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Haddad vence Serra até entre os conservadores

Apoio conservador garante liderança folgada de Haddad
Datafolha mostra que petista vence Serra em 4 de 5 segmentos ideológicos
Grupo identificado com valores conservadores é o maior de SP; nesse universo, Haddad ganha por 46% a 33%

RICARDO MENDONÇA
EDITOR-ASSISTENTE DE “PODER”

Na simulação de segundo turno da eleição paulistana, o candidato do PT, Fernando Haddad, vence o tucano José Serra mesmo entre os eleitores classificados como conservadores numa escala de posicionamento ideológico criada pelo Datafolha.

Nesse grupo, Haddad tem 46% das intenções de voto contra 33% de Serra. No conjunto, vence por 49% a 32%.

O dado chama a atenção porque em pesquisa semelhante feita pelo instituto em setembro o petista tinha o pior desempenho entre os conservadores, com 12%.

Naquela ocasião, o líder isolado nesse grupo, com 41%, era Celso Russomanno (PRB), hoje fora da disputa. Serra tinha 21%.

Os que se identificam com valores conservadores representam 33% dos paulistanos, o maior contingente na escala do Datafolha que agrupa os eleitores em cinco grandes lotes ideológicos.

Extremamente liberais são 6%. Liberais, 28%. Medianos (nem conservadores, nem liberais) somam 23%. E extremamente conservadores, 9%.

Haddad bate Serra em 4 dos 5 agrupamentos, principalmente entre os liberais.

Na pesquisa, o Datafolha usou como referência os métodos e a tipologia política do Pew Research Center em estudos sobre o voto americano.

Cada entrevistado na pesquisa de intenção de voto foi convidado a responder questões sobre valores sociais, políticos e culturais.

Os resultados revelam as opiniões dos paulistanos em vários temas da atualidade.

Pendendo ao conservadorismo, 62% acham que a maior causa da criminalidade é a maldade -34% a atribuem à falta de oportunidades iguais para todos.

Para 71%, adolescentes infratores devem ser punidos como adultos. Entre os mais conservadores, a opinião é compartilhada por 95%.

A maioria também é conservadora em questões sobre drogas e religião. Para 79%, acreditar em Deus torna as pessoas melhores. Para 81%, o uso de drogas deve permanecer proibido.

Pendendo ao lado liberal, 68% associam a pobreza mais à falta de oportunidades do que à preguiça, e 69% dizem que o homossexualismo deve ser aceito pela sociedade.
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Sobre conservadores e reacionários


Serra perde apoio entre evangélicos
Matheus Pichonelli

Há uma diferença entre um candidato que se diz conservador e outro, reacionário. Um conservador pode ser alguém avesso, por exemplo, a mudanças bruscas nos rumos da economia. Alguém que prefere a estabilidade da moeda e da inflação a uma intervenção aguda nos juros para incentivar a economia. Alguém que desconfia da eficiência do Estado para gerar emprego e renda ou mesmo para garantir, por leis e ações afirmativas, as diversidades ou a livre expressão individual no espaço público.

Em política, pode-se debater essas questões de modo honesto antes, durante e depois das eleições. A finalidade, por caminhos inversos, desboca num valor em comum entre liberais e conservadores legítimos: a justiça. Simplificando, uns a enxergam pelo caminho da igualdade, outros, pela liberdade sem interferências além das inevitáveis.

Este é o mundo ideal. Utópico até. Porque no meio do caminho existe o reacionário. E o reacionário é em si um sujeito raivoso, incapaz de apontar caminhos em direção a uma realidade mais digna para seu país, sua cidade, sua casa, seu bairro. O eleitor reacionário quer o retorno de uma velha ordem. O retorno de privilégios. Daí o nojo às normas formas de expressão. Daí o medo “dessas empregadinhas subirem na vida e se recusarem a trabalhar por mixarias”. Daí o medo de “esse aeroporto se transformar numa rodoviária”. O medo de ciclistas “atrapalharem as pirotecnias da minha SUV”. O medo de mandar “meu filho pra escola e dividir a carteira com o filho do motoboy”. Daí o medo das denominadas “ditaduras gays”.

Silas Malafaia é um reacionário. É um líder que espalha ódio para combater um elemento que ele não reconhece como humano simplesmente porque não nasceu como diz o mandamento. Em suas pregações, ele não diz se o Estado deve agir ou não para garantir a paz e a unidade, conceitos tão caros a qualquer cristão. Pede, em outras palavras, um aniquilamento, uma reação a um mundo de pretensa desordem. É um homem do antigo testamento pregando em 2012 num exercício similar ao esforço de segurar uma barragem com um graveto. Mal sabe ele que, como na música, “algo se perdeu, algo se quebrou, está se quebrando”.

Não fosse isso não haveria, em uma pesquisa Datafolha recente, 70% da população em São Paulo dizendo que a homossexualidade deve ser aceita por toda a sociedade, contra 23% que dizem concordar que “deve ser desencorajada”. Os 23% são muitos, é verdade, mas já não são maioria. E, diferentemente do que querem fazer crer, não estão restritos a evangélicos, católicos ou qualquer outra profissão de fé que tenha a paz como embrião.

Por isso, classificar um projeto anti-homofobia do Ministério da Educação como “kit gay”, tomar a parte pelo todo e dizer, em plena campanha para a prefeitura da maior cidade do País, que o programa empurraria os alunos para a homossexualidade, como se este fosse o temor de uma população em chamas, é no mínimo duvidoso. É o que se espera de Malafaia, um reacionário nato. Não de um candidato a prefeito. Qualquer passo em direção a isso soa a desfaçatez – como condenar a prática do aborto e ter um aborto no currículo, como dizer que o Estado não deve se intrometer na orientação sexual do indivíduo e ter lançado um “kit” semelhante. É um convite para o desembarque de um eleitorado progressista identificado com o PSDB fundado por Mário Covas.

Se a ideia era atingir o eleitorado “conservador” de uma cidade onde 79% dizem que “acreditar em Deus torna as pessoas melhores”, o tiro passou longe. Porque o cidadão pode ser conservador, mas nem sempre é burro, conforme poderia confirmar o ex-governador Claudio Lembo. E o perigo em subestimar sua inteligência parece exposto nos números da última pesquisa Ibope, que mostrou o petista Fernando Haddad com 16 pontos de vantagem sobre José Serra (PSDB) – 49% a 33%. 

Serra tinha 37% há uma semana, quando decidiu elevar o tom e trazer a homossexualidade para o centro do debate sobre os problemas de São Paulo, numa tentativa clara de afinar o discurso com o do pastor em guerra declarada por sua candidatura. E, ironia, foi justamente entre os evangélicos que ele mais perdeu apoio (de 37% para 28%) – neste grupo, Haddad tem 52% das preferências.

E por que Haddad ampliou a vantagem em relação à última pesquisa? Porque o eleitor é pouco instruído, alienado sobre o processo do “mensalão” e se contenta com migalhas de programas sociais como o Bolsa Família? Nada disso. A mesma pesquisa mostrou uma melhora da avaliação do petista justamente no centro expandido de São Paulo, onde o eleitor é mais escolarizado e, em tese, não precisa de programas sociais. Haddad chegou mais perto de Serra no conjunto dessas regiões, algo até então inesperado, conforme mostrou a CEO do Ibope Inteligência, Márcia Cavallari, ao colunista José Roberto de Toledo, do Estado de S.Paulo.

Segundo ela, Haddad passou a liderar em todos o segmentos de escolaridade, ampliou a vantagem entre os eleitores com ensino fundamental, manteve a dianteira entre os que cursaram até o ensino médio e empatou com Serra entre os que têm nível superior: 42% a 42%.

Este eleitor, que historicamente tende a rejeitar candidatos petistas em São Paulo, não parece preocupado com o “incentivo” à homossexualidade citada por Malafaia para atacar a campanha petista. Por um motivo simples: este eleitor não está no antigo testamento. Está em 2012. E não vai ser rifando direitos consolidados ao longo de anos, como bem frisou o ativista Toni Reis, presidente da Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais, que o candidato vai cativar um eleitorado supostamente avesso a mudanças. Nem falando alto com quem insiste em fazer perguntas incômodas. Nem associando o candidato rival a um escândalo ocorrido num tempo em que era professor de política na Universidade de São Paulo.

O eleitor conservador tem as suas preferências, mas identifica de longe o cheiro de oportunismo. Não é tratando-o como idiota que se conseguirá o seu respeito.

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