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Foi assim em Honduras. Por que não no Brasil?


O STF. Por que não? 
Flávio Aguiar - Carta Maior 

Leio, compartilhando, a indignação dos companheiros com a decisão do STF invadindo prerrogativas do Congresso Nacional e cassando os mandatos dos deputados considerados culpados no processo 470. Mais um desmando, eivado de contradições, sobretudo a do voto decisivo do ministro Celso de Mello: cassou aqui e agora onde não cassara lá e antes.

A argumentação de que no meio do caminho foi votada a Lei da Ficha Limpa e outras leis não cola. O assunto é matéria constitucional, no fim de contas.
Porém no fim de contas, esse acontecido, bem como o comportamento no Supremo e da mídia em torno não surpreende muito.

Afinal, segue tendência internacional.

Desde o golpe que levou Bush Filho ao poder contra Al Gore, há uma tendência de forças de direita se aglutinarem em torno do Judiciário para, sempre que possível, derrogar ou ameaçar a soberania do voto popular. Foi assim em Honduras. Por que não no Brasil?

Na falta de outros argumentos, caminhos ou votos, a direita brasileira encastelou-se no Supremo. A batalha judicial também é o último esteio da direita argentina, no que diz respeito à lei contrária à indevida concentração da mídia.

O difícil de assimilar é que neste caminho envereda-se por confrontos institucionais inusitados, como este agora provocado com o Congresso que, no momento (quarta-feira 18) quer votar mais de 3000 vetos em bloco para votar um único, o dos royalties do petróleo. Sim, houve a liminar acolhida pelo ministro Fux no meio do caminho, mas a pedra já estava bloqueando o bom entendimento e abrindo espaço para a bílis mal-humorada.

Há uma coisa que chama a atenção nisso tudo. É o despropositado poder da vaidade humana. Pode-se ler isto tanto na arrogância dos comentários que pedem o linchamento dos réus, quanto no comportamento desavisado de juízes que ameaçam a validade de nossa Constituição tão dificilmente conquistada.
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Carta ao Marcio Pochmann

Berlim, 17/10/2012. 

Caro amigo, colega e companheiro Marcio Pochmann

Se há seis anos atrás você me dissesse que eu agora estaria morando em Berlim e escrevendo uma carta de apoio à sua candidatura a prefeito de Campinas, eu sorriria de esguelha e pensaria: “esse Marcio é mesmo um sonhador…”.

Pois é, mas aqui estou e você aí está.

Ambos sonhando com um Brasil melhor, com cidades melhores, com uma Campinas melhor. Eu aqui de longe, você aí no meio da refrega.

Mas pensando bem, essas coisas não me surpreendem. Eu sempre tive um vezo viajor, talvez herdado do nomadismo gaúcho e do meu avô caixeiro-viajante; você sempre meu deu a impressão de ter a vocação da liderança.

Conheci você nas lides da Carta Maior, nos Fóruns Sociais Mundiais, na nossa busca de um outro mundo possível. Nessas oportunidades, eu era o entrevistador – para a TV Carta Maior – e você o comentarista entrevistado. Logo descobri que aquele (você) professor da Unicamp era meu conterrâneo – você de Venâncio Aires, eu de Porto Alegre. Por trás e no meio de sua fala quieta e mansa vicejava o sotaque do extremo sul, que a gente nunca perde de todo depois de adquirido.

Entre os muitos preconceitos da vida existe aquele que diz que todo gaúcho macho deve ser gritão e bravateiro. Pobre preconceito. Um dos gaúchos mais gaúchos que conheci na vida, o Erico Verissimo, era quieto e de fala mansa. E com tal quietude e mansidão, capaz de enfrentar uma tropa de milicianos que não queria permitir um enterro decente no cemitério de sua cidade a um oficial legalista que morrera baleado na Revolução de 30. E Erico era favorável à Revolução! Você é desta cepa, Marcio. Só espero que você nem ninguém, em nossa terra brasileira, tenha de enfrentar de novo tropas de qualquer tipo para garantir direitos fundamentais aos vivos e aos mortos.

Depois acompanhei seu trabalho muito de perto na gestão da Marta na prefeitura de S. Paulo. Eu trabalhava sob a batuta do notável Gianni Rato no projeto de Formação de Público, no Departamento de Teatro da Secretaria da Cultura. Você na geração de empregos e oportunidades, naquilo que compete a uma prefeitura, para a população da nossa megalópole desvairada, como diria o Mário de Andrade. 

Acompanhei seu trabalho firme, decidido e sóbrio – sem os alardes nem as trombetas da propaganda ou da auto-promoção fáceis. Você pensava em primeiro lugar no seu trabalho – não na promoção de sua imagem.

Vez ou outra estivemos juntos em lides acadêmicas, apesar de pertencermos a campos diferentes, embora unidos pela busca do rigor e da liberdade de  pensamento. E depois você foi para o IPEA. Continuei seguindo seu trabalho, vendo como, sempre com o mesmo jeito tranquilo, você dava cor e coração aos números e estatísticas. Porque não adianta apenas saber contar; é necessário saber o que contar, como contar e para quem contar. E você contava para dar horizonte e esperança aos que raramente, na nossa história, tiveram acesso a esses direitos básicos da pessoa humana: horizonte e esperança.

E daí vi que você deixou Brasília para se lançar nessa nova aventura – candidato a prefeito da sua cidade acadêmica, Campinas. Bravo, Marcio. Você pode dar alento a muita coisa em Campinas. Falarei apenas de uma, mas que o exemplo fique para outras áreas.

Campinas é um polo universitário de merecido prestígio nacional e internacional. Pois num polo desses não tem cabimento que mais de 3% de sua população adulta padeça de analfabetismo. Nem que quase 15 mil crianças em idade escolar fiquem sem acesso à escola, segundo as estimativas: sete mil estão aguardando vagas; outras tantas seriam de famílias que já desistiram de procurar.

Se há alguém capaz de liderar um esforço de envergadura para adequar essa situação absurda aos princípios e direitos básicos da cidadania, promovendo a escolaridade onde ela falta, é você, Márcio – com sua equipe.

Porque você é um lutador. Porque você já deu provas de competência. Porque você mostrou ser incansável. Porque você, Marcio, como eu já disse, é um sonhador.

E sonhar é um direito básico dos indivíduos e da coletividade.

Um abraço e boa sorte para você, e para Campinas com você.


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