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Dos filósofos materialistas da Índia antiga

Na Índia antiga também havia filósofos que propunham lokayata, isto é o materialismo, como Carvaca e seus seguidores, os carvacas. Eis um resuminho das ideias do nosso amigo Carvaca:
No aparecimento de Shri Shankar havia a influência do pensamento de inumeráveis filósofos materialistas, além do domínio islâmico. Alguns, a exemplo de Carvaca, que foi contemporâneo de Buddha, afirmava a sua doutrina do Lokayata. Esta filosofia dizia que tudo que existe é somente este mundo (loka), e que não há nada mais além dele. Carvaca dizia que a vida depois da morte era uma grande mentira, e que isso era pregado por ignorantes, apegados a letra morta dos textos do que ele dizia “doutrinas ultrapassadas dos Vedas”. Além do mais, para Carvaca a alma não existia; tudo o que existe são os elementos água, ar, fogo e terra. O que existe na vida é o prazer e a dor, e tudo o mais não passa de tosca ilusão – maya -, fruto da ilusão dos ignorantes. A filosofia hedonista de Carvaca defendia que somente o prazer deveria ser buscado e nada mais.


Entre os ensinamentos de Carvaca nós, também, encontramos:


- O prazer não está misturado a dor;


- A sabedoria da vida está em gozar o prazer e evitar o sofrimento;


- O sábio busca o prazer e abandona a dor, assim como uma pessoa ao comer o peixe separa as espinhas da carne;


- Uma pessoa não deixa de cozinhar porque alguém pode lhe roubar a comida, nem deixa de plantar o arroz porque há serpentes no campo (uma alusão que mesmo que soframos o prazer é o que vale);


- Os tímidos são cegos do prazer visual, e são ignorantes tal como bestas selvagens;


- A única finalidade do homem na terra é o gozo dos sentidos.
As obras de Carvaca foram destruídas. Coisas da intolerância religiosa, nenhuma novidade. Sobraram comentários sobre. Se encontra estudos recentes sobre sua obra ou sua doutrinha, como artigos no Journal of Indian philosophy1, 2, 3.
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Discursos ímpios, um livrinho que vale a pena

Há tantos programas religiosos na TV e no rádio, e tantos canais e rádios religiosas, que esse exagero midiático já passa por algo normal. Mas, na boa, não é. Esta midiatização altamente capitalizada e quiçá altamente capitalizante da religião no nosso país precisa ser pensada, e para isso precisa ser ao menos notada.

Não se trata de ser contra ou a favor da religião, mas sim de pensar o uso de recursos públicos como as ondas de rádio. E também pensar a educação e formação dos jovens.

Uma boa formação precisa ser plural, mostrando aos jovens as várias possibilidades de vida, e deixando claro que as escolhas cabem apenas a eles, visto que eles e apenas eles serão responsáveis pelos próprios destinos. É por isso que precisamos de mais exposição e discussão de posições contrárias, como a religiosidade sem credo, a la Karen Armstrong, e também o ateísmo.

Claro, o que tô dizendo pode causar ahnãos, visto que muitos dos nossos ateus de internet são uns chatos, e uns bocós igrejeiros e intolerantes. Concordo, pois eu mesmo me entedio com o que leio por aí. Mas não é disso que tô falando. Na real, não tô nem falando a favor do ateísmo, visto que simpatizo com a religiosidade dançante da Karen Armstrong. Tô falando apenas que é grave ter canais de TV apresentando shows de rock cristão, mas não fornecer aos jovens outras visões que podem estar de acordo com suas razões ou inclinações. É grave porque é deformante. E é deformante não porque o rock cristão é interessante, mas porque deforma a percepção da normalidade.

É por isso que curto materiais que trazem diversidade, e esclarecimento, ainda que sejam materiais modestos, como o livro Discursos ímpios, do Marquês de Sade.

É claro, mal dá para comparar um livrinho com os ataques midiáticos e cheios de capital que citei antes. As diferenças são gritantes. Um chega ao aparelho de TV de cada um, outro está em livrarias, e precisa ser lido, além de entendido. Sei de tudo isso. Mas quero dizer, apenas, que em meio ao nada de pluralidade e à bocozice, eis algo interessante.

Os Discursos ímpios em questão são uma excelente seleção de textos filosóficos de Sade sobre a religião. A característica fundamental é a argumentação detalhada de temas como a religiosidade cívica, o papel da religião na geração de guerras e violência, e os fundamentos de certos dogmas cristãos, incluindo a imortalidade da alma. Em cada ponto, Sade apresenta argumentos claros e articulados, convidando ao debate e à reflexão.

O livro traz seis textinhos bem bacanas. Dos Cadernos pessoais sai uma reflexão sobre a moralidade como algo independente da religiosidade. Da Filosofia na alcova sai uma comparação das vantagens cívicas do paganismo em relação ao cristianismo. O Diálogo entre um padre e um moribundo, escrito em 1782, mas publicado apenas em 1926, defende que se apoie as bases da felicidade apenas no que é compreensível à razão e pode ser observado pelos sentidos. A Nova Justine apresenta um argumento contra a imortalidade da alma, e a favor da imortalidade do corpo. A História de Juliette traz um argumento contra a existência do inferno, o qual se apoia na falta de menções claras ao mesmo na Bíblia, e também na coerência da doutrina cristã.

Em todos os textos da seleção, o que temos é filosofia da religião a partir de um ponto de vista ateu. Como os textos são claros e acessíveis, qualquer pessoa minimamente educada e interessada pode lê-los. É um bom presente pros adolescentes da família que se interessam um pouquinho por livros.
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