Por que as FARC não abandonam a luta armada, fundam um partido e disputam eleições democráticas?

A pergunta incômoda foi feita no Blog do Mello. A resposta publicada no Blog é a seguinte:

“Porque elas já tentaram isso. Em 1984 firmaram uma trégua com o então presidente da Colômbia Belisario Betancourt. As FARC abandonaram as armas e se transformaram num partido político, União Patriótica (UP).

Resultado: o governo da Colômbia se aproveitou do fato e matou três mil militantes, oito congressistas, dois candidatos presidenciais, 11 prefeitos e 13 deputados regionais”.

Com o histórico do governo colombiano e de Uribe, em particular, e em plena execução do Plano Colômbia patrocinado pelos EUA, é muito difícil obter as condições mínimas de confiança para um acordo entre o governo e a guerrilha das Farcs com vistas à institucionalização da guerrilha। A política do governo da Colômbia em conjunto com os EUA está na direção oposta do diálogo. Porém, a negociação e o entendimento entre o governo e as Farc é condição necessária para se chegar a uma solução definitiva. É o que defendi no post publicado logo abaixo deste.
Também é importante salientar uma questão praticamente esquecida ou pouco divulgada na mídia brasileira: os grupos paramilitares de direita da Colômbia। São grupos responsáveis por assassinatos de indígenas, sindicalistas, integrantes da União Patriótica que restaram e ainda expulsão (roubo) de agricultores de suas terras. Embora oficialmente o governo desarticulou esses grupos em 2002, eles continuam vivos e praticando atrocidades, assassinatos e contam com a complacência do governo. Tais grupos, juntamente com agentes estatais, violam direitos humanos fundamentais.
O mais conhecido deles são as AUC (Autodefesas Reunidas da Colômbia). Responsável por massacre de civis, sindicalistas e indígenas, com estreitas ligações com o Exército colombiano, a polícia e o governo. Da mesma forma que as Farc em 1984, as AUC entregaram as armas num acordo com o governo em 2002. Seus integrantes ficaram livres, sem qualquer julgamento pelos crimes cometidos. Mas ainda alguns deles continuam ligados ao narcotráfico na Colômbia. Na verdade, era um grupo armado que atuava a serviço do narcotráfico, a despeito de suas ligações com o governo e seu Exército. É uma prova cabal de que a guerrilha das Farc, por maiores que possam ser seus erros, não pode ser a única responsabilizada pelo tráfico de drogas na Colômbia.

Além disso, seria importante saber quem financia esses grupos paramilitares. Não combatem o narcotráfico, mas apenas as Farc e outros grupos de esquerda ou sindicalistas. O envolvimento com setores do exército colombiano e a proximidade com alguns cartéis de drogas colocam em dúvida a política oficial do governo contra as Farc. Resta saber qual o verdadeiro objetivo do governo colombiano com sua política de sangue. Será porque podem fazer “acordos de paz” com grupos paramilitares clandestinos mas não podem aceitar negociar com as Farc? Fica a indagação.
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FARC: A solução passa pela institucionalização política da guerrilha

Diálogo com as Farc é condição necessária para solucionar a crise na região e resolver o conflito de Equador x Colômbia x Venezuela. Mas como provomer esse diálogo?
Uma questão bastante complexa são as denominações costumeiras que se encontra sobre as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia): narcoterroristas, movimento narcotraficante, revolucionários, guerrilha esquerdista, etc. Não gosto desse negócio de pegar em armas por razões políticas. Não é minha praia, mas também não cultivo rancores contra aqueles que fizeram das armas uma opção política. O jogo eleitoral é preferível que ficar empunhando rifles para demarcar território. Porém, houve uma época em que grupos políticos de esquerda principalmente (registre-se, havia grupos direitistas também), pegavam em armas para defender suas idéias. José Genoíno, do PT, participou da guerrilha do Araguaia. Diversos integrantes do PC do B também. Hoje, representantes dessa época participam do jogo político eleitoral, estão inseridos no sistema político brasileiro. As Farc têm raízes ainda mais antigas. Por razões diversas internas do seu país, elas continuam de fora do jogo político eleitoral.

Classificar as Farc de terroristas ou narcotraficantes é algo muito simplista. É daquelas denominações que viram “moda” por razões políticas óbvias. Por maiores que sejam nossas diferenças com o grupo das Farc, não são narcotraficantes. Os maiores cartéis de droga da Colômbia situam-se em territórios não controlados pela guerrilha. A riqueza dos barões de coca está em empresas e negócios situados nas áreas de influência do governo colombiano. A política colombiana historicamente é financiada pelos traficantes colombianos. Uma prova viva é o próprio presidente Álvaro Uribe, filho de traficante preso em 1982 e quase deportado. Aliás, segundo informações publicadas, o presidente colombiano mantinha relações próximas com Pablo Escobar, o líder do cartel de Medellín morto em 1993 por policiais americanos. Como senador pela Colômbia, Álvaro Uribe esteve na lista negra dos EUA por supostamente ajudar o tráfico de drogas.

A verdade é que os traficantes de droga colombianos não são inimigos das Farc nem do governo colombiano. As Farc é que não irão combatê-los, pois tem outras prioridades como inimigos. Além disso, as atividades do tráfico geram receitas para se manterem na guerrilha – o famoso “pedágio”. É uma espécie de imposto cobrado pelas Farc das atividades econômicas da região. A produção de drogas para exportação é uma delas. Nas outras regiões do país controladas pelo governo, o que funciona é a corrupção de autoridades policiais e políticas para manterem seus negócios de comércio da droga. O governo da Colômbia finge que combate os traficantes, mas seu verdadeiro inimigo é mesmo as Farc. O resto é retórica política. As drogas são um álibi da direita para falar mal da guerrilha, pois não tem heróis de verdade para defender. O jeito é falar mal dos outros. E desviar o foco das atenções. Assim, ninguém cobra do governo colombiano que acabe antes com seus traficantes, ou seja, aqueles que transportam drogas de dentro de seu território de comando. E, depois, acabam financiando seus políticos.

Nem vou perder muito tempo para comentar as denominações de guerrilha esquerdista ou revolucionários. A direita até hoje no Brasil chama o golpe de 1964 de revolução. Então por que perderei tempo discutindo o termo. Terrorismo é outro termo cada vez menos apropriado. Palestinos são terroristas, pois matam israelenses inocentes com suas bombinhas. Israelenses também matam palestinos e libaneses inocentes com seu armamento pesado de primeira geração, mas não são terroristas. Esta divisão ideológica é difícil de ser digerida.

As Farc deram nos últimos anos vários indícios que desejam negociação política. No governo anterior, de André Pestanas, as Farc tiveram uma aproximação do governo. Houve significativos avanços. Tem muita gente contra esse tipo de aproximação. O problema é que não apontam a solução. No governo Uribe, a política endureceu a ação e o discurso contra a guerrilha, com amplo apoio do governo americano, o chamado Plano Colômbia. Serve para a direita americana e a colombiana obterem vitórias na batalha política interna. O resultado foi um distanciamento e a intensificação dos seqüestros, principalmente de autoridades colombianas. Os seqüestros atendem a dois objetivos: um político e outro econômico. No primeiro, tornam reféns em peça de negociação política. No segundo, é um meio de arrecadar fundos para financiar a guerrilha.

A posição do governo colombiano é defensável, mas não quer dizer que seja a melhor. No campo político interno, fortalece os apoiadores de Álvaro Uribe. É o fantasma do terceiro mandato. Resta saber como a direita brasileira julgará a pretensão de Uribe. No campo externo, distancia dos demais países da região, enquanto intensifica sua aliança com os EUA. Nesse caso, acaba atraindo para si a impopularidade de Bush. Ninguém quer ficar com a imagem negativa de Bush, só mesmo Uribe. Nesse quesito, Uribe presta um serviço para os republicanos americanos, que fazem dos clichês narcotráfico-guerrilha uma forma de manterem no poder o partido de um governo impopular. É a política.

Ultimamente as Farc intensificaram as negociações com governos estrangeiros – Venezuela, Equador, França e certamente desejam aproximação com o Brasil. Um exemplo disso é que o governo francês declarou que o governo de Uribe sabia que o porta-voz internacional das Farc, Raúl Reyes, era interlocutor de negociações para libertação de reféns. O interesse do governo francês é a libertação da franco-colombiana Ingrid Bittencourt, ex-candidata à presidência da Colômbia. A postura negociadora das Farc no plano externo pode ser resultado da intensificação das ações do governo colombiano. Mas também pode ser que acreditem que há interlocutores confiáveis no plano externo. O que as Farc desejam é serem reconhecidos internacionalmente como organização política, não como terroristas. Por maiores resistências que se possa ter à idéia, isso pode representar um início de uma solução.

A história tem mostrado que grupos clandestinos como as Farc são difíceis de serem eliminados completamente. Por mais efetiva que sejam as ações do governo nesse sentido, haverá sempre resquícios da guerrilha. No plano internacional, há bons exemplos de “pseudo-terroristas” políticos que passaram a participar do jogo eleitoral. No vizinho Peru, na base de sustentação do governo Alan Garcia, há grupos que um dia estiveram na guerrilha clandestina. Na Europa, o famoso grupo terrorista irlandês IRA deixou de ser uma organização clandestina e participa do jogo político eleitoral. Talvez seja a hora de mais negociação entre as Farc e o governo colombiano no sentido de acelerar a libertação de reféns e passarem a integrar a vida política do país. Nessa complicada equação política, o papel do Brasil e também da França, por exemplo, seria ajudar a construir o diálogo que leve à solução pela institucionalização (se essa tornar a opção política do governo colombiano). Tornariam um partido político, disputariam eleições com a legítima aspiração de chegar ao poder pelo voto. É um caminho.

O povo colombiano precisa de soluções. Uma é para o destino das Farc. Outra é para o problema dos narcotraficantes. Enquanto não resolver o primeiro problema, o governo da Colômbia tenderá a não enfrentar de fato o segundo. A radicalização do conflito com a guerrilha fortalece politicamente Uribe, inclusive para sua pretensão para um terceiro mandato. Mas não resolve o primeiro problema. O confronto nem sempre ajuda na construção de uma “solução”. A negociação é uma porta que não deveria ser fechada. A política sempre envolve conflitos de visões. Partindo do princípio de que a “solução ótima” é dificilmente alcançável, a “solução boa” é sempre aquela resultada do bom senso. É o que se deveria buscar.
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Ali Kamel, este desconhecido

Uma leitora deste blog nos dá um correto puxão de orelha. Ela, na Paraíba, nunca ouviu falar do Kamel. Justíssimo. E erro nosso. Esquecemos que o sujeito só aparece em parte do Brasil, ajudado pela mídia mais do que amiga. Sem ela, ele não existe. Disse nossa leitora, Érica Santos:

"
Meus queridos, gostei de muito do que li aqui, mas estou perdida para entender melhor quem é esse Ali Kamel. Aqui em João Pessoa, o único Ali que conheço é dono de um armarinho.
"

Cara Érica. Nosso modesto blog começa a ser lido por muitos e gente de todos os lugares do Brasil. Estamos felizes. Mas precisamos aprender a não usar nossas ironias e incômodos de forma incompreensível:

Ali Kamel é o atual diretor de jornalismo da TV Globo. Foi repórter e depois diretor de redação do jornal O Globo, onde eventualmente ainda escreve artigos, sempre polêmicos, defendendo idéias conservadoras e justificando o injustificável. Segundo comentário de Mino Carta, ele não escreve para muitos, seu desejo é ser lido apenas por seus patrões. Neste objetivo, tentou defender a TV Globo dizendo que ela sempre apoiou o movimento das diretas, uma desavergonhada mentira. Que o jornalismo feito no Brasil é isento e de ótima qualidade. E publicou uma série de artigos, depois um livro, onde defendia que no Brasil não existe racismo.

Seus argumentos chegam a ser simplórios. Mas é sempre ajudado por uma mão amiga da mídia que faz repercussão de seus devaneios. A Kelly, minha sócia no blog, aponta as contradições de seu último artigo, onde ele critica o Bolsa Família por ter seus recursos desviados quando os beneficiários compram eletrodomésticos, e não comida. A crítica de Kamel é conflitante com as idéias do liberalismo, ideologia de seus patrões.

Obrigado pelo toque, Érica. E pedimos desculpas a todos pelo nosso esquecimento da total inexpressividade do senhor Ali Kamel.
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Da série de besteirol político de Arthur Virgílio: A denúncia vazia de tráfico de armas do exército brasileiro com a ajuda da TAM

Ontem Arthur Virgílio, do PSDB de Amazonas, subiu à tribuna do Senado Federal para denunciar que o governo brasileiro estaria transportando “secretamente” , por meio da empresa aérea TAM, toneladas de armamentos para a Venezuela. Imediatamente, o ministro da Defesa, Nelson Jobin, rebateu as acusações por serem “infundadas” . O ministro demonstrou que não havia qualquer sentido na denúncia de Virgílio.

Depois a TAM é que divulgou nota abaixo esclarecendo a questão. A denúncia descabida do senador é uma grande irresponsabilidade e leviandade com a empresa TAM e também com o governo brasileiro. Arthur Virgílio acredita em qualquer coisa, só precisa falar com ele que fustiga o governo. Daí ele sobe na tribuna do Senado e solta a voz.

A direita anda em polvorosa. Para poupar a atitude belicista do governo Uribe que invadiu a soberania equatoriana, preparam-se factóides de toda a monta. Exigem que os governos equatoriano e venezuelano combatam as FARCs em seus territórios. Só tem um detalhe. Não há qualquer indício de que as FARCs cometem ilegalidade ou crimes nos territórios desses países. Se o governo colombiano com a ajuda militar e financeira dos EUA, com armamentos bem mais modernos, e depois de décadas de conflito com as FARCs, não conseguem controlar ou evitar a movimentação da guerrilha em seu território, como exigir que outros países, que nem tem obrigação de combater as FARCs, porque elas não são inimigas, evitem que guerrilheiros movimentem em seu território?

Mas todos sabem as intenções de Álvaro Uribe. Nos anos 80 e 90 foi aliado dos narcotraficantes colombianos e estava na lista negra dos EUA, conforme publicação da Revista Newsweek. Depois, passou a ser o aliado preferencial dos EUA na região. Nada de errado nisso, mas falta-lhe moral para dizer que a guerrilha é financiada pelas drogas. Além disso, nenhum dos grandes cartéis de droga colombiana encontra-se na área de influência das FARCs. Portanto, não é o combate ao narcotráfico que move suas ações. Isso não quer dizer que a guerrilha deva ser aceita, mas que há um mundo mais complexo e nebuloso nessa relação. Mas o que a mídia direitista brasileira esconde é que a movimentação de Uribe é para forçar um terceiro mandato. Nesse quesito, o ataque foi uma jogada política de mestre. Alguém podia pedir ao Arthur Virgílio para fazer um pronunciamento a esse respeito na tribuna do Senado. Quem sabe o senador do Amazonas não passasse a defender o terceiro mandato, mas na Colômbia. Segue a nota da TAM.

Nota de esclarecimento da TAM

Sobre declaração feita hoje no Senado sobre suposto transporte secreto de armamento para a Venezuela, a TAM esclarece:
1. A companhia não realiza "vôos secretos" à Venezuela ou a qualquer outro destino. A TAM mantém vôo regular diário para Caracas, de passageiros e cargas, desde setembro de 2007;
2.A pedido do Ministério da Defesa, a companhia realizou, em caráter de urgência, uma pesquisa em seus registros dos últimos 15 dias, sem encontrar nenhuma exportação de armas, e repassou essa informação às autoridades. Em seguida, iniciou buscas nos dias anteriores, localizando uma exportação de uma carga de revólveres Taurus para um importador venezuelano, totalizando 1.3२9,4 kg.

3. A exportação, que seguiu todos os trâmites legais, contou com as autorizações oficiais devidas, e o transporte desse tipo de carga pela TAM é autorizado pelo Exército (Certificado de Registro nº 34704, de 11.10.2006, válido até 30.09.2008), que também emitiu a permissão ao exportador (Guia de Tráfego nº 000319/2008, de 15.01.2008).

4. O transporte regular de exportações da Taurus também é feito para países como os EUA e Argentina, sempre cumprindo todos os requisitos previstos em lei.
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Liberalismo à la Kamel

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