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O tolo Fux julgou-se um Fox
Vacilos de Troia
Lula e Fux ignoraram Homero: melhor que aprender com os fatos é não permitir que ocorram
CARLOS MELO | CIENTISTA POLÍTICO E PROFESSOR DO INSPER
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Lula e Fux ignoraram Homero: melhor que aprender com os fatos é não permitir que ocorram
CARLOS MELO | CIENTISTA POLÍTICO E PROFESSOR DO INSPER
“Só aos tolos os fatos ensinam.” Na Ilíada, que leio para meu filho, essa frase é inúmeras vezes repetida. Compreende momentos em que os personagens se deixam surpreender pelos acontecimentos. Há ali uma imensidão de heróis fortes como deuses - quando não deuses de verdade - que, vaidosos, subestimam as circunstâncias e superestimam o poder que possuem. Apanhados nas armadilhas da presunção, acolhem com as garras da soberba a destruição. No Brasil atual, os erros são de igual natureza. “Erros clássicos”, digamos assim.
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Os escândalos da moda são pródigos nesse tipo de equívoco. Primeiro, o caso Rosemary Noronha, ex-assessora do gabinete presidencial, em São Paulo; depois, as revelações do ministro Luiz Fux, do STF. Ambos cumprem um roteiro conhecido. Ignorando a prudência, a vaidade abre as portas para o ocaso. A velha história do cavalo de troia.
Da ex-assessora, não cabe discutir a vida pessoal. Não interessa o grau de seu envolvimento com o ex-presidente. No campo dos afetos, pedras jogadas vão e voltam como bumerangues. Não se cospe para cima. Apenas se confirma que na água do poder há mesmo algo - sua força, ansiedade e solidão - que desperta e favorece encontros e desencontros assim. De quando em quando, presidentes se embrenham por veredas do gênero.
O caso do ministro Luiz Fux não difere na essência. Articulando a própria indicação, o candidato ao Supremo se supôs um craque: “Deixa, que eu mato no peito”. Guitarrista de acordes dissonantes, se não prometeu, insinuou. Infiltrado no STF, seria uma espécie de cavalo de troia. Cortejou quem condenaria mais tarde. Mas a bola que dominaria não era redonda e a torcida, furiosa, faria do julgamento um embate de leões. Teria a sagacidade das raposas? Seu nome não é fox.
A entrevista que concedeu ficará para a história como exemplo do peixe que vai pela boca, da fragrância exagerada da vaidade que o janota transpira. Tentando consertar o soneto declamado nos bastidores, publicou péssimo remendo. Revelou as vísceras do sistema, comprometeu seus pares. Viabilizaram-se todos pelos mesmos métodos? Provável que não. Mas o Tribunal e a Corte já não reluzem como há pouco. Como Fux, perdeu parte da magia. A pudicícia tem lá, no seu íntimo, certo despudor também.
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