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Uma revolução por igualdade, liberdade e humanidade sustentada com a venda de negros

Por estes dias, o senhor governador do Rio Grande do Sul andou elogiando os supostos ideiais iluministas dos farrapos. Aposto que ele arrancou aplausos de todo o mundo daqui que ama um passado bonito, ainda que falso. A tal "revolução farroupilha" foi financiada com a venda de escravos, e não há nada de iluminista nisso.

Domingos José de Almeida, o mentor dos farrapos, tinha escravos. Que baita iluminista, hein? Daí ele vendeu alguns pra financiar a guerra, e sem pudor alguma apresentou a fatura. Fez isso não por ideal iluminista, mas pra embolsar um dindim público:
Quem financiou a Revolução Farroupilha? .... o lema dos farrapos era .... "liberdade, igualdade e humanidade" e .... na época da eclosão do movimento, a causa abolicionista havia vencido .... em outros países ocidentais, inclusive nalguns da .... América do Sul. O tráfico no Brasil estava formalmente proibido. Domingos José de Almeida .... foi o mentor intelectual dos farroupilhas. .... Vicente da Fontoura .... acusou-o de malversação de verbas e outros deslizes burocráticos tão comuns atualmente.

Em 25 de outubro de 1845, Almeida comete o documento ignominioso. Em carta a David Canabarro, pede o testemunho do último chefe do exército farroupilha em seu favor numa causa infame. ".... a mim .... me coube despender no conserto da escuna '2 de junho', no armamento da escuna '30 de maio', na criação do Trem de Guerra, no feitio de roupas para o exército, e no suprimento de quantias à soma de Rs. 3.647$455". O financiador queria então receber.

Para sustentar sua reclamação, explicava como financiara a parte que lhe coubera num movimento revolucionário cujos herdeiros ainda pretendem que tenha sido abolicionista. "Prevendo os resultados da retirada de 4 de janeiro de 1837 se nossos companheiros não fossem de pronto socorridos de cavalgadura, roupa, fumo e erva, nesse mesmo dia despachei 35 escravos, que de minha propriedade tinha já no departamento de Cerro Largo, com Vicente José Pinto para serem vendidos em Montevidéu e seu produto aplicar a esse importante fim". A Revolução Farroupilha foi, portanto, financiada com a venda de homens. Uma revolução por igualdade, liberdade e humanidade sustentada com a venda de negros. ....

No imaginário dos homens comuns, revoluções pela igualdade e pela humanidade normalmente libertam escravos, não se financia com a venda deles. Ou, seja por decoro ou por discrição, não apresentam a fatura no caixa do novo regime. Era assim, ao menos, na mitologia. Que sirvam nossas façanhas de modelo a toda terra!
Juremir Machado da Silva, História regional da infâmia, pp. 17-19
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Relendo

 A memória, a história, o esquecimento, de Paul Ricoeur.

Trata-se de uma reflexão de fôlego e de profundidade sobre os entrelaçamentos e desdobramentos filosóficos dos temas do título.

A obra, publicada originalmente quando Ricoeur tinha 87 anos de idade, é de um vigor intelectual impressionante.

Eu diria que um dos seus temas centrais é a memória justa -- um tema otimamente explorado pelo jovem Nietzsche. Nem tudo podemos lembrar, mas nem tudo devemos esquecer. Do que devemos lembrar?
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