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Danuza Leão deveria estar na seção de humor

Danuza já não se usa (ou a “corrupção das massas”)

“Deviam botar na seção de “Humor” do jornal a coluna absolutamente jurássica, alienada e cada vez mais engraçada de Dona Danuza”


Realmente não se usa, tá por fora, old fashion, triássico, o preconceito de classe dominante manifestado e assinado embaixo por Danuza Leão em sua coluna da FSP e muito bem captado por Saul Leblon da Carta Maior. Porque acontece que eu não leio Danuza Leão e por três motivos: 1)Por que ainda não fiquei louca; 2) Por que não quero ficar besta; 3) Por que não chuto cachorro morto. Mas Saul, como é editorialista, precisa ler TUDO (até por força das circunstâncias) – ergo: dá-lhe, estômago de aligátor – e flagrou Dona Danuza legal.

Ele diz que, na coluna supracitada, Danuza “lamenta a ascensão do consumo de massa no Brasil, não por ter restrições ao consumo, mas porque ficou difícil ‘ser especial’ nesses tempos em que ‘todos têm acesso a absolutamente tudo, pagando módicas prestações mensais’. Musicais na Broadway perderam a graça, não pelo gosto duvidoso do que se oferece ali, mas é que por míseros R$ 50 mensais o porteiro do prédio também pode ir. Enfrentar doze horas de avião para chegar a Paris, entrar nas perfumarias que dão 40% de desconto, com vendedoras falando português e onde você só encontra brasileiros – não é melhor ficar por aqui mesmo?”, conclui desolada a triássica Danuza.

Leblon observa que as raízes desse desencanto com o Brasil, personificado na elite caricatural assumida por Danuza, encontram uma explicação no relatório da consultoria Boston Consulting Group (BCG), divulgado semana passada. O estudo compara meia centena de indicadores econômicos e sociais de 150 países, coletados junto ao Banco Mundial, FMI, ONU e OCDE, e o Brasil surge como a nação que melhor utilizou o crescimento econômico dos últimos cinco anos para elevar o padrão de vida e o bem-estar do seu povo.

O PIB brasileiro cresceu a um ritmo médio anual de 5,1% entre 2006 e 2011. Mas os ganhos sociais obtidos no período se equiparam aos de um país que tivesse registrado um crescimento explosivo de 13% ao ano, diz a análise. Ou seja, para efeito de redução da pobreza, as coisas se passaram como se o Brasil tivesse crescido bem mais que a China nos últimos cinco anos. O salto na qualidade de vida da população, segundo a consultoria, decorre basicamente da prioridade implementada à distribuição de renda no período.

Algo que Danuza Leão “intui” apenas através da crescente dificuldade de se distinguir a si própria do porteiro do prédio.

As diferenças entre ambos naturalmente continuam abissais. Mas registraram a queda mais rápida da história brasileira nos anos Lula, quando a pobreza recuou à metade e 97% da infância foi para a escola. É o que demonstram também os dados do IBGE divulgados nesta 4ª feira: o índice de Gini que mede a desigualdade encontra-se hoje no menor nível em 30 anos. Ainda assim os 40% mais pobres têm apenas 11% do total da riqueza do país. Mas o deslocamento da seta na década Lula é um fato: entre 2001 e 2011, a renda dos 20% mais ricos – equivalente a 24 vezes a dos 20% mais pobres em 2001 – caiu para 16,5 vezes em 2011.

Nada disso é captado no visor histórico de quem está obcecado em preservar espaços de um privilégio socialmente patológico, incorporado à rotina da classe dominante como extensão, digamos, da paisagem tropical. O desencanto inconsolável com o Brasil deixado por Lula inclui outras versões igualmente elitistas, mas de apelo não tão exclusivista. O porteiro do prédio neste caso é a ‘corrupção de massa’ que o governo Lula teria promovido, segundo os críticos, num aparelho de Estado antes depenado com elegância pelos donos do país. Assim como o porteiro de Danuza, a corrupção no aparelho público agora comandado pelo PT também é real.

Não é o caso do que se convencionou chamar de Ação Penal 470 – ainda que a prática do caixa 2 de campanha tenha igualmente nivelado o partido aos adversários, que, a despeito de tudo, desfrutam da tolerância obsequiosa nos circuitos escandalizados com os forasteiros. A atual operação Porto Seguro, a exemplo de outras desencadeadas pela Polícia Federal desde 2003, desnuda com vasta difusão midiática, aquilo que antes era encoberto, pouco investigado e raramente punido. Não é necessário revisitar o personagem do ‘engavetador geral da República’, de bons serviços prestados à causa tucana.

E Saul conclui: “Porém há nuances que a esquerda não pode mais ignorar. A virtude que se cobra do campo progressista não é um dote imanente a porteiros que conquistaram o legítimo direito de viajar a prestação, tampouco a qualidade intrínseca de governantes eleitos pelos pobres. Virtuosas devem ser as instituições, ancoradas em leis justas e indutoras da convivência solidária; no serviço público digno e transparente; na escola capaz de preparar cidadãos para o livre discernimento; nos bens comuns valorizados e desfrutados coletivamente.”

Realmente é preciso integrar luta econômica & idéias emancipadoras a fim de ampliar o horizonte subjetivo para além do consumismo individualista. Do contrário, só resta o vale tudo por dinheiro. E a coluna de Dona Danuza, absolutamente jurássica, alienada e cada vez mais engraçada. Deviam botar na seção de “Humor” do jornal.
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A derrota da direita pitbull nos EUA

Vitória de Obama: a derrota da direita pitbull nos EUA 

“A demografia dos Estados Unidos mudou e Romney perdeu feio entre os latinos e afroestadunidenses”

por Márcia Denser

Para o analista político norte-americano Mark Weisbrot, do Centro para Investigação Econômica e Política, a nova composição demográfica dos Estados Unidos foi fator importante na vitória do atual presidente, mas não o fator decisivo: “Obama ganhou porque fez um apelo econômico popular para os eleitores da classe trabalhadora de todos os grupos raciais e étnicos, algo sem precedentes em mais de 50 anos de eleições presidenciais estadunidenses”, declarou, em entrevista dada à Carta Maior desta semana.

O presidente reeleito Barack Obama venceu estrondosamente o republicano Mitt Romney se considerarmos apenas o voto “étnico”. Entre os latinos obteve mais de dois terços de apoio; entre os afro-americanos, recebeu a adesão de nove em cada dez eleitores. Tais dados demonstram que a “América tradicional”, a preferida dos Wasp (Brancos, Anglo-Saxões e Protestantes) está desaparecendo. Contudo, a campanha democrata à presidência foi definitivamente vitoriosa porque conseguiu convencer a maioria dos eleitores norte-americanos de que para Romney e os republicanos só importam os ricos.

Segundo Weisbrot, esse resultado estava previsto pelas pesquisas eleitorais do Princeton Electin Consortium e do Fivethirtyeight.com, logo não foi uma surpresa, a não ser para a maioria dos meios de comunicação e especialistas que fingiam haver uma disputa acirrada. Eu mesma, dois dias antes das eleições, quando ouvi pelo rádio que o New York Times iria apoiar Obama, percebi que a coisa era uma espécie de fato consumado.

Mas afinal, por que Obama venceu, apesar de todos os pesares? O fato é que a demografia dos Estados Unidos mudou e Romney perdeu feio entre os latinos – 75% votaram em Obama – e afroestadunidenses, que deram 93% dos votos ao presidente. Romney teve grande maioria entre os eleitores brancos, mas não o suficiente para ganhar, especialmente nos estados em disputa. Ainda conforme nosso analista, a campanha de Obama teve tanta publicidade quanto a dos republicanos, mas Obama e os democratas se saíram melhor na campanha das ruas, portanto o grande capital de direita não foi decisivo nestas eleições.

Mas em termos de política interna, dado o impasse no Congresso, com uma maioria republicana na Câmara dos Representantes e a falta de liderança de Obama, as diferenças não serão significativas. Existirão melhores chances de haver uma reforma na lei dos imigrantes e a concretização do plano de seguro-saúde de Obama, algo que irá beneficiar cerca de 30 milhões de americanos e custos mais baixos para outros milhões. E haverá mais regulação financeira.

Dado o quadro político geral, na pior das hipóteses, é possível que Obama faça cortes na Seguridade Social, no Medicare e outros gastos sociais para barganhar com os republicanos a aprovação do orçamento e, nesse caso, será preciso uma grande pressão popular para impedir que Obama aceite tais mudanças.

As más notícias ficam mesmo por conta da política externa, a respeito da qual não se deve alimentar esperanças: desde o começo, Obama optou por se concentrar na política interna e não arriscar capital político na externa. Isso significa uma continuidade da geopolítica da era Bush. Infelizmente, uma guerra contra o Irã permanece no horizonte em razão das hostilidades e aumento de tensões no Oriente Médio. Quanto à America Latina, a política atual também prossegue sob o comando do Departamento de Estado, influenciado pelos direitistas no Congresso. Portanto, novamente a mesma política de Bush para os próximos quatro anos.

Claro que, a longo prazo, o dinheiro ainda corrompe os políticos ianques – “O povo votou em Obama pela mudança, mas não ganhou muito em troca. Nesse sentido, nossos políticos são mais corruptos que os de muitos países da América do Sul, onde – apesar de formas de corrupção piores que aqui – a população tem conseguido votar por mudanças progressistas nos últimos anos e recebê-las”. (grifos meus)

E Weisbrot conclui: “Portanto, mais importante que uma reforma no sistema de financiamento de campanhas nos Estados Unidos, seja uma reforma no sistema de votação. Mais de 40% dos estadunidenses não votaram nestas eleições, e os republicanos, tal como são atualmente, mal existiriam como um partido se tivéssemos leis e procedimentos de votação menos restritivos.”

Ou seja, no plano interno, a Direita Pitbull e o Tea-Party governam de costas e sempre contra os interesses da população dos EUA e esta sabe disso. A prova é o resultado das urnas.

Quanto à política externa, está muito além do poder de Obama desfazer contratos com a Halliburton, a Lockheed ou a Carlyle e Gilead, isto é, as mega-corporações que constituem a máquina suicida dum capitalismo de desastre que movimenta geopoliticamente, dentro e fora dos EUA, um governo corporatista oco, sem quadros, movido à Ideologia Neo-Conservadora do Dinheiro.
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Crônica da morte anunciada do PSDB

“Os tucanos chegam a esta eleição jogando toda a sua sobrevivência em São Paulo, com o grave risco de, se perderem, ter decretada sua desaparição política”

Faltando doze dias para o 2º turno das eleições para a prefeitura de Sampa, e somente após críticas massivas pela omissão, o tucano José Serra avec correligionários (leia-se comparsas) lançou esta semana, numa livraria da cidade, seu programa de governo. Segundo editorial da Carta Maior, o evento foi na verdade uma espécie de “programa de lazer tucano”, uma encenação de seriedade para ser filmada e tapar buraco na propaganda eleitoral.

A contrapelo das pesquisas e do elevado teor de hipocrisia de um candidato que, após criticar a cartilha anti-homofóbica idealizada pelo MEC, foi obrigado a admitir que, em 2009, quando governador de SP, distribuiu material idêntico na rede estadual – ambos produzidos pela mesma ONG, a Ecos – Serra exerceu sua especialidade: a simulação.

A propósito do exercício supostamente democrático de “discutir a cidade com os cidadãos”, suas propostas mal-ajambradas – afetando um falso rigor técnico e ocultando metas, custos, recursos e a probabilidade de cumpri-las – se resumem a apenas um item, assim descrito pela insuspeita UOL: “Em um dos poucos momentos em que dedicou sua fala às suas propostas, Serra lembrou a promessa de construir 30 AMAs (Assistência Médica Ambulatorial). ‘Mas não a ponto de detalhar onde vamos fazer’ (ressalvou). ‘Isso seria impossível (sic). Mas tem o compromisso”(????????).

Planejamento incrível! Um compromisso exemplar com o eleitor!

A propósito e quase na mesma pauta, ressalto aqui o artigo dessa semana de Emir Sader, “Os tucanos do começo ao fim”, plenamente sintonizado com o que vem repisando esta colunista há séculos. Observa Emir que “os tucanos nasceram de forma contingente na política brasileira, apontaram para um potencial forte, tiveram sucesso por via que não se esperava, decaíram com grande rapidez e agora chegam a seu final”.

Mas ele mata a cobra e mostra o pau, prosseguindo com sua retrospectiva política ao relatar que os tucanos nasceram de setores descontentes do PMDB, sobretudo de Sampa, sob o domínio de Orestes Quércia (de triste memória), tentaram a eleição de Antonio Ermírio de Morais, em 1986, pelo PTB, mas Quércia os derrotou. Daí articularam-se para sair do PMDB e formar um novo partido que, apesar de contar com Franco Montoro, um democrata–cristão histórico, optou pela sigla da social- democracia e escolheu o símbolo do tucano para dar-lhe um toque de brasilidade, isto é, made in Brazil.

Assim como os macacos, as araras, as cobras, abacaxis e bananas devidamente incorporados ao nosso Inconsciente Colonial e a nunca por demais esquecida Carmem Miranda: yes, nós temos tudo isso.

O grupo, essencialmente paulista, foi incorporando alguns dirigentes nacionais como Tasso Jereissati, Álvaro Dias, Artur Virgilio, entre outros. Mas o núcleo central sempre foi paulista – Mario Covas, Franco Montoro, FHC. A candidatura de Covas à presidência foi sua primeira aparição pública nacional. Oculto atrás do perfil de candidatos como Collor, Lula, Brizola, Ulysses Guimarães, Covas tentou encontrar seu nicho com um lema que já apontava para o que definiria os tucanos – “Por um choque de capitalismo”.

A propósito de choques, não deixar de ler A doutrina do choque – a ascensão do capitalismo de desastre, de Naomi Klein, Rio, Nova Fronteira, 2008. Esgota o assunto e elucida de uma vez por todas a doutrina e a prática política do tucanato.

O segundo capítulo da sua definição ideológica inscreveu-se a partir do namoro com o governo Collor, concretizando a entrada de alguns tucanos no governo – Celso Lafer, Sergio Paulo Rouanet: revelava-se a fascinação que a “modernização neoliberal” exercia sobre os tucanos. O veto de Covas impediu que os tucanos fizessem o segundo movimento, isto é, o ingresso formal no governo Collor – o que os teria feito naufragar com o impeachment e talvez tivesse fechado seu caminho posterior para a presidência, via FHC.

Mas o modelo que definitivamente eles seguiram veio da Europa: da conversão ideológica e política dos socialistas franceses de Mitterrand e do governo de Felipe Gonzalez na Espanha. Como corrente ideológica, esta social-democracia (que já não era mais social e muito menos democracia) optava pela adesão ao neoliberalismo, lançado inicialmente pela direita tradicional européia até ser abraçado pelas elites latino-americanas. Aliás, na AL ocorreu um fenômeno similar: introduzido por Pinochet sob ditadura militar, o modelo foi recebendo adesões de correntes originariamente nacionalistas – o MNR da Bolívia, o PRI do México, o peronismo da Argentina – e de correntes social democratas – o Partido Socialista do Chile, a Ação Democrática da Venezuela, o Apra do Peru, o PSDB do Brasil.

Na década de 90, como outros governantes de correntes neoliberais – a exemplo de Menem (Argentina), Carlos Andres Peres (Venezuela), Ricardo Lagos (Chile), Salinas de Gortari (México) – no Brasil, os tucanos puderam chegar à presidência, porquanto a América Latina se transformava na região do mundo com governos neoliberais em suas modalidades mais truculentas.

O programa do FHC foi apenas uma triste adaptação ancilar do mesmo programa ao qual o FMI engessou todos os países da periferia em geral, e a América Latina em particular. Ao adotá-lo, FHC reciclava definitivamente seu partido a ocupar o lugar no centro do bloco de direita no Brasil, uma vez que os partidos de origem na ditadura – PFL, PP – tinham se esgotado. Quando Collor foi derrubado,  Roberto Marinho disse que a direita não voltaria jamais a eleger um candidato seu, dando a entender que teriam que buscar alguém fora de suas fileiras – o que ocorreu com FHC.

A princípio, sua gestão teve o mesmo “sucesso espetacular” que os demais governos neoliberais da América Latina no primeiro mandato: privatizações, corte de recursos públicos, desregulamentações, abertura acelerada do mercado interno,  flexibilização laboral. Contava com 3/5 do Congresso e com o apoio em coro da mídia. Também como outros governos, mudou a Constituição para ter um segundo mandato. E da mesma forma que outros, conseguiu se reeleger já com dificuldades,  porque seu governo havia mergulhado a economia numa profunda e prolongada recessão.

Negociou de novo com o FMI, foi se desgastando cada vez mais, uma vez que a estabilidade monetária não levou à retomada do crescimento econômico, nem à melhoria da situação da massa da população e acabou banido, sem apoio, vendo seu candidato derrotado.

Sader sentencia: “Aí os tucanos já tinham vivido e desperdiçado seu momento de glória. Estavam condenados a derrotas e à decadência. Se apegaram a São Paulo, seu núcleo original, de onde fizeram oposição, muito menos como partido – debilitado e sem filiados – e mais como apêndice pautado e conduzido pela mídia privada.

Derrotado três vezes sucessivas para a presidência, perdendo cada vez mais espaços nos estados, o PSDB chega a esta eleição aferrado à prefeitura de São Paulo, onde as brigas internas levaram à eleição dum aliado com péssimo desempenho.”

No caso, o nunca por demais rejeitadíssimo Kassab (meus sais!). Assim, os tucanos chegam a esta eleição jogando toda a sua sobrevivência em São Paulo, com o grave risco de, se perderem, ter decretada sua desaparição política. Até porque ninguém acredita em Aécio como candidato com possibilidades reais à presidência. E Alckmin, ainda menos.

Concluo, repetindo, mais uma vez, o meu “delenda Cartago”: PSDB, requiescat in pace.
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