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Renda para os haitianos (Justiça às terças)

Muito se fala em ajuda internacional ao Haiti, apesar dos haitianos sofrerem durante dias sem poder vê-la, bebê-la ou comê-la. A pouco mais de um quilômetro do aeroporto de Porto Príncipe, velhos passaram fome, e sofreram com a falta de antibióticos. A ajuda internacional demorou a chegar às pessoas, e o que chega é pouco, apesar do aeroporto de Porto Príncipe não dar conta dos voos com material e pessoal de auxílio humanitário.

Também se fala em reconstruir o Haiti, e aqui é preciso um toque brasileiro, pois é preciso que a reconstrução do Haiti traga renda e prosperidade para a população.

É importante que a ajuda internacional ao Haiti não se limite ao curtíssimo prazo, e aproveite a mórbida oportunidade para dar aos haitianos o que eles precisam: renda.

Um terremoto deixa tudo destruído, o que quer dizer que tudo precisa ser reconstruído. Essa é uma oportunidade para remunerar os haitianos pelo trabalho de reconstrução, sem transformar a coisa toda em uma caminho para o lucro fácil dos especuladores do desastre.

Seria ótimo se houvesse dinheiro para remunerar as pessoas pelo trabalho na reconstrução, e que o FMI transformasse a dívida externa em bolsas para haitianos. Isso elevaria o moral, e ajudaria a resolver o grande problema dos haitianos, a miséria. Essa é a visão de Rubem César, presidente da Viva Rio que está no Haiti.

Rubem César também informa que por lá há um clima de organização, não de violência. Não que a violência não esteja presente no Haiti. É fácil matar por lá, como já diziam os veteranos brasileiros em 2006. Mas há motivos para intranquilidade entre a população haitiana, pois falta água e comida. A ONU demorou quatro dias para começar a distribuir alimentos por helicóptero, apesar do Haiti estar a duas horas de voo dos EUA. Eis uma boa explicação para a afobação do povo. Se duvida, fique quatro dias sem comer nem beber, e daí tentamos conversar, se você estiver calmo.

Por ora, o auxílio internacional prometido, ao menos, chega a R$ 202 per capita. Na verdade, o verdadeiro auxílio por lá é dos haitianos ajudando haitianos. O que se vê no Haiti é ajuda nacional, ao invés de ajuda internacional. Dizem Omar Ribeiro Thomaz e Otávio Calegari Jorge, direto de Porto Príncipe:
Entre quarta-feira [13 de janeiro] e sábado [16 de janeiro], caminhar pelas ruas do centro de Porto Príncipe e de Pétionville era observar o civismo dos haitianos que, muitas vezes, e como nós, sem entender claramente o que havia acontecido, procuravam cuidar dos feridos, resgatar aqueles que ainda estavam vivos sob os escombros, e dispor de seus mortos. O que vimos foi, de um lado, solidariedade, de outro a ausência quase que total e absoluta das forças da ONU e da ajuda internacional.
Para Thomaz e Jorge, os estrangeiros que estão atulhando o aeroporto local com itens de primeira necessidade que não chegam às pessoas simplesmente não entendem a população local, e por isso não usam os meios locais, os únicos em funcionamento até o momento.

Os EUA usaram a pouca capacidade do aeroporto de Porto Princípe para encher o Haiti de soldados, apesar de não haver guerra alguma. Esse mau uso do aeroporto atrasou a ajuda a vários haitianos.

Thomaz e Jorge também nos explicam porque falta alimentos no Haiti: sob pressão do FMI, o Haiti desregulamentou a produção de arroz nos anos 1980s, o que acabou com a produção local de alimentos, e fez o Haiti passar a comprar alimentos estadunidenses, os quais são produzidos com subsídios que não incomodaram o FMI.

A importação de alimentos fez com que os camponeses se aglomerassem em favelas na capital, e morressem nas suas casas precárias no terremoto do dia 12 de janeiro. De modo que os engravatados de Washington e seus capatazes locais têm sua parcela de responsabilidade pelo impacto humano do terremoto.

É preciso ajudar o Haiti. Sejamos marxistas, ora bolas: a cada um de acordo com as necessidades, de cada um de acordo com as capacidades. O resto do mundo pode financiar o Bolsa Família haitiano, e deveria pensar seriamente nisso.

Nada disso está na agenda de discussões, ao menos pelo que eu sei.

Com a capital do país em ruínas, novos tremores de terra (os quais se estenderão por meses), problemas de higiene e aumento dos preços, além da falta de perspectiva pura e simples, os EUA temem um êxodo em massa para outros países do Caribe, e organizaram prontamente um bloqueio naval, além de acomodações na prisão de Guantánamo para os haitianos que fogem do horror pelo mar. Os EUA planejam interceptar navios com emigrantes em alto mar, e repatriá-los para os escombros do Haiti. Isso talvez seja uma maneira de resolver o problema estadunidense com imigrantes, mas certamente não tem nada a ver com o auxílio devido aos haitianos.

Levando em conta o papel dos EUA (com Inglaterra e França) na desconstrução do Haiti, isso se torna duplamente reprovável. Em 1803, os escravos haitianos deram um pau nas tropas de Napoleão, em uma guerra sangrenta que matou 1/3 da população haitiana.

A vitória sobre a potência colonial não tornou os haitianos populares entre os brancos do mundo afora, que praticaram bloqueio econômico para punir a jovem e livre nação. Em 1915 os EUA invadiram o Haiti, e o governaram até 1934, após cobrar o que o país devia ao City Bank. A miséria atual do país é, em larga medida, consequência da ação estadunidense de usar marines pagos pelo contribuinte dos EUA como capangas de banqueiro, assim como a situação atual do Paraguai tem tudo a ver com o vergonhoso papel do Brasil e seus aliados no passado. Seria de se esperar que os EUA reparassem o Haiti pelo que fizeram no passado, valendo o mesmo para Brasil-Paraguai.

Vejam que o Haiti se libertou da Europa em 1803, bem antes do Brasil, em 1822. Na verdade, o Haiti inspirou o Brasil e a América Latina seja na luta pela independência, seja na luta contra a escravidão. Temos essa dívida com os haitianos. O Brasil e o mundo tem um crédito histórico com o Haiti, e seria desejável que os haitianos pudessem sacar esse crédito nesse momento.

Os haitianos entenderam a Revolução Francesa melhor do que os franceses. Em 1789, a França revolucionária verbaliza a Declaração dos Direitos Humanos: todos os homens são iguais. Que momento maravilhoso, não houve ser humano que não se alegrasse. Os haitianos também se alegraram. Mas, haitianos são seres humanos? Para os franceses não. Quando os habitantes da então colônia francesa de Saint-Domingue, hoje Haiti, pediram à metrópole para desfrutar dos seus direitos, receberam repressão.

Bill Clinton fala em reconstrução do Haiti, e se pensa em recuperar o setor industrial-exportador. No entanto, é claro que o Haiti não precisa ser um maquilador de produtos produzidos em outros países que não serão consumidos pelos haitianos. Isso é exploração, não ajuda, e dá no horror que se vê no México. Os haitianos precisam de bolsas (não empréstimos) que lhes deem poder de compra, fazendo a economia local se desenvolver, como estamos vendo no Brasil.
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