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Torturador da ditadura era segurança do bicheiro que comprou cobertura de Roberto Marinho. Ih, vão se desculpar de novo?



Já publiquei aqui que o triplex da Avenida Atlântica (a rua da praia de Copacabana - para os que não conhecem o Rio), onde Roberto Marinho comemorava seus réveillons, foi vendido para o banqueiro de bicho Aniz Abraão David (na imagem acima, ironizado pelo Jornal Extra, das Organizações Globo, em outra matéria), o poderoso chefão da Escola de Samba Beija Flor.

Por si só, essa venda demonstra a hipocrisia das Organizações Globo, que faz pose de defensora da moral e dos bons costumes por um lado, enquanto sonega imposto e negocia com bicheiro por outro.

Mas, hoje, o jornal das Organizações denuncia que um torturador da famosa Casa da Morte da ditadura (e eles eram escolhidos a dedo) era segurança de Anísio (como o bicheiro é conhecido) e sua família.

Pois o bicheiro e o torturador frequentavam a alta sociedade do Rio, como informa a reportagem:

O círculo de amizades, que envolvia autoridades militares e pessoas da alta sociedade, aliado às vitórias no carnaval, deu à Anísio uma visibilidade que ajudou a blindar seus negócios na contravenção.

Faltou dizer que esse "círculo de amizades" inclui a família Marinho.

Fica a questão: Como separar o dinheiro sujo de sangue dos homicídios (também denunciados num antigo editorial do Globo) do usado para comprar o triplex do fundador da Rede Globo?


Madame Flaubert, de Antonio Mello

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Encontro de Lula com dono da Globo é péssimo para democratização da mídia no Brasil

O ex-presidente Lula teve um encontro reservado com o vice-presidente das Organizações Globo João Roberto Marinho em São Paulo. A notícia, divulgada pela jornalista Mônica Bérgamo em sua coluna na Folha, foi confirmada pelo Instituto Lula e pela Globo, que, em nota de sua assessoria, afirmou que ele ocorreu "a pedido do ex-presidente Lula" [Fonte].

O encontro deve ter acontecido mais ou menos na mesma época da divulgação da prévia da lista das pessoas mais ricas do Brasil da revista Forbes, com a seguinte informação:

A revista Forbes divulgou, na última sexta-feira (16), uma prévia da lista das 15 pessoas mais ricas do Brasil. No ranking, aparecem quatro barões da mídia: os três herdeiros de Roberto Marinho, das Organizações Globo, e Giancarlo Civita, herdeiro da editora Abril.[Fonte]
Também mais ou menos ao mesmo tempo, a blogosfera (e a Folha numa nota e a TV Record em algumas reportagens)  cobra do governo, do Ministério Público e da Polícia Federal o sumiço de um processo em que a Globo é ré e condenada a pagar R$ 650 milhões à época aos cofres públicos, por rombo (e roubo) na Receita federal.

O jornalista Altamiro Borges publicou em seu blog:

O que será que rolou nesta conversa do ex-presidente com um dos três filhos de Roberto Marinho? Será que Lula, com o seu conhecido estilo conciliador, tentou estabelecer uma nova ponte com o império global? Será que ele criticou a cobertura jornalística dos recentes protestos de rua, quando a TV Globo e seus "calunistas" tentaram pegar carona na onda de revolta para desgastar o governo Dilma? Será que pintou um novo acordo de bastidores que sabotará qualquer debate na sociedade sobre a urgência de uma lei democrática sobre os meios de comunicação? 

E da parte do filho do Roberto Marinho, quais os temas que ele colocou na rodada "civilizada" de diálogo? Será que ele se queixou da acentuada queda de audiência do Jornal Nacional, do Fantástico e de outros programas da emissora? Será que explicitou seus temores com a perda de publicidade, principalmente diante do aumento do faturamento das empresas de tecnologia, como a Google? Será que pediu para ninguém mexer na propina do Bônus de Volume, o famoso BV? Será que deu alguma explicação sobre as denúncias de sonegação fiscal praticadas pelo império global? Será que rogou para que não se discuta qualquer projeto sobre a regulação democrática da mídia? 

Só o futuro dirá o que rolou nesta misteriosa conversa. A conferir!

Sobre o teor da conversa podemos apenas especular, mas quanto à oportunidade dela podemos e devemos questionar.

Conversar, dialogar, mesmo com adversários históricos (leia sobre isso Globo sempre esteve na contramão do Brasil, ao longo da história. Cotas, ProUni, Getúlio, Lula ), é a arte da política. Mas tudo tem sua hora e lugar.

Se verdadeiro, o convite de Lula a um dos donos da Globo veio em má hora, num momento em que a Globo está nas cordas, com a blogosfera cobrando explicação sobre o tal processo, que sofreu uma Conceição, sumiu, ninguém sabe, ninguém viu.

O encontro veio em seguido ao recado direto das ruas enviado à Rede Globo. O povo não queria a reportagem da Globo nas ruas durante as manifestações e submeteu a mais poderosa emissora do país a uma "cobertura espacial".

A divulgação desse encontro joga água na fervura, coloca em pé de igualdade um ex-presidente com imensa aprovação popular e uma emissora cujo jornalismo não pode por os pés nas ruas.

Por isso, o encontro de Lula é péssimo para os que lutam pela democratização da mídia, menos pelo que conversaram do que pelo simbolismo, o significado político da conversa e do encontro.

Os demais grupos de mídia leem que o governo usou o presidente Lula para mandar uma mensagem à Globo. E que isso é bom para eles, por serem do mesmo time.

Deputados que já eram contra uma nova lei de mídia no Brasil têm motivo para comemorar. Os que estavam em cima do muro esperando a direção dos ventos entenderam para onde devem caminhar. E os que lutam por uma nova lei devem ter entendido de vez que ela não vem neste governo, neste mandato, talvez nem no próximo.

Fora do governo, Lula comete a segunda grande mancada (a foto com Maluf, a primeira. Friso a foto, porque defendi o acordo político com o partido de Maluf, que era bom para todos. A foto, só para Maluf) - pelo menos dessa vez sem foto.


De qualquer modo, o resultado é lamentável. O mal está feito. O recado foi dado. E o assunto caiu num esquecimento que me parece perturbador.

Será que as pessoas querem retirar a humanidade de Lula e transformá-lo num mito vivo, um ser que não erra? Mas Lula erra, sim, e já reconheceu isso várias vezes.


Madame Flaubert, de Antonio Mello

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