Mostrando postagens com marcador Marina. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Marina. Mostrar todas as postagens

A Rede da Marina, a Rede do Itaú, Marina na Rede do Itaú, e Marcelo Mirisola. Ou 'Caiu na Rede é...trouxa'




Teria sido apenas uma incrível coincidência? Teria sido feito de caso pensado? Quem nasceu primeiro, o ovo (Rede) da Marina ou a galinha (Rede) do Itaú?

Logo após a ex-senadora Marina Silva tentar e não conseguir registrar seu Rede no TSE, o banco Itaú, que tem uma das herdeiras da família Setúbal, Maria Alice Setúbal, como uma das principais apoiadoras da Rede, o banco Itaú, eu dizia, resolveu que seu Redecard passaria a se chamar apenas Rede.

Num notável sincronismo, uma Rede balança a outra, tentando pegar os peixes-otários, os trouxas que somos nós - pelo jeito é o que pensam que somos.

Não vejo chiadeira contra essa tramoia canalha do partido sem registro com o banco sem vergonha, que quanto mais fatura e lucra, mais demite. Ou alguém aí leu alguma declaração de Marina sobre este excesso de Redes?

Para comentar essa miscelânea política, ou melhor, essa promiscuidade safada que nos tenta impingir gato (Rede de Marina) por lebre (Rede do Itaú), fui buscar trechos de um artigo do escritor Marcelo Mirisola, na época comentando outra miscelânea, esta cultural, envolvendo o mesmo banco e a mesma Maria Alice Setúbal (A nova senzala (transversalidades)):

(...) Pois bem, não é de hoje que me chama a atenção a presença constante de dona Maria Alice Setúbal na seção Tendências/Debates, o filé mignon da Folha de S. Paulo. Dona Maria Alice, como indica o nome, é herdeira de Olavo Setúbal, e provavelmente deve ser acionista do banco Itaú. Nos créditos de seus artigos, consta que é doutora em Psicologia e presidente dos conselhos do Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária da Fundação Tide Setúbal. Seus artigos são redundantes. Ela gosta de usar a palavra “transversalidade”.

(...) sou correntista do banco Itaú, pago altos juros pra dona Maria Alice Setúbal e também sou leitor de suas intervenções na seção Tendências/ Debates da Folha de S. Paulo. Gostaria de acreditar que o jornal  ainda não foi absorvido pelo acervo do Instituto Moreira Salles.
Voltando à dona Maria Alice Setúbal.

O que madame teria de tão importante para acrescentar, tirante suas “transversalidades”, ao debate de ideias, ou, mais especificamente, por que as idéias dela são tão relevantes para desfilar na seção Tendências/ Debates da Folha?

Vou arriscar um diagnóstico.

Os textos de madame costumam ter a marca indelével que conduz do óbvio ao ululante, são como folders, propagandas de condomínio que indicam, ou melhor, cobram o caminho da felicidade, apesar de a felicidade, pobre e acuada felicidade, não ter sido consultada a respeito de tão nobre encaminhamento. Mas uma coisa dona Maria Alice sabe fazer, algo que circula em seu sangue de agiota, ela sabe cobrar.

No seu último artigo, “Novas formas de aprender e ensinar”, publicado no dia 27 de março, dona Maria Alice Setúbal aposta na “inteligência coletiva” que – segundo sua bola de cristal high-tech – está na iminência de ser consumada pela força da revolução tecnológica. Madame não costuma deixar lacunas porque cumpre sua função, repito, que é levar o nada a lugar nenhum com a marca da excelência, como se o mundo fosse uma agência bancária cor-de-laranja protegido por portas giratórias e slogans de publicidade.

Não obstante, dessa vez, madame deu uma vacilada.

Dona Maria Alice Setúbal esquece que o lado de fora não tem ar condicionado. Revolucionária, decreta o fim do ensino linear. Para madame, o ensino da maioria das escolas – que ainda trabalham com aulas expositivas e livros didáticos – não faz mais sentido diante do conhecimento que é “transversal e produzido nas conexões entre várias informações”. Bem, esses conhecimentos ou essas conexões, que eu saiba, só existem e funcionam em sua plenitude nos sistemas de cobrança do banco de madame e na bolsa de valores. No mínimo, dona Maria Alice Setúbal, que se imagina mensageira do futuro, é uma debochada. Convenhamos que a “realidade transversal” que os nossos professores experimentam nas salas de aula têm outros nomes que nem o eufemismo mais engenhoso poderia disfarçar, tais como humilhação, porradaria, salário de merda. Para coroar seu pensamento revolucionário, dona Maria Alice, sentencia: “Essa transversalidade se expressa nas demandas das empresas e nas expectativas dos jovens”.

Que jovens são esses?  Aqueles que madame adestra em seus canis cor-de-laranja?  Qual a expectativa deles?  Telefonar pras nossas casas às sete horas da manhã para nos lembrar que somos devedores do Itaú? Ou a expectativa desses jovens é subir na vida, e virar gerente de banco?

Dona Maria Alice vai além e se entrega, ela acredita que a tecnologia vai produzir “pessoas que saibam resolver problemas, comunicar-se claramente, trabalhar em equipe e de forma colaborativa. Que usem as tecnologias com desenvoltura para selecionar, sistematizar e criticar informações. E que sejam inovadoras e criativas”.

Ora, madame quer empregados que não a incomodem, e encerra seu raciocínio ou exige, de forma impositiva e castradora: “E que sejam inovadoras e criativas”.  Não querendo fazer leitura subliminar, nem ser Lacaniano de buteco, mas esse “E que sejam inovadoras e criativas” é de amargar, hein, madame?

O artigo de dona Maria Alice é uma ordem de comando. A voz da dona, a mulher que visivelmente não pode ser contrariada. Difícil ler e não sentir-se um empregadinho dela. Ao mesmo tempo em que ordena “inovação e criatividade”, elimina a possibilidade de reação: “para fazer da tecnologia uma aliada da educação, é preciso vencer o medo do novo e superar a cultura da queixa”. Como se madame dissesse: “Publiquem meu artigo genial, obedeçam, e calem a boca. O futuro é meu, e se eu disser que é coletivo e cor-de-laranja, dá na mesma”.
(...)
Eu falava de madame (versão 2013) que diz que samba é coisa de gente elegante. Dessa vez a visita periódica que madame faz à sua cozinha, também conhecida como “Tendências/Debates”, ultrapassou o terror costumeiro, e, no lugar de marcar presença e autoridade, madame só fez azedar o cuscuz. Ela devia ser mais discreta, como Olavão, o patriarca, o banqueiro. Não se deve confiar demais na vassalagem (leia-se correntistas e leitores).

No mesmo dia que madame publicou seu artigo, aconteceu uma coincidência reveladora, logo acima do texto de sinhá, no “Painel do leitor”, uma dona de casa, Mara Chagas, reclamava enfurecida da nova lei das empregadas domésticas, e fazia coro – às avessas, mas coro – à mme. Setúbal: “As empregadas domésticas não trabalham aos sábados, não cumprem as oito horas diárias, o serviço tem que ser ensinado (não são mão de obra especializada), almoçam e lancham na casa dos patrões sem cobrança alguma e faltam sem avisar. Como ficará o empregador diante disso?”

Eis a questão.

Pelo menos dona Mara Chagas, a leitora, foi honesta e direta, e não precisou de “transversalidades” para exprimir suas ideias revolucionárias. E o melhor: ela não vai concorrer ao Oscar, e jamais vai se manifestar no “Tendências/ Debates”. Nem ela, nem eu. [Leia a íntegra aqui]



Madame Flaubert, de Antonio Mello

Clique para ver...

Riscos e Oportunidades no Teatro Político

Por Jefferson Milton Marinho*

Políticos deveriam ser banqueiros, pois geralmente são avessos ao risco. Ambos preferem maximizar o retorno com o menor nível de risco. A história mostra que banqueiros são mais displicentes, aceitando níveis de risco elevadíssimos quando o retorno é muito alto. Parte dessa predisposição ao risco se refere ao fato de administrarem capitais de terceiros. O político administra a própria carreira eleitoral, ou seja, capital próprio. Como falhas no sistema bancário produzem altos custos sociais, a regulação busca mitigá-las, coibindo práticas oportunísticas. Políticos protegem os espaços conquistados, preferem manter as regras que os consagraram à mudança repentina, e avançam no terreno do adversário mais como estratégia de autodefesa que propriamente o ataque. A conclusão é que políticos são menos propensos aos riscos que os banqueiros. O desenho ideal pode sugerir que devessem trocar de posição.

No mundo político o xadrez é complexo, com sutilezas e artimanhas, conversas ao pé do ouvido, cochichos, ameaças e recuos. O imponderável pode mudar o tabuleiro político, redefinindo as cartas do jogo e o planejamento tático. Sempre haverá espaço para o lance genial e inesperado do ator político e a versão tem maior valia que os fatos, distanciando-se ou não da realidade. É nesse contexto que deve ser analisado o casamento de Marina Silva, da Rede de Sustentabilidade, e Eduardo Campos, do PSB.

Uma análise preliminar indica que Campos sobe de patamar na disputa eleitoral, ganhando musculatura e densidade política, enquanto Marina buscou uma estratégia de redução de danos, cujos os resultados para ela são incertos. A condição de coadjuvante não é animadora para a candidata que está em segundo lugar nas pesquisas. O tucano Aécio é o grande perdedor desse novo desenho eleitoral, pois assiste de camorote a tacada do quarto colocado nas pesquisas atraindo a principal noiva, Marina Silva, para o ninho do socialismo liberal. Dilma enfrenta o dilema de assistir à formação de uma chapa com capacidade de agregação, acumulando forças e apoio para a contenda. Mas, analisando por outra perspectiva, Dilma disputará as eleições num cenário com apenas dois candidatos adversários, quando poderia estar disputando contra três se a escolha de Marina Silva fosse outra. Isso potencialmente eleva suas chances de liquidar a fatura no primeiro turno.

A análise acima é simplista, pois é impossível nesse instante captar todos os efeitos da aliança política entre dois atores que saíram das costelas do lulismo, ameaçando concretizar o pior sonho da oposição tradicional brasileira: a profecia de André Singer quanto ao poder se transferir para uma nova oposição saída do lulismo. O novo cenário envolve maiores riscos para todos os principais atores, de todas as matizes e cores partidárias, inclusive para Eduardo Campos que, no primeiro momento, aparece como vitorioso. Em contrapartida, as oportunidades cresceram para a oposição e situação na medida do maior risco.

Nas eleições de 2014, Dilma poderá ser confrontada da esquerda à direita política, considerando os adversários, sempre com algum grau de eficiência e densidade. O risco de Dilma é perder o apoio no campo mais à esquerda com a ascensão da dupla Campos-Marina, desiludidos com os rumos do governo, seja pela caótica relação congressual ou pelos anseios de avanços mais velozes no campo do social. O centro político, menos homogêneo e de maior densidade, está muito instável e gelatinoso, causando insegurança para os candidatos que desejam conquistá-lo. No campo da direita do espectro político, Aécio deverá ocupar parte maior do espaço, mas a candidatura Campos-Marina disputará nacos de audiência.

Aécio Neves está com grande dificuldade de consolidar sua candidatura. Parte dos problemas surge porque seu banco de reservas (José Serra) funciona como freio, na expectativa de ocupar o lugar principal. Mesmo após consolidar o apoio interno à sua candidatura, a mudança de cenário eleitoral teima em recolocar o nome de Serra na disputa. O risco dele é Campos deixar de ser mero coadjuvante, crescendo a ponto de deslocá-lo de um eventual segundo turno. Ademais, as dificuldades que seu grupo político tem para a continuidade no seu colégio eleitoral, Minas Gerais, é outro fator que pesa contra sua candidatura presidencial. Se o pior cenário prevalecer, o PSDB pode perder o controle do governo de Minas Gerais e ser deslocado da segunda força política na eleição nacional. Isso seria mortal para as pretensões futuras do presidenciável tucano.

Marina Silva é noiva cobiçada que casou com o herdeiro político do clã Arraes, Eduardo Campos. É um casamento de conveniência, pragmático. A barbeiragem de não conseguir formar seu partido, a Rede de Sustentabilidade, pode lhe custar caro. A estratégia adotada é de redução de danos. Dentre as opções que estavam disponíveis não há clareza se era a melhor. Entrevistas recentes mostraram que pesou na sua decisão o desejo de derrotar o petismo, rompendo o cordão umbilical que unia sua história à do PT. Com sua decisão de filiar e emprestar seu capital político ao PSB, partido de alianças heterodoxas e forte tendência governista que reproduz o estilo do peemedebismo, Marina coloca em risco o sonho de construção da REDE afastada das velhas práticas políticas, e deve perder apoio entre seus seguidores mais programáticos. Sob o risco de virar pesadelo, o sonho dos marinistas não acabou, mas pode criar uma cicatriz que explicite precocemente as diferenças que circundam em tornam deste projeto político.

Nunca ficou tão claro que não se faz omelete sem quebrar alguns ovos. O esforço de Marina para explicar a aliança não deve ser suficiente para manter “sonháticos” unidos, principalmente pelas contradições que o projeto do socialismo liberal do PSB representa. É assustador que Marina Silva se filie, mesmo que temporariamente, a um partido que, majoritariamente, votaram a favor do novo texto do Código Florestal execrado pela ex-senadora sob a alegação de que provocaria mais desmatamento. O DNA do PSB é o desenvolvimentismo, ainda que sob a batuta liberal, o que está na contramão da agenda ambiental marinista.

Campos, neto do grande líder popular nordestino Miguel Arraes, engrandece com o apoio de Marina, como observou Lula. O momento político é dele, é sua hora de brilhar, de exercer com sabedoria os benefícios da sorte, buscando ampliá-los. O político precisa de sorte, mas também de virtude, já lembrou o italiano Maquiavel. Nesta sua trajetória, não lhe faltou virtudes ou, no jargão menos favorável, esperteza política. Os passos que separam o momento atual das eleições de outubro do próximo ano exigirão provavelmente mais virtudes, pois sua cota de sorte pode estar com prazo vencido.

O primeiro desafio de Campos é manter coesa a aliança, agregando apoios, sem provocar muitas defecções. Não será tarefa fácil, são visíveis os sinais de descontentamento de parceiros políticos à esquerda e à direita, tanto dos apoiadores de Marina Silva quanto de Eduardo Campos. O segundo é manter o partido em crescimento, elevando o número de governadores e, principalmente, de deputados e senadores. Outra tarefa que pode se mostrar difícil, uma vez que o segredo do crescimento do PSB é sua flexibilidade, a possibilidade de apoiar e ser apoiado por qualquer coloração partidária. A entrada de Marina Silva no condomínio socialista potencialmente reduz o arco de alianças, devendo fragilizar os palanques estaduais, pois sofrerá resistências das principais forças políticas (PT e PSDB, por exemplo).

Assim, o risco é o PSB sair das eleições de 2014 com peso menor na cena política do que outrora, principalmente se a estrela de Eduardo Campos não brilhar ou não for capaz de catalizar aumento de bancadas. Em 2010, Marina Silva saiu das eleições no terceiro lugar, com 20 milhões de votos, porém, o PV não experimentou aumento na sua bancada federal. Ademais, em Pernambuco surgem sinais de fadiga material, e mesmo que Campos possa encontrar um candidato favorito para substituí-lo, a aliança PT e PTB ameaça seu quintal político.

São dúvidas que o calendário eleitoral impõe com o fim das filiações para a disputa eleitoral. No fim de março, o calendário eleitoral traz novo cenário com a descompatibilização de cargos públicos (ministros, secretários estaduais, governadores no segundo mandato, etc.) para participar das eleições. Certezas são poucas ou quase inexistentes, ficando lacunas que serão respondidas somente na eleição. Qualquer prognóstico é apressado, a conjuntura é alterada pelos movimentos dos atores políticos, e, principalmente, por fatores da realidade objetiva que se impõe, e são muitas vezes imprevisíveis. As nuvens da política tem se deslocado mais velozmente, surpreendendo analistas e operadores políticos. Cada movimento das nuvens traz novos riscos e oportunidades, ganhadores e perdedores.

* Economista e servidor público federal
Clique para ver...

Flor das Gerais

Um texto escrito por um belo-horizontino apaixonado por sua terra natal conclamando seus conterrâneos a unirem em torno do projeto político que Dilma representa, uma outra mineira e belo-horizontina, para que o Brasil continue distribuindo renda, reduzindo as desigualdades sociais, com emprego, educação, saúde, cultura, respeito às minorias, à diversidade, etc. Para os eleitores de Marina Silva, a candidata Dilma foi a única que aceitou a aliança programática em torno das propostas defendidas pela Marina. Não deixem que mágoas do processo político os levem em direção à candidatura mais reacionária desde a redemocratização. O recado ou o puxão de orelha já foi dado. Não façam disso um caminho sem volta que nos levem ao retrocesso, à intolerância religiosa, à perseguição aos movimentos sociais e à interrupção dos avanços sociais.

Importante: a candidatura adversário alega que manterá os avanços feitos até hoje, mas isso é muito pouco para o que nós sonhamos. O Brasil mais justo e igualitário.

Gustavo Antônio Galvão dos Santos*

Moro fora da minha cidade natal, Belo Horizonte, há 8 anos. Esse ano fui “em casa” para votar, mas achei a cidade mudada. Sempre vota unida pra Presidente. Dessa vez, pareceu votar dividida. Nenhum dos candidatos teve maioria, e Marina teve 40%, sua melhor votação entre as capitais. 

Minha filhinha de 6 meses me faz chorar de saudade e alegria, como não ocorria desde criança. Ela é carioca como a mãe. Aliás, é nascida no Rio, porque, pra mim, em Minas vale um princípio jurídico chamado jus sanguinis. Cuja tradução literal do latim, segundo meu advogado, significa exatamente: “é mineiro, quem é filho de mineiro, não importa onde nasceu.” Não sei se devo confiar no advogado, mas eu fico impressionado como no latim é possível exprimir frases complexas em duas palavras. 

Então, minha filhota é mineira e não tem conversa. Mas também é carioca. E isso não é contraditório, porque ser mineiro é qualidade, não é exclusivismo. E ela também vai adorar ser carioca. Porque, se BH foi bem projetada pelo arquiteto Aarão Reis e remodelada por JK, o Rio foi projetado por Deus, e Ele é incomparável. Mas os mineiros são bons de serviço criando belas capitais do nada. Brasília é um grande e belo parque, onde as pessoas têm prazer em morar sem muros, no meio das plantas e passarinhos. 

Minha família é das cidades históricas, Ouro Preto, Sabará, Oliveira. A maioria dos meus avós, bisavós, tataravós, pentavós, sei lá o que, são mineiros. Minha avó até dizia que a gente é descendente dos inconfidentes. Não sei de onde ela tirou isso, acho que em Ouro Preto todas as avós devem dizer isso. Só não digo, meu time do coração. Mineiro não mistura política com futebol, porque sabe que nessa matemática vale mais a soma do que a divisão. 

Neste segundo turno, os candidatos são um paulista da capital e uma mineira da capital. Eu admiro muito São Paulo. Acho que é o povo mais empreendedor, ousado e engenhoso do Brasil. Mas, na política, às vezes, têm ousadia demais. São muito diferentes dos meus conterrâneos. Alguns políticos paulistas fazem política como se fosse guerra, “ou se está do nosso lado ou se está contra nós”. Mineiro faz política como se fosse música, buscando a harmonia nos contrastes. Esperteza sim, mas com cordialidade. 

Uma coisa é guerra, outra é deslealdade e baixaria. Há uns poucos políticos paulistanos que, quando podem, fazem política com a delicadeza de um trator de esteira passando em um canteiro de orquídeas. Nesta campanha, povoaram a Internet e jornais de calúnias, ódio, preconceito, intolerância e agressividade. Sujaram a democracia, o progresso, espírito de tolerância e a legitimidade da escolha dos mais humildes. 

A postura do ex-governador Aécio Neves é o oposto dessa. Ele segue os preceitos do avô e preza a cordialidade na disputa política. Aécio é o melhor jogador de xadrez da política brasileira neste século. Articula melhor do que Lula. 

O enxadrista das Gerais tem inteligência e DNA especial para política. Lula também é muito inteligente. Mas não é isso que lhe faz ser um mito. Lula é um grande comunicador. Sabe tocar os corações, quando fala. Porque ele próprio também tem um grande coração. Errando ou acertando, ele decide e se expressa com o sentimento. 

Aécio tem outro estilo, mineiro, trabalha em silêncio. Ainda jovem, deu nó no Serra, FHC, ACM, Jader Barbalho e se tornou – contra o próprio partido – Presidente da Câmara dos deputados. Ali ficou claro que ele tinha herdado a inteligência e o talento do avô. E isso nos enche de orgulho. 

Aécio no Senado vai fazer bonito, e faria também na diplomacia global. Se tiver a chance, ensinará ao mundo o que significa a expressão brasileira: “dar nó em pingo d’água”. Se bobearem, é capaz de unir Coréia do Norte com do Sul, e sem avisar. 

Mas eu quero falar sobre o voto no 2º turno. As pessoas precisam se conscientizarem e refletirem no que é melhor para o Brasil, Minas e BH e votarem unidas. 

Vou colocar um ponto muito importante. A Dilma é mineira. Mas não apenas isso, Dilma é de BH. Na história, presidente mineiro é mais comum do que Pequi no sertão de Montes Claros. Porém, nunca houve um presidente de BH! Porque BH é cidade nova, crescida de poucas décadas. 

Tá na hora dos mineiros mostrarem ao Planeta Terra o valor da gente de sua Capital. Porque o mundo vai saber! O Lula colocou o Brasil no lugar que ele merece estar. Os discursos dele na ONU fazem chorar até mesmo os diplomatas, principalmente da África e países pobres. Isso é incrível! Diplomata é gente fria, acostumada a ouvir discurso, fechar acordos impublicáveis, e fazendo cara de paisagem. Presidentes e líderes do mundo todo correm para tocá-lo como povão faz nas visitas dele ao Jequitinhonha. 

O Brasil sempre foi considerado um país simpático, mas exótico. Lula fez do Brasil uma nação influente e importante. Colocou o Brasil nos corações e mentes de todo mundo. E especialmente nos jornais. Se antes, o Brasil nem ousava palpitar nas grandes decisões mundiais, agora, todos querem saber a posição do Brasil em tudo. Querem saber sempre, se o Brasil de Lula concorda ou se discorda. E como estamos sempre defendendo a posição dos países mais desfavorecidos, viramos a reserva moral do Planeta. Hoje somos visto como o país que não faz diplomacia para impor seus interesses, como fazem as grandes potências. Nossa diplomacia tem buscado fazer o que é certo. Somos a voz daqueles que não tinham voz. A Voz da África e da América Latina. Foi Lula quem construiu isso. “O cara”, segundo Obama, virou celebridade mundial. Faz até analfabeto comprar jornal no interior da Conchinchina. 

Agora que o Brasil é centro das atenções, temos a chance de ter uma belo-horizontina como celebridade mundial. Moça de BH ser celebridade pela beleza é comum. Mas será a primeira vez que uma mulher brasileira será considerada uma das três maiores líderes mundiais. Porque o novo Brasil é visto como país central na diplomacia mundial. Dilma tem inteligência, experiência e liderança para mostrar ao mundo o que mineiras são capazes. Será uma grande honra para BH. 

E ela já mostrou que é competente. Todos os indicadores econômicos e sociais do governo Lula foram superiores no 2º mandato, quando a Dilma governou soberana a Casa Civil, o principal ministério e que coordena todo o governo. Mas o indicador que sintetiza a qualidade do que foi realizado é a popularidade do governo. Hoje é muito maior do que quando ela assumiu sua a gestão há 5 anos. 

Os gaúchos são um povo muito culto e politizado. Eles conhecem as realizações dela, onde foi Secretária de Energia e Fazenda. Lula teve uma das suas piores votações em 2006 no Rio Grande do Sul. Agora, Dilma surpreendentemente teve maioria lá. 

Mas há outro lugar onde Dilma tem maioria absoluta, aliás, 100% de intenção de voto. Esse lugar é a Bulgária, na Europa. Como Minas, a Bulgária é um país montanhoso. Seu povo guerreiro tem mais de 1000 anos de história. Foram invadidos, dominados, massacrados por dezenas de potências estrangeiras por séculos a fio. Mas nunca baixaram a cabeça, fizeram sua Inconfidência e conquistaram a independência. Hoje vivem tranqüilos com o conforto de pertencer à próspera União Européia. Próspera, mas em crise. 

A Grécia, que é pertinho, está em uma crise muito feia. Na Europa toda, há greves gerais, demissões em massa, colapsos financeiros. A França está até expulsando imigrantes, inclusive os búlgaros. 

Na Bulgária, nada disso é notícia. Há três meses, eles só querem saber das eleições no Brasil. Todo dia é manchete de jornal: Dilma subiu, Dilma caiu, Dilma subiu. Ficaram decepcionados por ela não ter vencido logo no 1º turno. Estão dizendo que Dilma será a “búlgara” mais poderosa do mundo. A “búlgara” mais famosa da história. 

Uai, mas a Dilma não é de BH? É, mas o pai é mineiro por adoção e paixão, porém, búlgaro de nascimento. Ele foi embora da Bulgária há tanto tempo, que ninguém lá lembra o motivo. Hoje os prováveis parentes estão famosos. Os jornalistas investigativos foram nas montanhas isoladas onde ainda moram para tentar descobri-los. Apareceu gente de tudo que é lado querendo dizer que era parente daquela que querem ver como mulher mais poderosa do mundo. 

Mas Dilma nunca foi lá, não tem contato, não fala a língua. Ela é mineirinha da Silva. Silva é o sobrenome da mãe. Mas os búlgaros dizem que lá também vale a jus sanguinis. Então eles acham que podem dizer que a Dilma é deles também. Mas é um povinho invejoso. Querem ficar famosos de todo jeito. Mas a Dilma é comedora de pão de queijo, não tem jeito. Na minha opinião, em Minas, a jus sanguinis só deveria valer para baixo. Pra cima, não. 

BH se uniu no primeiro turno para escolher uma mulher para presidente. Dilma e Marina tiveram juntas 72% de votação. A intuição dos mineiros diz que é hora de ter na presidência a sensibilidade feminina. O mundo está mundando. Os americanos, que eram racistas, escolheram um negro pra presidente. Está na hora de uma mulher no Brasil. Minas, como sempre, na vanguarda política. 

Para alguns, Dilma é uma mulher com jeito de durona, porque teve uma história difícil. As calúnias na internet dizem até que ela foi “terrorista”. Meu Deus, mas isso é como a ditadura chamava aqueles jovens corajosos que lutaram pela democracia em que vivemos hoje! Ora bolas, Tiradentes agora é “terrorista” também? Estão querendo inverter tudo. Mas mineiro não é pautado por propaganda da época de ditadura. 

Dilma era uma menina idealista de 20 anos quando foi presa e torturada. Resistiu a todos os tipos de provações, sofreu heroicamente para não delatar os colegas. Sofreu por não poder ver a família, dizer que estava viva. Imagina como isso foi difícil para uma menina de classe média alta, inteligente, bonita, que estudou nos melhores colégios e que tinha todo o carinho e conforto de uma boa família mineira. Felizmente, Flor das Minas Gerais nasce e renasce até debaixo de pedra ou fogo. 

Para mim, como conterrâneo, ter lutado tão jovem e bravamente contra a ditadura e hoje poder ser a primeira mulher presidente é motivo de orgulho. Para as mulheres mineiras também, especialmente de BH, que se mostra cada vez mais distante daquele machismo de épocas passadas. 

Mineiro entende de política como poucos, e sabe que desunião é a arma dos adversários do povo. “Dividir para conquistar”, esse é o lema dos poderosos. Por isso, Minas sempre votou unida para Presidente. Antes do voto, podemos discutir duramente, mas, quando decidimos, vamos todos juntos, porque a União faz a força mesmo. 

Ninguém nos pauta. Somos mineiros, não baixamos a cabeça e não somos conduzidos por ninguém. Nós é que decidimos. E decidimos unidos pelo justo, pelo correto, pelo futuro de nossos filhos e pela fé que temos na capacidade de nossa gente. O Mundo conhecerá nosso valor, como nós já conhecemos.

* Gustavo Antônio Galvão dos Santos é Mineiro de BH e doutor em economia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro

Ps.: caros diplomatas, me perdoem pela brincadeira
Clique para ver...

Quem são e para onde irão os eleitores de Marina Silva?

Por Antônio Augusto de Queiroz*, do DIAP

A resposta a esta pergunta será dada pelas pesquisas qualitativas que estão sendo feitas pelos institutos de pesquisa e pelas urnas no dia 31 de outubro, mas já é possível antecipar algumas constatações desse processo eleitoral, que está em fase de decantação. Minha hipótese é de que o peso político de Marina Silva é menor do que os votos que recebeu e que seu partido, o PV, é menor e menos verde que ela.

A senadora Marina Silva foi apresentada pela intelectualidade e pela mídia como a candidata ideal: mulher, religiosa, de origem humilde, comprometida socialmente, defensora do meio ambiente, honesta e sem o suposto radicalismo do PT nem o conservadorismo do PSDB. Seria a terceira via, embora não dispusesse de grande estrutura partidária, tempo de televisão e recursos para uma campanha presidencial.

Com esse perfil, Marina recebeu votos de um eleitorado difuso, que pode se classificado em quatro grupos: 1) o da fadiga, 2) o flutuante, 3) o da revanche ou do troco, e 4) o convicto.

O primeiro grupo, da fadiga, é composto por eleitores que não estão satisfeitos com o PT nem têm saudades do PSDB. Esse grupo descarregou seus votos na Marina menos por convicção e mais por considerá-la uma candidata simpática, honesta, boazinha, que poderia, eventualmente, se converter numa terceira via. Foi falta de opção.

O segundo grupo, o flutuante, foi determinante para levar a eleição para o 2º turno. É composto de eleitores pendulares, que não queriam José Serra, estiveram indecisos um período, declararam votos para Dilma, mas próximo da eleição desistiram e votaram em Marina.

Esse grupo é muito heterogêneo. É formado por eleitores que não gostaram dos escândalos no Governo (quebra de sigilo e episódio da Casa Civil) e também se deixaram influenciar pelos boatos de que a candidata Dilma era a favor do aborto, da união civil de pessoas do mesmo sexo e que teria declarado que "nem Cristo" tiraria sua eleição em primeiro turno.

Especula-se que neste grupo, formado majoritariamente por potencias eleitores de Dilma, inclui-se até gente de partidos da base aliada, que, certo da vitoria da candidata governista, teria (por ação ou omissão) consentido levar a eleição para o 2º turno como forma de reduzir o poder do PT e forçar uma negociação política em novas bases, inclusive com o fortalecimento dessas forças na coordenação de campanha.

O terceiro grupo, o da revanche ou do troco, é formado por pessoas que antes votavam no PT, mas que se sentiram traídas ou chateadas com determinadas políticas públicas ou com a postura das autoridades.

Esse grupo inclui, por exemplo, os aposentados do serviço público que tiveram que pagar contribuição previdenciária, os pensionistas que tiveram redução na pensão, os servidores que não tiveram reajuste, além de pessoas que resolveram punir o PT por suposta arrogância no Governo.

O quarto grupo, o da convicção, é formado pelos eleitores que tem certeza do voto, ou seja, acham que Marina é mais preparada para governar e possui o melhor programa. É um grupo heterogêneo, formado majoritariamente por intelectuais, jovens, por pessoas de classe média alta e também por gente humilde. Seu universo, entretanto, não passa de 5% do eleitorado brasileiro ou um terço dos votos da Marina.

Entre os postulantes à presidência da República, Marina foi poupada pelos dois principias candidatos, José Serra e Dilma Rousseff, ambos interessados em seus votos, na hipótese, que afinal se confirmou, de 2º turno.

Ninguém poderá afirmar, com certeza, para quem irão esses votos, se para Dilma ou Serra, ou, se ainda, serão anulados. O mais provável é que estes votos sejam distribuídos igualmente entre Dilma, Serra e abstenção ou nulos. Neste caso, se Dilma mantiver os votos do primeiro turno e acrescentar mais um terço dos votos dados a Marina terá sua eleição assegurada. É essa a minha aposta.

(*) Jornalista, analista político, diretor de Documentação do Diap e autor dos livros "Por dentro do processo decisório - como se fazem as leis" e "Por dentro do Governo - como funciona a máquina pública"
Clique para ver...

Voto em Marina não é ecológico, mas também não evangélico

Por Antonio Luiz M. C. Costa, da Carta Capital

A religião e a legalização do aborto se tornaram os grandes temas nacionais, capazes de decidir os rumos da eleição presidencial, conforme parecem defender alguns comentaristas? Parece-nos antes que isso é um mal-entendido, que se for levado a sério pode distorcer terrivelmente os rumos de campanhas e de programas políticos. Considere-se, para começar, a distribuição geográfica, por atacado, dos votos em Marina.

Como se sabe, os votos de Dilma, assim como os votos de Lula em 2006, concentram-se em um arco leste-norte, que vai do Espírito Santo e norte de Minas ao Amazonas, com centro de gravidade no Nordeste. Os votos de Serra, assim como os votos em Alckmin de 2006, concentram-se em um eixo que sai do Sul, tem o centro de gravidade em São Paulo e se estende ao Mato Grosso, com alguns enclaves nas fronteiras nortistas do agronegócio (interior do Pará, Acre, Roraima). A maior diferença em relação ao quadro do primeiro turno de há quatro anos é que o Rio Grande do Sul, em boa parte, “avermelhou”.

O voto da Marina, tido como “verde” – mas só em um sentido convencional, já que só secundariamente tem algo a ver com ambientalismo e menos ainda com a pequena votação do Partido Verde a cargos no legislativo – concentra-se principalmente na fronteira entre as regiões “vermelha” e “azul”: no Sudeste e Centro-Oeste – Minas Gerais, Rio de Janeiro, Distrito Federal, Goiás, Tocantins – embora também sejam significativas, e muito importantes em termos absolutos, as votações em São Paulo, Paraná e nas metrópoles do Nordeste, nos “corações” políticos dos adversários.

Em grandes números, 25% da votação de Marina veio de São Paulo, 28% dos outros estados do Sudeste, 21% do Nordeste, 11% do Sul (principalmente Paraná), 8% do Centro-Oeste e 7% no Norte – muito pouco, por sinal, de seu estado natal, o Acre. Suas votações mais fracas foram as dos estados mais pobres do Nordeste, Maranhão, Piauí e Alagoas (também Sergipe, exceção nesse aspecto) e dos estados politicamente mais polarizados ou com intensas disputas de terras – Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Mato Grosso, Rondônia, Pará – onde há menos espaço para conciliação e “terceira via”.

Só por isso, já é de se pensar que Marina ocupa de fato o espaço que reivindicou ao longo da campanha: de um progressismo moderado, uma terceira via “centrista” entre o PT e o PSDB. Impreciso, com certeza, mas igualmente são imprecisas as ideias políticas de uma parcela importante do eleitorado, chamada “nova classe média”, a classe C ascendente.

É uma camada principalmente urbana, que progrediu em relação aos pais pobres e mal educados, tem certa educação, até superior, está decentemente empregada e precisa cada vez menos de programas sociais como o Bolsa-Família, do SUS ou de novos projetos de saúde e saneamento. Ao mesmo tempo, é mestiça, não está à vontade com a “alta cultura”, tem gostos populares e se sabe desprezada pela elite tradicional. Não se identifica totalmente com as prioridades da esquerda – redução da desigualdade e crescimento econômico – mas também não com as da direita – conservação de privilégios disfarçados em competência e meritocracia. Busca um meio-termo que, assim como Marina, não sabe definir com precisão e chama de “mudança”.

É uma camada que se identifica mais com a história pessoal de Marina, uma ex-empregada doméstica alfabetizada pelo Mobral que “subiu na vida”, fez curso superior e uma carreira política pacífica e respeitada, do que com a carreira de um integrante convencional da elite política como Serra ou com o passado combativo de uma ex-guerrilheira como Dilma. Que tem um vago receio do “comunismo” e do MST e se esforça por se diferenciar das “massas” pobres e turbulentas e hesita em dar um cheque em branco a Dilma e ao PT. Não é a parcela da opinião pública mais conservadora, nem a que tem seu voto definido pelo padre, pelo pastor ou pela questão do aborto. Estes provavelmente votaram em Serra.

Esta interpretação se reforça quando se desce ao detalhe dos votos por município. Recife, capital do estado natal de Lula, não tem uma proporção excepcional de evangélicos pelos padrões brasileiros: apenas 17,6%. Mas 37% dos recifenses votaram em Marina (42% em Dilma, 19% em Serra). Já o município pernambucano de Abreu e Lima, o mais evangélico do estado (31,2%) teve 27% de votos em Marina, 52% em Dilma e 15% em Serra.

No Rio de Janeiro, Marina teve 29% em um município de alta concentração de evangélicos (30%) como Belford Roxo, 32% na capital (17,7% evangélica) e 37% em Niterói (15,3% evangélica), enquanto Dilma teve 57%, 43% e 35%, respectivamente, nesses municípios (e Serra 12%, 22% e 25%).

A abstenção acima do esperado explica alguma coisa? Não. Se alguém achou surpreendente que a soma de ausências, votos nulos e brancos no Nordeste tenha chegado a 29,34%, devia pensar de novo, pois no primeiro turno de 2006 foi 27,01%. Esses 2,33% de diferença – mesmo que fossem todos votos em Dilma, o que é muito improvável – não explicam por que a votação nela ficou algo abaixo de 60% nos principais estados, em vez dos mais de dois terços que se chegou a esperar. No conjunto do país, o não comparecimento às urnas foi 16,75% em 2006 e 18,12% em 2010: um aumento de apenas 1,37%.

Pode ser, porém, que os institutos de pesquisa tenham deixado de levar em conta as diferenças históricas de comparecimento entre as regiões ao ponderar as médias nacionais das intenções de voto e com isso tenham superestimado a votação em Dilma. Se fizeram isso, poderiam ter evitado o erro. Nos EUA, como em muitos outros países, as pesquisas sempre indagam ao eleitor se ele pretende votar. O fato de o voto ser teoricamente obrigatório no Brasil não justifica negligenciar o fator abstenção.

O mais importante, porém, é que candidatos, partidos e analistas percebem que a decisão do segundo turno não depende de propaganda religiosa ou anti-religiosa, de se ser contra ou a favor da legalização do aborto, mas de convencer um eleitorado centrista e flutuante, desconfiado tanto da esquerda quanto da direita, de que seus interesses práticos e racionais estão mais de um lado que de outro. É muito mais fácil para Dilma do que para Serra – até porque a vitória de Dilma depende de conquistar apenas 16% do voto em Marina, mesmo sem contar os 1% de Plínio que, no segundo turno, poderão votar nulo ou em Dilma, mas jamais em Serra. Mas superestimar a importância do voto religioso e conservador só vai atrapalhar.

Antonio Luiz M.C.Costa é editor de internacional de CartaCapital e também escreve sobre ciência e ficção científica
Clique para ver...

Estimativas para 3 de outubro

Marcos Coimbra, da Carta Capital 

Votos válidos: Marina Silva (e os pequenos) 11%, José Serra, 33%, Dilma Rousseff, 56%. Talvez seja arriscado fazer essa especulação. Talvez não 

Do jeito como vão, as eleições presidenciais não devem nos reservar surpresas de reta final. Ao contrário. Salvo algo inusitado, elas logo adquirirão suas feições definitivas, talvez antes que cheguemos ao cabo da primeira quinzena de veiculação da propaganda eleitoral na tevê e no rádio. 

Por várias razões, a provável vitória de Dilma Rousseff- em 3 de outubro será saudada como um resultado extraordinário. Ao que tudo indica, ela alcançará uma coisa que Lula não conseguiu nem quando disputou sua reeleição: vencer no primeiro turno. Não que levar a melhor dessa maneira seja fundamental, pois o próprio Lula mostrou ser possível ganhar apenas no segundo e se tornar o presidente mais querido de nossa história. 

É preciso lembrar que Lula não a obteve em 2006 por pouco, apesar de sua imagem ainda sangrar com as feridas abertas pelo mensalão. Ele havia chegado aos últimos dias daquele setembro com vantagem suficiente para resolver tudo ali mesmo e só a perdeu quando sofreu um ataque sem precedentes de nossa “grande imprensa”. 

Aproveitando-se do episódio dos “aloprados”, fazendo um carnaval de sua ausência no debate na Globo, ela balançou um eleitorado ainda traumatizado pelas denúncias de 2005. Lula deixou de vencer em 1º de outubro, o que, no fim das contas, terminou sendo ótimo para ele. No segundo turno, a vasta maioria da população concluiu o processo de sua absolvição, abrindo caminho para o que vimos de 2007 em diante: ele nunca mais caiu na aprovação popular e passou a bater um recorde de popularidade atrás de outro. 

Com as pesquisas de agora, é difícil estimar com precisão quanto Dilma Rousseff poderá ter no voto válido. Não é impossível que alcance os 60% que Lula fez, no segundo turno, na última eleição. E ninguém estranharia se ela ultrapassasse os 54% que Fernando Henrique obteve em 1994, com o Plano Real e tudo. 

Para fazer essas contas, é preciso levar em consideração diversos fatores. Um é quanto Marina Silva poderá alcançar, a partir dos cerca de 8% que tem hoje. Há quem imagine que ela ainda cresça, apesar do mísero tempo de televisão de que disporá. Com uma única inserção em horário nobre por semana e um tempo de programa praticamente idêntico ao dos candidatos pequenos, não é uma perspectiva fácil.

O segundo fator é o desempenho dos candidatos dos partidos menores, dos quais o mais relevante é Plínio de Arruda Sampaio. Muito mais que seus congêneres de extrema esquerda, ele pode se transformar em opção para a parcela de eleitores que vota de forma mais ideo-lógica ou que apenas quer expressar seu “protesto”. Embora as pesquisas a respeito desse tipo de eleitor não sejam conclusivas, isso pode, talvez, ocorrer em detrimento de Marina: à medida que Plínio subir, ela encolherá. O que não afetaria, portanto, o tamanho do eleitorado que não votará em Dilma ou Serra. 

Para, então, projetar o tamanho da possível vitória de Dilma, o relevante é saber o piso de Serra. Se ele cairá, considerando seu patamar atual, próximo a 30%. 

Só o mais otimista de seus partidários acredita (de verdade) que a presença de Lula na televisão será inútil para Dilma e que seu apelo direto ao eleitor não produzirá qualquer efeito. Ou seja, ninguém acredita que ela tenha já atingido seu teto, com os 45% que tem hoje.

O voto em Serra tem, no entanto, três fundamentos, todos, aparentemente, sólidos: 1. É um político respeitado no maior estado da federação, que governou, até outro dia, com larga aprovação. 2. Representa o eleitorado antipetista,- aquele que pode até tolerar Lula, mas que nunca votou e nunca votará no PT. 3. Tem uma imagem nacional positiva, conquistada ao longo da vida e, especialmente, quando foi ministro da Saúde. De São Paulo deve sair com 45% dos votos, o que equivale a 10% do País. O antipetismo lhe dá mais cerca de 10% e a admiração por sua biografia no restante do eleitorado, outro tanto (tudo em números redondos). 

Se essas contas estiverem corretas, Serra teria pouco a perder nas próximas semanas. Em outras palavras, já estaria, agora, perto de seu mínimo. 

Fica simples calcular o resultado que, hoje, parece mais provável para 3 de outubro: Serra, 30%; Marina e os pequenos, 10%; brancos e nulos, entre 8% e 10% (considerando o que foram em 2006 e 2002, depois da universalização da urna eletrônica); Dilma, entre 50% e um pouco menos que 55%. Nos válidos: Marina (e os pequenos) 11%, Serra 33%, Dilma 56%. 

Talvez seja arriscado fazer essas especulações. Talvez não, considerando quão previsível está sendo esta eleição.

Marcos Coimbra é sociólogo e presidente do Instituto Vox Populi. Também é colunista do Correio Braziliense

Clique para ver...

O Cenário de Janeiro

Do cientista político Marcos Coimbra, publicado no Correio Braziliense

Janeiro terminou cheio de boas notícias para Lula, pensando no seu projeto principal, aquele ao qual dedica seu melhor esforço: dar a vitória a Dilma em outubro.
Nas duas pesquisas nacionais divulgadas nos últimos dias, os resultados são-lhe todos favoráveis: sua popularidade subiu, sua candidata melhorou, o principal adversário parou ou retrocedeu um pouco, aumentou a tendência à polarização.
A primeira foi feita pela Vox Populi entre os dias 14 e 26 e a segunda pela Sensus, entre os dias 25 e 29, as duas em janeiro. Nelas, não há nenhum resultado que surpreenda pelo ineditismo, tudo sendo coerente com o panorama que outras pesquisas, feitas no correr de 2009, já apontavam.
Elas apenas mostram que a passagem do tempo está contribuindo para provocar a situação desejada pelo presidente.
Ambas testaram duas hipóteses nas perguntas de intenção estimulada de voto, uma com e outra sem o nome de Ciro Gomes. Nos dados da Vox, Serra continua liderando, mas com vantagem significativamente menor.
Com Ciro na lista, Serra tem 34% e Dilma 27%, ele 11% e Marina 6%. Sem, Serra sobe para 38%, Dilma fica com 29% e Marina com 8%. Na Sensus, Serra teria 33% e Dilma 28%, ficando Ciro com 12% e Marina com 7%. No outro cenário, Serra 41%, Dilma 28% e Marina 10%.
Olhando para o que tínhamos há alguns meses, as mudanças são grandes. Não faz muito tempo, Serra reunia, sozinho, intenções suficientes para vencer a eleição em primeiro turno, ao fazer mais que a soma de seus oponentes.
Nessas pesquisas, mesmo no cenário sem Ciro, a possibilidade parece remota.
A dianteira de Serra sobre Dilma foi o que mais mudou. Na pesquisa anterior da Vox, feita em meados de dezembro, sua vantagem passava de 20 pontos percentuais, que se reduziram a 7% ou 9% agora.
Algo parecido acontece nos dados da Sensus, embora sua pesquisa anterior seja de novembro: a diferença entre os dois iria de 5%, com Ciro na lista, a 13%, sem ele.
O encurtamento da vantagem do governador em relação à ministra já tinha sido constatado em outras pesquisas feitas em dezembro. O Datafolha, por exemplo, havia indicado uma queda de 21 para 14 pontos entre agosto e o final de 2009, depois dela ter estado em 25% alguns meses antes.
As duas pesquisas concordam que a candidatura de Ciro se mantem em um patamar entre 10% e 15%, mais perto do limite de baixo que de cima dessa faixa. E ambas mostram que Serra é quem mais se beneficia da retirada de Ciro das listas, pois é quando seu nome delas consta que Serra se sai pior.
É fácil se confundir na interpretação desses resultados, deles deduzindo que “Dilma precisa de Ciro”. Trata-se, no entanto, de um equívoco, que decorre de não se considerar o nível de conhecimento muito desigual que ainda há entre os candidatos.
Serra e Ciro são os únicos que muitos eleitores conhecem, pois disputaram eleições nacionais, coisa que nem Dilma, nem Marina fizeram. A proporção dos que nunca sequer ouviram falar nelas permanece perto de 35%.
Quando essas pessoas consideram listas onde estão os nomes dos dois, optam, na maioria das vezes, por um ou outro. E, quando um sai, pelo que resta.
Ou seja, não é que “Ciro tira mais votos de Serra que de Dilma”, apenas que quem não conhece (ainda) Dilma ou Marina tende a ir para Serra quando só resta ele de conhecido. Isso fica aritmeticamente claro nos dados da Sensus:
Dilma permanece exatamente igual nos cenários com e sem Ciro, mostrando que, quando ele sai, ela não ganha (por enquanto) nem um ponto.
À medida, no entanto, que avançar o conhecimento das duas, o que vai acontecer mais rapidamente de agora para frente, esse efeito se reduzirá. Aí sim será possível falar alguma coisa sobre a transferência de votos de Ciro (ou qualquer outro candidato) para os demais. As pesquisas de agora nada dizem sobre esse fenômeno.
Com Ciro parado e Marina sem dar mostras de crescer, outro dos projetos de Lula para as eleições está se materializando. Tudo indica que teremos a polarização que ele sempre buscou, um embate PT vs. PSDB já no primeiro turno, em que ele tudo fará para que os eleitores confrontem seu governo ao do antecessor.
Ajudando a entender seus resultados eleitorais (e o que permitem antever), as pesquisas mostram que Lula sobe mais um degrau em um tipo de popularidade que não conhecíamos em nossa experiência como país democrático.
Há tempos se sabe que ele tem, atualmente, uma avaliação positiva quase consensual, mas é sempre surpreendente constatar que ela continua a melhorar. No final de janeiro, segundo os dados da Vox, 74% dos brasileiros achavam seu governo “ótimo” ou “bom”, ou seja, 3 em 4 pessoas. Como outros 20% consideram o governo “regular”, restam 6% para reprová-lo.
Com uma insatisfação desse porte, podemos ter uma ideia do tamanho do desafio que aguarda Serra.

Marcos Coimbra, sociólogo e presidente do Instituto Vox Populi
Clique para ver...

PV atrai ex-petista, mas enfrenta dissidências

Presidente da legenda rebate declarações do ministro Juca Ferreira, a quem acusa de defender projeto "retrógrado"

Adauri Antunes Barbosa, do Jornal O Globo

SÃO PAULO. Embora comemore a saída da senadora Marina Silva (AC) do PT, o PV também vive seus dias de dissidências, como apontou o ministro da Cultura, Juca Ferreira, o mais alto representante verde no governo federal e que acusou a cúpula de seu partido de ser “movida pelo fisiologismo”.
O presidente nacional do PV, José Luiz Penna, vereador em São Paulo, contraatacou e acusou Juca de defender um projeto “absolutamente retrógrado”. Disse que o ministro é “uma voz isolada dentro do PV”, esquecendose que o partido acabou de perder um deputado estadual em São Paulo, Major Olímpio.
Para Penna, Juca foi “convocado pelo Planalto” Penna, que enviou respostas por escrito ao GLOBO, disse que Juca Ferreira foi “convocado pelo Planalto” para “desqualificar” a candidatura de Marina Silva. “O ministro deveria atentar para o momento inoportuno que escolheu. Momento em que o país inteiro assiste ao desembarque das fileiras com as quais ele declara pretender fazer alianças. E isso acontece por um motivo bem simples: o projeto governista que hoje ele defende é absolutamente retrógrado, haja visto o modelo de desenvolvimento proposto”, disse o presidente do PV.
O deputado estadual Major Olímpio deixou o partido inconformado com a direção partidária, também acusada por ele de fisiologismo. Até o fim de setembro o parlamentar paulista, que se diz atualmente um representante do “MSP, o Movimento dos Sem Partido”, deverá fazer uma nova opção partidária. O deputado Olímpio concordou com o ministro da Cultura e criticou a candidatura de Marina.
— O que ele (ministro) diz é mais que verdadeiro. Marina, se assumir essa candidatura pelo PV, vai montar em um porco ensaboado, não vai conseguir se segurar e vai cair de cara na lama — disparou o deputado dissidente do PV.
Com críticas ácidas, Major Olímpio, que se elegeu com votos de funcionários públicos e setores da segurança pública, afirma que o PV em São Paulo é “patrocinado” pela prefeitura e pelo governo estadual, governos que apoia em São Paulo.
— O PV é patrocinado pelo governador Serra e pelo (prefeito Gilberto) Kassab.
Mesma coisa no Rio, onde o Gabeira (o deputado Fernando Gabeira) é Serra. Esqueça quem acha que vai se trabalhar em prol de uma candidatura de um partido — disparou o deputado.
Comentário do blogueiro: O PV ninguém merece. Quem quiser acreditar no sonho verde que não reclame depois. Afinal, um pouco de ilusão todos nós precisamos. Como bem disse o ministro da Cultura, Juca Ferreira: Penha, ao lado do ditador da Coréia do Norte, é o dirigente partidário mais velho antigo do mundo. É muito autoritarismo e lambança para um partido do tamanho do PV. Imaginem vocês se o partido precisar ser governo. Agripino, César Maia, Kassabs, é a turma do DEM rindo à toa.
Clique para ver...

MARINA: NA ORIGEM DE TUDO, A CANDIDATURA DE DILMA!

César Maia, em seu ex-Blog, fez hoje uma análise da saída de Marina.
1. Este Ex-Blog já tratou dessa questão. Só a enorme popularidade de Lula viabilizou a candidatura de Dilma, pelo PT. Cristão novo no PT não tem vez. Dilma era do PDT, e como tal, ocupou a secretaria de minas e energia no governo Olívio Dutra, no RS. A desintegração do PDT local, com a adesão do filho de Brizola, ex-deputado federal, e suas entrevistas, terminaram por gerar uma migração ao PT (que além de estar no governo do RS, ainda detinha uma hegemonia de anos em Porto Alegre). Nessa leva, Dilma entrou.

2. Com a surpreendente ausência de quadros na formação do primeiro governo Lula, Dilma acabou indicada por Olívio e o PT-RS para ministra de Minas e Energia. Sua passagem foi, no depoimento dos especialistas, medíocre. E o PT viu sacrificar-se seu principal quadro no setor de energia (Pingueli Rosa), que tendo assumido a Eletrobrás, foi demitido por Lula, dizendo que "ele não tem votos", na verdade a pedido do PMDB. Dilma foi salva pelo "mensalão" e a queda de José Dirceu. Lula, que trabalha com símbolos, nomeou-a no lugar de Dirceu, pelo jeito de executiva vertical com que ela vendia a sua imagem (encobrindo o despreparo técnico), e pela condição feminina. Lula produzia com isso, expectativas de mudança de referência.

3. Não foi por sua performance, sempre criticada (vide o escândalo em Furnas, empresa de sua área, onde toda a diretoria caiu). E a transição do ministério se deu, para controle total do PMDB de Sarney. Os conflitos entre meio-ambiente (Marina) e energia (Dilma) (hidroelétricas, etc.) começaram aí e só se ampliaram quando o campo de influências de Dilma foi ampliado, com maiores interferências na área ambiental. Lula, provavelmente para proteger Dilma, lançou Mangabeira no conflito, indicando-o como coordenador das estratégias econômico-ambientais.

4. Quando Lula designou Dilma para candidata ad referendum do PT, as reações internas dos históricos do PT foram sentidas. Marina, Tarso Genro, etc. No caso de Marina, com intensidade dupla, pois a vitória eleitoral de Dilma significaria sua completa exclusão do processo decisório na questão ambiental. A saída de Marina do ministério, com a assunção de um ecologista urbano, foi apenas a indicação que a ruptura estava dada e que era questão de tempo e de momento. E assim foi.

5. Marina, espertamente, escolheu o melhor dia: a sustentação de Sarney pelo PT. Mas seria hipocrisia destacar a questão ética para sua decisão. Afinal de contas, não se leu, viu ou ouviu qualquer indignação da ministra Marina Silva no caso "mensalão". Onde estava, ficou. O fato novo, fermentado pelos conflitos com a ex-ministra de minas e energia foi a escolha de Dilma para candidata. Nesse momento, o futuro se somava ao passado e ao presente, e era insuportável a convivência. Por isso, ela diz na carta de saída do PT que o PT deixou de sinalizar compromisso de fato com o desenvolvimento sustentável. Na verdade, com Dilma (e não com o PT) é que esse descompromisso ficou caracterizado, e com firma reconhecida.
Comentário do blogueiro: É fato que a candidatura de Dilma representou rupturas que o PT não precisava nem deveria fazer. Uma dessas rupturas é cristanilizada pela saída da Marina Silva do PT. Embora não concorde com sua atitude, especialmente por que o PV não nenhum exemplo de compromisso ético e nem ambiental, sua bandeira inscrita em sua sigla. O próprio partido admite que a maioria de seus membros não tem qualquer compromisso com a causa ambiental. Mas o Lula poderia ter escolhido alguém que representasse melhor o PT. Se tivesse ungido alguns deles (Patrus, Haddad, Genro, etc.), qualquer um deles tinha hoje o que tem Dilma nas pesquisas. Sou Dilma, mas sou mais PT.
Clique para ver...

O andar de cima faz a festa para Marina

Tales Faria, do Blog dos Blogs
Há muito tempo não se vê uma candidatura presidencial surgir com apenas 3%dos votos e ser tão saudada pela imprensa, como o possível lançamento donome da ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva. Algo parecido, talvez,tenha sido o aparecimento de Guilherme Afif Domingues em 1989, acho quepelo PL. A turma do andar de cima ficou eufórica com o Afif, mas, como elenão emplacou, tentou-se o “choque de capitalismo” do tucano Mario Covas e,depois, houve o embarque na canoa de Fernando Collor de Mello.
Neste fim de semana, mal surgiram as especulações de que Marina deverá sairdo PT para o PV, ela já foi capa das revistas Época e IstoÉ. Na primeira,adianta-se simplesmente a possibilidade de a moça ocupar o Palácio doPlanalto, sob o título Marina presidente?. Na segunda, a chamada da primeirapágina, ao lado da foto da provável candidata, festeja: O Brasil não é só PTe PSDB.
A bem da verdade, no plano regional, a candidatura de Fernando Gabeira aprefeito do Rio, curiosamente pelo PV, também teve o apoio entusiástico eimediato dos mesmos que agora comemoram o nome de Marina. E, de fato, Gabeiracresceu durante a campanha até chegar ao segundo turno. Não é improvável queMarina também cresça, embora não seja seguro apostar que ela ultrapasse ocandidato tucano, José Serra, ou a preferida do Palácio do Planalto, DilmaRousseff (PT), nem mesmo outra alternativa do campo governista, o deputadoCiro Gomes (PSB-CE).
Segundo pesquisas do Datafolha divulgadas neste fim de semana, Serra continualiderando a disputa, com 37% das intenções de voto do eleitorado; Dilma contacom 16% e Ciro, com 15%. Acima de Marina estaria ainda a ex-senadora HeloísaHelena, do PSOL, com 12% da preferência dos entrevistados. Então por quetanta festa em torno de Marina Silva?
Porque o andar de cima aposta que a entrada da candidata ecológica, antes demais nada, preenche o vazio de uma candidatura feminina na oposição, emcontraponto à governista Dilma, já que a expectativa é que Heloísa Helena sevolte para Alagoas. Uma substituição até bem mais palatável para osconservadores do que a ex-senadora alagoana. A ecologia deixou de ser um temade propriedade da esquerda, como foi nos anos 60 e 70, e passou a transitarpor todas as ideologias. O PV de São Paulo, por exemplo, é dominado porpolíticos de direita acusados de fisiologismo, Gabeira teve o apoio do DEM, olíder do partido na Câmara é o deputado Sarney Filho (MA).
Também porque a candidatura de Marina, mesmo que não chegue a lugar algum,parece ter grande potencial para conquistar votos no campo das esquerdas.Mas, principalmente, porque o aparecimento de Marina embaralha um jogo queestava se encaminhando para o desenho proposto pelo presidente Luiz InácioLula da Silva: eleições polarizadas entre Dilma e Serra apenas, o quetornaria a campanha plebiscitária. Nesse quadro, o Palácio do Planalto temapostado que o grande tema a ser posto na mesa seria a comparação entre ogoverno Lula e o governo anterior, do tucano Fernando Henrique Cardoso.
Segundo o Datafolha deste fim de semana, a avaliação do governo Lula está em67% para ótimo/bom, 25% para regular e apenas 8% para ruim/péssimo. Emoutubro de 2002, o Datafolha captou uma avaliação positiva (ótimo/bom) dogoverno Fernando Henrique Cardoso em apenas 23% dos entrevistados.
Ou seja, a polarização apontaria para uma luta desigual, uma verdadeirasurra, creem os lulistas. Mas bastou Marina Silva aparecer, e o deputado Ciro Gomes (PSB-CE) voltou a colocar sua candidatura na rua, declarando queestá mesmo mais propenso a disputar a Presidência da República do que ogoverno de São Paulo, e que, se Marina “aceitar a convocação do PV, elaimplode a candidatura da Dilma”. Não é certo que imploda a candidaturaDilma, mas tem tudo para implodir a tese da polarização.
Mas fica uma pergunta no ar: e o outro lado? Marina rouba votos da esquerda,mas também rouba votos entre eleitores do PSDB e do DEM. Sua permanência nadisputa, junto com Ciro Gomes, praticamente garante que haverá um segundoturno, em que inevitavelmente a campanha se polariza. Ou seja, estaria-seapenas adiando a polarização. Mais nada.
Clique para ver...
 
Copyright (c) 2013 Blogger templates by Bloggermint
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...