Do Bolsa Família à inclusão social

Ignacy Sachs*

O semanário britânico "The Economist", de 9 de fevereiro, publicou um artigo altamente elogioso do Bolsa Família, apresentado como o maior programa no mundo de luta contra a pobreza, através da transferência da renda a onze milhões de famílias carentes, condicionada pela presença regular dos filhos na escola e pela participação nas campanhas de vacinação. Segundo uma funcionária do Banco Mundial trabalhando no Brasil, vários países se preparam para reproduzir esse esquema. Tanto mais que os recursos comprometidos são de ordem de apenas meio por cento do PIB.

Um estudo recente do Centro Internacional de Pobreza (uma parceria entre o Pnud e o Ipea) mostrou que o Bolsa Família contribuiu para uma queda no Brasil de três pontos no Índice de Gini - o indicador mais usado de disparidade de renda. Esse ritmo de queda é igual ou maior ao ritmo registrado em países como a Inglaterra e a França, quando esses países estavam instalando políticas de proteção social.

Por positivos que sejam esses resultados, a mera transferência de renda não deixa de ser um projeto assistencial que deve ser reconduzido ano após ano. Daí a necessidade de pensar em saídas do Bolsa Família que permitam às famílias beneficiadas possam se emancipar desse programa ao encontrarem oportunidades de trabalho decente, geradores de uma renda suficiente para sair da pobreza. A saída do Bolsa Família passa por inclusão social pelo trabalho.

O programa Territórios da Cidadania constitui um passo importante nessa direção, marcando uma virada nas políticas públicas de combate à pobreza e à desigualdade.

Trata-se de um programa de desenvolvimento regional voltado às regiões mais pobres do Brasil, dispondo para o ano em curso de R$11,3 bilhões para financiar 135 ações de 15 ministérios nas áreas de apoio às atividades produtivas, acesso a direitos e ações de infra-estrutura. Foram identificados sessenta territórios que incluem 958 municípios com uma população total de 24 milhões de pessoas, e uma população rural de 7,8 milhões com um milhão de famílias de agricultores familiares, 320 mil famílias de assentados de reforma agrária, sendo que 2,3 milhões de famílias recebem atualmente o Bolsa Família. Os sessenta territórios compreendem 350 comunidades quilombolas e 149 terras indígenas, e se caracterizam por baixos Índices de Desenvolvimento Humano.

Assim, o Territórios da Cidadania reflete a determinação do Estado desenvolvimentista de pôr em marcha a economia dos territórios mais atrasados, onde se concentram os bolsões de miséria mais recalcitrantes. Ao mesmo tempo, o programa se propõe a despertar todas as forças vivas da sociedade local através da criação de conselhos de desenvolvimento territorial, partindo da premissa de que o desenvolvimento há de ser pactuado entre todos os seus protagonistas - a sociedade, os empreendedores, as autoridades municipais, estaduais e federais.

Para tanto, a primeira tarefa deverá consistir na elaboração de forma participativa de um duplo diagnóstico: a lista das mazelas e dos obstáculos a serem superados e a identificação dos recursos naturais latentes, presentes em cada território, a serem combinados com a força de trabalho ociosa num amplo leque de projetos, os mais variados. As trajetórias de desenvolvimento socialmente includentes e ambientalmente sustentável são plurais.

Por sua escala e pelo volume dos recursos comprometidos, Territórios da Cidadania nasce como um programa pioneiro em nível mundial de planejamento participativo do desenvolvimento territorial, destinado a propulsar um novo ciclo de desenvolvimento rural com agricultores familiares como atores principais. A caminhada será difícil, mas o projeto é empolgante.

IGNACY SACHS é professor honorário da Escola de Altos Estudos de Ciências Sociais de Paris e co-diretor do seu Centro de Pesquisas sobre o Brasil Contemporâneo.

Publicado originalmente no O Globo em 13/03/2008.
Comentário do blogueiro: Enquanto a oposição política brasileira, setores da mídia e um magistrado-oposicionista torcem o nariz contra o programa governamental Territórios da Cidadania, estudiosos e autoridades do mundo inteiro elogiam as ações do governo nesse sentido. Nesta semana, o Bolsa Família recebeu elogios da Secretária de Estado dos EUA, Condoleeza Rice e também da pré-candidata democrata Hillary Clinton. O programa Territórios da Cidadania visa integrar ações do governo para reduzir a pobreza nas regiões de menor Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). Trata-se de dar maior efetividade às ações do governo e também constitui num programa que visa desenvolver as regiões mais pobres do país, inserindo milhões de pessoas no mercado. Nesse sentido, é uma inovação gerencial importante, que eleva o patamar das políticas públicas. É uma pena que o "olho de retrovisor" - focados no passado - de nossa oposição política e de parte significativa da mídia brasileira não enxergam que o país está melhorando, desenvolvendo, gerando emprego e renda e incluindo milhões de pessoas ao mercado de consumo de massa. São conquistas do povo brasileiro. Eles só pensam naquilo.
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Selo para campanha contra a Veja



O Idelber, do O Biscoito Fino e a Massa, está organizando sugestões para um selo de campanha. Essa é minha idéia de pronto. Bem minimalista. Quem sabe penso em mais outras? O que vocês recomendam?
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Nabuco em Yale

Joaquim Nabuco foi embaixador brasileiro nos Estados Unidos entre 1905 e 1910. Morreu no cargo, fechando assim seu último ciclo de vida, depois da militância empolgante do abolicionismo (1880-1888) e dos anos de recolhimento e ostracismo (1890-1899), quando teve de digerir a derrocada da Monarquia e assimilar a consolidação da República.

Chegou aos Estados Unidos doente e frustrado por não ter conseguido ocupar uma embaixada na Europa. Mesmo assim, procurou brilhar e cumprir um papel. Seduziu os círculos diplomáticos, políticos e intelectuais de Washington e recebeu inúmeros convites para proferir conferências em círculos literários e universitários de todo o país. Continuou a se equilibrar entre a paixão intelectual e o dever profissional, buscando causas que contivessem uma boa dose de universalismo, possibilitassem vôos literários e repercutissem nos destinos do Brasil. Encontrou esta causa no pan-americanismo, que, naqueles anos, embora fortemente associado à política de potência dos EUA, sugeria um caminho para que os países latino-americanos ganhassem maior poder de fogo diante dos imperialismos europeus. Para Nabuco, a união americana teria um parceiro natural no Brasil, sempre “leal a seu continente”, e contribuiria para que se introduzisse, no mundo, uma perspectiva de maior harmonia entre ordem e liberdade. Não era uma causa destinada a ter ressonância popular, como a abolição, mas seguramente não se tratava de um súbito raio estético, descolado da realidade, estranho à lógica dura da política.

Em maio de 1908, Nabuco foi convidado para proferir duas conferências na Yale University. Falou sobre Camões, literatura brasileira e portuguesa, sentimento de nacionalidade e história do Brasil, buscando associar tais temas ao valor estratégico da amizade e da cooperação entre os países das Américas.

Para comemorar o centenário desta visita, o Departamento de Espanhol e Português e o Council on Latin American and Iberian Studies da Yale University realizarão um seminário no próximo mês de abril, cuja programação está reproduzida abaixo.

Coordenado pelo professor Kenneth David Jackson, o seminário revela o prestígio e importância de Nabuco na história das relações Brasil-Estados Unidos, além de indicar o cuidado simbólico e as preocupações acadêmicas de uma das mais importantes universidades norte-americanas. Dele participarão: João Almino; Leslie Bethell, Oxford University; Stephanie Dennison, University of Leeds; Humberto França, Fundação Joaquim Nabuco, Recife; K. David Jackson, Yale University; Jeffrey Needell, University of Florida; Marco A. Nogueira, UNESP; Paulo Pereira, PUC-SP; John Schulz, Brazilian Business School; Norman Valencia, Yale University.

JOAQUIM NABUCO AT YALE

Brazilian Statesman, Author, Ambassador

A Centenary Commemoration (1908-2008)

Conference Program

2:00 p.m. Friday, April 4, 2008

Sterling Memorial Library, Lecture Hall


Welcome and Opening

K. David Jackson, "A Statesman in the Academy: Joaquim Nabuco at Yale"

Stephanie Dennison, "A Aproximação das Duas Américas: Joaquim Nabuco's promotion of Brazil in US Universities"

Leslie Bethell, “Joaquim Nabuco and the Abolition of Slavery in Brazil

João Almino, "The Earthenware and the Iron Pot: Nabuco’s Utopia for the Two Americas."


Reception, 5:00-6:30 p.m.

Ezra Stiles College, 19 Tower Pkwy


10:00 a.m. Saturday, April 5, 2008

Sterling Memorial Library, Lecture Hall


Norman Valencia, "Joaquim Nabuco and Camões"

Marco A. Nogueira, "Do abolicionismo à diplomacia, um liberalismo multifacetado"


Humberto França, "Joaquim Nabuco e Elihu Root, A viagem pan-americana”



2:30 p.m. Saturday, April 5, 2008

Sterling Memorial Library, Lecture Hall


Paulo Pereira, "The Role of Joaquim Nabuco at the Brazilian Embassy in Washington (1905-1910): Between Idealism and Pragmatism"


John Schulz, “Nabuco and the Failure of Social Reform”


Jeffrey Needell, “Glory at Dusk: Nabuco’s Activism, His Meditation, and the Choice for Diplomacy.”


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E também não era por causa da Al Qaeda...

Estudo do Pentágono admite que não existiam laços entre Saddam Hussein e a Al Qaeda, motivo que o governo americano justificou para a invasão do Iraque. Disse a AFP ontem, mas nossos jornalões não se interessaram ou estavam distraídos. O estudo foi distribuído com discrição pelos militares, sem referências em seu site na Internet.

Só uma pergunta: se mataram aquela gente toda, não por existência de armas químicas, não pela ligação do governo com a Al Qaeda, foi por qual motivo? Mas acho que essa pergunta a nossa mídia não vai fazer.
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Diálogo da América louca



− Estou bolado com a quebra do Carlyle Capital. Tem a maior cara de escândalo da Enron, alguns personagens são os mesmos...

− Quem?

− Pô, a família Bush. Ken Lay, fundador da Enron, foi o principal financiador das campanhas políticas de Bush. Amigão do peito. Os negócios eram estreitos com a Casa Branca. O congresso americano tentou cobrar, falaram grosso, a mídia saiu de fininho. Eles tinham foco nos investimentos em energia, expertise dos Bush e bando, ficavam no Texas, as ligações são grandes...

− Ah...tá, e o Carlyle Capital?

− Faz parte do Carlyle Group, empresa com negócios diversificados. Até há pouco, Bush pai era um de seus diretores. Você viu o Fahrenheit do Michael Moore? Ele mostra isso...

− Ah, mas o Michael Moore...

− Nem vem, é notório. Uma das empresas do grupo é a United Defence, uma das maiores empresas mundiais da indústria armamentista, donos dos tanques Bradley, canhão Crusader entre outras traquitanas mortíferas que fizeram a festa em Bagdá.

− Não vejo nada de errado...

− Cacete! Sabe quem eram diretores, sócios? A família Bin Laden. Pensa só: um membro da família, dizem, faz um atentado. Em reação, uma guerra. Os negócios da família prosperam intensamente. E não fica só. Qual o grande negócio original dos Bin Laden, que fez a fortuna de seu falecido pai?

− Sei lá.

− Indústria de construção. Na reconstrução do Iraque quem estava junto com a Halliburton do vice-presidente Dick Cheney? Os Bin Laden. Quer dizer, os caras, todos eles, estão envolvidos com destruição e reconstrução, apropriação de recursos de outros, petróleo, quebra de empresas, mamatas. A lista é grande.

− Você é um exagerado e crédulo em teorias conspiratórias. Eles são homens de negócios que sabem enxergar oportunidades.

− Pomba, eles ferraram com um montão de pessoas, tem armação em tudo, picaretagem braba, e o Bush vai terminar seu segundo mandato, talvez reelegendo o candidato do seu partido. Enquanto isso, o governador de NY perde o cargo, talvez a licença de advogado por uma ferradinha em garota de programa...

− Ah, mas aí já é diferente... Por falar nisso, você viu a moça? Hummm...

− ...
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