecida, da formação dos consórcios para a privatização. Dantas reunido com consorciados, entra na sala de reuniões o Carlos Jereissati, na época apenas dono do grupo Lafonte. Cheio de moral, disse que tinha ordens do PSDB para entrar no negócio. Todos se olharam, alguém perguntou: “Ordens de quem exatamente, cara-pálida?”. Do meu irmão, o Tasso. Ligaram na hora para o ex-governador do Ceará, que negou a informação. Maior clima, saiu o Carlos Jereissati batendo as portas.
− Caraca! Esses caras derrubam até irmão. Ficaram inimigos fervorosos, aposto...
− Nada. Já tiveram negócios juntos depois. O Dantas não tem amigos nem inimigos, para ele todos são jogadores, como ele. E o pior é que muitos querem jogar ao seu lado. Claro, ele joga bem.
− Até o Citi que processa ele em NY, que querem seus US$ 300 milhões?
− Claro, os caras foram roubados, mas estes processos não dizem muita coisa. Os interesses na BrOi transformam tudo em moeda. Ele também processa o Citi, mesmo que de forma fajuta, com documentos fraudados. O Citi pega sua grana, sai do jogo e todas as pendengas com o Dantas ficam zeradas. O mesmo que os fundos de pensão, outros que também foram seriamente lesados pelo Dantas, cobram uma nota em 14 processos na justiça. Certamente isso tudo está na mesa, são cartas no tabuleiro.
− Afinal, como dizem por aí, será que ele é um gênio?
− Há quem diga, mas ele é um louco. Não dá para confiar num sujeito que começa a trabalhar às 7h, não almoça, mal come umas saladinhas no escritório, onde fica grudado ao telefone e enfurnado em reuniões com advogados até às 10h da noite, quando volta pra casa, sozinho, e nem janta a mulher, que mora fora do país. Não tem amigos, vida social, não confia em seus funcionários, só nos membros de sua família. Devia ser internado. Você leu a
reportagem da Piauí?
− Contaram que ele negou provar um vinho de boa safra. Disse que não entendia de vinhos e desejava continuar assim, já que podia provar e gostar. Mas não entendo. Ele ganhou um bom dinheiro sabendo do Plano Collor, arrumou muito mais nas privatizações, dando golpes em meio mundo, o que faz com o dinheiro que ganha?
− Nada. Ele não trabalha pelas benesses do capital. Seu negócio é o jogo. Seu vício. Imagina viver o tempo todo em um grande game de monopólio. O que o motiva é a endorfina que o jogo libera. Isso é um perigo. Lidamos com um legítimo player, palavrinha que a nova gestão capitalista adora, no caso dele é perfeito.
− Putz, ele é do mal...
− Ele, só? Qual é? É assim que funcionam os grandes negócios, nesse nosso tosco capitalismo e nos outros. Ele é cria deste mundo de altíssimas piranhagens. E quem paga é o governador de NY que acertou uma parada com cafetina brasileira. Se fosse com um baiano proxeneta em negócios escusos, estava limpo... é hilário...
− Hahaha... Mas então foi o Daniel Dantas que demitiu o PHA?
− Cara, no mínimo tem um dedo dele nesta sacanagem. Tudo o que estou te dizendo aqui é o que PHA
escrevia sobre a BrOi, e quase nada saiu na grande imprensa. É assunto melhor e mais relevante do que as baboseiras que a Míriam Leitão escreve. Mas... é a ditadura do PIG, um dos partidos das elites, que temem abrir as cortinas e mostrar como fabricam suas salsichas, ninguém comeria.
− É, bota piranhagem nisso...