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Para não dizerem que não falei de Obama


Para falar, tenho que fazer uma revelação, bem pessoal: eu fiz um curso de meditação. Precisava dormir melhor, eliminar tensões, segui conselhos. Não aprendi o suficiente para meditar, confesso. Fui péssimo aluno. Mas ficou algo das lições do professor, formado no Oriente. A principal é a necessidade de sermos extremamente seletivos com os diversos apelos simbólicos de uma sociedade que te exige atenção o tempo todo. Aprendida a lição, coloquei logo em prática o ensinamento e chutei o curso, selecionando outras opções de informação. Ainda tenho insônias constantes e dificuldade de relaxar, mas consigo me desligar de muitos convites cotidianos à compra de diversos produtos. Sou péssimo consumidor. Talvez isso explique o meu descaso com essas eleições americanas.

Foi impressionante a quantidade de espaço dedicado a elas pela nossa mídia. Minutos e mais minutos nas TVs, páginas e páginas nos jornais, durante infinitos meses, e eu ali alheio. Claro que houve momentos em que quase fui seduzido. O título no Globo “A casa onde Obama perdeu um poodle” é um convite quase irrecusável. Mesmo assim, continuei alienado naquela fartura de informações, sem saber de algo tão fundamental e decisivo. Afinal, como se chamava o cachorrinho? E a casa? Paciência.

Ontem me rendi. Acompanhei a apuração. Fiquei impressionado com a quantidade de pessoas que esperavam Obama em Chicago para um pronunciamento como eleito. Muitos choravam quando anunciada sua vitória. Gritavam ou portavam slogans: Change, we can believe in. Yes, we can. Belo. E que coisa mais simbólica. Acredito em mudanças. Acredito que a necessidade histórica leva a elas, assim vem acontecendo há muitos milênios. Imaginar que após a primeira eleição do último presidente, em sua caminhada rumo ao Capitólio para a posse, sua limosine teve que correr, com o povo atirando ovos... Elegeram um presidente mestiço, que fala em unir o país. É um grande passo.

E a questão do simbólico, do professor zen-budista, reapareceu na minha cabeça ontem. Claro, me tirando um tanto mais do sono, aumentando minhas tensões. Pensei em nossas últimas eleições municipais, impossível não associar algumas coisas. Estas também foram bem marcadas pelo simbólico. Aqui talvez com outro slogan: No change. Reelegeram até o Kassab. Mas naquele simbólico da massa esperando o Obama fiquei mais detido, imaginando coisas. Voltei a ler a nossa rígida e parcial legislação eleitoral. Algo que soma às minhas atuais variadas preocupações. Li mais uma vez o Código Eleitoral, art 242, caput, citado na Resolução n° 22.178, em seu Art 5°, do TSE: “A propaganda, qualquer que seja a sua forma ou modalidade, mencionará sempre a legenda partidária e só poderá ser feita em língua nacional, não devendo empregar meios publicitários destinados a criar, artificialmente, na opinião pública, estados mentais, emocionais ou passionais”. Impressionante a preocupação dos nossos legisladores com os “estados mentais” do nosso povo. Quantos receios. Não que eu ache que na democracia americana existam mais oportunidades para a catarse coletiva. Tal evento em Chicago nada prova em contrário, mas fica o exemplo em nossa legislação dos reais temores de nossas elites. O que acham que fariam se tomados pela emoção? Votariam errado? Apoiariam um líder, como na terra de Obama aconteceu, que deu uma esculachada geral em uns soldadinhos ingleses? Maior perigo. Teríamos que conviver com esta cara em notas do nosso dinheiro por séculos. Seu nome em ruas, cidades. Coisa de terceiro mundo, né?

Por favor, é só um desabafo irônico, não quero criar artificiais estados emocionais em nosso povo. Não tenho como concorrer com nossa mídia, que para eleger um presidente com a cara do Nosferatu, um dos seus últimos quadros possíveis, conseguiu criar um falso alarme com a febre amarela, levando milhares a se vacinarem desnecessariamente, com mortes registradas por esse alarmismo. É concorrência desleal. Nem quero adiantar aqui o meu descrédito por uma verdadeira mudança nos EUA com Barak Obama. Não vale lembrar agora que seu consultor para política externa é Zbigniew Brzezinski, quem vem desenhando há muito os desafios da expansão do império americano, e que teve na família Bush bons e fiéis seguidores. Na verdade esse papo todo é para dizer que se votasse nos EUA teria escolhido Cynthia McKinney. Who? Ah, claro, ela foi candidata nestas eleições, pelo partido verde, sem espaço nas regras democráticas americanas. É uma ex-congressista atuante, com propostas de mudanças reais e possíveis para aquele país e o mundo. Corajosa, enfrentou no Congresso de lá o Rumsfeld, cobrou do governo americano suas responsabilidades no 11 de setembro, defende os governos progressistas da América Latina, inclusive cita Cuba como um exemplo de democracia. Enfim, bem diferente do que pensam nossos verdes, que gostam mais de serem vistos como símbolos, posando para fotos com militares, almejando saírem na revista Caras, convidados para o curral vip de vários eventos, e sob o aplauso de todo o Leblon.
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Vai faltar tapete



Alan Greenspan, o homem que comandou o FED por 18 anos, foi ontem ao congresso americano prestar esclarecimentos sobre a crise. Ele, que sempre foi tratado como o sábio, o cientista, um dos maiores ideólogos do moderno liberalismo, desta vez teve que enfrentar o desconforto das explicações. Reconheceu que errou. Homem de números, disse que era equívoco da ordem de 40%. Pouco. Resultou em apenas alguns dígitos, 15 para ser exato, dos 668 trilhões de dólares do buraco no cassino.

Os principais jornais americanos amanheceram nesta sexta com destaque para o mea-culpa do homem que acreditava na auto-regulação do mercado, reconhecendo agora “uma falha no modelo que eu concebia como a estrutura crítica de funcionamento que define como o mundo funciona”. Mas os jornais brasileiros acharam coisa pouca, deixaram no máximo discretas chamadas na primeira página. Preferiram continuar sua sanha em provar ao seu eleitorado que este governo não consegue enfrentar o rombo do Greenspan, melhor eleger o José Serra em 2010 para nos salvar. Sim, dizem que a medida provisória tem o perigoso cheiro de estatização, coisa de comunista, e tome desqualificação, seria o Proer do Lula.

Mas tem um desafio grande para a mídia do Serra: como justificar que para o ralo foi exatamente a ideologia que seus editoriais tanto louvaram durante anos? Que o mito do estado mínimo virou mico? Que toda esta baboseira era ferrenhamente defendida pelos políticos de seu jardim?

Terão que varrer para debaixo do tapete um José Serra que estava alinhado exatamente às idéias de quem agora reconhece erro. Juntando com todo o fracasso da administração do Estado de S. Paulo, é mais lixo que tapete.
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Laerte Braga: "É economia seu estúpido"

Jornais ficam mais burros a cada dia. Temem a diversidade ideológica, opiniões diferentes das suas. Portanto, repetem sempre velhas fórmulas, as mesmas opiniões. Mas, andam refletindo sobre seu futuro. Acreditam que o motivo da notória queda de circulação e da perda de receita publicitária se deve aos novos meios. O maior diário carioca, em novo posicionamento de marca, encomendou a uma “ligada” agência o material publicitário para esta divulgação. Em anúncio, afirma que o que vale é o conteúdo que faz, não importa como é produzido, ou o quê e para quem. Para ser mais claro, ao falar da informação, diz coisas “inteligentes” como: “se existisse comestível, nós cozinharíamos”. Interessante abordagem, talvez deseje lembrar que jornais já são conhecidos por embrulharem peixe, talvez em breve estejam comercializando o produto inteiro. Por estas e outras não há lugar na imprensa para um veterano como o jornalista Laerte Braga, hoje publicando suas precisas observações apenas na mídia alternativa, muitas vezes somente em listas de e-mails, onde recebi este texto sobre a atual crise financeira americana, de longe uma das melhores abordagens sobre o assunto. Compartilho com vocês:


“É ECONOMIA SEU ESTÚPIDO”

Laerte Braga

Quem se recorda do debate entre os candidatos Bill Clinton e George Bush pai, em 1992, vai se lembrar dessa frase do candidato democrata, decisiva para sua vitória sobre o Bush. Bush pai tentava a reeleição. Ele e Jimmy Carter foram os únicos presidentes desde 1960, que não se reelegeram (considerando que a eleição de Lyndon Johnson seria a reeleição de John Kennedy, assassinado em 1963).

"É economia seu estúpido". Foi o que Clinton respondeu a série de explicações do pai sobre guerra do Iraque, terrorismo, todos esses chavões que norteiam os presidentes republicanos e ao final acabam levando o país a uma realidade como a de hoje.

Os Estados Unidos assumiram o papel de "condutores da humanidade para o paraíso" ao final da Segunda Grande Guerra e depois de quatro governos sucessivos de Franklin Delano Roosevelt, democrata, o último deles completado por Harry Truman.

O "new deal" foi a primeira grande intervenção do Estado na economia. Fez frente à crise de 1929 e basicamente tirou o país da quebradeira geral, o que chamaram de "grande depressão", através de obras públicas e intervenção do Estado na economia.

O mercado havia se enrolado de tal forma que não conseguia responder ao pânico que tomou conta dos EUA, gerou desemprego e uma das mais altas taxas de suicídios numa só época, num só período, como conseqüência do grande desastre.

A Segunda Grande Guerra foi outro elemento a tirar os EUA da crise. Um parque industrial formidável sustentou os aliados ocidentais a partir da Grã Bretanha e a contrapartida do bloco soviético fez com que ao final do conflito duas grandes superpotências emergissem e dividissem o mundo em dois.

O fim da União Soviética criou a sensação entre os norte-americanos que anjos haviam descido do céu, punido o mal e ungido o bem, com catedrais distintas. Uma em Washington, outra em Wall Street.

Esqueceram-se de ler Mao Tsé Tung. "O imperialismo é um tigre de papel". Boa parte da economia norte-americana depende hoje da China. Os poderosos escudos antimísseis construídos desde o governo Reagan são insuficientes para garantir a benção dos anjos. Não protegem por dentro.

A economia dos EUA é mais ou menos como uma casa dos três porquinhos, uma história infantil centenária e que com certeza todos já ouvimos. O lobo chega e sopra, joga as paredes no chão e os porcos irmãos são obrigados a correr e a construir outra casa até que consigam segurar os sopros do lobo.

O problema aí é que o lobo está dentro de casa e plantado no centro das decisões, logo é ele quem decide o material da "construção". Atende pelo nome de mercado.

Quando se fala em Banco Central nos EUA imagina-se uma instituição bancária do governo a controlar entre outras coisas juros e emissão de moeda. Não é não.

O Banco Central dos Estados Unidos é uma associação de bancos privados que detém o poder de emitir moeda e definir juros. Hoje 32% das ações do FED (Federal Reserve) pertencem ao Chase Manhattan Bank e 20,51 pertencem ao City Bank. Duas instituições bancárias privadas controlam a economia do país. Em toda a sua história o FED jamais foi submetido a uma auditoria.

O que chamam Sistema Federal de Reserva foi transformado em lei pelo presidente Woodrow Wilson, no final de 1913 e permanece intocado até hoje. Dois presidentes desafiaram esse poder. Roosevelt e Kennedy.

A emissão de moeda pelo FED se dá a juros inferiores a 3% para banqueiros, que repassam em forma de empréstimo ao governo federal dos EUA a juros de 7,5% a 8%. Qualquer governo nos EUA trabalha para pagar o que chamam de "serviço da dívida".

A isso se junta a tal lógica do capitalismo. Que é mais ou menos como a necessidade de se ter um estoque de produtos, bens e serviços em constantes transformações e inovações para que o distinto público financie todo esse complexo mafioso, tanto quanto ampliar esse mercado, estender-se ao mundo inteiro e tornar-nos a todos, países e povos, consumidores e pagadores dos juros do FED.

Plantaram os alicerces da casa com papéis. Montaram um extraordinário poder militar com o objetivo de desestimular qualquer reação a essa ordem política e econômica e criaram uma espécie de mundo Walt Disney para os cidadãos norte-americanos, "o mundo de Truman", irreal, fictício, que exportam sob a forma de democracia, liberdade, justiça, o tal american way of life, embalado em sanduíches da Casa McDonalds e engarrafado na tonificante coca cola.

Fica mais ou menos assim. O cara assiste a um filme em que Cary Grant e Débora Kerr marcam um encontro no último andar do Empire State Building, alguns anos depois de terem se encontrado num cruzeiro marítimo, mas um deles se acidenta quando a caminho e não chega. Ou vai para dentro da tela na versão mais realista de Woody Allen.

Vitório de Sicca fez melhor em "ladrões de bicicletas".

É o caso típico de quem faz e quem deixa. Depois é só ir berrar na porta de Wall Stret com o "NEW YORK TIMES" nas mãos, mostrando que os fundos de pensões e aposentadorias, todos privados, foram para o buraco.

A verdadeira lógica é simples. Um trabalhador na Indonésia trabalha vinte horas por dia em condições subumanas e a Reebok vende tênis em que agrega toda essa parafernália capitalista a embasbacados consumidores/escravos em todos os cantos do mundo.

Acumula os dividendos da escravidão.

Se o indonésio berrar, o salário de um dólar por dia vira um monte de marines em missão de paz e combate às drogas.

Só na semana passada nos arredores de Wall Street, ou seja, naquilo que está umbilicalmente ligado ao mundo dos papéis sem lastro, 50 mil pessoas perderam o emprego e viram suas aposentadorias e pensões embarcarem numa viagem sem volta numa nave espacial da NASA.

Mercado. Grandes empresas. American way life. Hollywood.

No topo dessa montanha George Walker Bush decidindo o que é bom e o que é ruim para o mundo.

Palestinos, afegãos, iraquianos, o governo Chávez, Evo Morales, Fernando Lugo, Rafael Corrêa, o povo paquistanês, viram a encarnação de Lúcifer em combate com o anjo que abençoou Wall Street.

Sarah Palin, governadora do Alasca e candidata a vice-presidente na chapa do republicano John McCain, considera tudo isso missão divina.

E até o pacote de 700 bilhões de dólares para salvar os bancos da falência e manter o modelo, nem que seja com tapumes azuis e verdes, para esconder o sombrio da perversidade capitalista.

De quebra querem vender o pacote de salvação para o resto do mundo, no pressuposto que é preciso ajudar o gigante do norte, num momento que as pernas estão trôpegas e cambaleantes.

Nesse tipo de negócio Pastinha nem passa perto. Não conhece nada além de milzinho para sentar em cima e uma semana na praia para esquecer outro papelório em desajuste com os negócios, mas dentro do mercado.

George Bush pai perdeu para Clinton no momento que não soube responder à afirmação do democrata. "É economia seu estúpido". Não faz a menor idéia do que seja isso.

Só o colar da senhora McCain usado na convenção do Partido Republicano custou 300 mil dólares. A senhora em questão é do meio oeste e voluntária na ajuda a crianças pobres do resto do mundo. Promove pipocas dançantes.

Como afirma César Benjamin, "Karl Marx manda lembranças".
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Ah, o mercado...

“Fed vai injetar US$ 85 milhões na AIG em troca de 80% do capital da seguradora”

Notícia no Globo Online, em 16/9/2008


“O mercado regula”

Fernando Henrique Cardoso, em várias datas


“O governo moderno não é senão um comitê para gerir os negócios comuns de toda a classe burguesa”

Karl Marx, no Manifesto Comunista, em 1848
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E lá vai o Lehman Brothers...

No momento em que quarto maior banco de investimento do mundo abre falência, fico imaginando se já não estaria na hora de abrirem a cortina para que a sociedade pudesse enxergar o tamanho da sanha especulativa que fazem com o nosso dinheiro. Operações futuras sempre me pareceram brincadeira de monopólio. E só agora elas estão sendo apontadas como parte do problema e da falta de regulação.

Nunca entendi como a sociedade pode achar normal a existência de uma operação em que se ganha com o desastre dos outros. Menos ainda entendo como até hoje a grande mídia conseguiu ficar impune ao fato de ter "esquecido" de apurar o enorme movimento nas bolsas, neste tipo de operação, em ações da United Airlines, dias antes do 11 de setembro de 2001. Apenas um repórter independente, Tom Flocco, seguiu a pista, chegando ao banco de investimentos AB Brown, de NY. Curiosamente, propriedade de A.B. Krongard, diretor executivo da CIA à época. Os jornalões trataram o fato apenas com a irrelevância da primeira versão, que creditava a Al-Quaeda o investimento. E o repórter foi esquecido, ou tratado como um Protógenes do momento.

Quem sabe quando ruir este cassino, junto toda uma civilização, algum sinal de fumaça resultante possa contar a verdade sobre os fatos?
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Xenofobia fascista nos EUA


Com a crise americana algumas conseqüências já são esperadas, entre elas o aumento da xenofobia fascista contra os imigrantes nos EUA. Uma prova disso é a atuação de grupos organizados que atuam contra a imigração ilegal, como o CCFILE, de dois irmãos em Boston, Jim e Joe Rizoli, que têm programas semanais na TV. É impressionante a linguagem xenófoba. No vídeo acima, cena de rua com brasileiros que comemoravam vitória da seleção brasileira na última Copa. A frase “nós perdemos o controle da cidade, temos que retomá-la” é usada nos créditos finais.
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