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À la Paulo Coelho

Bomba na internet o conto/piada Lênin desce aos infernos, de Paulo Coelho. Até hoje, sexta-feira, 29 de fevereiro, quase 100 comentários no blog do escritor. É anedota antiga, em roupagem nova, leve. Brincadeira respeitosa com o nome do grande revolucionário. Na verdade, Lênin é relatado em sua verdadeira, com perdão da má palavra, expertise. Tanto que o site Vermelho, do Partido Comunista do Brasil, republicou o texto com elogios.

Além de ter me divertido, fiquei imaginando que o tema, − alguém conhecido que chega à porta do céu e lá desenvolve uma situação dentro de sua personalidade −, poderia servir a infinitos outros textos. Tento um. Torço que outros também o façam:



Negócios na porta do céu

Dois aviões se chocam em São Paulo. “Tragédia anunciada”, “caos aéreo assassino”, “foi o Lula”, gritam os jornais espalhando crise. Enquanto isso, no guichê da entrada do céu, São Pedro está enlouquecido com o movimento:

− Por favor, entendam que não estamos preparados para este fluxo anormal de novas almas. Além de tudo, estamos fazendo algumas reformas na casa, conseqüência da perda de market share para o inferno. Equipes estão afastadas para treinamento sobre maximização de lucros e economia de escala. Hoje só temos mais uma vaga, atenderemos o restante apenas no expediente de amanhã!

Tumulto. Todos gritam ao mesmo tempo. Exigem solução imediata. Acusam a Anac, o Jobim, o Lula, Jesus e Deus. Quando falam o nome do patrão, São Pedro fica uma fera. Já estava com a mão no telefone para chamar a santa porrada de São Jorge quando a voz macia de alguém o detém:

− Santíssimo Pedro, meu cartão. Sou Daniel Dantas, empresário. Faço bons negócios. Posso resolver o seu problema em meia hora. Em troca, quero a única vaga de hoje e a garantia de entrada no céu sem audiência para avaliação de culpas.

São Pedro o olha incrédulo, cofia a barba desconfiado. Sem alternativa, relaxa e concorda:

− Fechado. Vou ao escritório central e já volto.

No retorno, surpresa. A multidão estava calma, totalmente apática. Apenas no fundo, um pequeno grupo continha um velhinho que berrava e esperneava. Na porta, Daniel Dantas, com sua bagagem, calmamente contava um enorme maço de dinheiro.

− Meu filho, isso é um milagre. Bem que chamas Daniel, nome de santo, de profeta. Entre, a casa é sua, diz o santo guardião.

Dantas já estava do outro lado, São Pedro, curioso, vira-se e pergunta:

− Santo Daniel, como fizestes?

− Fácil. Vendi a rifa do meu lugar no céu.

− E quem são aqueles, os únicos nervosos na multidão?

− Apostadores que bem paguei para conterem o pé-frio do Fernando Henrique Cardoso. Foi ele que ganhou.
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