A imprensa e sua lei

Os donos do PIG estiveram reunidos ontem em Brasília para tratar, segundo eles, da liberdade de imprensa. Não é verdade. A preocupação é eliminar qualquer restrição na lei que os impeçam de usar seu poder para favorecer grupos, idéias, candidatos, em campanhas difamatórias, sem nenhum compromisso com a informação. A atual legislação, referendada pela Constituinte de 1988, é taxada pela mídia como herança da ditadura. Recentemente, por pressão do monopólio midiático, o STF revogou por liminar alguns de seus itens. O objetivo era proteger jornais, rádios e TVs de várias ações da Igreja Universal.

Neste clima, foi discutido ontem se a saída seria criar uma nova lei ou suprimir a atual. Falaram todos os donos do poder midiático, nem sempre antenados com o assunto principal, talvez com a cabeça mais voltada para suas planilhas. Roberto Civita, do grupo Abril, aproveitou para pedir liberdade também para os anúncios veiculados, ele não deseja restrições ao tilintar de sua caixa registradora. João Roberto Marinho, das organizações Globo, condenou as liminares que obrigam a publicação de longas resoluções jurídicas em seu jornal, o que não deixa de ser também uma preocupação com a caixa, visa economia do caro papel.

Segundo um ótimo texto de Bernardo Kucinski, na Revista do Brasil, o objetivo mesmo é continuar a velha prática do jornalismo de calúnia e difamação com impunidade. Em trecho, o artigo cita reportagem recente da Folha de S.Paulo contra Paulo Pereira, deputado do PTD e dirigente da Força Sindical:

“A central presidida por Paulinho mistura política retrógrada com a negação da política”. Até aí é um juízo de valor que o jornalista tem o direito de expressar. Mas logo em seguida ele parte para o insulto: “Este pequeno Lula paraguaio agora anuncia entre palavrões que vai entupir o Judiciário de ações contra jornalistas da Folha....” Numa única frase o jornalista insultou Lula, ao usá-lo como referência negativa, e os paraguaios, que não têm nada a ver com a história. E insultou o próprio Paulo Pereira.

Esta é a liberdade que desejam. Este é o velho hábito do papel registrar as mais notórias difamações. Vale a leitura do artigo da professora Isabel Lustosa na Folha de hoje, “A verdade que vem impressa nos jornais”. Ela estuda a nossa imprensa desde seus primórdios, e relembra uma polêmica coluna em jornal do Ceará, na sua infância, onde o autor, depois de contestado pela veracidade de fatos publicados, dizia: “Saiu no jornal? Então é verdade”. A professora é enfática em suas conclusões:

“Assim, recomenda-se ao leitor contemporâneo lembrar que não há texto neutro, que, na composição e no desenvolvimento de um texto jornalístico, na maneira de narrar e destacar um fato, estão também embutidas as paixões e os interesses do jornalista, do editor ou da empresa jornalística a que estão ligados. De modo que nem sempre o que sai no jornal é a expressão genuína da mais pura verdade.”

Se a sociedade não acordar, em breve os barões da mídia conquistarão o maior de seus desejos. Não terão que arcar com responsabilidades para suas inverdades, lei apenas para a internet, blogs e afins, onde o perigoso povo pode manifestar sua opinião sem o aval, dos “iluminados” jornalistas.
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E o ombusman começa se explicando

Começou mal a estréia do novo ombudsman da Folha. Teve que se explicar em sua primeira coluna sobre declaração em entrevista, uma semana antes, quando disse que, ao contrário da imprensa americana, a brasileira não vive uma crise de credibilidade. Foi preciso analisar palavras, conceitos, citar que a Igreja Católica goza de credibilidade, embora não influencie seus fiéis e mais outras filigranas.

Não deu. A imprensa nacional perdeu a capacidade de influenciar seus leitores pela notória perda de credibilidade. Fatos são abundantes para esta análise. Apenas o novo ombudsman não deseja ver.
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Radicalismo contra o terceiro mandato



Foto de Ricardo Stuckert/Presidência da República/Agência Brasil
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Espaços, atores e circunstâncias

Não é de hoje que Aécio Neves, governador de Minas Gerais, e Fernando Pimentel, prefeito de Belo Horizonte, mantêm relações de proximidade e cooperação. Sempre que aparecem juntos em público, a interpretação é uníssona: abriu-se novo espaço para entendimentos entre o PT e o PSDB. O quadro partidário treme e se agita todo, sinal evidente de que há algo naquela aproximação que o incomoda.

Pimentel e Aécio falam a língua do entendimento. Dizem que não agem com os olhos em interesses pessoais, que desejam armar uma aliança mineira sem a preocupação de saber que impacto nacional ela terá. Querem ampliar os espaços de intercâmbio e ganhar mais combustível para governar, mas também melhorar sua posição relativa no jogo político nacional. Andam na contramão de seus partidos, que vivem em guerra latente ou manifesta. De certa forma, atropelam-nos, superpondo-se aos planos políticos e eleitorais das cúpulas.

Dias atrás, a direção nacional do PT endureceu com o prefeito mineiro, afirmando em nota que "não autorizará, em nenhuma hipótese, o PT a participar de qualquer coligação de que faça parte o PSDB em Minas". Alguns dirigentes petistas acreditam que não é razoável afagar o PSDB num momento em que este partido é o principal pólo da “oposição radical” ao Governo Federal. Acham que alianças localizadas entre os dois partidos terminam por levar água ao moinho de Aécio Neves.

No caso do governador, sua movimentação também indica que ele busca consolidar um espaço de manobra exclusivo, indiferente a compromissos partidários e aberto a articulações ampliadas, que podem incluir até uma troca de legenda. No momento, o gestual político dedica-se a sinalizar, para os que disputam o espaço político tucano, que Aécio Neves tem cacife, não pode ser deixado de lado, nem minimizado. Ou seja, em poucas palavras, que é mesmo candidato à Presidência.

Em ambos os casos, a justificativa é uma só: preencher os espaços políticos, ir além das amarras impostas por partidos que já não mais refletem a sociedade, abrir os braços para todos os que queiram construir um “grande projeto” para o Brasil. Simultaneamente, luta-se para que Minas volte ao primeiro plano.

Espaços sempre existem em política. Raramente são desimpedidos e fáceis de ocupar. Derivam de circunstâncias objetivas e atos de vontade, de projetos e concepções, erros e fracassos. Dependem categoricamente dos atores para se converterem em espaços políticos positivos, ou seja, capazes de produzir efeitos construtivos sobre o processo social e o Estado. Caso contrário, ficam ali, vazios e inoperantes, servindo somente, quando muito, como plataformas para manobras de oposição, estocadas de adversários e sonhos mais ou menos delirantes de contestação.

PT e PSDB nasceram de um mesmo veio, a resistência democrática à ditadura e o esforço para dar voz política aos novos personagens que surgiam na cena brasileira por volta do início dos anos 1980. Tal veio se bifurcou em um dado trecho da estrada, gerando uma esquerda social, combativa e zelosa de seus credos, e uma esquerda moderada, institucional e despojada de substância doutrinária. Lula e FHC estavam juntos nos comícios do ABC e na fundação do PT, do mesmo modo que muitos tucanos de hoje foram petistas ontem e vice-versa. Há entre eles muitos pontos em comum, amadurecidos pelos longos períodos de exercício do poder. Com o correr do tempo, a pista bifurcada convergiu para um ponto de indiferenciação, quase a se diluir em uma imponente auto-estrada de mão única. Diferenças subsistiram, é evidente, e em alguns momentos explodem com virulência. Mas já não há mais como distinguir com nitidez programática e marcas de identidade profunda um tucano de um petista. Eles estão separados somente por um estoque de interesses, algumas mágoas acumuladas e muitos cálculos eleitorais. Claro que, por baixo do que aparece, correm rios caudalosos, a carregar idéias de Estado, utopias políticas, agendas de futuro, modos de governar e compromissos sociais. Isso tudo, porém, tem pouca força para emergir, ditar condutas práticas ou modelar discursos. Está sendo sugado pela globalização capitalista e pela “vida líquida”. São coisas que flutuam sem ter onde ancorar.

Se Fernando Pimentel e Aécio Neves acenam com alianças eleitorais de curto prazo mas têm em vista o futuro menos imediato, é porque espaços reais de entendimento existem. Ambos são políticos experientes e expressivos em suas respectivas constelações políticas. Falam, porém, sem o aval de seus partidos, o que pode indicar que estão basicamente a lançar balões de ensaio para 2010 e a demonstrar força perante seus adversários. Seus gestos e discursos não sugerem categoricamente uma aliança preferencial entre PT e PSDB, nem muito menos fusão partidária, mas sim o estabelecimento de uma base que suavize o confronto entre as duas principais organizações políticas do país e os beneficie como governantes e candidatos.

Mas a vida é dinâmica e poderá exigir que se leve a sério a idéia de formar um bloco político que compense o vazio de lideranças efetivas que tipifica o Brasil magnetizado pelo carisma de Lula. Se vier a ser este o caso, será inaugurado um novo caminho, cujos desdobramentos poderão beneficiar a governabilidade e democratização do país, ainda que não contenham necessariamente isso. Será, porém, um caminho explosivo, pois tenderá a implicar, mais que um reencontro entre PT e PSDB, a completa diluição desses partidos em constelações políticas mais ou menos invertebradas e sem alma. Cristalizar-se-á assim uma institucionalidade política mais suscetível a personalidades e movimentos que a organizações. Não há como prever, mas dá para imaginar, que eficácia democrática teria uma institucionalidade deste tipo. (Publicado em O Estado de S. Paulo, 26/04/2008, p. A2)

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Para os amigos, tudo

O podre governo de Álvaro Uribe segue ruindo e nossa mídia continua olhando o quadro com distanciamento e extrema ponderação. Um bom exemplo é o editorial da Folha de hoje, “Uribe e os paramilitares”. Segue um relato frio dos fatos recentes, como a prisão de Mario Uribe, estreito colaborador e primo do presidente, sem citar seu envolvimento com o tráfico de drogas. Ao final, de forma distanciada, o jornal especula que “talvez esteja se desenhando a "hecatombe" que Uribe uma vez mencionou como único fator que poderia levá-lo a tentar modificar uma vez mais a Constituição de modo a permitir-lhe disputar o terceiro mandato".

Quer dizer, no meio de uma saraivada de evidências do envolvimento do governo com as milícias de direita, seus métodos bárbaros, formação de quadrilha, envolvimento com o tráfico de drogas e plano de mudanças na constituição para conquistar um terceiro mandato, o jornalão não dedica nenhuma crítica, mantendo uma distanciada serenidade.

É o mesmo jornal que repete as mentiras sobre o envolvimento das Farc com o narcotráfico, que faz de Chávez o maior tirano da AL, que vive especulando sobre um possível terceiro mandato de Lula. Para tudo isso, não há economia de adjetivos.

Para Uribe, tirano, narcotraficante, chefe de quadrilha, a fleuma.
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Aliança PT-PSDB (Pimentel-Aécio) é vetada pela Executiva Nacional do PT

Uma resolução da Comissão Executiva Nacional do PT vetou ontem a aliança envolvendo o PT e PSDB em Belo Horizonte. A aliança costurada pelo prefeito Fernando Pimentel (PT) e o governador mineiro Aécio Neves (PSDB) em torno da candidatura de Márcio Lacerda (PSB), atual Secretário de Desenvolvimento Econômico do governo de Minas. O acordo favorecia as candidaturas de Pimentel para o governo de Minas e de Aécio para Presidência da República em 2010. O inusitado da aliança é justamente colocar um projeto regional do PT (governo de Minas) acima de seu projeto nacional (sucessão de Lula). Pimentel ao privilegiar a aliança com os tucanos criou fissuras na base de sustentação do PT na capital mineira. O PSDB, seu adversário, vinha sofrendo de inanição em Belo Horizonte, pois só elegeu um único vereador na última eleição municipal.

Com a insistência de Pimentel, os partidos da base no município – PMDB, PR, PV, PTB, PC do B e PRB (para citar alguns) – intensificaram as negociações políticas buscando posicionamento na eleição municipal, o que pode comprometer uma futura candidatura petista. O PT tinha a faca e o queijo na mão. Tinha tudo para formar uma ampla aliança em torno dos partidos de sua base em Belo Horizonte. Mas o prefeito e seus aliados preferiram o caminho de privilegiar os partidos de oposição política no município – PSDB e PSB -, em detrimento daqueles partidos que garantem a sustentação do PT no governo municipal. Era a condição para uma futura candidatura de Pimentel ao governo de Minas com a benção de Aécio Neves.

O resultado agora é incerto. O que se sabe é que Aécio acabou criando divisões dentro do PT e seus aliados. Em outras palavras, o governador mineiro sai vitorioso. A verdade é que Aécio ganharia independente do desfecho final. Se a aliança fosse concretizada, colocaria no lugar de um petista um aliado de sua confiança na capital mineira. De qualquer forma, sua imagem de conciliador foi reforçada, enquanto o PT sofre o constrangimento de vetar a aliança. Além disso, criou um fato político favorável à candidatura de Márcio Lacerda (PSB), um desconhecido do eleitor de Belo Horizonte, mesmo sem a presença do PT. O candidato do PSB deve ampliar sua aliança com o PPS. Se trouxer mais outros partidos – PV e PMDB, por exemplo - começa a incomodar o ninho petista.

Ficou mais difícil a tarefa de buscar aliados para uma candidatura petista visando permanecer à frente da administração municipal. Além disso, ficou nítido que os aliados do Pimentel não tem candidato competitivo na eleição municipal. O candidato do prefeito é Roberto de Carvalho (PT), um candidato com perfil difícil de emplacar, velho conhecido do eleitor da cidade. O melhor candidato do partido é mesmo o deputado estadual André Quintão (PT), afilhado político do ministro Patrus Ananias. Porém, em razão da maioria que o prefeito conquistou no diretório municipal do partido, dificilmente sairia candidato. E mais difícil ainda seria obter o apoio do prefeito, fundamental para o sucesso de uma candidatura em Belo Horizonte. A manobra de Pimentel foi uma clara antecipação das articulações com vistas às eleições de 2010. O prefeito buscou um atalho para evitar uma disputa direta com Patrus Ananias lá na frente, mas acabou mesmo é antecipando essa disputa. Assim, o partido e seus principais líderes no Estado saem enfraquecidos.

Clique aqui para ver a “Resolução da Executiva Nacional do PT”.

Clique aqui para ver “PT veta aliança com PSDB em Belo Horizonte para preservar 2010, diz Cardozo

Clique aqui para “Pimentel considera erro PT barrar aliança com PSDB
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Usando a régua

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Mundo acadêmico

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Caso Janaína Leite 4

Esclarecimentos de Idelber Avelar

Estou feliz pelas explicações de Idelber, reconhecendo erros em suas críticas precipitadas ao lado de manifestações contra Luiz Nassif e seu dossiê Veja. Desde quando manifestei estranheza em sua atitude, post que motivou aqui algumas reações, disse que seu temperamento era o de ponderação. Agora, o bom senso prevaleceu, tal como apostava.

O novo capítulo de Nassif

Luiz Nassif aprofunda as denúncias das relações venais entre a imprensa e os interesses de Daniel Dantas. Repete com mais detalhes questões anteriores e acrescenta novas. E ainda promete mais munição para breve. Li rapidamente, mas já vi que há um bom assunto para a próxima semana.

De pronto, algo chamou minha atenção: a reação de Janaína Leite em seu blog. Seu nome é envolvido diretamente em várias matérias parciais de interesse do banco Opportunity, trechos são citados, e sua defesa é dizer que “eu confio na Justiça”. Seria uma orientação da revista Veja, que responderá apenas na justiça, pensei? Onde talvez em breve esteja trabalhando? Afinal, hoje Reinaldo Azevedo elogia seu nome e seu blog. Diz ele que Janaína é o tipo de pessoa que gosta: “mata a cobra e mostra a cobra mortinha da silva”. Tentei entender a filosofia, mas confesso limitações frente à realidade. Uma frase de Janaína derrubou qualquer nexo do blogueiro da revista. Ao afirmar que a polêmica sobre seu nome será superada em breve, acrescenta que “daqui a pouco o espetáculo terá de ser um texto bem escrito, uma análise interessante, uma provocação bem colocada”. Vamos pensar numa coisa: a jornalista trabalhou em jornal diário, onde textos são feitos rapidamente, no mesmo dia, na pressão do deadline, certo? Mas, sobre o tanto que recai sobre seu trabalho, seu nome, só há promessa de texto para o futuro. Bastaria um único, nem necessariamente bem escrito, ou com provocação bem colocada, mas que contivesse sua versão. Que jornalistas são esses, como os da revista Veja, que só falam por advogados?
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Microsoft, mp3 e gafes



Eu sou apaixonada pelo Joy Division. Tenho todas as musiquinhas, acho que Love will tear us apart das coisas mais espetaculares que já ouvi, vi os documentários, o 24 hour party people é dos meus filmes favoritos e blablabla.

Mas sei que a expressão Joy Division não significa somente o nome da amada banda punk. Como vocês podem ver na Wikipedia ( esse verbete está certo, não é daqueles loucos não), Joy Division era o nome que os nazistas davam a um grupo de mulheres judias usadas como escravas sexuais em campos de concentração. O grupo punk inclusive tirou a inspiração (ei, eles eram punks e jovenzinhos) daí.

Aí, passa boi, passa boiada, rola o New Order, as músicas saem dos lps, vão para cds, e daí para formato mp3. E a Microsoft, para concorrer com o ipod, lança um tocador de mp3 chamado Joy Division.

Eu acho que é potencialmente uma gafe e tanto da empresa mais brega do mundo. E ainda deve dar problema, assim como o insuportável Vista que habita meu micro.
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Meninos, meninos...


Assisto e leio as polêmicas abaixo sem me meter porque acho que os meninos estão quase brigando pela bola, o campo e o meião, e eu acho tudo muito esquisito, já que o que move todos aqui - na metáfooooora - é jogar (e no mesmo time, aliás), but...
1. Acho que antigüidade não é posto, ainda mais em blog. Este aqui tem tão poucos meses de vida, tadico, é um bebê, ainda assim, já tem seu lugar.
2. acho que ser militante não é desmérito para ninguém, vide meu post sobre Michael Moore.
3. Acho que comentários anônimos são potencialmente chatos, mas eu não sou o sni nem a abin nem serviço secreto para querer saber quem é quem e quem esse aí acha sei lá do que sabe-se lá. (Exceções feitas a agressões, claro).
4. O que eu acho é que ter achismo vale. Mas eu tomo umas posições. Mesmo que na base do achismo, já que assim como uns clássicos que andam vendendo livros até hoje, eu tenho minhas dúvidas - sérias - sobre ter certezas. Estou sempre checando minhas idéias, e as mudando, e sei que posso mudar, admitir bons argumentos e... caros, sei que não posso saber a priori tudo. Saber quando vacilei e admitir isso faz um bem, mas um beeem... E estou aberta a críticas. Always.
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Caso Janaína Leite 3

Idelber Avelar me faz uma pergunta:

Você poderia esclarecer a acusação publicada aqui de que eu estou "enredado numa artimanha"?

Creio que foi enredado por conta de sua amizade com Gravataí Merengue, que o levou a manifestar posição de imediato sem uma boa análise da questão. Foram suas as palavras: “O jornalista Luis Nassif pisou na bola, feio. Acaba de dar um tiro na credibilidade do seu dossiê Veja.”

Segue defendendo Gravataí:

“Eis que chega Gravataí Merengue e faz o que todo bom pesquisador, jornalista ou não, deve fazer: ouvir todos os lados, checar fontes, reunir documentação, cotejar versões. E faz um post absolutamente irrefutável demonstrando o total vazio das ilações de Nassif contra Janaína.”

“Insinua que a jornalista faz parte de um grupo de Dantas e tenta incriminá-la com o fato absolutamente banal de que uma fonte tenha declarado, sob pressão judicial, ser efetivamente fonte da jornalista, tudo isso sem contestar qualquer dado factual da reportagem de Janaína na Folha.”


Sinto, mas o post de Gravataí é facilmente refutável. Aqui já coloquei a minha opinião a respeito, inclusive em resposta direta ao GM.

Em um sucinto resumo:

1) Não há uma única frase no dossiê Veja onde Nassif tente incriminar Janaína Leite como aliada do Opportunity. Há, sim, uma suspeição que seu trabalho serviu a estes interesses, baseado estritamente no método jornalístico adotado por ela, principalmente em uma reportagem citada.

2) Não há ilação sobre o fato de existir uma fonte da jornalista ligada ao Opportunity. Mas, recai uma severa crítica de ser esta fonte a ÙNICA na matéria citada, onde estava em jogo uma acirrada disputa comercial, envolvendo milhões, e o banco era parte da disputa, entidade com uma das piores folhas corridas do mercado, com vários processos em curso, inclusive sobre espionagem e falsificação de documentos.

3) A matéria da jornalista fala por si. Citei trecho onde Janaína acua claramente a juíza que deu sentença contra o banco. Os argumentos de GM são de que a jornalista desejava dar voz à juíza. Não foi o que vimos. Todas as perguntas feitas estão ligadas a fatos desprezíveis, não ligados diretamente ao caso, e tinham como a única fonte o Opportunity. A honra da juíza foi colocada em xeque, com insinuações sobre as motivações de haver declarado que recebeu proposta de suborno, que recebia passagens da Varig, que comprou um apartamento depois de sentença, que já havia sofrido outras penalidades jurídicas antes etc. Tudo, depois, esclarecido em favor da juíza.


Está claro, Idelber, que o caso Janaína Leite é polêmico. Caberia a ela, em seu devido momento, ter contestado Nassif por seu nome aparecer no dossiê. Mas isto não foi feito. Agora, e com a ajuda de Gravataí, surgiu como uma possível polêmica. Não é. O método de Nassif foi correto. Levantou hipóteses sérias que ligam o resultado do trabalho da jornalista aos interesses escusos do Opportunity. Caberia a ela explicar seu método, se houve pressões de seus chefes, se o texto foi alterado na redação, o que justificaria não ter ouvido as outras partes envolvidas. Nada, até agora, por ela foi dito nesta defesa. Infelizmente, o que fez? Acusou Nassif de ter interesses no dossiê por causa de dívida perdoada no BNDES. O que não pode ser sustentado, e é uma acusação leviana que nada a defende do que lhe cabe na reportagem parcial.

Em seu post, Idelber, no Biscoito Fino, há uma convocação:

“Convoco especialmente aos meus amigos blogueiros de esquerda a que emprestem seu apoio irrestrito à Janaína Leite e ao Imprensa Marrom neste episódio – pelo menos até que Nassif apresente alguma prova contra ela, o que, pelo jeito, ele não está em condições de fazer”.

Declaro que não empresto minha solidariedade a Janaína, defendo o método de Nassif, a importância de seu trabalho em desvendar as relações venais da imprensa com o poder econômico, e gostaria que você, por quem tenho admiração, reveja sua posição manifestada. Só posso crer que tenha sido enredado pela precipitação em ajudar amigos, ainda há tempo para corrigir.

Abraços,
Jurandir
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Para favelado, a ética da mídia é outra

O Blog do Mello fez no último sábado uma das mais esclarecedoras observações sobre a hipocrisia de nossa mídia. No jornal O Globo, no mesmo dia, na página 2, na coluna “Por dentro do Globo”, uma enfática declaração sobre o “método” jornalístico adotado pelo jornal para a escolha de fotos no caso Isabela. Diz o jornal:

“Desde o primeiro momento, O GLOBO evitou publicar as imagens de Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá, pai e madrasta da menina Isabella, assassinada no dia 29 de março. Nosso entendimento foi o de que sem acusação formal e sem laudos técnicos que dessem base para qualquer decisão, seria precipitado expor publicamente pessoas que, se posteriormente inocentadas, já poderiam ter sido “julgadas” pela imprensa e pela opinião pública.”

Interessante, né? É um bom critério.

Mas, no mesmíssimo jornal, no dia 16/4/2008, publicaram esta foto:



São todos negros, favelados, moradores do Morro do Alemão, que estão amarrados, posando sob mira de armas, acusados de pertencerem ao tráfico.

Os critérios do jornal para quem é da classe-média são bem diferentes dos adotados para com os favelados.
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ALIANÇA PIMENTEL-AÉCIO: A POLÊMICA DA ESCÓRIA DE CIRO GOMES

Um artigo publicado no Jornal O Tempo sobre a aliança PT-PSDB em Belo Horizonte, levanta a polêmica sobre a escória de Ciro Gomes.

Do Jornal O Tempo , 19/04/2008.

A escória de Ciro

VITTORIO MEDIOLI
Recebi uma carta da Assembléia Legislativa de Minas que informa o voto de repúdio ao Ciro Gomes subscrito por 16 deputados. Motivo do qüiproquó é a declaração de 20 de março do ex-governador do Ceará, "Aqui o que eu vejo é que a escória da política não tem espaço.

A hegemonia moral e intelectual que preside esse movimento que Minas está fazendo é tão eloqüente e importante que a escória da política deve estar apavorada com isso". Ciro abriu assim as comportas da insolência, mais uma vez, contra os que não aprovam a aliança PT/PSDB, aliança em volta de seu pupilo e ex-secretário Márcio Lacerda para prefeito de Belo Horizonte.

Quem não quer saber dessa aliança em Minas são pessoas (talvez não atinou o boquirroto) como os ministros Luiz Dulci e Patrus Ananias que representam a vertente mais "moral e intelectual" do PT.

Mas há muitos outros, que possuindo uma intelectualidade mais avantajada que a tropa de "comissionados e apadrinhados", enxergam na aliança Frankestein um casuísmo. Melhor, uma fórmula sutil de golpe branco que tolherá o eleitor de Belo Horizonte do direito de escolha. Dar-se-ia uma eleição que lembra as eleições em Cuba durante os últimos 50 anos.

Lá vence apenas um partido porque existe só um e apenas um candidato. Castra-se assim como machado o princípio básico da democracia moderna, a alternância no governo e na oposição fiscalizadora.

Não sei que "intelectualidade" pode se ajoelhar a uma fórmula sem propostas, sem programas, sem meta diferente que o poder pessoal de algumas pessoas diretas, beneficiárias desse acordo.

Ciro provavelmente tem algo a ganhar também, mas não o revela. O ex-governador se agita para defender a escolha de seu pupilo Marcio de Lacerda, ex-tesoureiro de sua campanha, ex-secretário executivo de seu ministério e titular (segundo a "Folha de S.Paulo") de 82% das doações para a campanha presidencial de Ciro em 2002.

Ainda principal articulador da transposição do São Francisco que assalta a região mais pobre de Minas em suas parcas reservas para o futuro. E por falar de "moral", ingrediente que Ciro usa como se fosse sua exclusividade, Marcos Valério declarou, e nunca desmentiu ter entregado a Lacerda R$ 1 milhão para cobrir dívidas de campanha de Ciro.

Ciro, na época, afirmou que processaria Marcos Valério por essa infâmia. Ele o fez? Mesmo com isso consegue enxergar uma "hegemonia moral" ao lado de seu pupilo, como se fosse hegemonia quem conspira contra seu próprio Estado, e uma "escória da política" que se opõe.

Em sua terra natal, Ciro considera "hegemonia moral" o irmão governador que viaja à Europa com mulher e sogra em jatinho alugado por R$ 388,5 mil, ainda com direito a diárias, e "escória" quem protesta por este assalto ao erário do paupérrimo Ceará. Afinal, de que lado está a escória de Ciro?

Comentário do blogueiro:
O presidenciável Ciro Gomes volta e meia se excede nas palavras, além de se colocar numa superioridade ética e moral. Na tão propalada aliança mineira, o deputado cearense classificou como escória os políticos contrários à aliança esdrúxula entre PT-PSDB, sob a tutela do candidato do seu partido, o PSB.

A hegemonia moral de Ciro Gomes tem perna curta. Sem ater aos detalhes, nunca ele esclareceu como foram pagas suas dívidas da campanha de 2002. Depois, fez de seu secretário executivo no Ministério da Integração Nacional justamente o principal financiador de sua campanha, o próprio Márcio Lacerda, pré-candidato na aliança de Belo Horizonte. É só um começo.

Mas o que intriga mesmo é sua capacidade de inversão dos fatos. Aécio Neves, sem entrar no mérito de seu governo, é ligado ao que existe de mais tradicional na política mineira. Pimentel aliando-se com Aécio Neves se credencia para obter o apoio desse grupo político para uma candidatura ao governo do Estado. É a velha política clientelista das antigas famílias se perpetuando. Enfim, a verdadeira escória. Daí aparece o Ciro Gomes para dizer que na aliança de Belo Horizonte não tem lugar para a escória. Políticos mais comprometidos com a questão ética e moral dentro do PT como Patrus Ananias e Luiz Dulci, contrários à aliança, passaram a ser escória. Será esse o entendimento de Ciro Gomes? Inaceitável o posicionamento do presidenciável.

O artigo também tocou num ponto fundamental: a possibilidade da aliança representar um golpe branco que tolherá o eleitor de seu direito de escolha. Só assim alguém sem qualquer representatividade política na capital mineira como Márcio Lacerda poderá tornar-se prefeito. Pimentel e Aécio manipulam pesquisas para dizer que a população apóia a aliança PT-PSDB. O que isso quer dizer com relação à candidatura de Lacerda? Absolutamente nada. A população aprova a aproximação entre PT e PSDB, não o acordo como está sendo feito. Não tem nada que os autorize a dizer isso.

Sobre Ciro Gomes, é um político de qualidades, não escondo certa admiração, mas tem seus pecados. Só acrescento que ele não é mineiro, muito menos belo-horizontino. A eleição na capital mineira não lhe diz respeito. O fato de que o acordo costurado pela dupla Aécio-Pimentel favoreça seu principal financiador não é motivo para aceitar seu descontrole verbal. É isso.
Clique aqui para saber mais sobre o acordo Pimentel-Aécio (PT-PSDB) em Belo Horizonte.
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The Economist: Brasil superpotência econômica

Nos anos 70, em plena ditadura militar, era acalentado na mentes dos brasileiros o sonho do Brasil Gigante. Em busca desse sonho, os governos militares, principalmente quando o czar da economia era Delfim Neto, expandiram investimentos em diversos setores com vistas a reduzir a dependência de insumos básicos, substituir importações e diversificar o parque industrial nacional. Com a crise do final da década, o país passou por um longo período de crises, inflação elevada, dívida externa, desequilíbrio fiscal e, sobretudo, baixa capacidade de investimento do Estado e da iniciativa privada.

A boa notícia é que isso ficou na história. O momento que o país vive é histórico. Um governo de esquerda, de um partido que nasceu das lutas operárias contra a ditadura militar, cada vez mais deixa o país próximo do sonho do Brasil Gigante, uma superpotência do Cone Sul. A política externa do país colocou o país como ator na cena política mundial. O país deixou de ser mero reprodutor de políticas de Washington para a posição de liderança nos organismos multilaterais mundiais.

Por outro lado, o país conseguiu aliar políticas redistributivas com crescimento econômico. Na época dos militares, o lema era crescer o bolo para depois distribuir a renda. Era uma velha oposição entre crescimento e distribuição de renda. Segundo essa fórmula, ou o país crescia ou distribuía renda. No governo Lula, a equação econômica mudou. Com os programas de transferência de renda, como Bolsa Família, a queda na desigualdade social passou a ser o motor do crescimento econômico. A explosão de crescimento dos setores mais pobres da população gerou um círculo virtuoso sobre a economia: mais renda, elevação do consumo das famílias, aumento da geração de emprego, que produz mais renda e o círculo se repete. É o país crescendo e distribuindo renda, ou será que é o contrário?

Mas de que mesmo trata este post? De um país que deixou para trás o privatismo do Estado. De um país que amplia sua presença no mundo, ampliando as oportunidades para as empresas brasileiras, gerando mais emprego e renda para os brasileiros. De um país que é cada vez mais estratégico para a economia mundial, seja pelas riquezas minerais, seja pela agricultura que ocupa posição de liderança ou de suas fontes energéticas renováveis. Esse país é o Brasil, uma superpotência econômica, na definição da importante revista inglesa The Economist.

A revista destacou o crescimento de 5,4% do PIB brasileiro em 2007 e sua pujança como produtor de matérias-primas. De acordo com a publicação, as razões para o crescimento brasileiro atual são três - o controle da inflação, o fim da dívida externa e a democratização. A descoberta dos campos de petróleo e gás de Tupi e Júpiter, mais o potencial estimado do campo de Pão de Açúcar, na bacia de Santos, transformariam o País no oitavo do ranking mundial dos produtores de petróleo. “Conseguiria o Brasil se tornar uma potência do petróleo assim como é um gigante agrícola?”, questiona a revista. “De todas as commodities que o Brasil exporta, o petróleo foi considerado, durante anos, como o menos relevante, devido a reservas modestas.” Se as recentes descobertas se concretizarem, o Brasil estará lado a lado com Venezuela ou Arábia Saudita, publica a revista. Estamos no caminho certo em busca do sonho perdido. O gigante adormecido enfim acordou.
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Caso Janaína Leite 2

Recebi este comentário de Idelber Avelar:

Ah, meu caro Jurandir, que fácil seria se o mundo fosse tão facilmente divisível entre bons e maus!

Não podemos criticar a mídia e reproduzir o método de demonizar sem checar fatos, dizer inverdades sobre os outros. Vamos contar as inverdades?

1. Janaína não "pediu" apoio a ninguém. Gravata foi lá e fez da cabeça dele. Essa é uma mentira grave, quando se trata da reputação de alguém. De onde você tirou que ela pediu?

2. O Imprensa Marrom é um blog de monitoramento da imprensa. Nos links, está Reinaldo Azevedo como está Nassif. Está o Globo como está o Dia. Está a Veja como está a Carta Capital. Deu para entender? RA não é "favorito" do Gravata. É só ler os posts dedicados a RA, TODOS eles críticos. Você leu ou não leu?

3. Não "estou enredado em artimanha". Li um conjunto de textos e fiz o que sempre faço, pensei com a minha cabeça.

4. Gravata é chato, arrogante, mete os pés pelas mãos, generaliza e critica gente que não merece (como o Rovai). Mas "neocon"? Qual sua definição de "neocon"? A Soninha é "neocon? Se você for definir "neocon" por associação, pelas companhias, neste país não sobra um, meu irmão.

5. Não há ninguém "fraudando" polêmica. Fraudar é achar que não há aqui uma polêmica genuína.

Além dessas inverdades, há a situação meio embaraçosa, eu acho: 24 horas ANTES do seu post, a parte que você defende, o Nassif, publicou um post RETRATANDO-SE do ataque à Soninha. Fica meio ridículo defender uma ação da qual o próprio autor já se retratou, não acha?

Você diz que Janaína "diz muito pouco" sobre o que Nassif acusa. É óbvio que diz pouco. É Nassif que tem que provar a acusação. E não provou. E já reconheceu que não provou, em correspondência comigo. Quando e SE provar, apresento o argumento. Por enquanto, mantenho o princípio da presunção da inocência (aquele princípio que nós, de esquerda, cobramos tanto quando as vítimas das acusações somos nós, lembra-se?).

Agradeço-lhe muito a menção e o reconhecimento do Biscoito como um dos mais "clicados" blogs. Acho que já deve ser mesmo. E sabe por quê?

Porque quem vai lá sabe que posso errar; posso fazer análises com as quais o leitor discordará. Mas jamais vou, por exemplo, dizer que alguém "pediu" algo a alguém sem ter certeza de que estou dizendo a verdade. Daí vem a credibilidade do Biscoito, meu caro Jurandir.

Se não nos pautarmos por esses princípios, perdemos a moral para atacar a "mídia golpista". Um abraço afetuoso e grato pelo espaço.



Respondo:

Caro Idelber,

É um prazer contar com sua visita e participação.

1) Esta é sua mais grave acusação, professor? Eu e muitos tomamos conhecimento da defesa e acusação de Janaína Leite contra Nassif via Gravataí Merengue, que rapidamente se colocou como seu advogado, é até como assim brinca, comento no post abaixo. Imagino que os dois tenham se entendido sobre o assunto. Se ele se ofereceu como voluntário ou se ela pediu sua ajuda não me parece ser o fundamental do muito que envolve este assunto.

2) Li. E pesquisei no Google . O resultado é de exatas 638 referências neste momento. De fato, a maioria com críticas e refutações aos argumentos do blogueiro da Veja. Isso não lhe parece ser uma grande fixação? Que importância tem RA para merecer esse monitoramento constante? Para tal é necessário um acompanhamento diário, incluindo a pesada e ingrata leitura de seus textos?. Desconfio até de um sério desvio de conduta. Talvez algo como uma Síndrome de Estocolmo.

3) Não esperava outro comportamento, baseado no que conheço a seu respeito. Apenas manifestei temor.

4) No post abaixo argumento ao Gravataí o que penso. Em resumo, as posições recentes dele me parecem colocá-lo nitidamente como um neocon. Ele vem sendo um constante crítico de setores da esquerda, sua mídia. Mas como vocês se conhecem há muito, estou torcendo para que tenha razão.

5) Vamos dar a devida atenção ao contexto. Disse fraudar a polêmica que envolvia os ataques de Janaína Leite ao Nassif, como supor que ele tem interesse em condenar a Veja por ter dívida perdoada pelo BNDES. É mera ilação, já desmentida, e configura um nítido argumento ad hominem.

Não, professor. Eu estou fazendo uma defesa do Dossiê Veja do Nassif, no que toca o caso Janaína Leite. Sobre Soninha, apenas fiz um comentário a ela, no Biscoito, no último imbróglio do Gravataí, quando ele atacou o Rovai. Disse apenas que ela tinha feito uma má escolha de assessor. Moro no Rio, pouco conheço da atuação da vereadora.

Disse que Janaína diz pouco em defesa dos critérios de sua reportagem. Posso não concordar com algumas palavras usadas por Nassif, mas acredito que ele usou um método correto para tentar desvendar as suspeitas sobre a atuação de Daniel Dantas nas redações.

Eu não acho que existe uma acusação a Janaína. Não é pelo fato dela assinar uma reportagem que tenha que arcar com todo o peso da parcialidade de seu texto. Existem editores e responsáveis pela pauta. O que dizem? O que diz Janaína sobre o método que usou para as escolhas feitas na matéria? Li os argumentos da jornalista e não vi claramente esta defesa. Quem o fez foi Gravataí, argumentando que a escolha, depois da reportagem do Globo, seria dar voz a juíza que sofria pesada acusação. Não é o que concluímos do texto da reportagem. Se Nassif tem agora outra visão, compartilhada apenas com você, vamos aguardar. Até agora permaneço com o que li, acompanhei e pesquisei.

Discordo sobre o motivo do Biscoito Fino fazer sucesso ser devido apenas a sua notória credibilidade. Há muito de informação, ótimos comentários, sempre bem moderados e incentivados. Não tenho a menor pretensão de conquistar o mesmo com meu modesto blog. Mas certamente gostaria também de ser reconhecido pela credibilidade. Para tal, tenho por princípio ser coerente com os critérios dos meus pensamentos e de meu coração. E não aceito que nesta barafunda, onde você incendeia a blogsfera na dúvida sobre a credibilidade do dossiê de Nassif, este erra em palavra ao se referir a jornalista, esta erra em acusá-lo sem provas de ser beneficiário de perdão do BNDES e Gravataí erra em várias direções, seja eu, em meu modesto cantinho, que vou aceitar ser acusado de mentiroso por ter dito que Janaína “pediu” ajuda a Gravataí, se na verdade foi ele quem se ofereceu, ou um terceiro sugeriu, ou na verdade foi resultado de algo espontâneo entre as partes. A ajuda houve, assim concluí por ser o mais óbvio. E de tudo, é o fato mais desimportante. Deveríamos focar na questão central onde está em curso a luta da sociedade contra as praticas venais da mídia, compromissada também com os interesses das idéias mais atrasadas e golpistas.

Conte com meu empenho e minha consideração aos seus ensinamentos.

Forte abraço,
Jurandir
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Caso Janaína Leite 1

Recebi este comentário de Gravataí Merengue:

Oi, Jurandir. A questão crucial é que ninguém debateu o CONTEÚDO da defesa que fiz de Janaína.

Sou amigo de gente conservadora e de gente progressista. Tenho amigos miliatares e militantes.

Neocon? Não, não sou. Defendo casamento gay, liberação de drogas, descriminação do aborto (antes da formação do córtex), livre manifestação, separação igreja/estado etc.

É bem provável que minhas idéias sejam diferentes daquelas da maioria da esquerda brasileira, mas é preciso saber separar o que é a "esquerda brasileira" e o que é a esquerda no espectro político realmente científico (e não simplesmente partidário).

Quanto aos links, minha página oferece acesso tanto a Reinaldo Azevedo (de quem não gosto) quanto para Nassif (de quem gosto, apesar de ter-me xingado sem motivo).

No mais, reitero o pedido para que o debate se mantenha no campo dos fatos e argumentos. VocÊ diz que eu expus um amontoado de palavras, sei lá, usou algo pejorativo.

Mas não os contestou. Assim fica difícil.

No mais, parabéns pelo blog, não o conhecia. Um abraço.


Gravatá


Respondo:

Gravataí,

Também convivo e tenho amizade com pessoas de um amplo arco ideológico. Não tenho a menor dificuldade em conversar, debater, contestar e ouvir argumentos. Faço isso com regularidade e posso adiantar que, no geral, ao menos de minha parte, consigo chegar a lugar nenhum de forma recreativa, lúdica, sem corpos estirados no chão. No máximo copos. Mesmo assim, mais bebidos do que quebrados.

Não considero ter usado um anátema quando o chamei de neocon. Há quem se vanglorie em ser. É neologismo, vem sendo bastante empregado, e se refere a um novo tipo ex-liberal, ex-socialista, que desencantado adota posturas conservadoras. Gosto da definição de Paul Gigot neste link. O que poderia melhor definir suas variadas posições recentes em atacar a mídia independente e agora, em particular, Luis Nassif? Seria seu desejo ser encaixado em algum novo tipo de esquerda? Que causa seria a sua? Há uma insistente parcialidade, agora mesmo você ameaça um novo tema: “... até por isso que logo mais publico o meu "Dossiê Caros Amigos". Próximas vítimas? Há uma nítida fixação sua em condenar apenas um lado do aspecto ideológico. Quando virá seu Dossiê Ricardo Sérgio de Oliveira? É nome que causa arrepios em tucanos. Algo que imaginam estar bem varrido para debaixo do tapete. Seria uma boa causa. Topa, doutor?

Não fui pejorativo ao dizer que você “expeliu um monte de palavras”. Você mesmo se reconhece como um compulsivo argumentador. Atua agora como um logorréico advogado, de forma declarada: “Senhores jurados, vocês concordam com a tese de acusação de Luís Nassif?”, disse você brincando ao fechar seus argumentos.

Mas vou concordar a aceitar ficar restrito ao campo dos fatos e argumentos. De tudo, quero me concentrar na parte do Dossiê de Nassif que fala da relação Dantas-Janaína - Juíza Márcia Cunha, onde mais você usou palavras e grande empenho nas argumentações. Para que muitos possam entender os fatos e o que está em jogo, tenho que lembrar o contexto da situação como intróito. Uso como fonte os próprios textos citados e outros, onde cito a fonte:

Em abril de 2004, os fundos de pensão e o Citigroup propuseram uma ação na justiça para invalidar um discutível “contrato guarda-chuva”, que dava plenos poderes de gestão a Daniel Dantas e seu Opportunity, a parte minoritária da Brasil Telecom. Ele havia sido validado nas artimanhas de Dantas e no cochilo dos outros. Quem tiver tempo e paciência, sugiro este texto da ANAPAR – Associação Nacional dos Fundos de Pensão. Ele bem relata as maracutaias de Dantas e seu método.

Em maio de 2005, a juíza Márcia Cunha proferiu sentença anulando os efeitos do contrato. O mundo caiu sobre sua cabeça. Ou melhor, o Opportunity caiu sobre ela. Como não havia melhor defesa jurídica sobre a manutenção do contrato, a saída foi justificar que a Juíza não era a autora da sentença. Chegaram a comprometer ridiculamente Antonio Olintho, da ABL, que deu parecer favorável aos reclamantes. Como se fosse ainda possível piorar a grotesca situação, a Juíza acusa o Opportunity de tentar corrompê-la.

No meio de tal imbróglio, com nítida disputa de interesses, Janaína Leite é chamada para acompanhar o caso no Rio. Pergunto a você, Gravataí, e a todos: o que seria mais lógico que a jornalista tentasse saber? O que seria do interesse dos leitores? O que foi feito está registrado na reportagem da Folha, de 7/10/2005, assinada por Janaína Leite. Nada fica claro sobre os interesses envolvidos. A juíza fica acuada em posição de ré. Ao final da reportagem, há uma ilustrativa entrevista:

Folha - A sra. foi a autora da sentença contra o Opportunity?
Márcia Cunha - Essa pergunta chega a ser ofensiva. Por sorte, tenho testemunhas que me viram escrevendo. É uma tentativa de desmoralização.

Folha - O texto é muito diferente dos padrões das suas decisões anteriores. Por quê?
Márcia - É um processo complexo, com 18 volumes.

Folha - A decisão saiu em poucos dias. A sra. leu tudo?
Márcia - Claro, eu tinha lido o processo há mais tempo porque dei outras decisões, inclusive favoráveis ao Opportunity.

Folha - A sra. disse que houve uma tentativa de corrupção por intermédio do seu marido. Por que não colocou isso por escrito na sua defesa?
Márcia - Como a senhora sabe disso? Não posso dizer, é algo de maturação sigilosa.

Folha - Mas a sua defesa é pública. E por que denunciar só agora, pela imprensa?
Márcia - Existem coisas que só podemos dizer quando há provas. Naquela época não tinha provas. Só vim a público porque o Opportunity estava distribuindo dossiês contra mim nas redações de jornais, com coisas falsas.

Folha - Na entrevista a "O Globo" a sra. falou que tinha fitas mostrando o diálogo. Houve outras conversas com seu marido?
Márcia -Não vou falar sobre isso. Ir contra os interesses deles expôs meu nome, sai uma coisa torta no jornal e eu nunca mais recupero a idoneidade.

Folha - A sra. comprou um apartamento de quatro quartos em Ipanema pouco depois de dar a sentença?
Márcia - Meu Deus, que absurdo! Eu moro de aluguel.

Folha - A sra. mudou quando?
Márcia -Em maio. Aluguei de um casal de velhinhos.

Folha - A sra. ganhou passagens da Varig?
Márcia - A assessoria do tribunal já esclareceu esse assunto. Não vou falar sobre isso.

Folha - A sra. foi a Nova York por conta própria?
Márcia - Para Nova York? Eu fui para os Estados Unidos em uma viagem pessoal em maio e só passei uma noite em Nova York. Fui acompanhar uma pessoa doente. Quem pagou foi ela.

Folha - Casos envolvendo a sra. já foram enviados ao Órgão Especial antes?
Márcia - Não. Tudo isso não passa de uma enorme mentira para macular meu nome.

Tirem suas próprias conclusões.

Como você acusa Nassif e defende Janaína?

1) Diz que um erro de Nassif foi ter dito que Janaína não identificou a fonte de tantas acusações, só depois confirmada ser o Opportunity.

2) Diz que a acusação contra a juíza foi acatada pelo Conselho de Magistratura “(por unanimidade!)”, ênfase sua. E em setembro, antes de entrevista ao Globo. Não caberia a Folha repetir a notícia, mas sim dar espaço para a juíza se defender.

3) Você defende a suspeição da juíza, diz: “E a suspeita, vale ressaltar, não foi pelo longo número de páginas, mas por dois fatores: a) a juíza proferia decisões manuscritas; b) a juíza não proferia decisões "longas".

4) Diz: “Janaína única e tão-somente informou ao leitor os fatos que eram apurados pelas instâncias oficiais do judiciário fluminense. Mas, lendo o texto de Nassif, mais parece que a repórter é que foi a autora da denúncia”.
5) Critica a afirmação de Nassif que depois a cobertura voltou às mãos “sérias” de Elvira Lobato.

Creio que estes 5 pontos são todos, ou ao menos são o essencial dos seus argumentos. Vamos a eles:

1) Em uma reportagem com tantos interesses e acusações pesadas sobre a juíza (que depois foi inocentada) caberia a repórter a obrigação de citar a fonte. Se não o fez, demonstrou culpa por isso demonstrar nítida parcialidade com os fatos.

2) Foi dado espaço para a juíza se defender? Tive pena dela. E por que não ouvir as outras partes com interesse no processo? Nada sobre o interesse dos milhões que envolviam a decisão da juíza? Só vale o Opportunity como fonte? E os fundos? O Citi?

3) Um dos argumentos foi de que havia diferentes grafias para “Nova York”. Convenhamos.

4) Vamos ser coerentes. A reportagem do Globo ao menos citou os envolvidos na acusação de corrupção e as relações existentes. Nassif não acusa Janaína por ser autora da denúncia. Ele suspeita que a reportagem foi parcial em não dar chance ao leitor de entender o que estava em disputa. O que me parece é que na reportagem da jornalista e na sua defesa está claro que a juíza é perigosa ré, e não vítima, como depois foi apurado.

5) Concordo com a gravidade da alusão de Nassif de que Janaína não foi séria. Ao menos não foi uma boa escolha de palavra. Mas creio que este texto de Elvira é muito mais informativo.

Quero só acrescentar que não tenho elementos para dizer que Janaína tinha algum compromisso com Daniel Dantas. Nem vi em Nassif uma acusação clara neste sentido. Há muito a considerar, podendo ser interesses da própria redação, de Janaína em agradar seus chefes e garantir seu espaço. Minha preocupação é de que a série de Nassif vem servindo para abrir uma necessária cortina da nossa sociedade. A mídia tem compromissos com o poder econômico e com claros setores ideológicos, sim. Isto é visível e hoje uma questão importante a ser levada por toda a nossa sociedade. Sua defesa de Janaína é fraca, falta melhores argumentos. Houve parcialidade na reportagem e é natural que existam suspeições sobre os infinitos interesses envolvidos.

E obrigado pela atenção e seu elogio ao nosso blog.

Abraços,
Jurandir
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Não dá pra entender.

O emprego formal cresce, e o jornal da decadente classe média carioca insiste em criticar a metodologia da pesquisa do IBGE que conta os informais como pessoas ocupadas (chegando a usar aquelas "aspas irônicas" que qualquer professor de comunicação condena veementemente. Aliás, mesmo defendendo de forma ridicularmente coorporativa, ilegal e datada a necessidade do diploma em jornalismo, os "jornalistas" - olha eu usando as tais aspas - que escrevem nos jornalões desconsideram estas básicas recomendações de seus professores), e que desta maneira, inflacionariam, de acordo com a matéria d´ O Globo nestes dias, o índice de brasileiros empregados.

Na boa, eu costumo entender as coisas. Mas cada dia entendo menos.

Estas empresas professam em seus cotidianos trabalhistas relações informais, acham que contratar pessoas jurídicas é o futuro, freelances é o que há e viva a desregulamentação do mercado do trabalho. Afinal, a clt onera o capital, este pobre diabo. E pô. Aumenta o custo-brasil, que comparado com o de países asiáticos é um escândalo, e viva o discurso do nosso príncipe 'a era vargas acabou".

Afinal, o que vale na conta? O que deveria valer na conta do IBGE? Freela conta? Ou merece as tais "aspas"?
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Banco Mundial: Uso de recursos do Bolsa Família é adequado

Na visão do vice-presidente do Banco Mundial para a área de Desenvolvimento Humano, Joy Phumaphi, a taxa de adequação no uso de recursos do Bolsa Família é um dos maiores entre os projetos sociais desenvolvidos em todo o mundo. Segundo ele, o programa de transferência de renda dá lições para o mundo.

O que o executivo do BIRD disse apenas confirma as análises do banco feitas até agora com relação ao programa. Mas também mostra a falta de sintonia de nossa imprensa e da oposição política quando se trata de melhorar as condições de vida dos mais pobres. Na semana passada, publicamos neste blog sobre os preconceitos da imprensa brasileira na visão do BIRD com respeito aos programas sociais. Uma visão de fora das políticas do governo Lula mostra que elas são acertadas e contribuem para a redução da desigualdade social. Clique aqui para a matéria completa no Jornal da Mídia.

Clique aqui para saber tudo que foi publicado neste blog sobre o Bolsa Família.

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O PIG e sua cortina de fumaça (2)

Atento leitor sugeriu algo muito lógico. Segue o segundo clichê da mesma charge. Viva o leitor, que se danem os geógrafos! :-)

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Os neocons saíram do armário

Desde o início do Dossiê Veja do Nassif uma coisa me intrigou: o silêncio daquela indústria que imprime milhares de páginas semanais em suas variadas publicações. Não esperava uma réplica sincera, longe disso, mas contava com alguma resposta, mesmo que falsamente jornalística. Confesso que o desenho das minhas expectativas era medonho. Vasculhariam a vida de Luis Nassif até a quinta geração. O resultado seria talvez uma reportagem que denunciaria qualquer coisa, nem que fosse o avô que tirava meleca na sala de aula. Nada, silêncio total. Apenas sei que a revista o processa. E que o advogado da parte que reclama disse a imprensa:

“O jornalista, no seu sacerdócio, deve ser sereno como um juiz, honesto como um confessor, verdadeiro como um justo.”

Com tais belas palavras, imediatamente pensei em Reinaldo Azevedo, um dos reclamantes, muy notório pela serenidade. Hilário!

Mas, nada. E nada, nada, nada.

Inevitavelmente, do silêncio imaginei uma confissão de culpa. E seguiu o baile.

Agora, tardiamente, alguém que está envolvido nas denúncias veio às falas. E condena Nassif. Não está só. Precisou de intérpretes e advogados.

Entre eles, para minha maior surpresa, estava Idelber Avelar, professor de português e espanhol na Universidade de Tulane, em New Orlens, dono do O Biscoito Fino e a Massa, um dos mais antigos e clicados blogs, por quem devoto grande respeito e admiração. Idelber tem uma pauta de assuntos sempre interessantes. Sua marca é o bom texto, ótima moderação com a cabeça fria para negociar divergências. Neste caso, contraditoriamente, fecha com um dos lados, que frauda polêmica para reagir contra a Luis Nassif.

A parte que se defende e acusa é Janaína Leite, repórter da Folha de S.Paulo, citada no tal dossiê por ter feito matérias que beneficiariam Daniel Dantas, do grupo Opportunity. O que ela diz? Muito pouco sobre o que Nassif a acusa. Diz que são ilações, nada há o que prove seus compromissos com Dantas.

Pausa para uma memória história: Daniel Dantas é uma praga. Natural que ninguém entenda corretamente o que ele faz na sociedade brasileira. Nada quase é dito na imprensa diretamente. Ele só opera nos bastidores, nas sombras, a custa de uma atuação empresarial agressiva e de bons mimos ao mercado. É considerado por seus fãs como o melhor “player” do capitalismo moderno brasileiro. Traduzindo, é o mais competitivo jogador do tabuleiro de monopólio em nossa terra. Ganhou muito em “inside information” do Plano Collor, muito mais se imiscuindo nas privatizações do sistema telefônico brasileiro. Baiano, é cria de Antônio Carlos Magalhães, que o tinha quase como um filho. Para ACM, Dantas fornecia ilícitas gravações de ligações telefônicas de seus desafetos, que eram usadas muitas vezes em plenário para acuar as vítimas de infidelidade matrimonial, partidária ou outras infâmias. Por este motivo, Toninho Malvadeza também era chamado de “grampão”, o que motivou a herança para seu neto deputado da jocosa alcunha de “grampinho”. Fecha memória.

E o que mais diz Janaína em seu blog? Que Nassif foi beneficiado pelo governo de Lula, via BNDES, em perdão de dívida de R$ 1.901.297,34, o que o comprometeria na legalidade de suas acusações. Denúncia que não dura muito. No próprio blog do Idelber, comentário de leitor, funcionário do banco estatal, explica que dívidas neste banco têm vários andamentos possíveis de renegociação. Nassif refuta o perdão, explica ter sido uma negociação e lembra que é fato anterior ao seu Dossiê Veja. Nada determina uma correlação de causa e efeito.

Janaína contou com o apoio de um conhecido blogueiro, advogado, que atua em sua defesa: Gravataí Merengue, ou Fernando Gouveia, seu nome verdadeiro. Em seu blog, um dos mais antigos da blogsfera, expele um amontoado de letras para fazer valer sua notoriedade como polêmico polemista, tal qual dito recentemente pela vereadora Soninha, ex-PT, de quem era chefe de gabinete. Sua notoriedade maior é a de ser um crítico e militante radical contra toda a manifestação de esquerda na internet. Recentemente usou sua verve contra André Lux, antigo blogueiro, em baixíssimo nível de crítica; contra Renato Rovai, diretor da revista Fórum, o acusando de ser beneficiário como empresário do governo Marta Suplicy. Em todos os casos houve reação.

De tudo, o que mais me incomoda, é ver o professor Idelber enredado na mais clara artimanha política. Não há duvida, e isso pode ser claramente comprovado, que Janaína Leite e Gravataí Merengue são nítidos neocons, que têm Reinaldo Azevedo em seus links favoritos e Mainardi como amigo. Os dois, portanto, têm envolvimento com parte da disputa em questão.

De minha parte, continuo acreditando que Nassif presta o melhor serviço a este país, ao denunciar o comprometimento da mídia com os mais escusos dos interesses, seja o de favorecer empresários corruptos ou ao projeto ideológico do mais deslavado golpismo. Natural que tentem agora, mesmo que tardiamente, de forma atabalhoada e simplória, o atacar.

E muito triste estou em ver o blog de Idelber, tão lido, ser envolvido nesta bussanha.
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O PIG e sua cortina de fumaça

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Ah, se fosse Petrobrax...

Miriam, a suína, como diz a nossa Kelly, não gosta da Petrobras. Adora a Vale. Ah, a Vale, que exemplo de gestão. Uma empresa que tinha a maior mina de ferro do mundo, patrimônio milionário, nas mãos erradas... Por isso teve que ser vendida por menos do que lucrava em 4 meses. Ah, a Vale, e seus jovens gestores. Quanto progresso. Se a Petrobras fosse agora Petrobrax, como FHC e seus mauricinhos tucanos queriam, como tudo seria diferente.

Por exemplo, dona Miriam conseguiria um furo de reportagem. Teria obtido do diretor-geral da ANP a informação e divulgaria no Bundinha Brasil. Renato Machado teria dado um flash antes da fala, diria: “Exclusivo, no próximo bloco Miriam Leitão revela a descoberta de um novo poço de petróleo milionário na costa brasileira”.

Ah, se fosse Petrobrax.
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Novidades nas eleições municipais do Rio de Janeiro, Fortaleza e Belo Horizonte

No Rio de Janeiro, o candidato líder nas pesquisar, Marcelo Crivella (PRB), da base de sustentação do governo Lula, amplia sua aliança política, o que lhe garante maior tempo no horário gratuito de televisão. A chapa de Crivella contará com PR, PTB e PT do B, além do próprio partido PRB. Segundo Crivella, “estamos procurando apoio dentro da base do governo”. O candidato reforça a idéia de aliança política entre os governos municipal, estadual e federal para enfrentar os desafios e problemas do município. O PTB deverá indicar a vice. A vereadora Cristiane Brasil (PTB), filha do ex-deputado cassado Roberto Jefferson, é uma das indicadas para a vaga de vice na chapa.

O ponto fraco da campanha do senador era o baixo tempo de televisão. Inicialmente, sua aliança restringia ao PRB e PT do B, dois partidos nanicos e com pouco tempo no horário eleitoral gratuito. Com a ampliação da aliança, seu tempo de televisão dá um salto, o que é extremamente positivo para sua candidatura. O grande empecilho agora do candidato é a rejeição bastante elevada, o que pode criar dificuldades num hipotético segundo turno. Clique aqui para saber mais sobre as eleições no Rio de Janeiro.

Em Fortaleza, a candidata do PT Luizianne Lins também ampliou sua aliança com vistas à reeleição. O PMDB passa a integrar sua coligação, juntando-se ao PSB, PC do B e PT. A única candidatura definida é do deputado federal Moroni Torgan (DEM), em aliança com o PP. Outro possível candidato é o ex-governador Lúcio Alcântara (PR). Mas a candidatura bastante aguardada é da senadora Patrícia Saboya (PDT), ex-mulher de Ciro Gomes (PSB). A senadora busca aliança com o PSDB de Tasso Jereissati, que já demonstrou interesse em apoiá-la. O empecilho é a posição dos partidos em nível nacional.

O fato concreto é que candidata do PT enfrenta uma rejeição grande, embora tenha uma aliança bem consolidada. A candidatura de Patrícia Saboya (PDT) pode dificultar os planos do PT de continuar à frente da prefeitura de Fortaleza. Por outro lado, a senadora enfrenta uma aliança mais frágil, com tempo menor de televisão e uma rejeição cada vez maior ao clã Jereissati.

Já a candidatura de Moroni Torgan (DEM) sempre inicia bem nas pesquisas. Uma razão é o recall, foi candidato nas últimas eleições. E também é que uma parcela do eleitorado acredita no discurso mais duro contra a violência, embora essa não seja uma atribuição do prefeito. Sinceramente não acredito que vença num eventual segundo, seja contra Luizianne Lins (PT) ou Patrícia Saboya (PDT). A população de Fortaleza é mais de centro-esquerda, o que torna difícil uma vitória de centro-direita (caso de Moroni Torgan).

Em Belo Horizonte, a novidade era aguardada. É que o PT municipal aprovou a aliança com o PSB, com apoio do PSDB. O PT deverá indicar a vice, que deverá ficar com o deputado estadual Roberto de Carvalho, ligado ao prefeito Fernando Pimentel. A aliança expôs um racha entre as lideranças petistas no Estado, ficando contrários à aliança os ministros Patrus Ananias e Luiz Dulci, bem como o presidente do PT no Estado, Reginaldo Lopes. Clique aqui para saber mais sobre a aliança PT-PSDB (Pimentel-Aécio) na capital mineira.
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Territórios da Cidadania não é eleitoreiro, segundo o TSE

Essa é a conclusão da que chegou o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) com respeito ao pedido de abertura de ação contra o programa Territórios da Cidadania pelo DEM, que acusava o programa de fins eleitorais.

O pedido do DEM foi relatado pelo Ministro do TSE, Ari Pargendler, que considerou sem procedência a acusação do DEM. Em sua conclusão anotou o seguinte:
“.. parece desarrozoado (não razoável) reconhecer os atos relatados na petição inicial como propaganda eleitoral antecipada”.

Em outra parte de seu relatório o Ministro do TSE diz:
“.. nada no Programa Territórios da Cidadania, autoriza a conclusão de que ele proporcionará a distribuição bens, valores ou benefícios por parte da Administração Pública".

O programa foi questionado pelos partidos oposicionistas PSDB e DEM, mas apenas esse último chegou a levar a questão aos tribunais. O PSDB ficou apenas na ameaça. Outro que bateu no Territórios da Cidadania é Ministro Marco Aurélio Mello, antes mesmo de conhecer o programa. Este está sempre disposto a bater no governo, independente do mérito da questão. Deveria é largar a toga e filiar a um partido para disputar suas posições no voto. É mais um exemplo de como a oposição política está perdida, sem rumo. Miram contra os pobres para atingir o presidente Lula. Depois ficam perguntando porque o governo Lula segue em alta nas pesquisas.

Dois outros posts publicados neste blog ajudam a compreender o debate entre Territórios da Cidadania e eleições:
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Imprensa golpista, unida, jamais...

O governo Kirchner, depois de atacado nos golpes mais baixos pela imprensa argentina, decidiu criar o Observatório dos Meios de Comunicação, em parceria com a Universidade Nacional de Buenos Aires. Bastou para a iniciativa ser contestada pela nossa aliada mídia brasileira, que acha tal medida um cerceamento à liberdade de imprensa, é o que diz o jornal O Globo ao noticiar o fato.

Para o jornal, a declaração de Cristina Kirchner justificando a falta de imparcialidade da mídia argentina como motivo da criação do Observatório, para que todas as vozes democráticas tenham acesso aos meios de comunicação, não convenceu os representantes locais, que estão preocupados com a obsessão do governo em controlar a imprensa. Quer dizer, a imparcialidade não é bem vista. Desejam manter o monopólio da mídia a serviço da mera propaganda.

A hipocrisia fica clara no final do texto. Depois de relatar o grave acirramento entre simpatizantes do governo e a mídia local, relata que Luiz D’Elia, líder do movimento Terra e Moradia, aliado de Kirchner, “ousou” participar de um programa de TV ao vivo onde defendeu o fim da ditadura do jornal Clarin. Quer dizer, alguém da sociedade que tenha outro ponto de vista, diferente da mídia hegemônica, tem mais é que ficar calado. Se falar, isso é ousadia que deve ser combatida.

Observatório neles!
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Crivella lidera com folga e candidato petista dispara em pesquisa no Rio de Janeiro

A aliança PT-PMDB pode mesmo surpreender na eleição carioca. Isso já era esperado. O ritmo de crescimento da candidatura de Alessandro Molon, candidato do PT à prefeitura do Rio de Janeiro, é que pegou todos de surpresa. Semanas atrás aparecia com míseros 1% dos votos. Em nova pesquisa, agora pelo Instituto GERP realizada entre os dias 8 a 11 de abril, o candidato petista saltou para 9%, em empate técnico com Jandira Feghalli (PC do B), que aparece com 11%.

O senador Marcelo Crivella (PRB), também da base de apoio do presidente Lula, lidera a pesquisa, passando de 20% para 30%, enquanto o candidato da aliança PV-PSDB-PPS, Fernando Gabeira, aparece com 22%. Em queda, a candidata do DEM, Solange Amaral, apoiada pelo prefeito-dengue César Maia, que aparece com 4%, num empate técnico com Chico Alencar (PSOL), com 3%.

A gente tem que sempre ficar com um olho atrás com relação às pesquisas, mas de qualquer forma, fica evidente o crescimento da candidatura de Alessandro Molon (PT). Só falta o Lula e o Sérgio Cabral dar um empurrãozinho na candidatura de Molon, levando-o para as inaugurações das obras do PAC na cidade. O problema é o ciúme nas outras candidaturas governistas. Clique aqui para ver a matéria do Jornal O Dia.
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Reflexões no final de semana



A oposição no divã

Notas e comentários vários nos últimos dias dão sinais de que a oposição ao governo Lula está querendo parar para pensar e rever sua estratégia. É prática já feita muitas vezes, agora parece algo mais sério. Segundo Ancelmo Góis, no Globo, Serra confessou a Marcelo Déda, do PT, governador de Sergipe, que a oposição ainda “não encontrou um discurso para 2010”. Entendam isso também como: “todas nossas tentativas de desmoralizar o governo não deram em nada”.

Apenas neste ano, a oposição, com a ajuda da aliada mídia, tentou criar pânico com um possível apagão elétrico federal, com a febre amarela, com várias denúncias sobre malversação de recursos na utilização de cartões corporativos. Tudo, até agora, sem sucesso para colocar o governo acuado e sem ação. As manchetes escandalosas sobre o apagão sumiram com as chuvas, a febre amarela desapareceu do noticiário quando o alarmismo criava vítimas com overdose da vacina, e as acusações sobre cartões corporativos mudaram de tom quando surgiram informações dos gastos no governo Serra e no governo de FHC. Neste ponto, a tática foi refeita e holofotes deixaram de lado o conteúdo das denúncias, passando a apostar em vazamento de informação, direcionados todos para a ministra, chefe da Casa Civil, possível candidata de Lula à sua sucessão.

E o pior aconteceu aos seus planos. Todo o empenho, todo o papel gasto pela mídia, todas as horas de TV não derrubaram a ministra, nem ao menos sua secretária-executiva, acusada sem provas pelo suposto delito. O efeito de tudo foi o mais indesejado para a oposição. Segundo pesquisa do próprio PSDB para mensurar o estrago feito, o nome de Dilma cresceu depois das denúncias. Foi registrado pelo Jornal do Brasil e repercutido por Eliane Catanhêde, da Folha, esta que antes dizia que Dilma estava morta eleitoralmente. Parece uma síndrome de tiro saindo pela culatra: Lula, mesmo com toda a campanha orquestrada, atingiu recentemente o mais alto índice de aprovação de seu governo, número mais alto do que o de FHC logo após o Plano Real.

Com tanta coisa dando errado, é compreensível que tenham todos a necessidade agora de uma boa terapia coletiva. Mas, com as notícias antecipadas da presença de Antonio Carlos Neto, o grampinho, e Rodrigo Maia, filho do prefeito da dengue no Rio, o tal “guri de merda”, dito por Jobim em uma solenidade, fica difícil acreditar em futuro para tal bando.

Showrnalismo é só para a patuléia

Talvez a conclusão fosse óbvia, mas confesso que só agora caiu a ficha. O jornal Valor Econômico segue um rumo diferente dos outros jornalões. Nesta semana só ele publicou matéria sobre os elogios do Bird ao Bolsa Família com críticas a má vontade da mídia brasileira com o programa. Não é a única matéria que segue pauta diferente do resto.

Mesmo sendo propriedade das Organizações Globo e da Folha, o seu público é a elite econômica, que não paga ingresso para ver as diatribes de um Arthur Virgilio. Os leitores são liberais. Como tal, entendem que em seu mundo, para a permanência do capitalismo, há de existir políticas de compensação, tal como Hayek e outros teóricos do modelo defendiam. Coisa que um Ali Kamel certamente não estudou. Vide ótimo comentário da Kelly.

Os leitores do Valor já estão convencidos, não precisam de conversas moles. Se a mídia precisa fazer propaganda, há de ser em seus outros jornais. E tome denúncias, dossiês, silêncio sobre fatos, tudo misturado a muito apelo, como a quase novela sobre a morte da menina em SP.

Este novo jornalismo, misturado com show, tal como cunhado por José Arbex, é só para a choldra, que pode se sensibilizar com a farsa inventada nas redações.
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O drama da oposição política

Duas matérias que saíram hoje na Folha de São Paulo evidenciam o drama que vive a oposição – PSDB, DEM e PPS – às voltas das eleições municipais deste ano. Na primeira, a matéria da Folha mostra que a oposição só governa hoje 25 das cem principais cidades brasileiras. Aponta ainda como fator de enfraquecimento da oposição o fato de que apenas 64% dos prefeitos que lhes restaram são pré-candidatos, contra 76% dos partidos governistas.

A Folha também destacou em outra matéria a luta do DEM para permanecer entre os grandes partidos. O isolamento do partido de direita, disputando hoje o mesmo eleitorado do PSDB, até então seu principal aliado político. De fato, o partido terá grande dificuldade em manter as prefeituras que possui nas grandes cidades. Em São Paulo e Rio de Janeiro, o partido dificilmente manterá à frente dos executivos municipais. Clique aqui para ver as matérias publicadas originalmente no Congresso em Foco.
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Marta Suplicy e a nova norma do TSE

A Folha de São Paulo destacou hoje que norma do TSE põe em risco a candidatura de Marta Suplicy à prefeitura de São Paulo. A primeira observação a ser feita é que o título da matéria poderia ser outro: “Norma do TSE põe em risco a candidatura de Alckmin em SP”. Explico. É que a nova norma do TSE fixa a aprovação da prestação contas em eleições anteriores como exigência para registro de candidatura no país. Acontece que tanto a candidatura de Marta Suplicy em 2004 quanto de Geraldo Alckmin em 2006 não foram aprovadas, portanto, os dois pré-candidatos estariam na mesma situação. É claro que a situação de Alckmin é mais confortável, pois não foram ainda rejeitadas, apenas o parecer é para sua rejeição. Mas também não foram aprovadas, como diz o texto da nova norma.

O curioso é que o TSE mais uma vez faz nova interpretação de lei antiga para as eleições. Ou seja, o Congresso não pode mudar a lei, mas o TSE pode reinterpretá-la constantemente, e sempre mudando de posição. A lei pode ser antiga, mas ninguém antes conhecia a nova interpretação, portanto, o TSE não deixa de ser uma espécie de legislador positivo. Para ver a matéria originalmente publicada pela Folha de São Paulo clique aqui.
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Preconceitos da imprensa brasileira, segundo o BIRD

Uma visão de fora de nossa imprensa foi exposta pelo Banco Mundial. Segundo o banco, a mídia brasileira é preconceituosa na análise dos programas sociais do governo Lula. Em vez de concentrar nos aspectos positivos e nas possíveis melhorias dos programas, a imprensa centra principalmente nos supostos desvios dos programas sociais.

A preocupação do BIRD é quanto ao risco da opinião pública brasileira de não compreenderam os objetivos dos programas sociais. Ou seja, a mídia não exerce o seu papel de informar adequadamente a opinião pública. A verdade é que ela costuma fornecer desinformação para seu público. Nesse sentido, o déficit de informação aqui é gigantesco, em qualquer assunto que entra na pauta política.

Esse blog já escreveu sobre o partidarismo (clique aqui para ler) que se vê na mídia brasileira. Ultimamente, a mídia nem é mais direitista, esquerdista ou centrista, mas defensora de interesses puramente partidários. Passaram a ser meros defensores de projetos ou estratégias ligados ao PSDB, DEM e PPS, independente do mérito da questão. Ninguém mais defende nossos jornalões, até o BIRD pulou fora desse barco.

Este blog defende as idéias do Manifesto de Mídia Livre. Vejam o artigo abaixo:

Rui Falcão*

Uma avaliação do Banco Mundial (BIRD) sobre como a imprensa brasileira (escrita) cobre os fatos associados ao Bolsa Família constitui-se em testemunha eloqüente do preconceito, da má vontade, má fé e ignorância de grandes veículos de comunicação em relação ao programa e, por extensão, à implementação de ações do governo Lula em cumprimento ao preceito constitucional que obriga o Estado brasileiro a respeitar os direitos sociais.

Infelizmente, os leitores em geral, com exceção dos assinantes do jornal Valor Econômico, não puderam ter acesso ao conteúdo do documento, por razões óbvias: os meios de comunicação aos quais coube a carapuça recusaram-se até agora a divulgá-lo. É, pois, com o propósito de fazê-lo chegar ao conhecimento geral que transcrevo aqui o resumo, com base no que foi noticiado no Valor.

O Banco Mundial observa, de início, que a imprensa brasileira acompanha o Bolsa Família com atenção raramente vista em casos semelhantes no mundo, e tem preferência por mostrar mais as suas falhas que as suas virtudes. Assim, por exemplo, diz o estudo, a imprensa está mais preocupada com os desvios do programa – como a inclusão irregular de beneficiários – do que com eventuais imperfeições, como a existência de excluídos que deveriam ser contemplados e que por algum motivo não o foram ainda.

O documento informa que o Banco Mundial, ao contrário da imprensa nacional, avalia positivamente o programa e sugere a outros países que imitem a experiência brasileira. E, com tato diplomático, os pesquisadores do BIRD, para prevenir a opinião pública desses países quanto ao risco de incompreensão da natureza e dos objetivos do programa, a exemplo do que ocorre no Brasil, decidiram levar a eles também o debate estampado nas páginas dos jornais brasileiros. “O Bolsa Família é como jabuticaba, uma criação original do Brasil, que deu certo”, afirmou a pesquisadora Kathy Linders, do Departamento de Desenvolvimento Humano do Banco Mundial, uma das responsáveis pelo estudo, em entrevista ao jornal Valor Econômico.

Para a pesquisa, foram escolhidos seis jornais, três deles de circulação nacional, e acompanhados desde 2001, quando tiveram início, no governo FHC, programas de transferência de renda condicionada aos mais pobres, como o Bolsa-Escola e o Bolsa-Alimentação, reunidos pelo governo Lula no Bolsa Família.

Parêntesis, para um comentário: como era de esperar, o Banco Mundial, ao pressupor uma continuidade entre os programas de ambos os governos, deixa de lado a radical diferença doutrinária e política que distingue um do outro: os programas sociais de FHC, cunhados na ideologia neoliberal, limitavam-se a ajudar os pobres, aliviá-los das agruras da pobreza, assumida não como um produto da desigualdade gerada pela prevalência do poder das elites na gestão dos recursos públicos, mas como uma fatalidade, enquanto os do governo Lula visam a resgatar uma dívida social do Estado brasileiro, a atender aos direitos sociais, inscritos na Constituição Federal de 1988.

Para os neoliberais do Banco Mundial, e para os tucanos, que lhe são subservientes, as reivindicações sociais e culturais podem ser aspirações legítimas, mas jamais direitos. A visão neoliberal rejeita todo enfoque coletivo do direito: o indivíduo é o único sujeito juridicamente titular de direitos; e os violadores do direito somente podem ser indivíduos que devem assumir, como indivíduos, a plena responsabilidade. Ou seja, a pobreza é assunto restrito unicamente à esfera privada, nada cabendo ao Estado senão promover a “filantropização” das políticas sociais — no lugar do atendimento aos direitos sociais —, mediante estímulo a ações de “responsabilidade social” empresarial e iniciativas pontuais de primeiras-damas, como o programa “Comunidade Solidária” de FHC.

A visão neoliberal vê o mercado – e não o Estado - como o principal coordenador dos conflitos de interesse na sociedade e concebe essa sociedade composta por indivíduos atomizados. Dentro dessa lógica da suposta inexistência da sociedade, substituída pelo mercado, os indivíduos passam a ter de sobreviver por conta própria no mercado, em que são obrigados a competir uns com os outros e a incorporar maneiras de se tornarem competitivos. Aos menos capazes de se aliviar do fardo das desigualdades, resta perecer, assim como falecem as empresas ineficientes.
Retomando o estudo do Banco Mundial: desde 2001, quando o governo FHC passou a dar alguma atenção para os programas sociais, de cunho assistencial, o debate na imprensa foi pautado por avaliações favoráveis às transferências de renda. Já as críticas aos problemas de implementação aumentaram sensivelmente após 2003, ano em que assumiu o governo Lula. O número de artigos sobre a Bolsa Família publicados entre 2003 e 2006 foi quase o dobro do total de artigos sobre o tema, no governo FHC, observa o estudo.

Os pesquisadores constataram que, entre os “temas quentes” da imprensa, os relatos sobre fraudes e controles, que ocupavam 10% das matérias durante o governo FHC, passaram a constar de 50% dos artigos publicados, em 2004, no governo Lula. Nos anos seguintes, com a implementação das providências de controle e revisão do cadastro tomadas por Lula, o tema perdeu importância relativa, até ocupar menos de 20% dos artigos em 2006.

Os técnicos do Banco Mundial comentam também que a imprensa nem sempre diferencia entre problemas causados por fraudes e irregularidades burocráticas, de um lado, e desconhecimento de regras ou erros em formulários, de outro, o que, na avaliação dos especialistas, dá aos leitores uma impressão equivocada sobre a natureza dos “desafios” do programa. A propósito, enfatizam que um terço das notícias sobre irregularidades tem como fonte o próprio governo, as suas agências de controle ou os ministérios. Somente em mais de um quarto das notícias foi a imprensa quem investigou e encontrou problemas. Está aí uma notícia que a imprensa em geral jamais fez chegar ao conhecimento do leitor, acrescentamos nós, num evidente propósito de desqualificar o sistema de acompanhamento e controle do programa por parte do governo Lula.
Segundo informa Valor Econômico, em reunião com autoridades do Ministério do Desenvolvimento Social e da Presidência da República, em 01/04/2008, os técnicos do banco sugeriram “campanhas e cursos para que os jornalistas adotem os termos técnicos no tratamento noticioso das irregularidades dos programas”.

Seria muito profícuo que tais campanhas e cursos começassem por informar que existem diferentes abordagens da pobreza e distintos modos de combatê-la. A maneira de definir e lidar com a pobreza revela conflitos sociais, ideológicos e políticos entre grupos de interesses, entre classes, partidos políticos e agências multilaterais, entre outros. A imprensa brasileira está longe de ser neutra nesse debate, como mostra o estudo do Banco Mundial.

A seguir, tais campanhas e cursos poderiam contribuir para remover preconceitos sociais e morais existentes na sociedade brasileira, que inspiram boa parte das críticas da imprensa ao Bolsa Família. E por detrás de uma abordagem limitada de pobreza (à renda, por exemplo), as campanhas e cursos poderiam apontar a existência da dimensão da desigualdade — questões de acesso à educação, ao trabalho, contextos políticos e sociais perversos e sua reprodução, étnicos, de gênero e de reconhecimento social, gerados, entre outros, por uma situação econômico-social iníqua, que privilegia elites minoritárias, há séculos no controle do poder do Estado e que impede a grande maioria do povo brasileiro de se apoderar da própria cidadania.

O discurso moral dos “falcões do colunismo” distingue o bom pobre do mau pobre. Graças a esse artifício, evitam indispor-se com seus eleitores contrapondo-se frontalmente a um programa aprovado pela maioria do povo brasileiro, ao mesmo tempo em que abrem espaço à sua retórica de desqualificação, por supostamente produzir efeitos inversos aos pretendidos, serem ineficazes e eleitoreiros.

Parte das críticas ressalta o efeito indesejável da concessão de benefícios. Um deles é que os benefícios seriam tantos que os beneficiários passam a não querer trabalhar mais. Essa visão reflete, mais do que um preconceito, falta de informação sobre a situação na qual boa parte da população brasileira vive. De fato, o Bolsa Família gera alívio imediato na economia familiar, mas não é suficiente para que as famílias vivam unicamente dele.

Ademais, como observa a pesquisadora Sarah Mailleux Sant’Ana, o trabalho é compreendido pelos beneficiários do Bolsa Família não apenas como um modo de obter renda, mas também como meio de inserção social que lhes permite serem reconhecidos e respeitados como cidadãos úteis ao conjunto da sociedade. A maioria das pessoas desempregadas oficialmente ou que não têm empregos estáveis realiza trabalhos informais e temporários para aumentar a renda familiar, mas também trabalhos não remunerados que fortalecem os laços de solidariedade.

Outro preconceito refere-se ao destino dos benefícios. Nas Ciências Sociais, aprende-se que a categoria economia não é compreendida pelas pessoas somente pela renda, mas também pela ação (e sentido) social que a renda e os laços sociais criam. No trabalho de campo, realizado por Sant”Ana, observou-se que a maioria das famílias entrevistadas gasta os recursos recebidos na sobrevivência direta e imediata, mas outras fazem investimentos. A imprensa ignora o papel social, de expectativa de reconhecimento e inclusão, associado a esses investimentos. É o caso de duas beneficiárias: uma comprou um tanque para lavar roupa para fora, que o aluga para vizinhas e o empresta para amigas; outra parcelou a compra de um aparelho de DVD com parte do Bolsa Família para criar um cinema comunitário em sua casa, cobrando R$0,50. Nas festas de crianças, os filmes são oferecidos gratuitamente. Ao proceder dessa maneira, o que elas têm em mente é não somente capitalizar a renda, investir para que possam gerar mais renda, mas também fortalecer seus laços sociais e solidários, observa a pesquisadora, potencializando dessa forma as possibilidades de sua inserção social e de reconhecimento como cidadãos livres e ativos.

Nesse sentido, gastar parte do dinheiro do Bolsa Família no cabeleireiro para participar de um casamento pode ser considerado não um desvio de finalidade, mas um investimento de trocas simbólicas: o gasto na boa apresentação pessoal é uma deferência para com os noivos e convidados. Reciprocamente, em um momento posterior de necessidade, as pessoas assim honradas poderão retribuir de modo solidário. As mulheres que cuidam das crianças dos outros gratuitamente asseguram que, quando precisarem, seus filhos também serão cuidados.

Isso é dizer que sobreviver é assegurar o atendimento das necessidades biológicas e ao mesmo tempo assegurar um lugar (social) na comunidade. A escala da renda não é o bastante: pode-se ser rico (financeiramente) e fraco (socialmente); pobre (financeiramente) e forte (socialmente), afirma Sant’Ana. Sobreviver é ser capaz de se manter socialmente. Nesse sentido, as trocas são indispensáveis: mais que a movimentação de dinheiro e de bens, é a sensação de compartilhar de um destino comum que importa. É preciso relacionar-se, criar aliados, ou seja, abrir-se, ser visto para que os objetos necessários (móveis, tanques, bicicletas) circulem.

É desse modo que os próprios beneficiários percebem o Bolsa Família. A grande maioria dos entrevistados demonstra satisfação, não diretamente com a materialidade do benefício (a transferência de renda), mas com outras iniciativas, como o Programa Nacional de Agricultura Familiar, o acesso à eletricidade, o acesso aos remédios nas farmácias populares, o acesso à saúde e melhorias na escola. A relação com a vizinhança, de acordo com os entrevistados, também melhorou com o fortalecimento de laços de solidariedade e de novas amizades. Por aí se pode observar que o programa desempenha um papel relevante na garantia de uma autonomia mínima, na capacidade de planejar o futuro, no consumo e na qualidade alimentar, entre outros.

Outro preconceito, que poderia ser desfeito nas campanhas e cursos, é que o Bolsa Família seria um instrumento político de manipulação eleitoral, uma recaída no clientelismo clássico. Esquece-se, assim, deliberadamente que na esfera pública de direitos inscreve-se a obrigação do Estado de assegurar o direito à subsistência a todos os habitantes de uma nação. A esse respeito lembra-se que sob os auspícios do governo Lula, em setembro de 2006, foi aprovada no Congresso Nacional a Lei Orgânica da Segurança Alimentar, que consolida a concepção de uma renda mínima como direito do cidadão. Essa lei dissocia o direito à subsistência de iniciativas de um partido político ou de um governo e insere-o na agenda social brasileira como obrigação legal do Estado. A não garantia desse direito representa uma violação dos direitos fundamentais e lesão do direito à vida.

Também faz parte do conjunto de preconceitos morais dos falcões do colunismo a obsessão por responsabilizar os pobres pela situação precária em que vivem. A denúncia desse preconceito, indissociável do pensamento neoliberal, poderia ser utilizada pedagogicamente nas campanhas e cursos sugeridos pelo Banco Mundial, para suscitar a discussão na imprensa sobre o papel do Estado no resgate da dívida social.

Rui Falcão é jornalista, advogado e deputado estadual pelo Partido dos Trabalhadores. Foi deputado federal, presidente do PT e secretário de governo na gestão Marta Suplicy.
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