À la Paulo Coelho

Bomba na internet o conto/piada Lênin desce aos infernos, de Paulo Coelho. Até hoje, sexta-feira, 29 de fevereiro, quase 100 comentários no blog do escritor. É anedota antiga, em roupagem nova, leve. Brincadeira respeitosa com o nome do grande revolucionário. Na verdade, Lênin é relatado em sua verdadeira, com perdão da má palavra, expertise. Tanto que o site Vermelho, do Partido Comunista do Brasil, republicou o texto com elogios.

Além de ter me divertido, fiquei imaginando que o tema, − alguém conhecido que chega à porta do céu e lá desenvolve uma situação dentro de sua personalidade −, poderia servir a infinitos outros textos. Tento um. Torço que outros também o façam:



Negócios na porta do céu

Dois aviões se chocam em São Paulo. “Tragédia anunciada”, “caos aéreo assassino”, “foi o Lula”, gritam os jornais espalhando crise. Enquanto isso, no guichê da entrada do céu, São Pedro está enlouquecido com o movimento:

− Por favor, entendam que não estamos preparados para este fluxo anormal de novas almas. Além de tudo, estamos fazendo algumas reformas na casa, conseqüência da perda de market share para o inferno. Equipes estão afastadas para treinamento sobre maximização de lucros e economia de escala. Hoje só temos mais uma vaga, atenderemos o restante apenas no expediente de amanhã!

Tumulto. Todos gritam ao mesmo tempo. Exigem solução imediata. Acusam a Anac, o Jobim, o Lula, Jesus e Deus. Quando falam o nome do patrão, São Pedro fica uma fera. Já estava com a mão no telefone para chamar a santa porrada de São Jorge quando a voz macia de alguém o detém:

− Santíssimo Pedro, meu cartão. Sou Daniel Dantas, empresário. Faço bons negócios. Posso resolver o seu problema em meia hora. Em troca, quero a única vaga de hoje e a garantia de entrada no céu sem audiência para avaliação de culpas.

São Pedro o olha incrédulo, cofia a barba desconfiado. Sem alternativa, relaxa e concorda:

− Fechado. Vou ao escritório central e já volto.

No retorno, surpresa. A multidão estava calma, totalmente apática. Apenas no fundo, um pequeno grupo continha um velhinho que berrava e esperneava. Na porta, Daniel Dantas, com sua bagagem, calmamente contava um enorme maço de dinheiro.

− Meu filho, isso é um milagre. Bem que chamas Daniel, nome de santo, de profeta. Entre, a casa é sua, diz o santo guardião.

Dantas já estava do outro lado, São Pedro, curioso, vira-se e pergunta:

− Santo Daniel, como fizestes?

− Fácil. Vendi a rifa do meu lugar no céu.

− E quem são aqueles, os únicos nervosos na multidão?

− Apostadores que bem paguei para conterem o pé-frio do Fernando Henrique Cardoso. Foi ele que ganhou.
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TERRITÓRIOS DA CIDADANIA: Uma análise sobre programas sociais

Por Maria Inês Nassif, em "O Valor" de hoje


Política vai parar de ganhar com a miséria


(...) O país que lê e tem emprego só entendeu a extensão dos resultados do Bolsa Família quando as pesquisas eleitorais, no auge do escândalo do mensalão, passaram a dar a dianteira ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre qualquer candidato oposicionista, apesar de ter sido mantido durante longo período sob o fogo cerrado da oposição.


(...) As eleições de 2006 desarrumaram o arranjo tradicional, onde os chefes políticos locais levam o rebanho até o candidato apoiado pelo chefe estadual e este, por sua vez, negocia favores da política nacional. Esse desarranjo foi favorecido não apenas pelo Bolsa Família, mas também pela universalização do uso da urna eletrônica, guardiã do segredo do voto. Como o chefe político local não era o dono do benefício concedido ao pobre - que vinha na forma de um cadastramento feito pela prefeitura, mas que depois se tornava uma relação entre o beneficiado e o banco onde ele recebe o dinheiro - não era também aquele a quem se deveria retribuir com o voto. Aconteceu de forma bastante ampla, em 2006, uma inversão do que ocorria tradicionalmente: em vez do chefe local dizer em quem o eleitor teria que votar - e já não teria total controle sobre esse voto, que é eletrônico -, foi o chefe quem correu atrás do candidato do cidadão pobre. Lula conseguiu apoios nada desprezíveis de prefeitos de todos os partidos. E certamente não foi porque os prefeitos tinham se tornado petistas. Eles simplesmente adiaram um confronto com seus eleitores - reconciliaram-se com eles por meio de uma adesão pontual ao candidato à reeleição para a Presidência.


O efeito Bolsa Família, que foi tão desprezado até o início do processo eleitoral de 2006, é hoje um risco para os políticos tradicionais. A oposição não pode falar contra o programa de transferência de renda - isso é evidentemente impopular -, mas cristalizou uma clara aversão a programas sociais mais amplos, em especial os saídos da lavra deste governo. Não é de se estranhar a reação pronta do ex-PFL, hoje DEM, que promete sustar o programa Territórios da Cidadania na Justiça, por ter sido lançado em ano eleitoral - o que o tornaria ilegal.


O programa anunciado por Lula pode até surtir efeitos eleitorais, mas a sua única novidade - e boa novidade, aliás - é a ação integrada de programas já existentes, em bolsões de pobreza localizados na área rural. O que o governo anunciou, na verdade, foi um conceito de gerência de programas sociais que já se antevia no Bolsa Família, que agregou na sua origem vários programas dispersos, e nas ações do Ministério do Desenvolvimento Social, que articula ações de vários ministérios.


No caso do Territórios da Cidadania, a coordenação é do Ministério do Desenvolvimento Agrário, mas até o Ministério da Cultura está envolvido. E tem uma lógica que não é simplesmente eleitoral: é voltado para as populações agrárias porque elas são as que vivem nas regiões de Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) mais baixos do país; atende localidades mais beneficiadas pelo Bolsa Família porque esse é um indicador de miséria; atendem a um planejamento local, feito por colegiados, onde estão representados também prefeitos e representantes dos governos estaduais, além das comunidades. Teoricamente, o fato de abrigar nos colegiados os prefeitos, independente do partido a que pertençam, despem o programa de caráter eleitoral. Mas, na prática, esses colegiados tiram do prefeito, ou dos deputados que são eleitos por essa população, a "autoria" do benefício à comunidade. Os colegiados são a antiemenda parlamentar. Do outro lado, podem diluir a responsabilidade do governo federal sobre os programas, já que todas as unidades da federação estão lá representadas. O jogo está zerado, portanto. O que definirá o voto desses eleitores é como os políticos se adeqüam a uma realidade onde gradativamente são trazidos ao mercado de consumo um grande número de brasileiros, que a partir de então passam a ter novas exigências que não a sobrevivência imediata.


Há um enorme ganho, inclusive fiscal, nesse conceito gerencial. Atender uma região com o Pronaf sem que a agricultura familiar tenha assistência técnica, ou infraestrutura para escoamento da produção, ou mesmo educação para trazer a economia de subsistência para o capitalismo, é jogar o Pronaf fora. Dar Bolsa Família sem viabilizar à agricultura familiar uma atividade produtiva é eternizar o Bolsa Família. Incentivar o beneficiamento da produção em cooperativa sem que a região tenha luz elétrica é jogar produção no lixo. Miríade de programas sociais que não se integram jogam dinheiro público fora e não alteram em nada a vida da população.


Fora alguns conselhos que já se reuniram para debater a prioridade de seus Territórios de Cidadania, ele ainda é uma intenção. Se o governo Lula tiver capacidade para implantar esse modelo gerencial de programas sociais, será um ganho para o país. Isso é com o Executivo. Quanto aos políticos, o que eles devem fazer, se a intenção declarada do governo tornar-se de fato um programa bem-sucedido, é repensar a forma de arregimentar eleitores. Ações que desintermediam o voto podem até beneficiar um primeiro governo, aquele que o implantou (e esse efeito pode ter ocorrido já no passado, na reeleição de Lula), mas depois passam a ser neutras politicamente. Daí, ganha votos quem fizer a melhor política.


Comentário do Blogueiro: Esclarecedor o artigo de Maria Inês Nassif. A integração de políticas públicas veio para ficar. Melhora o foco e o gerenciamento das políticas públicas. Não se trata da chamada ”focalização de políticas públicas”, isso é outra história. Mas de conferir maior efetividade às ações governamentais. Não é correto classificá-lo como novo programa, pois não há garantia ede novos recursos. É uma integração de programas existentes em diversos ministérios (MDS principalmente) sob a coordenação do MDA. Claro que pode haver crescimento de despesas com os programas governamentais, mas isso é resultado da própria dinâmica da despesa pública. A oposição política brasileira critica a gestão do governo. Mas quando este apresenta uma solução gerencial ela quer barrá-la na Justiça. Ou pelo menos, fazer barulho. É uma contradição e tanto. O que ela tem medo é que um governo melhor, mais efetivo para a população, e mais bem avaliado, dificulte seu retorno ao poder. É a disputa pelo poder pura e simplesmente. O ano 2010 já começou.
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Nossos geniais escrevinhadores

Confesso um enorme prazer quando me deparo com a “genialidade” de alguns analistas que a mídia nos impõe. Fábio Giambiagi é nome do último que me deleita. Nem sabia que tal gênio existisse por aqui, mas um comentário do Luiz Nassif iluminou minha ignorância sobre a existência deste economista, que é lido pelas nossas elites liberais, que o levam à sério, pasmem! Entendam:

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Creio, honestamente, que a maioria dos brasileiros não deseja viver em um país comunista, onde todos tenham a mesma remuneração. A idéia de que o Brasil é um país capitalista, onde alguma desigualdade é natural, por expressar diferenças que de fato existem entre os atributos individuais, é, se eu não estiver errado nas minhas percepções, claramente majoritária no país. Ao mesmo tempo, não há dúvidas de que a desigualdade excessiva é vista como negativa pela grande maioria da população, que preferiria viver em um país menos desigual. Que tal, então, pensar no sistema de aposentadoria como uma esfera em que, no "terceiro tempo" das nossas vidas, iremos viver em um Brasil mais igualitário, onde a distância entre quem ganha mais e quem ganha menos continuará existindo, mas será limitada a um múltiplo razoável?
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Matutei um tempo para analisar o que seria melhor, se os argumentos ou a conclusão, mas certamente pensar em justiça social quando no “terceiro tempo” todos estarão na mesma eme é coisa para poucos iluminados.
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Liberdade e asilo para Cesare Battisti



Desde o dia 18 de março de 2007 está preso no Brasil Cesare Battisti, ex-militante do grupo de esquerda italiano Proletários Armados pelo Comunismo (PAC), resultado de uma operação da Polícia Federal junto com a Interpol, seguindo pedido de extradição do governo italiano, que o acusa de vários crimes na Itália, nos anos 70.

As acusações italianas contêm várias inconsistências. Parte delas estão baseadas apenas no depoimento de um ex-militante arrependido, que o acusa de assassinatos diretos ou por seu mando.

Vários intelectuais, como o filósofo francês Bernard Henry-Lévy, intercederam pedindo sua liberdade. É tarefa de todo cidadão de esquerda ou democrata estar consciente do caso para pedir ao governo brasileiro que faça pressão junto ao STF pela liberdade e asilo político de Battisti.

O Brasil assinou uma lei de anistia política em 1979, com perdão e esquecimento, mesmo que em 1981 tenha acontecido o atentado do Riocentro, onde setores do Exército estiveram claramente envolvidos no crime e até hoje nunca tenham sido punidos. O mesmo princípio deve ser usado neste caso, onde está claro que os fatos que o envolvem estão relacionados a um momento histórico de grande acirramento. Nossa constituição impede a extradição por motivos políticos. Motivo jurídico que impediu a extradição dos também italianos Luciano Pessina, em 1996 e Pietro Mancini, em 2005, os dois presos no Rio.

É tarefa apoiar o Comitê de Solidariedade a Cesare Battisti:

http://cesare.revolt.org

Aqui, para votar no abaixo assinado de solidariedade a Cesare Battisti.

PS: E o Salvatore Cacciola que o governo italiano não quis extraditar para o Brasil?
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Os motivos da briga

Vale a pena acompanhar a disputa pelo comando da Comissão de Ciência, Tecnologia e Comunicação da Câmara. Ontem, Arlindo Chinaglia e o líder do PSDB, José Aníbal, quase saíram no tapa. Os jornais cobriram, relataram cada palavra, os argumentos de cada lado, que falavam sobre proporcionalidade, antigos acordos, como o da vaga ser do PSDB pelo conchavo da eleição de Chinaglia, dito por Anibal, e coisas do tipo.

Só não publicaram um detalhe, pequeno, que esclareceria melhor os leitores sobre o assunto: este ano vencem as concessões da TV Globo, Bandeirantes, Record e SBT. Este é o motivo da acirrada disputa. O cargo ali vale ouro em ano eleitoral.
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DEM e PSDB tentam barrar no STF o programa TERRITÓRIOS DA CIDADANIA

A oposição política brasileira está completamente perdida. Até em ano eleitoral ela não fica ao lado dos pobres. E, assim, conquistar mais uns votinhos. O programa Territórios da Cidadania lançado pelo governo busca reduzir a pobreza. Os beneficiados são justamente aquelas regiões ou municípios com os menores Índices de Desenvolvimento Humano (IDH). Daí que os presidentes do DEM, Rodrigo Maia, e do PSDB, Sérgio Guerra, vão entrar no STF para barrar o programa. A oposição é contra sob o argumento de que estamos em ano de eleições, portanto, o programa é eleitoreiro.

O argumento é fraquinho, principalmente num país com eleições a cada dois anos. Obviamente que o governo não pode ficar parado por causa de sua oposição política. Ela que arrume uma coisa melhor para fazer. Pode fiscalizar o programa, apontar contradições, sugerir melhorias. Agora, ficar contra o programa já é demais. A não ser que queiram assumir publicamente que são contra políticas para os pobres. Aliás, a imprensa perdeu a oportunidade de estampar uma boa capa: “Oposição vai ao Supremo contra programa que prevê R$ 11,3 para combater a pobreza”. A sugestão não é minha, é do Blog do Mello.

Rodrigo Maia, presidente do DEM, em reportagem da Folha, questiona o fato do programa ser coordenado por um ministério do PT: “mais uma vez o (governo do) PT concentra os programas sociais em um ministério que pertence ao partido [Desenvolvimento Agrário], por que não está em outro ministério?”

Questionamento sem pé nem cabeça. O programa Territórios da Cidadania foi criado pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), em parcerias com outros 15 ministérios, não por outro ministério comandado por outro partido da base aliada. Portanto, seria natural que a coordenação do programa ficasse com o MDA. E também o programa tem foco na melhoria de condições de vida nas comunidades rurais, indígenas, quilombos, etc. Mais uma vez, está na alçada do MDA. Quer dizer que agora o DEM (que não ganhou a eleição) quer definir as políticas e os ministérios que irão implantá-las? Ridículo.

Pelo visto, DEM e PSDB revoltam-se contra qualquer política direcionada para os pobres. E ainda tentam levar à classe média para sua onda. Parecem que detestam a idéia de “inclusão social”. Preferem políticas públicas excludentes. Realmente, é uma total falta de rumo da oposição política.
Depois reclamam dos índices de popularidade do presidente Lula. A oposição deveria parar de trabalhar contra os pobres, principalmente em ano eleitoral. Se o PSDB não se cuidar, pode acabar virando o DEMOS (ou será que é DEM). Aliás, este último, se continuar assim pode acabar entrando para o mesmo grupo dos “animais de extinção”. Só que, nesse caso, a maioria da população não vai estar nem aí. Nenhuma saudade. É isso mesmo.
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Do Blog do Desemprego Zero: Polícia Federal flagra deputados de Alagoas exigindo “dinheiro roubado”

“Eu quero meu dinheiro. E não venha com desconto de INSS, não, porque isso é dinheiro roubado”, diz o ex-deputado. “É melhor você me dar do que sair tudo [todo mundo] algemado dessa porra.”

SÍLVIA FREIRE
Da Agência Folha, em Maceió

Gravações telefônicas feitas pela Polícia Federal com autorização da Justiça mostram deputados e ex-deputados estaduais de Alagoas cobrando o recebimento de parcelas de um suposto esquema criminoso que desviou cerca de R$ 280 milhões da Assembléia Legislativa e da União e durou de 2001 até o ano passado.

As gravações, feitas em março e abril de 2007, fazem parte do inquérito da PF que resultou na Operação Taturana, de dezembro do ano passado, na qual 41 pessoas foram presas e dez deputados estaduais alagoanos –entre eles o presidente da Assembléia, Antônio Albuquerque (DEM), apontado como líder do esquema foram indiciados sob suspeita de desvio de dinheiro público.

Em uma das gravações obtidas pela Folha, o ex-deputado Gilberto Gonçalves (PMN) liga para o então diretor de recursos humanos da Assembléia, Roberto Menezes, e cobra dele o recebimento de dinheiro.

“Eu quero meu dinheiro. E não venha com desconto de INSS, não, porque isso é dinheiro roubado”, diz o ex-deputado. “É melhor você me dar do que sair tudo [todo mundo] algemado dessa porra.”

Segundo a PF, Gonçalves continuou a se beneficiar do suposto esquema de desvio mesmo com o fim de seu mandato, em fevereiro de 2007.

Em outra gravação, o empresário Marcelo José Martins Santos Filho, o Marcelinho, sócio de várias concessionárias em Maceió, fala com o deputado Nelito Gomes de Barros (PMN) sobre possível acerto com Albuquerque para a compra de três Ford Fusion -que, segundo a investigação, seriam pagos com dinheiro da Assembléia. Cada unidade do carro custa em torno de R$ 80 mil.

Marcelinho, segundo a PF, está no topo da organização criminosa -junto com os deputados da Mesa Diretora.

O Fusion de Barros está entre os carros e camionetes de luxo apreendidos por determinação da Justiça Federal e que estão amontoados no pátio da Polícia Federal em Maceió.

Em outra gravação, assessora parlamentar apontada pela PF como laranja de Albuquerque reclama com o diretor de RH que pessoas ligadas ao presidente da Assembléia não “receberam”. “Uma irmã dele recebeu; outra, não”, diz.

As irmãs de Albuquerque estariam incluídas na folha de pagamento da Assembléia sob o código 108. Inspeção feita pela OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) de Alagoas na Assembléia, concluída há duas semanas, indicou que a maioria dos 128 servidores da “folha 108″ recebia salário sem ter sido nomeada para nenhum cargo. Segundo a PF, a “folha 108″ era composta por familiares e laranjas dos deputados investigados e era modificada mês a mês para atender aos interesses da organização criminosa.

“[Os deputados da Mesa Diretora] inseriam funcionários fantasmas na folha, pessoas que nem sabiam que o CPF delas estava na Assembléia”, disse o superintendente da PF em Alagoas, José Pinto de Luna. Segundo ele, já há provas robustas da existência do esquema e do envolvimento dos parlamentares.

As gravações apontam que o esquema funcionava com a apropriação, pelos deputados, das verbas de gabinete, gratificações dos comissionados, retenção de salários e inserção de servidores fantasmas na folha. Havia ainda, diz a PF, esquema de fraude à Receita, via Imposto de Renda.

Comentário do Blogueiro: O Blog do Desemprego Zero levantou o questionamento sobre “o por que” dessa notícia passar quase desapercebida. A sugestão é que se o presidente da Assembléia Legislativa de Alagoas fosse do PT e não do DEM haveria um verdadeiro terremoto midiático. Isto é fato. Porém, sendo do DEM, a notícia não interessa à grande mídia. Mais uma vez, fica a constatação de que a “onda ética” desse pessoal tem direção certa. É uma ética de mentirinha, ou seja, de conveniência. Quando lhe convém, fazem um estardalhaço com uma “tapioca”. Caso contrário, o assunto aparece e desaparece da mídia como passe de mágica. O que vale mesmo é o embate político. O resto é conversa para boi dormir. Quem quiser cair no conto dessa gente que caia, eu estou fora. Cada um escolhe as historinhas que melhor lhe interessam.
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Lula lança em Brasília o programa Territórios da Cidadania

Nesta segunda-feira (25/02), o presidente Lula lançou oficialmente o programa Territórios da Cidadania. O progrma reúne 135 ações de desenvolvimento regional e de garantia de direitos sociais e beneficiará 958 municípios brasileiros (clique aqui para saber as localidades incluídas no programa) neste ano de 2008. Nas áreas beneficiadas, vivem cerca de 24 milhões de pessoas, sendo 7,8 milhões na área rural. Foram definidos 60 territórios por apresentarem o menor Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do país, além de baixo dinamismo econômico. O investimento previsto para 2008 é de R$ 11,3 bilhões para reduzir a pobreza nessas regiões.

No lançamento, presidente defende o Bolsa-Família e diz que o Luz para Todos chegará a 10 milhões de beneficiados. Para o presidente Lula, o Territórios da Cidadania será criticado por ser considerado assistencialista, mas disse acreditar que população saberá distinguir o que é boa fé, do que é de má fé.

Segundo o Ministério de Desenvolvimento Agrário (MDA), o Territórios da Cidadania difere de outros programas sociais por não se limitar a enfrentar problemas específicos com ações dirigidas. Ele combina diferentes ações para reduzir as desigualdades sociais e promover um desenvolvimento harmonioso e sustentável.

Coordenado pelo MDA, o programa envolve 15 ministérios, entre eles Ministério de Desenvolvimento Social (MDS). Serão desenvolvidas ações combinando os financiamentos do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) com a ampliação da assistência técnica; a construção de estradas com a ampliação do Programa Luz para Todos; a recuperação da infra-estrutura dos assentamentos com a ampliação do Bolsa Família; a implantação de Centros de Referência de Assistência Social (CRAS) com a ampliação dos programas Saúde da Família, Farmácia Popular e Brasil Sorridente; e a construção de escolas com obras de saneamento básico e construção de cisternas.

O conjunto de ações dos Ministérios englobados no Territórios da Cidadania visa a melhoria da qualidade de vida de milhões de brasileiros. “Territórios da Cidadania é um esforço concentrado do Governo Federal para superar de vez a pobreza no meio rural com um planejamento que alia visão territorial e eficiência nos investimentos públicos. O País está crescendo e já era hora de fazermos um programa desta magnitude para que ele cresça para todos”, ressalta o ministro do Desenvolvimento Agrário, Guilherme Cassel.

Calendário de ações

O lançamento oficial do novo programa, nesta manhã de 25 de fevereiro, em Brasília, será transmitido ao vivo para todo o País. Em cada estado, em pelo menos um dos territórios, seus representantes se reunirão para assistir à cerimônia do Palácio do Planalto. Na Bahia, por exemplo, a transmissão será assistida pelos representantes do Território do Sisal na cidade de Valente. À tarde, todos eles assistirão uma transmissão, feita diretamente de Brasília, na qual os ministros explicarão como funcionará o Territórios da Cidadania. Pela internet, os participantes nos estados poderão fazer perguntas. Quanto aos demais 33 territórios, dois representantes de cada um deles estarão presentes a todos os eventos em Brasília.

No dia 26, os representantes dos 27 territórios que tiveram transmissões ao vivo continuarão reunidos, agora em assembléia, para abrir oficialmente os trabalhos. Nessa reunião, serão apresentadas as 135 ações previstas no novo programa e detalhados os investimentos para cada uma delas. No começo de março, será a vez dos representantes dos demais 33 territórios realizarem suas assembléias.

Entrevista do sociólogo Ivaldo Gehlen ao sítio UOL sobre o programa

Segundo o sociólogo Ivaldo Gehlen, professor da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), em entrevista ao sítio UOL, o baixo IDH em áreas rurais foi decorrente do processo de despovoamento dessas áreas e de uma mudança do perfil do uso das terras nas últimas décadas. Para ele, as políticas públicas para o setor rural sempre privilegiaram aqueles que tinham melhores condições de atender as demandas das políticas de produção agropecuária. "Essa mudança privilegiou aqueles que tiveram acesso a melhores tecnologias", disse.

Na mesma entrevista, o sociológo destacou que o apresentado pelo governo tem boas chances de dar certo. "Parece que o sentido mais interessante que ele apresenta é o que eu chamo de uma inversão de prioridades", falou. Segundo ele, o programa beneficia as áreas e as populações que estão no limite de sobrevivência no meio rural. "Se tiver sucesso, ele vai se tornar importante no sentido da sustentabilidade, porque essas populações podem continuar sobrevivendo com qualidade de vida e elas vão participar do processo produtivo de modo a beneficiar a sociedade", explicou.
Outro mérito do programa destacado pelo sociológo é o investimento em educação, em lazer e em nova formas de sobrevida no meio rural, que "são fundamentais para uma visão de desenvolvimento sustentável". Mas Gehlen faz um alerta para o risco de descontinuidade, que pode comprometer o sucesso do programa ou dele se tornar paternalista. Para romper com o paternalismo, disse, é preciso pensar na organização social dessas populações. "Que eles por si próprias se organizem e possam no futuro atender as suas necessidades", falou. "Não havendo esses problemas, há boas chances, sim, de ele ter sucesso, evidentemente a médio e longo prazo", afirmou.
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Carta a Diogo Mainardi



Caro senhor Mainardi, não o leio. Tão pouco sua revista que há muito percebi nada ter a dizer, pois se transformou em um veículo totalmente parcial, propaganda descarada das idéias mais conservadoras, que usa a mentira como sua principal ferramenta. Mas, aqui venho confessar que li as suas duas últimas colunas, e explico os motivos. Na penúltima, desejava entender seus argumentos sobre o tal dossiê italiano, que sua notória empáfia alardeava como definitivo para provar o envolvimento de governo e parlamentares com negociatas da Telecom Italia. No documento, nada vi. Mas na internet, ao longo de toda a semana, uma fartura de análises e as excelentes reportagens de Luiz Nassif aguçaram minha curiosidade por uma resposta sua.Imaginei que ela viesse em sua coluna seguinte, mas nada. Sobre o assunto, as críticas de que o documento foi montado no Brasil (ao contrário de suas afirmações), o fato de que ali nada provava de seus argumentos, a continuada argumentação sobre os seus interesses escusos com Daniel Dantas, tudo ficou sem resposta. Mas, o pior: o conteúdo deste texto contém manifestação clara de racismo, desmedido ódio ao povo brasileiro e hipocrisia histórica.

Todo seu trabalho nesta semana foi escrever 512 palavras para desabafar sua contrariedade em encontrar na saída de seu almoço os participantes de um show de axé na Praia de Copacabana. Para tal, faz um rebuscado e oblíquo raciocínio que o leva a comparar nosso povo ao sentimento que o escritor Elias Canetti teve ao se deparar com a massa que incendiou o Palácio da Justiça em Viena, em 15 de julho de 1927. Mais, faz uma intriga ao crer que ali, como aqui, há algo assemelhado, afirmando que o escritor viu um prenúncio do nazismo. Seu equívoco é grande. Creio que não tenha de fato lido Canetti. Se o fez, não o entendeu. Vamos a um trecho do livro “Massa e poder”, onde o escritor búlgaro faz uma reflexão sobre a massa:


Somente na massa é possível ao homem libertar-se do temor do contato. Tem-se aí a única situação na qual esse temor transforma-se no seu oposto. E é da massa densa que se precisa para tanto, aquela na qual um corpo comprime-se contra o outro, densa inclusive em sua constituição psíquica, de modo que não atentamos para quem é que nos "comprime". Tão logo nos entregamos à massa não tememos o seu contato. Na massa ideal, todos são iguais. Nenhuma diversidade conta, nem mesmo a dos sexos. Quem quer que nos comprima é igual a nós. Sentimo-la como sentimos a nós mesmos. Subitamente, tudo se passa então como que no interior de um único corpo. Talvez essa seja uma das razões pelas quais a massa busca concentrar-se de maneira tão densa: ela deseja libertar-se tão completamente quanto possível do temor individual do contato. Quanto mais energicamente os homens se apertarem uns contra os outros, tanto mais seguros eles se sentirão de não se temerem mutuamente.


Fica claro que o temor é todo seu, não de Canetti. Mais. É cínica e mentirosa sua alusão ao episódio como prenúncio do nazismo. Em um bom curso de história, se feito, ensina-se que a Áustria vivia no período uma profunda crise econômica, com massas de trabalhadores nas ruas, em greve, exigindo seus direitos e mudanças no corrupto governo. Foi em uma greve de trabalhadores naquele ano que alguns foram mortos por militantes fascistas, caso levado ao tribunal que os absolveu, gerando fortes protestos. No dia 7 de julho, mais 140 trabalhadores foram mortos na rua pela polícia, um massacre. Fato que explica o ódio das massas que a levou a incendiar o Palácio da Justiça uma semana depois.

Já o seu ódio pelas massas está claro no seguinte trecho:


Para mim, a massa bestializada que foi assistir ao espetáculo de Claudia Leitte em Copacabana, formada por uma gente embriagada, barulhenta, porca, feia e de pernas curtas, provou apenas que eu preciso sair menos de casa.


Lembro que uma das características do nazismo é ser uma visão racista, que os levam inevitavelmente a práticas como a eugenia. Seria seu desejo o de esticar as pernas dos brasileiros? Mais uma lembrança para finalizar: o que tem pernas curtas é a mentira. O senhor, que ganha a vida como conservador profissional, deveria ser mais atento com a inteligência de seus leitores. Não demora e estarão percebendo a grande fraude que é o seu pensamento.
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Ritos acadêmicos



Concursos de provas e títulos, de acesso e de defesa de teses de pós-graduação compõem boa parte do cotidiano das universidades brasileiras. É por meio deles que a academia seleciona seus quadros, diploma seus especialistas e reconhece o mérito de seus professores, possibilitando-lhes uma carreira de longo prazo.

Ao menos naqueles que dizem respeito ao corpo docente, a questão intelectual ocupa o posto de honra. Ou deveria ocupar. Os concursos para livre-docência, por exemplo, têm no mérito científico a sua peça de resistência. Também é assim com as bancas de defesa de tese. Já os concursos para prover cargos de Professor Titular são mais amplos, pois coroam a carreira docente, configurando seu último degrau e dando, a seus ocupantes, a condição de cidadãos plenos da universidade. Os Titulares foram concebidos para figurar como reservas políticas, científicas e morais das instituições acadêmicas. Somente eles, por exemplo, podem ser candidatos a reitor ou a pró-reitor nas grandes universidades de ensino e pesquisa.

Justamente por isso, concursos deste último tipo são cercados de rigorosos pré-requisitos: longa trajetória docente, expressiva produção científica na área em questão, envolvimento efetivo com as diversas atividades acadêmicas, experiência comprovada de orientação e formação de pesquisadores, estágios e estudos complementares no exterior, obtenção de bolsas de pesquisa, e assim por diante. As bancas, formadas por reconhecidas autoridades intelectuais, devem submeter os candidatos a provas substantivas e duras, no correr das quais são revistos diversos temas estratégicos, é contada uma história institucional e passada a limpo uma biografia intelectual. Até bem pouco tempo atrás, tais eventos costumavam ser cercados de grande expectativa, ensejavam uma saudável competição intelectual entre os pares e eram acompanhados com interesse e alguma vibração por alunos e professores.

Tudo isso está hoje suspenso no ar. Salvo casos isolados, os concursos perderam boa parte de sua dignidade. Há bem menos rigor neles, especialmente nos de maior relevância, que estão condicionados por muitas conveniências e acomodações. Também por isso, produzem pouco impacto na instituição universitária e não sensibilizam seu povo. Tornaram-se eventos pequenos, acompanhados por familiares e amigos e ignorados por aqueles que circulam pelas faculdades. Sequer as defesas de tese têm força para despertar a disposição comunitária que deveria estar entranhada nos estudantes. Ninguém mais se mobiliza por elas ou para elas.

Passa-se o mesmo com os concursos para Titulares, que carregam consigo as maiores honrarias e tradições acadêmicas. Concorrem a eles professores com carreiras consolidadas, normalmente veteranos em suas instituições e as provas incluem em lugar de destaque a avaliação de memoriais de atividades, concebidos para ser relatos analíticos e circunstanciados de uma trajetória intelectual. Deveriam, portanto, gerar amplo interesse institucional, agitar minimamente o corpo docente e discente, despertar polêmicas, torcidas contra e a favor. Quem não gostaria, por exemplo, de ver incensado seu mestre preferido ou desmascarado o professor pretensioso?

Nada disso, porém, acontece hoje. Sobre tais eventos, pesa o silêncio da irrelevância. Os ritos e procedimentos típicos da vida acadêmica estão sendo sufocados pelas agendas universitárias, pelo pragmatismo contábil das reitorias, pelo corporativismo de professores, funcionários e estudantes, pela massificação, pelo afã produtivista e meio predatório que contamina o dia-a-dia da universidade, pela horizontalidade que quebra as hierarquias e os atributos intelectuais.

Concursos de provas e títulos nunca foram, e jamais poderão ser, o capítulo mais importante do cotidiano universitário. Tinham o mérito, porém, de indicar caminhos e facilitar o autoconhecimento institucional, retendo e renovando tradições intelectuais. Por meio deles, professores e estudantes eram incentivados a se apropriar da história mais profunda da universidade, fortalecendo assim os laços comunitários de identidade e projeto.

Os concursos converteram-se em procedimentos burocráticos, ritos esvaziados de densidade ética. Exceções à parte, destinam-se a distribuir cargos e diplomas, não a selecionar quadros ou a premiar méritos. São precedidos e seguidos por disputas mesquinhas, de bastidores, muitas vezes alheias a critérios de competência e merecimento. São acompanhados sem maior interesse institucional. Estão a correr o risco de se transformar em pastiche, imitação grosseira de estilos antigos, que já não mais respiram livremente.

Na universidade dos nossos dias, há muito mais que crise financeira e de gestão, muito mais que dificuldade para entrar em sintonia com o mundo. A crise se aprofundou tanto que passou a afetar o cerne da vida acadêmica, pulverizando suas rotinas, hierarquias e medidas. Nada que ocorre nas faculdades parece ter força para impactá-las como instituição, sequer os atos mais heróicos e rebeldes periodicamente praticados. Há alguns aplausos e certa torcida para que direitos se cristalizem, espaços se ampliem e certas reivindicações sejam vitoriosas, mas nada subsiste ao dia seguinte, nem se acumula e produz novas qualidades.

Não há como pensar que os ritos acadêmicos possam permanecer imunes ao tempo e não sofrer o efeito das transformações sócio-culturais. Brigar para que tudo volte a ser como antes seria uma batalha insensata, condenada à derrota. Mas é de se esperar que uma instituição preciosa como a universidade, por cujos espaços e estruturas correm os rios profundos da inteligência, seja capaz de reinventar a si própria, encontrando novas formas de fazer com que prevaleçam, em seu interior, as melhores práticas intelectuais e aqueles valores que ao longo do tempo a fizeram ser o que é. [Publicado em O Estado de S. Paulo, 23/02/2007, p. A2]

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Folha e IURD

Do Blog Cidadania

Tenho tido muito pouco tempo para me informar sobre o Brasil, mas essa polêmica entre a Folha e a Igreja Universal é muito divertida. Pensem bem: como tomar partido numa desinteligência entre duas instituições sobre as quais pesa tanta polêmica?

A Folha, para variar, errou. Foi preconceituosa e irresponsável ao fazer suposições sobre a IURD, de que a Igreja usaria o dinheiro dos dízimos para “esquentar” dinheiro obtido de forma ilegal.

O jornal não faria tais suposições sobre a Igreja Católica nem tendo motivos melhores do que aqueles que apresentou contra a IURD, ou melhor, que não apresentou.

Além disso, “seita” por que? Eu sou católico (não-praticante), mas, se alguém viesse chamar de “seita” a igreja em que fui batizado, crismado e na qual me casei, eu não iria gostar.

Claro que há vários aspectos da operação da Igreja Universal que são questionáveis, para dizer o mínimo. Mas como se trata da fé alheia, de uma fé que muita gente séria e instruída acalenta, é preciso respeitá-la. E mesmo que só gente humilde e sem instrução acalentasse, teria que acontecer o mesmo.

Fé, antes de tudo, é um sentimento. Não se pode ferir os sentimentos das pessoas de forma tão contundente sem uma boa razão, e a reportagem da Folha que a IURD questionou não oferece provas de nada, razão nenhuma.

Esse jornalismo de “teste de hipóteses” que infesta o Brasil, já passou dos limites há muito tempo. Por isso, a Igreja Universal, mesmo com todos os questionamentos sérios que pesam sobre si, está prestando um serviço público ao processar a Folha. Tomara que ganhe a causa.
Comentário do blogueiro: Post excelente postado pelo Eduardo Guimarães. A Folha poderia ter a grandeza de admitir seu erro, em vez de ficar posando de vítima. Há uma clara busca de fugir da análise do mérito das ações. De qualquer forma, a fé é algo muito subjetivo. Não é possível dizer que os fiéis da IURD não estejam sentindo agredidos em sua fé. Além disso, falar em ações "orquestradas" é bem mais complexo que à primeira vista. Vamos admitir que as ações dos fiéis da IURD contra a Folha foram sugeridas ou incentivas por bispos da igreja. E daí? Qual o problema? Onde está a ilegalidade? Quer dizer que se o trabalhador entrar na Justiça contra seu patrão porque o sindicato o orientou não vale? Fica a dúvida. Finalmente, a avalanche de ações na Justiça não é problema dos fiéis da IURD. O que eles querem é uma reparação à uma suposta agressão à sua fé da matéria da Folha. A forma que o Judiciário se organiza para julgar o mérito da ação não é problema seu. É isso.


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A culpa é de Fidel

Vou sugerir ao Mino Carta um voto no neocon Demétrio Magnoli em seu concorrido prêmio de Tartufo Nativo. É neocon novato, mas trabalha duro para merecer a glória de ser agraciado por sua hipocrisia intelectual. Autor de livros didáticos do ensino médio, é nova aposta da mídia carente de um Gustavo Corção. No recente caderno sobre Fidel, no Globo, publicou artigo onde defende que Cuba era uma nação em franco progresso quando um grupo de barbudinhos a assaltou, impedindo que chegasse a ser país com desenvolvimento de primeiro mundo. Para tal, apresenta números para sustentar que o índice de mortalidade infantil de Cuba em 1957 era o mais baixo de América Latina, e o 13º menor no mundo, posição perdida hoje. Apenas falta algo importante para um doutor em geografia: apresentar fonte, nada por ele foi citado. Basta uma consulta nos abundantes dados do relatório 2008 da Unicef para um outro olhar sobre a tese do “professor”. Charlatanice não muito diferente de seu mentor, Ali Kamel, que publicou artigo para dizer que a TV Globo sempre esteve favorável às diretas.
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Promoção de bichos de pelúcia


d´O Globo. Tem que ter o Tucaninho! É a cara daquele jornal!
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Luis Nassif, Veja e a blogosfera

O blog do Pedro Doria postou um texto interessante sobre o caso Nassif / Veja. É uma batalha que está longe de um fim. Na verdade, devemos estar apenas no começo. Há uma insatisfação muito grande do público que consome informação com relação ao conteúdo das revistas e jornais. Ao desvendar os meandros que cercam matérias jornalísticas da revista Veja, Nassif acaba dando razão àqueles que entendem ser direito dos leitores que os veículos de comunicação forneçam informação de qualidade e neutra. O público que consome informação sai ganhando.

A revista Veja tem todo o direito de ter uma orientação editorial à direita. Da mesma forma que a Carta Capital deve ser respeitada por ser identificada de esquerda. Evidentemente, não dá para pedir que aqueles com posições mais à esquerda gostem da revista Veja. E nem que aqueles que têm posições à direita moram de amor pela Carta Capital. A democracia sabe conviver com a divergência. Não é o fim do mundo.

A discussão em torno da disputa Nassif / Veja tem um enfoque diferente. As razões do Nassif para se meter numa briga com a Veja não é importante. A questão é o tipo de jornalismo produzido. A divergência é saudável. Porém, em nome dela não devemos tolerar abusos ou desvios dos meios de comunicação. Não estão à margem da lei. Devem respeitá-las como os demais cidadãos e instituições.

Já falei bastante, segue o post publicado pelo Pedro Doria.

Algo de muito importante está acontecendo na blogosfera brasileira desde que Luis Nassif começou a publicar suas reportagens a respeito da revista Veja: a conversa mudou de patamar. Das picuinhas habituais entre blogs de esquerda e de direita, entrou no bate-boca algo novo.

Informação.

A picuinha política habitual do ‘meu roubo é menor que o seu’ é capaz, no máximo, de dizer que o outro é burro por ser de esquerda. Ou por ser de direita, tanto faz. Mau caráter por apoiar o governo passado. Ou o atual. O debate entre esquerda e direita não tem discutido qual o melhor projeto de educação para o Brasil. Ignora como deve ser feita uma redistribuição tributária. Ele é capaz de dar apelidos criativos para programas de uma administração ou de outra mas após a graça do apelido, de crítica criteriosa e bem argumentada não sobra muito. Uma pena.

A esquerda não gosta da Veja porque a revista é de direita. Ou porque se opõe ao governo corrente. São, ambos, argumentos de péssima qualidade. Primeiro porque num ambiente de plena liberdade de imprensa, um órgão de comunicação pode defender o tom ideológico que bem entender. Segundo porque imprensa tem mesmo que ser de oposição a qualquer governo. Terceiro porque o governo não precisa de defensores. Tem poder. Muito poder. Poder suficiente para voltar-se com raiva contra qualquer órgão de imprensa e tentar sufocá-lo, recusando-se a publicar anúncios. É o tipo de poder que governo nenhum deveria usar. (No Brasil, a federação é a maior anunciante). O critério único para a publicação da publicidade estatal deveria ser circulação. Quem atinge mais leitores deveria ser privilegiado. É o tipo de poder que, por hábito, os governos sempre usam.

A obrigação que um órgão de imprensa tem para com seus leitores é o bem informar. Ela pode ter um ponto de vista, mas deve apresentar toda informação necessária para que o leitor possa fazer uma avaliação ele próprio dos fatos. Isto Veja não tem feito. Seleciona a informação que lhe convém. Não é a tradição da revista. É uma inovação. As reportagens de Nassif contam o como, o quando, o quem e o por quê.

Fatos não existem no vácuo. Têm contexto, interpretação e ponto de vista. Algumas informações que Nassif apresenta talvez venham a ser contestadas. É uma briga dura a que virá. Mas quem sai ganhando é o leitor pelo serviço prestado. Porque agora ele tem informação para sustentar o que pensa. O leitor do outro lado por certo está circulando os blogs oficiais ou oficialescos da direita procurando contra-argumentos. E alguém deveria ser capaz de oferecê-los. Quando o debate sobe um degrau, o da informação e não apenas da picuinha, o país ganha.

Nassif recorreu a um instrumento tradicional, o da reportagem, para levar a seus leitores a informação que coletou, certamente, após muitas entrevistas. (Dá trabalho informar). Mas como foi via blog que divulgou, a blogosfera melhora. Temos uma blogosfera que não costuma informar muito, quanto mais produzir informação do zero. A esperança, agora, é que seguindo ele, sem histeria, alguém pegue as atividades da Secretaria de Comunicação do atual governo – ou mesmo do governo passado – e mostre seus hábitos. Quem é favorecido, quais seus critérios de distribuição de propaganda, qual a linha editorial habitual dos agraciados, quanto circulam.

Costumamos, jornalistas, cobrar das estruturas do governo e das grandes empresas que sejam transparentes. A imprensa – e, sim, isto inclui blogs – tem uma das tarefas mais delicadas da democracia. É a ela que cabe informar. É através dela que o público toma conhecimento do que acontece. Sem uma imprensa livre não é possível formar opinião. A mesma transparência que a imprensa cobra de governo e empresas deve ser cobrada de volta.
Provavelmente vai ter briga e vai ter polêmica. É do tipo saudável.
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A polêmica entre a Universal e os jornais: A liberdade de imprensa e o direito de demandar o Judiciário

A polêmica entre a Igreja Universal do Reino de Deus e os jornais Folha de S. Paulo, A Tarde, O Globo e Extra é assunto espinhoso. Os fiéis da igreja entraram com ações na justiça em todo o país questionando reportagens dos veículos que supostamente empregaram tons ofensivos e preconceituosos, além de fazerem acusações sem provas. Desconheço o teor das reportagens, mas trata-se de um direito legítimo, garantido pela Constituição.

A liberdade de imprensa é um daqueles pilares que sustentam a democracia. Em notas, a Associação Brasileira de Imprensa (ABI) e a Associação Nacional de Jornais (ANJ) condenaram as ações judiciais de fiéis da Universal. O argumento é que as ações buscam intimidar jornalistas e jornais, usando o Poder Judiciário contra a liberdade de imprensa, o livre exercício do jornalismo e o direito do cidadão à informação. É, nesse caso, o argumento não é bom.
Não é a primeira vez que associações e grandes jornais advogam a tese de atentado à liberdade de imprensa e do exercício do jornalismo em razão de ações no Judiciário. Dessa vez, o problema é que segundo os jornais, há uma avalanche de ações na Justiça. De certo, isso pode ensejar questionamento no Judiciário. Tal tese, porém, é inconsistente com o direito daqueles que se sentem prejudicados de buscarem o Judiciário.
Se há abusos no chamado direito de petição, caberia ao Judiciário coibir punindo os proponentes das ações. Do contrário, se o Judiciário entender pertinentes as ações, que obrigue os responsáveis a reparem o dano. Não se pode é simplesmente advogar o direito dos meios de comunicação não serem processados. Isso seria absurdo.

O histórico dos meios de comunicação no Brasil não é bom. A lista de reportagens e matérias jornalísticas contendo inverdades ou insuficiência (ou ausência mesmo) de provas é elevada. O prejudicado nem sempre tem seu dano reparado na mesma proporção. Em geral, a vítima não é a imprensa, mas os cidadãos ou os adversários dos barões da imprensa.

Numa outra linha de análise, o presidente Lula discordou de que a série de ações judiciais movidas pela igreja contra os veículos de comunicação possa representar uma ameaça à liberdade de expressão. Questionado sobre o assunto, Lula disse entender que a igreja apenas busca no Judiciário, um dos “pilares da democracia”, uma forma de se defender ao se sentir atingida.
“E acho que a liberdade de imprensa pressupõe isso. Pressupõe a imprensa escrever o que quiser, mas pressupõe também que a pessoa que se sinta atingida vá à Justiça para provar sua inocência. Não pode ter liberdade de imprensa se apenas um lado achar que está certo”, afirmou o presidente.
“Liberdade de imprensa pressupõe uma mistura de liberdade e responsabilidade. As pessoas escrevem o que querem depois ouvem o que não querem. Esta é a liberdade de imprensa que nós queremos”, continuou.
Ao comentar especificamente o caso da Folha de São Paulo, Lula disse que, se um dia o jornal se sentir atingido pela Igreja Universal, também poderá optar por processar judicialmente a igreja. “E assim a democracia vai se consolidando no Brasil”.

Alguns jornais e editoriais afirmam que Lula equivoca-se sobre a liberdade de imprensa. Confunde direito de ir ao Judiciário com abuso de ações para a intimidação da liberdade de imprensa. Mais uma vez, o argumento é pouco válido. É a velha fórmula de tentar desqualificar o presidente quando este faz alguma declaração que não agrada. A tática é covarde e foge das explicações. Como disse, se há realmente abuso, porque não deixem por conta do Judiciário. Se não há nada de errado nas reportagens, nenhuma inverdade ou acusação sem provas, certamente esses jornais terão êxito no Judiciário.

Lula acertou na mosca. Se a Folha se sentir atingida pela Universal, que busque também o Judiciário. É assim mesmo. Não podemos esquecer que tanto a ABI quanto a ANJ são associações representativas de classes (uma dos jornais e a outra dos jornalistas). É comum que defendam o direito de não serem processados. Podem dizer que não é isso que estão defendendo, apenas questionam o abuso de ações. O argumento é fraquinho, afinal o Judiciário também existe para apreciar tal abuso, se existente.

Nesse caso específico da briga entre a Universal e outros importantes veículos de comunicação, não podemos deixar de assinalar que possivelmente interesses comerciais estejam em jogo. É uma evidência. Como bem assinalou Nassif na sua série de reportagens com denúncias contra a Veja, é muito tênue a linha que separa jornalismo dos negócios.

As reportagens podem ser simples matérias, produto do chamado “jornalismo investigativo”, mas a suspeita paira no ar. É uma questão de contexto. O império de comunicação erguido pela Universal desafia os tradicionais impérios familiares que dominam a imprensa no Brasil. Se o império da igreja foi construído com recursos supostamente de origem dos dízimos, o que há de ilegal nisso. Os interesses nem sempre estão claros.

O respeito à liberdade de imprensa deve ser assegurado, assim como o direito de demandar o Judiciário contra seus abusos. E não são poucos. Mas também se deve assegurar a liberdade religiosa, inclusive o direito dos fiéis de pagarem o dízimo. Uma equação às vezes complicada. É o jogo. Adeus à simplicidade.

Em tempo: São recorrentes na imprensa denúncias de lavagem de dinheiro da Universal. Difícil de entender, pois a igreja tem imunidade tributária. Então, a igreja não precisa lavar o dinheiro. Existem contradições em ambos os lados.
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Obama obtém a décima vitória consecutiva sobre Hillary e John McCain amplia vantagem

Barack Obama superou a adversária Hillary Clinton pela décima vez consecutiva, impulsionando sua pré-candidatura à indicação democrata। As primárias da última terça-feira aumentaram o estoque de notícias ruins para a democrata Hillary Clinton. Hillary, que há alguns meses era a favorita entre os democratas, perde espaço a cada prévia, mas mantém expectativa de vitória nas primárias de 4 de março, nos Estados de Ohio e Texas, bem como na Pensilvânia em 22 de abril.

Em Wisconsin, Obama venceu Hillary com uma diferença de 58% a 41%, em um estado em que a população negra é próxima de 4%। A vitória de Obama surpreende pelo tamanho da virada. Pesquisas de duas semanas atrás indicavam que Hillary liderava a corrida com 13 pontos de vantagem. Como Obama teve 17 pontos de vantagem na votação, a virada em duas semanas foi de 30 pontos percentuais. É realmente uma virada espetacular. Aquela tese de que Obama ganhava em estados com população negra, de maioria republicana e de jovens perdeu o sentido. Não parece ser esse o perfil do estado de Winsconsin. A estratégia da desqualificação das vitórias de Obama pela campanha Hillary não funcionou. Reconhecer as derrotas seria um bom recomeço para a senadora democrata.

Nas primárias de Havaí, estado natural de Obama, ele teve 75% dos votos contra 24% de Hillary Clinton. Embora nascido em Havaí, o casal Clinton sempre foi forte nesse estado, e não se esperava antes uma vitória dessa magnitude. Com isso, Obama completou o décimo triunfo consecutivo sobre Hillary após a superterça.
As dificuldades da campanha Hillary não param por aí. Para se manter viva na disputa, Hillary precisa obter cerca de 65% dos votos nos três grandes estados – Texas, Ohio e Pensilvânia. Uma tarefa que não parece factível no momento, principalmente porque a campanha de Obama está em situação financeira bem mais favorável que a de Hillary Clinton.

Além disso, pesquisas indicam que Obama já está tecnicamente empatado com Hillary nos estados do Texas e Ohio। Algumas semanas atrás, Clinton tinha uma vantagem de dois dígitos sobre Obama nos dois estados. Mas uma pesquisa divulgada pela CNN indica que Obama estaria a apenas 2 pontos de sua rival democrata. É uma diferença que está dentro da margem de erro. É mais um estado em que pode haver uma virada, o que selaria o destino da campanha de Hillary Clinton pela indicação democrata.

Para complicar a situação de Hillary, pesquisa divulgada pela Reuters/Zogby aponta que Obama superou Hillary na liderança nacional de intenções de voto। Obama teria 14 pontos de vantagem sobre Hillary (52% a 38%). Em uma simulação contra John McCain, Obama aparece com 47% contra 40%. No entanto, McCain supera Hillary na mesma pesquisa. Ele teria 50% contra 38% da senadora democrata, uma vantagem de 12 pontos.

A conclusão é que a situação de Hillary está tornando-se insustentável। Está cada dia mais difícil para ela conter a obamania. Após sucessivas derrotas, a campanha de Hillary perdeu o rumo. A dinâmica do voto tende a favorecer os candidatos que mostram mais chances de vitória. Nesse sentido, Barack Obama está cada vez mais próximo da indicação democrata.

Do lado republicano, não há surpresas. McCain continua ampliando sua vantagem sobre os demais postulantes de seu partido. Em Wisconsin, McCain teve 55% contra 37% de Huckabee e 5% de Ron Paul. Em Washington, McCain obteve 68% dos votos, contra 17% de Huckabee e 8% de Paul. As vitórias nessa terça-feira consolidam sua liderança para a indicação republicana.
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Fidel Castro afasta da presidência de Cuba

Lula classificou Fidel Castro como o único mito vivo da humanidade. Está certo o presidente Lula, ninguém encarna hoje em dia como ele o mito da esperança por maior justiça social e de uma vida melhor para todos. Uma sociedade deve ser capaz de oferecer condições de existência digna para seus cidadãos. O sonho que norteou a revolução cubana continua vivo nas mente de todos os povos.

As palavras de despedidas de Fidel: “A mis entrañables compatriotas, que me hicieron el inmenso honor de elegirme en días recientes como miembro del Parlamento, en cuyo seno se deben adoptar acuerdos importantes para el destino de nuestra Revolución, les comunico que no aspiraré ni aceptaré- repito- no aspiraré ni aceptaré, el cargo de Presidente del Consejo de Estado y Comandante en Jefe”.

O órgão oficial do governo cubano, Granna, publicou a íntegra da sua carta de renúncia (clique aqui para ler a mensagem de renúncia). Fidel Castro não concorrerá à eleição indireta para presidente, mas permanecerá como deputado. O comandante afastou-se da presidência em definitivo, mas certamente continuará balizando a orientação política de Cuba por algum tempo. Continuará tendo um importante papel político na ilha, mas não mais como Comandante-Chefe.

Não há dúvidas de que é um momento histórico para Cuba, mas também para toda a América Latina. A Revolução cubana chegou ao poder em janeiro de 1959, e desde então, Fidel Castro dirige os destinos do país. Os avanços sociais do regime cubano é uma referência para toda a esquerda latino-americana. Gostem ou não do regime de Fidel Castro, ainda hoje é uma das mais importantes lideranças políticas do continente.

Embora a carta de Fidel Castro não mencione um sucessor estabelecido, seu irmão Raúl Castro deverá sucedê-lo. Fidel expressou o desejo de formar um novo comando (governo) com a união da velha guarda e os jovens da revolução cubana. Neste domingo, a Assembléia Nacional de Cuba, com 614 deputados, escolherão o novo chefe do Conselho do Estado, o principal órgão do Executivo de Cuba. Raúl deverá ser escolhido, mas a renúncia de Fidel não elimina totalmente as incertezas sobre sua sucessão. Isso porque há outros potenciais candidatos a substituí-lo.

Existe uma expectativa de maior abertura econômica e distensão política em Cuba pós-Fidel. O que está claro é que o afastamento de Fidel não representa o fim do regime. Nos últimos meses, Raul Castro vinha ocupando espaço político e acenando para reformas. Segundo o jornalista Kennedy Alencar, da Folha de São Paulo, Raúl Castro em encontro com Lula pediu ajuda para aumentar os investimentos internacionais e melhorar as relações de Cuba, sobretudo com os EUA. O Brasil seria um dos poucos países com condições de dialogar ao mesmo tempo com o regime cubano, Hugo Chávez e o governo americano.

Segundo o colunista da Folha, Lula disse a Raúl que avanços econômicos deveriam ser acompanhados de maior abertura política. Para o petista, Raúl deveria fazer um gesto na área de direitos humanos (prisioneiros políticos) para demonstrar que deseja uma transição de verdade e não somente replicar o modelo chinês (abertura na economia e mão-de-ferro na política).

Com certeza Lula foi direto ao ponto. Como a transição na ilha será controlada, é importante que haja sinalizações para a comunidade internacional. A libertação de prisioneiros políticos é um gesto de boa vontade do novo governo, o que contribui para um melhor reconhecimento internacional.

Que o povo cubano aproveite o novo momento político do país para transformações em direção à melhoria de suas condições de vida. Mais liberdade política e econômica é um passo nessa direção. Porém, que isso não seja feito com a destruição (ou regressão) de suas conquistas. Avançar sem perder a ternura. É a torcida que nós brasileiros devemos ter em relação ao futuro de Cuba.
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Jornalismo de resultados


Nicolaes BERCHEM, Merchant Receiving a Moor in the Harbour, Oil on canvas transferred from oak, 94 x 98,5 cm, Gemäldegalerie, Dresden
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Don´t bother me!

Estava passando batido pela comemoração da vitória em Berlim do “Tropa de elite” e a retomada da polêmica em torno do filme. Mas, hoje, quando li a crítica do The Guardian desancando o prêmio, dizendo que o filme é fascista, o argumento é infeliz, os diálogos são fracos, repletos de clichês, fiquei incomodado. Como assim? Fui relar o que aqui escrevi antes da mídia publicar uma única linha de análise, até então apenas visto em cópias piratas, e continuo com a mesma visão. O filme é parcial como análise daquela realidade, restrito a uma visão policial, hipócrita, que mente sobre a existência de um Bope incorruptível. Mas, onde a coisa hoje me incomodou, ele é melhor que muita baboseira da produção internacional. Como que vem um inglesinho mauricinho falar de que a nossa classe média não conhece a favela, nunca lá pôs os pés, não tem como falar sobre o assunto. Que papo é esse? Deseja que temos que acompanhá-los em suas visitas guiadas e protegidas, todos de mãozinhas dadas pelas vielas para poderem registrar o nosso exotismo?

Estava com essa sensação quando leio o Alon Feuerwerker que coloca um ponto interessante:

No Brasil, infelizmente, muita energia foi desperdiçada na polêmica inútil sobre o suposto viés ideológico da obra. Até hoje os atores e o diretor sentem-se na obrigação de "explicar" o que o filme "quis dizer". Que importância tem isso? Nenhuma. Se se fizer um balanço de todas as críticas dirigidas ao filme, ele não foi acusado em nenhum momento de deficiência estética ou técnica. Nem foi dito que retrata uma realidade inexistente. Tropa de Elite é mais uma prova da superioridade do realismo sobre escolas artísticas de inspiração subjetivista e abstrata. Tropa de Elite é o nosso Resgate do Soldado Ryan.

Interessante. Nem compactuo com o restante do texto e o entusiasmo do jornalista, que vai mais longe, exagerando em que o filme é um “ Vidas secas” do Brasil urbano e coisas do tipo. Gostei da comparação com Spielberg. De fato, o que faz um soldado americano ser mais factível que o Capitão Nascimento? Mais humano? Quer maior hipocrisia ou clichê imaginar a situação do enredo em que um soldado alemão é poupado? Vocês acreditam nisso? O exército americano não começou agora no Iraque seu barbarismo, seu aprendizado de tortura. Foram séculos de experiência. Trucidaram populações indefesas nas Filipinas, verdadeiro holocausto patrocinado pelos seus primeiros interesses geopolíticos no Oriente. Mark Twain que o diga. E não pararam aí. A lista é grande, e chega aos nossos dias, quase sem interrupção. Quando filmam, o fazem como sofridos homens vítimas da história, que deram o sangue pela “liberdade” do ocidente. Baboseira. Quando filmarão a verdade histórica de que pouco os americanos fizeram na Europa, comparados ao que a União Soviética sofreu com seus exércitos, seu povo? Seu interesse era o Japão e cercanias, para onde seu capitalismo desejava ampliar-se. Liberdade? Conta outra.
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Radicalização periférica

Desde seu lançamento, Tropa de Elite viveu na polêmica. Foi recebido com bastante má vontade por parcela da imprensa e da intelectualidade brasileira. Semana passada, causou reações controversas do público e dos jornalistas presentes ao Festival de Cinema de Berlim. Recebeu críticas ácidas de publicações especializadas (como a revista Variety) e do grande Le Monde. Na noite de sábado, 16 de fevereiro, o filme levou o Urso de Ouro, uma das mais importantes premiações do cinema mundial, e foi aclamado de pé pela platéia que se aglomerou no Berlinale Palast. O júri, presidido pelo cineasta Costa-Gravas, premiou o filme de José Padilha por sua capacidade de “nos ajudar a compreender a sociedade brasileira, e não apenas ela. Corrupção e violência são pragas que avançam em todo o mundo, com as especificidades de cada lugar”.

Reproduzo abaixo artigo que publiquei no jornal O Estado de S. Paulo em outubro de 2007, quando o filme iniciava sua exibição nos cinemas brasileiros.


Logo no início de Tropa de Elite – o interessantíssimo e polêmico filme de José Padilha – fica-se sabendo que polícia, crime e tráfico fazem parte de um mesmo sistema: entrelaçam-se como fios de novelos gêmeos, corrompem-se e se degradam mutuamente. Quase de imediato percebe-se também que o entrelaçamento é mais profundo. Nos morros e na cidade, os desejos de consumo, os estilos, a linguagem e os comportamentos sugerem uma ausência de distância social, ainda que seja escandalosamente ostensiva a disparidade de renda, educação e oportunidades entre aqueles mundos unidos pela diluição ética e pelo ofuscamento do futuro.

Os morros retratados no filme são ambientes abandonados, assistidos por uma ONG bem-intencionada, mas não pelo poder público. Jovens burgueses e de classe média compartilham espaços e drogas com jovens pobres, marginais e crianças, misturando de modo louco universos que, na base da sociedade, são incomunicáveis e se rejeitam com veemência. Parece não haver classes naquela “comunidade” unida pelo desejo de sobreviver, de consumir, de “fazer algo” e acontecer, sempre que possível contra o Estado (a polícia). Mas a exclusão, a miséria, a falta de perspectivas explodem por toda parte, a evidenciar um dilaceramento social extensivo. A violência generalizada é seu fermento, a dificuldade comunicacional seu combustível. Não é somente a truculenta e fascista elite da tropa que se revela desqualificada para propor uma saída: todos – traficantes, universitários, políticos – chafurdam na mesma impossibilidade de ação positiva, dramaticamente abraçados.

Pode-se até dizer que o filme exagera na apresentação da violência, que nos morros também há gente decente dedicada a alcançar patamares consistentes de dignidade e sobrevivência. Que a polícia não é só aquilo que se vê, uma corporação corroída pela corrupção, pelo despreparo e pela luta interna. Como toda obra de arte, Tropa de Elite dá margem a muitas interpretações. Pode ter fascinado alguns brucutus de plantão e seduzido aquela parcela da população que acredita na lei do cão, mas não deixa ninguém indiferente. Ao desnudar uma situação lancinante, explosiva, faz um irrecusável convite à reflexão. Incentiva-nos a pensar no Brasil atual, onde o moderno está ao mesmo tempo radicalizado (repleto de tecnologia, individualizado e desinstitucionalizado) e aprisionado pela condição periférica do país, que nos mantém com boa parte do corpo submerso na pobreza, na ignorância e no atraso econômico-social.

O entrelaçamento destas duas “lógicas”, a da modernidade radicalizada e a da condição periférica, a do celular e a da miséria, dá cores ao Brasil atual. Voracidade produtiva e consumista, desejo contínuo de exposição, diversão e velocidade, conectividade fácil, desengajamento, fuga do Estado e da política – são fenômenos derivados do moderno que se radicaliza. Vida que escoa pelos dedos, sem direção e sem formato estável: “líquida”, na sugestiva linguagem metafórica de Zigmunt Bauman. A condição periférica, por sua vez, nos encharca de pobreza, de violência, de luta insana pela existência, de indigência e não-reconhecimento, de massas subalternizadas, vistas como ameaça e problema, não como fato humano ou gente. A interpenetração das duas condições produz um tipo de vida: dinâmica, frenética, desigual, efêmera, inevitavelmente insegura e perigosa. Se a inovação tecnológica infrene apaga as distâncias de tempo/espaço, ela ao mesmo tempo polariza a convivência, separando as pessoas, por exemplo, em incluídos e excluídos digitais ou informacionais. Ao passo que, para uns, drogas e celulares são meios de vida, para outros são fontes de prazer e entretenimento.

Encontramos traços deste modo de ser por onde quer que caminhemos. Ou será que as dificuldades e incertezas da escola e da educação têm a ver somente com fracasso pedagógico ou despreparo dos professores? A longa e interminável crise do Congresso seria por acaso o resultado exclusivo da mediocridade da classe política? E o que dizer da condição falimentar dos partidos? Podemos nos contentar em atribuir as seguidas tragédias (aéreas, rodoviárias, urbanas, hospitalares) de nossos dias somente aos “sistemas” e a seus operadores?

A modernidade radicalizada periférica está pulsando em nossos nichos sistêmicos e existenciais. A vida líquida, por aqui, é ainda mais informe. Não necessitaríamos de filmes como Tropa de Elite para saber disso. Bastaria olhar para os ambientes em que julgamos estar nossas maiores virtudes: nossas instituições, da família aos sindicatos, passando pelas escolas e pelos tribunais, pelo mercado e pelo Estado. Tudo parece meio desfocado e fora de controle: em transição acelerada, recomposição e “sofrimento”. Há coisas novas despontando, coisas velhas ruindo com estardalhaço, outras fenecendo em silêncio. O tom dominante é de dúvida, medo, incerteza e insegurança, mas não há como desprezar a potência positiva daquilo que emerge, nem achar que todos os cidadãos se deixaram contaminar por igual e não se orientam mais por nenhum valor cívico (a honestidade, a decência, a integridade) ou aposta política.

A questão, como sempre, está na contradição e na ambivalência. Aquilo que se mostra mais “emancipador” – a liberdade de escolha, a mobilidade, a democratização dos relacionamentos – também traz consigo novas injustiças e a reiteração de problemas já conhecidos: vantagens e oportunidades desigualmente distribuídas, hierarquias e assimetrias de novo tipo, exclusões inaceitáveis.

A época é estranha, turbulenta, difícil de ser decodificada. Ela está a nos dizer que problemas e conflitos não podem ser resolvidos por medidas unilaterais ou discursos fáceis. Dependemos sempre mais de pensamento crítico articulado e de políticas inteligentes, contínuas, democráticas, que valorizem as pessoas e produzam resultados sustentáveis. [Publicado em O Estado de S. Paulo, 27 de outubro de 2007, p. A2]

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Popularidade do Governo Lula

O que mais me espanta é o espanto da mídia. Decididamente os caras ficam contrariados quando percebem, que por mais campanha que façam, por mais sistemática e baixa que esta campanha seja, ela simplesmente não cola.
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Pesquisa CNT/SENSUS aponta a maior aprovação ao governo Lula desde 2003

A avaliação do governo Lula é a maior desde 2003. O índice daqueles que consideram o governo ótimo e bom sobe de 46,5% para 52,7% em janeiro. Esse percentual chega a 85,2% de brasileiros quando se considera ótimo, bom e regular. Além disso, a aprovação pessoal do presidente cresce para 66,8% de ótimo e bom. Em contraste, apenas 13,7% dos brasileiros consideram o governo ruim ou péssimo. Houve um significativo crescimento na avaliação do governo e do presidente Lula. Os programas sociais e a melhoria na economia explicam a aprovação do Lula e de seu governo. Além disso, o discurso de fácil assimilação com a população do presidente Lula contribui para uma melhor avaliação junto às camadas de renda mais baixa.

A crise da febre amarela (uma epidemia que não houve) e as denúncias de mau uso dos cartões corporativos não foram capazes de atingir a aprovação ao governo Lula, que continua em alta. Mas a maioria dos entrevistados acredita que os cartões corporativos afetam a imagem do presidente Lula. A questão é que a população avalia o governo em seu conjunto, o que explica a elevação da popularidade mesmo em momentos de intensa agenda negativa na imprensa.

A maioria do eleitorado mostram confiança no crescimento do país. É um contraste quando se observa que grande parte dos entrevistados mostram preocupação com a crise americana. Outro destaque da pesquisa CNT/Sensus é a melhora significativa no índice de expectativa, que sintetiza as perspectivas para indicadores de emprego, renda, saúde, educação e segurança pública para os próximos seis meses. Segundo a pesquisa, o índice de expectativa subiu de 64,46 pontos em outubro de 2007 para 71,25 pontos em fevereiro. É sinal de otiminismo da população em relação aos indicadores sociais.

Em relação aos últimos seis meses, o índice de avaliação do cidadão, que pondera os mesmos indicadores do índice de expectativa, subiu de 44,72 pontos para 50,90 pontos. Em todas as categorias, houve percepção de melhora nos últimos seis meses. Ricardo Guedes, diretor da Sensus, pondera que isso explica o aumento na popularidade do presidente Lula e de seu governo.

A pesquisa também avaliou os cenários para a eleição de 2010. Serra continua sendo o nome mais forte para 2010. Aécio Neves está em crescimento contínuo. No lado do PT, os ministros Patrus Ananias e Dilma Rousself continuam com poucas intenções de voto. São poucos conhecidos do eleitorado. No campo governista, Ciro Gomes é o nome mais bem colocado em todas as simulações. Segundo Ricardo Guedes, do Sensus, o apoio do presidente Lula poderá levar o candidato para o segundo, seja ele do PT ou de outro partido da base aliada.

A pesquisa não apresentou nenhuma novidade com relação às eleições de 2010. O cenário é praticamente o mesmo de meses atrás. Mas confirma que Lula poderá influenciar a escolha de seu sucessor. A popularidade do presidente Lula pode garantir um candidato da base aliada no segundo turno das eleições. Além disso, uma parte do eleitorado poderá seguir às recomendações do presidente.

Para saber mais sobre a pesquisa CNT/SENSUS, clique aqui para ler o que foi publicado no sítio da CNT.
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Batalha Nassif/Veja: A grande imprensa na defensiva

Imperdível a série de denúncias do jornalista Luis Nassif contra a revista Veja. Este blog presta seu apoio à corajosa luta de Nassif para mostrar o tipo de jornalismo praticado pela revista. A podridão do jornalismo praticado pela Veja está exposta numa série de artigos disponibilizados na internet pelo Nassif em seu blog e no site googlepages. São negociatas, ataques desqualificadores contra todos que atravessam à sua frente, guerras comerciais como a “batalha das cervejas”. O mais puro esgoto jornalístico.

Os artigos publicados pelo Nassif oferecem o “modus operandi” da revista Veja. Luis Nassif dissecou parte da sujeira encoberta na teia de interesses por trás de grandes reportagens. Conforme destacou Rafael Galvão em seu blog, o que Nassif denuncia seria comum em todos os jornais e revistas espalhados pelo país. Para ele, o jornalzinho do interior faz algumas matérias batendo no prefeito para ganhar anúncios e calar a boca; segundo ele, há alguns anos a Globo se sentiu ameaçada por uma incursão da Legião da Boa Vontade, aquela do Paiva Netto, no mercado educacional; o resultado foi uma série de matérias denunciando irregularidades da entidade. São apenas alguns exemplos.

Em reação às denúncias de Nassif, a revista Veja entrou com ações na Justiça contra o jornalista. A revista não refutou nenhuma denúncia sequer. Apenas quer usar a Justiça como instrumento para retardar ou dificultar a publicação das denúncias. É um direito da revista procurar a Justiça por sentir prejudicada. Porém, sempre que a imprensa faz uma denúncia vazia e alguém entra na Justiça, é logo acusado por toda ela, sem defecções, de querer calar a imprensa ou de ato contra a sua liberdade. Dessa vez, nenhum veículo de comunicação ou grande jornal em circulação saiu em defesa da liberdade jornalística do Nassif. Dois pesos e duas medidas. Sempre assim.

O curioso é que a grande imprensa silenciou sobre as denúncias. É o assunto do momento, em todas as redações, nas páginas da web, mas não saiu uma linha sequer nos grandes jornais. Cadê o direito dos leitores desses jornalões à informação? Por que se calam? Papelão esse que nossa imprensa se presta. Sonegam informação a seus leitores. Como no caso dos cartões corporativos, se depender da grande imprensa, o déficit de informação será gigantesco.

São denúncias gravíssimas. Colocam em xeque a credibilidade da maior revista semanal do país. Não é apenas uma briga política na blogosfera – a pretensa guerra política na blogosfera não existe -, como sugere o texto publicado pelo Observatório da Imprensa. Os blogueiros têm opiniões divergentes, muitas vezes radicalmente opostas, mas é normal. Estranho seria se os blogueiros acompanhassem a grande mídia e acabassem com a diversidade.

A verdade é que não há transparência em nossa imprensa. Se não fosse a pressão da blogosfera, ninguém tinha conhecimento dos abusos praticados com os cartões de Serra. E mesmo assim, sem maiores explicações, a imprensa num passe de mágica sumiu com as matérias. Deram espaço para as explicações do governo paulista sem submetê-lo ao contraditório. Fez uma cobertura partidária de um problema de gestão. Alguém pode dizer que o problema é ético. E daí? Vale a mesma coisa. Os interesses políticos e empresariais por trás da linha editorial dos jornais estão distantes de seus leitores.

Impacientes com a blogosfera, a Folha classificou os blogs de política de “engajados”. É uma tentativa rasteira de desqualificá-los. É público e notório que os blogs trazem mais diversidade à informação política. Trata-se de um espaço bem mais democrático para a discussão política que o ambiente dos jornais. Desqualificá-los simplesmente é pura intransigência ou intolerância à diversidade de opiniões. Não aceitam a crítica. Como disse em outro post, não posso exigir neutralidade da imprensa, mas reservo-me o direito de não gostar de seu trabalho. A divergência não é monopólio da grande imprensa. Até mesmo porque há sempre solidariedade entre eles. Na batalha envolvendo Nassif e a Veja, a solidariedade é total.

Os fãs da revista estão raivosos. Dizem que no governo Lula surgiu uma onda anti-Veja. Nassif estaria defendendo os interesses do governo contra uma revista que denuncia seus abusos. É um tipo de defesa que não suporta uma crítica mais consistente. Não respondem às denúncias do Nassif. Se as denúncias são verdadeiras, Nassif faz um bom jornalismo. Se elas são falsas, onde estariam as evidências. Será que uma revista que usa dos expedientes denunciados é uma boa revista? Quer dizer que vale tudo para atingir o governo? Uma coisa é ser contra o governo, outra coisa é defender o jornalismo mercantil da revista Veja.

Dias atrás o blog “O biscoito fino e a massa” comentou sobre “a decadência da Fox” na cobertura eleitoral americana. A comparação da Veja com a Fox deveu-se ao extremismo de ultra-direita da Fox, como se isso representasse o centro do espectro político americano. A queda da Fox na importância da cobertura política daquele país é um bom sinal. Para os fãs da revista Veja, deveriam prestar muita atenção. O sinal vermelho ascendeu. Se a moda pega, quem sabe jornalismo direitista (e udenista) comece a perder importância aqui nos trópicos.

Na eleição de 2006, Lula foi reeleito apesar da mídia. Houve uma campanha forte contra sua candidatura, mas não foi suficiente para sua derrota. Na época, comentava-se que a mídia tinha perdido capacidade de influenciar as eleições. É óbvio que ela ainda influencia e muito. Na verdade, a mídia perdeu a vergonha de ficar contra o povo. Essa talvez seja a razão para que o povo preferisse ficar do outro lado. Não seguiram sua cartilha. Quem sabe a decadência de Fox já esteja acontecendo por aqui, mas a ausência de diversidade na imprensa impeça de aparecer tal fenômeno. É só uma hipótese.

(CLIQUE AQUI PARA LER A SÉRIE DE REPORTAGENS NASSIF/VEJA)

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ENTREVISTA DE CIRO GOMES À FOLHA DE SÃO PAULO: Lula e FHC contemporizaram com patrimonialismo, diz Ciro

“Entrevista muito boa do presidenciável Ciro Gomes ao jornalista Kennedy Alencar, da Folha de São Paulo. Ciro Gomes é um homem de idéias, de opiniões, não tangersiva. Seu problema é o temperamento explosivo. Para 2010, é o principal nome do arco governista. É hoje uma das maiores referências da esquerda brasileira. Vejam a entrevista logo abaixo”.

KENNEDY ALENCAR
Colunista da Folha Online

Presidenciável do campo governista mais forte nas pesquisas sobre a sucessão de 2010, Ciro Gomes diz que falta ao governo Lula "projeto estratégico", mas que "o Brasil melhorou" na gestão do petista. Afirma que Lula e o antecessor, Fernando Henrique Cardoso (PSDB), contemporizaram com o patrimonialismo.

"Tive uma conversa explícita com FHC, reclamando do excesso de concessões e da frouxidão moral a pretexto da sustentação no Congresso. Lá pelas tantas, ele me disse: 'Você é muito jovem e um dia vai se sentar aqui. Verá que caiu o presidente que não contemporizou com o patrimonialismo'. Ele usou essa expressão. Fiquei muito chocado. No governo Lula, vi um pouco de novo a mesma coisa", afirma.

Deputado federal do PSB cearense, ele acha "correta", mas "improvável" prosperar a tese de Lula de aliança dos partidos aliados em torno de um único candidato ao Palácio do Planalto. Admite ser vice para viabilizar tal tese.

A depender da circunstância, votaria no governador Aécio Neves (PSDB) para presidente. Diz que o governador de São Paulo, o presidenciável José Serra, é "um homem de valor, porém, sem escrúpulos".

Vê possibilidade de acordo futuro com setores do DEM e do PSDB em torno de um "projeto estratégico" que preveria incremento da poupança interna e reformas política, tributária e previdenciária. Defende plebiscitos e referendos para a população "mediar" essas questões. Prega um modelo econômico com maior intervenção do estado.

Dá nota sete ao governo Lula, no qual foi ministro da Integração Nacional, e oito à gestão Itamar Franco Tem simpatia pelos democratas Barack Obama e Hillary Clinton. Não quis dizer qual prefere, mas julga os dois melhores para o planeta. Considera McCain uma figura interessante e diz que, por tradição, republicanos são menos hostis ao Brasil.

Para ele, oposição tenta achar novo mensalão com caso dos cartões corporativos, mas não terá sucesso. A respeito do mensalão, diz que foi um escândalo de caixa dois e que não teria havido uso de dinheiro público.

Afirma que o bispo de Barra, dom Luiz Cappio, é messiânico e tem vocação para o martírio. Já a atriz Letícia Sabatella, outra opositora da transposição do rio São Francisco, obra que Ciro defende, seria "ingênua".

Aos 50 anos, diz que está "muito mais maduro" e que não estava "preparado" para ser eleito presidente em 2002. No entanto, afirma: "Não quero vender a alma para ser presidente do Brasil. Se for para ser presidente do Brasil conciliando com determinadas coisas, não quero ser, não deverei ser, não serei um bom presidente".

Segue a entrevista, realizada em seu gabinete na Câmara, no final da tarde de quinta-feira:

FOLHA - O governo FHC estabilizou a economia e deu início a uma rede de proteção social. Lula manteve a estabilidade, ampliou os gastos com os mais pobres e lançou um plano de investimentos em infra-estrutura e energia que ainda é uma incógnita. Quais deveriam ser as prioridades do próximo governo?
CIRO GOMES - Discordo da formulação da pergunta. Houve uma lavagem cerebral no Brasil protagonizada pelo Fernando Henrique Cardoso. O governo Itamar Franco fez a estabilização com a fundação do real. Sem diminuir o papel do Fernando Henrique, que foi ministro da Fazenda, foi o que aconteceu e hoje o brasileiro médio não sabe disso porque foi feito um trabalho impressionante de propaganda em que a paternidade política do real foi assumida em 100% pelo Fernando Henrique. E o Itamar foi jogado na lata do lixo, como se tivesse sido um presidente exótico, quando foi uma passagem benfazeja pela Presidência.
A marca do governo FHC foi uma instabilidade, uma irresponsabilidade fiscal e uma ruptura do crédito brasileiro com estrangeiro como pouquíssimas e raras vezes aconteceram nos piores momentos da vida pública brasileira.

FOLHA - FHC não teve méritos?
CIRO - Sem FHC não teria havido o real, como também sem o Itamar não teria havido o real. Quero pôr as coisas no seu justo lugar. Embora méritos haja, a irresponsabilidade fiscal do governo FHC não tem precedentes na história brasileira. Isso se aponta com números. As pessoas acham que tenho animosidade particular. Nenhuma. Quando FHC tomou posse, com praticamente 500 anos de história brasileira, havia uma dívida pública equivalente a cerca de 38% do PIB (Produto Interno Bruto). Ele saiu do governo e deixou essa relação em 58% do PIB. Sob o ponto vista fiscal, o colapso do crédito brasileiro, que repercute na vida do povo embora pareça um assunto abstrato, cobra um preço.

FOLHA - Não se trocou a inflação alta pela dívida pública?
CIRO - Uma parte, sim. Outra parte claramente eleitoreira foi financiar a paridade entre o real e o dólar por um tempo maior que o necessário. Em 1998, acabou a reeleição e se desvalorizou em janeiro de 1999. Quando FHC assumiu, a carga tributária brasileira estava mais ou menos estacionada em 27% do PIB, e havia graves problemas e defeitos nela. O FHC entrega em janeiro de 2003 uma carga tributária equivalente a 35% do PIB. Explodiu a dívida, incrementou a carga tributária praticamente um percentil por ano de governo. A infra-estrutura, em consequência de uma taxa de investimento deprimida aos menores valores desde a Segunda Guerra Mundial, levou o país ao colapso, inclusive na caricatura trágica do apagão do setor elétrico.

Então, é um modelo errado, não é o Fernando Henrique pessoa física. Ele teve uma passagem respeitável [pela Presidência]. Tem muita coisa interessante, havia uma obra política que o Sarney tinha começado e que também ainda não se viu direito o quanto importante foi. Vejo isso já com olhar de história. Mas, na medida em que o Fernando Henrique sai do lugar justo e merecido que tem na história, que é positivo no saldo, e vem para o debate do dia-a-dia, está por trás por exemplo de uma decisão desatinada da oposição de derrubar a CPMF...

FOLHA - O governo dele teve um saldo positivo na história?
CIRO - O governo não. Ele pessoalmente. O governo é um desastre sem precedente na história brasileira.

FOLHA - Por que pessoalmente tem saldo positivo na história?
CIRO - Pela obra política. Foi um tempo de paz, um tempo de avanços institucionais. Ele é uma pessoa que deu dignidade ao cargo, que tem uma presença respeitabilíssima.

FOLHA - Quais devem ser os próximos passos do país?
CIRO - Falta ao Brasil um projeto estratégico. Percebo avanços importantes, conceituais no governo Lula. Por isso, o apóio. Aceitei servir ao governo, ajudei a esconjurar as crises, a enfrentar o debate político nem sempre favorável ao nosso lado.

FOLHA - Falta ao governo Lula um projeto estratégico?
CIRO - Ao Brasil.

FOLHA - Ao Brasil ou ao governo Lula?
CIRO - Ao Brasil e ao governo Lula, evidentemente. Temos um privilégio hoje, mas que gera uma debilidade institucional dramática: a intuição do presidente Lula, o compromisso verdadeiro com a causa nacional, com a causa dos mais pobres. Esses dois valores, que parecem uma abstração, embrionam um conjunto de valores coerente com o projeto nacional com o qual sonho. O Brasil melhorou com Lula, mas há muita debilidade institucional. Há dependência da vontade do Lula, da presença pessoal dele. Não é análise distante, não. Eu vi isso.

Durante o primeiro mandato, toda a política do Banco Central tinha uma tarefa: encarecer o crédito para dissuadir a demanda agregada, diminuindo o consumo. Todas as providências que o Lula bancou pessoalmente no crédito rural, no Pronaf, no crédito consignado, no crédito da casa popular, na construção civil foram na contramão do que o Banco Central está fazendo. Hoje, o ciclo de desenvolvimento que o país está vivendo, com essa retração internacional, é fundamentalmente puxado pelo mercado interno.

FOLHA - As duas coisas não são necessárias, o BC ter esse papel e o Lula puxar para o outro lado?
CIRO - Claro, mas repare bem. Depende muito do Lula pessoalmente. Depende do Meirelles [Henrique Meirelles, presidente do Banco Central], que está fazendo um belíssimo trabalho, apesar do meu antagonismo. Dependeu muito do Palocci [Antonio Palocci Filho, ex-ministro da Fazenda]. Depende hoje muito do talento extraordinário do Guido Mantega [ministro da Fazenda], que, não sendo exuberante no debate, é um extraordinário quadro que está dirigindo a economia brasileira de forma brilhante.

Na questão da Previdência, na qual as pessoas transformam o debate numa coisa contábil, a questão basicamente é: o que deve fazer a atual geração em relação à geração futura? Deve gastar e deixar uma dívida para a geração futura pagar? Ou deve se sacrificar e poupar para deixar alguma coisa para a geração futura? Isso é 100% ideológico. O governo Lula não mexeu nisso. O governo tem uma solidariedade com os aposentados, procura mitigar, atenua a questão pelo salário mínimo, que também é uma decisão pessoal do Lula.

FOLHA - Resuma esse projeto estratégico.
CIRO - Construir com começo, meio e fim uma economia política que tenha algumas clarezas. A produção brasileira não dispõe, mesmo no melhor momento dos últimos 20 anos, das condições simétricas às do empreendedor global para competir no mundo e no Brasil. A taxa de juros é global? Não. Se a taxa continuar tão assimétrica, estrategicamente o empreendedor brasileiro será prejudicado. Vamos marcar passo, como estamos marcando, apesar de termos avançado. É a menor taxa de juros real dos últimos 20 anos, e é uma taxa de juros exorbitante. O que se podia fazer com ganho de eficiência, já se fez. Daqui para frente é com o institucional.

Outra equação é o financiamento da Previdência. Não estou falando que devemos revogar o capitalismo. Estou falando do empreendedor brasileiro que não suportará uma condição assimétrica. Essas assimetrias precisam de uma economia de base capitalista, mas é preciso trazer claramente a idéia de uma economia em que o Estado cumpra as tarefas de mediar as assimetrias que atingem o empreendedor brasileiro. Às vezes, como na questão tecnológica, a solução exige uma presença direta do Estado. Não tem conversa. O Brasil não superará o hiato tecnológico sem uma intervenção direta do Estado.

No macro, a meta estratégica é liderar um esforço de elevação do nível interno de poupança. O movimento na Previdência tem a ver com isso. Um movimento no sistema tributário, reformado, tem a ver com isso. No micro, recuperar o Estado nas suas funcionalidades vitais. Exemplo: planejamento estratégico. Não dá para imaginar uma bodega sem planejamento estratégica. Isso foi satanizado na questão pública. Exemplo: a Amazônia está sendo acossada por um esforço predatório que impõe um interesse econômico ao interesse preservacionista. Qual é a causa disso? É a sacanagem do agricultor? Com o sacana, você lida. Usa a lei e a cadeia. Falta é planejamento estratégico. Tem de dizer: a equação econômica tem esse regramento, esse balizamento e um conjunto de restrições econômicas, como zoneamento econômico-ecológico, proibição de financiamento a quem desmatar ilegalmente, certificação de origem. Nossas estradas e nossos portos estão arrebentados. A economia política neoliberal é um perversão porque deixa o empreendedor médio nacional competindo em condições desiguais com o empreendedor médio do mundo.

O Brasil tem uma das mais agudas concentrações de renda do mundo organizado. Vai se resolver pelo espontaneísmo das forças de mercado? Todos os ganhos de produtividade fenomenais do Brasil nos últimos 20 anos não foram apropriados pelos trabalhadores. Durante os oito anos do governo FHC não foram apropriados. Agora, com o governo Lula, a renda do trabalhador volta a se recuperar discretamente, muito mais pela elevação do salário mínimo e pela geração de emprego do que por apropriação de ganhos de produtividade.

FOLHA - É possível formar uma maioria no Congresso para implementar esse projeto? Com quais forças?
CIRO - Possível, sim. É mais fácil, sendo dificílimo, reunir esse apoio se o método de debater a realidade brasileira for o interesse do país e não a luta política. Vejo interlocução no PSDB e em parte do DEM, sendo eu do campo hostil a eles na política. A tática que imagino é a seguinte. Tive uma conversa explícita com FHC, reclamando do excesso de concessões e da frouxidão moral a pretexto da sustentação no Congresso. Lá pelas tantas, ele me disse: você é muito jovem e um dia vai se sentar aqui. Verá que caiu o presidente que não contemporizou com o patrimonialismo. Ele usou essa expressão. Fiquei muito chocado. No governo Lula, vi um pouco de novo a mesma coisa. Me incomodei muito. Mas a maturidade, a vivência, quem sabe essa lição importante que o Fernando Henrique me deu...

FOLHA - Lula também contemporizou com o patrimonialismo?
CIRO - É o que estou lhe dizendo. Hoje, compreendendo que isso é um traço lamentável da realidade. Não deveríamos aceitá-lo, deveríamos manter sempre uma disciplina crítica contra isso, mas devemos reconhecer que é um traço da realidade. Como atenuar? Um temário central estratégico do país deveria ser excluído desse dia-a-dia do confronto governo-oposição. Governo vai ter sempre corrupção. Vai ter sempre oposição pedindo uma CPI com a perspectiva de desmoralizar o governo para obter efeitos eleitorais. Isso tudo é normal. Não acho normal isso dominar 100% as energias do país, especialmente da imprensa. A responsável não é a imprensa. A responsabilidade é dos políticos, a sua vassalagem, incompetência, medo de assumir suas responsabilidades. Porém, a imprensa ajuda ao espetacularizar o escândalo, ao novelizar o escândalo. Não estou dizendo que o escândalo não deva ser tratado. Deve ser tratado duramente, mas não pode monopolizar as atenção da sociedade brasileira se temos tais e tantas questões graves.

Advogo que o modelo tributário, o modelo previdenciário e o marco central de economia política e a questão da institucionalidade política [reforma política] devam ser temas que fiquem fora do mundanismo do dia-a-dia do governo governando e oposição oposicionando.

Em certos momentos, é profundamente democrático e não significa enquadramento do Congresso, convocar a população diretamente para mediar determinadas questões, com plebiscitos e referendos. Via até mesmo o próprio Congresso. Exemplo prático: Previdência Social. O debate sobre reforma previdenciária deve ser aberto assim. Nossa geração se sacrifica para deixar alguma coisa para a próxima ou come o que puder hoje e deixa que os filhos se virem no futuro? O que tem de ser feito fere interesses atuais e organizados em nome do interesse difuso das gerações futuras. Por que não convocar a população para ajuizar um questão. Um referendo, por exemplo, porque o Congresso precisa fazer a reforma antes.

FOLHA - O Banco Central voltou a dar sinais de que pode elevar os juros. Seria uma medida acertada?
CIRO - Errada.

FOLHA - Lula não deu autonomia formal ao BC, mas a concedeu na prática. O sr. acha essa fórmula correta?
CIRO - Num país de institucionalidade precária, como o nosso, o BC tem que estar submisso à autoridade da população via o presidente legitimamente eleito. O que não quer dizer que o presidente eleito deva se meter na função do BC de manter a saúde da moeda.

FOLHA - A meta de superávit primário de 3,8% deve ser mantida nos próximos anos?
CIRO - Advogo que saúde fiscal é um valor que deva ser perseguido definitivamente. O Brasil deve manter uma política fiscal austera superavitária. Só assim daremos confiabilidade à nossa capacidade de administrar nossos passivos. Isso abre caminho, como demonstrado, de reduzir a taxa de juros para incrementar a geração de emprego e o investimento.

Nada contra o conceito. Entretanto, uma nação não tem uma contabilidade de padaria. Uma economia sem compromisso com o estratégico pode ser um economia em dois anos, cinco anos.

FOLHA - Está correta a de 3,8%?
CIRO - Está errada em ser fixa.

FOLHA - O sr. a reduziria?
CIRO - Vou propor uma outra coisa...

FOLHA - Resuma.
CIRO - Não vou resumir. Lamento, mas a vida é difícil. Como dizia Padre Vieira, desculpe, mas não posso ser breve. É tolerável faltar energia num país como o Brasil? Não. Sucede então que o investimento necessário para não faltar energia não pode estar submisso a nada, a uma apuração de curto prazo [para cumprir a meta de superávit]. Posso economizar em manutenção de estrada? Se não faz a manutenção preventiva, a manutenção com a estrada esburacada sai mais caro. Todo ano jogamos dinheiro fora fazendo manutenção com a base comprometida. Sai mais caro.
A meta deve ser todo o superávit possível para trazer a dívida pública na sua proporção com o PIB a um patamar que garanta ao Brasil trazer sua taxa de juros a um padrão competitivo.

FOLHA - Qual seria a relação ideal entre PIB e dívida pública?
CIRO - O ideal é o Brasil buscar o déficit nominal zero, que está contemplado no PAC. O maior crime da oposição ao derrubar a CPMF foi comprometer esse itinerário. A oposição, que fala em responsabilidade fiscal, que crítica gastos sem grande volume com cartões corporativos que devem ser criticados, porque aparentemente pouco austeros, cometeu um desatino fiscal ao tirar R$ 40 bilhões do caixa sem botar nada no lugar. Se ainda fosse numa reforma tributária, compreenderia.

FOLHA - Se fosse americano, gostaria de votar para presidente nos democratas Barack Obama ou Hillary Clinton ou no republicano John McCain?
CIRO - Sou brasileiro.

FOLHA - Qual dos três seria melhor para o Brasil?
CIRO - Há contradição entre a minha simpatia e o que a tradição histórica demonstra. Para a economia brasileira, os republicanos têm sido menos hostis, um pouco menos protecionistas.

FOLHA - O democrata Bill Clinton salvou FHC em 1999, ao bancar ajuda de mais de R$ 40 bilhões do FMI ao Brasil.
CIRO - O FMI socorreu. O Clinton ajudou. Mas, voltando à pergunta, o padrão de consumo que os EUA têm está matando o planeta. Uma lógica assentada no combustível fóssil e no automóvel não é sustentável. A idéia de uma ação unilateral de guerras preventivas choca-se com a busca de uma ordem mundial amparada na paz. Os dois democratas estão mais comprometidos com essa visão, que é melhor para o planeta. Não disfarço minha simpatia pelos dois, mas o senador John McCain é uma figura bastante interessante. A ultradireita americana, neopentecostal e belicista, está meio sem representação nessas eleições.

FOLHA - Tem simpatia por um dos dois democratas?
CIRO - Tenho, mas não digo.

FOLHA - Responda. Ajude a entrevista a ficar melhor.
CIRO - Não devo. Vá que eu me eleja um dia desses aí presidente do Brasil, tenho de tratar com um deles, com o maior respeito.

FOLHA - O sr. é favorável ao fim da reeleição e a um mandato de cinco anos? Por quê?
CIRO - Seria melhor para o Brasil. A tendência de abuso por quem está no poder é grave. FHC fez uma reeleição para si próprio. Para quem fala em ética, ele cometeu um atentado básico contra a ética, pois manipulou o Congresso com o poder imperial de um presidente no Brasil.

FOLHA - Lula prega uma aliança ampla dos partidos aliados com candidatura presidencial única em 2010 como mais eficaz para derrotar a oposição. O sr. concorda com a tese?
CIRO - Concordo.

FOLHA - É viável uma coalizão com PT, PMDB e PSB?
CIRO - Muito improvável.

FOLHA - Serão inevitáveis duas ou até três candidaturas do campo hoje aliado a Lula?
CIRO - Muito provável.

FOLHA - O sr. hoje é o nome do chamado campo lulista que está mais bem posicionado nas pesquisas, no patamar dos 20%. Petistas vão de 1% a 6%. Quais devem ser os principais critérios para definir os candidatos? Desempenho em pesquisa?
CIRO - Pesquisa hoje é muito mais uma forma de notoriedade do que propriamente voto sedimentado. Pesquisa mesmo na data, quando tem tendência mais reveladora, é um critério despolitizado. Os critérios devem ser quem tem mais clareza da tarefa que se impõe ao sucessor de Lula e quem é mais viável. A tarefa será preservar o espaço conquistado, aperfeiçoar alguns erros graves, erros que lhe foram impostos pela realidade, mas a grande tarefa será a institucionalização estratégica. Olhar para o futuro com o Brasil como uma potência intermediária, protagonista do mundo global sem vassalagens nem arrogâncias. Do nosso tamanho, temos um lugar. Construir isso significa dar mais poderes competitivos ao empreendedor brasileiro, fortalecer o acesso ao direito à educação, ao direito ao trabalho, ao direito à segurança e à saúde, que não estão no foco do debate.

FOLHA - O sr. admitiria ser vice numa chapa?
CIRO - Admito ser qualquer coisa. Não fui ministro do Lula, com a maior honra?

FOLHA - Na hipótese de o governador Aécio Neves (PSDB-MG) ingressar no PMDB e de o partido integrar uma coalizão governista em 2010 com apoio de Lula e do PT, ele poderia ser o cabeça de chapa?
CIRO - Não. Veja bem. Aécio é um dessas grandes e boas novidades que a democracia brasileira está produzindo. Falta a ele uma vivência nacional. Nada que o talento, o espírito público e o carisma dele não supram rapidamente. Votaria no Aécio em uma certa circunstância tranqüilamente.

FOLHA - Comporia uma chapa com ele?
CIRO - Nessa circunstância agora não é provável. Ele é do PSDB. Pertenço comovidamente ao arco de sustentação do governo Lula.

FOLHA - Se ele fosse para o PMDB?
CIRO - Não acredito nessa hipótese. O PMDB tem aquilo que, para mim, sempre teve. Um lado respeitabilíssimo e um lado com o qual tenho o maior antagonismo do mundo faz muitos anos.

FOLHA - Qual é esse lado?
CIRO - Isso é uma obviedade.

FOLHA - Na última disputa pela presidência da Câmara, o sr. criticou o PT, dizendo que o partido não estava sendo correto com Aldo, um aliado. Acha que o PT tem dificuldade para dividir poder?
CIRO - Muita. Todo partido tem dificuldade em dividir poder, mas no PT é mais grave. Uma parte do PT tem uma visão, por tradição, quase unipartidária.

FOLHA - O PT apoiaria um candidato a presidente de outro partido?
CIRO - Muito improvável. É legítimo o PT querer ter candidato. Ninguém pode dizer nada. No caso do Aldo era diferente. Havíamos saído de uma crise dramática [mensalão], na qual uma parte da elite brasileira escalou o golpe contra o Lula. Houve graves problemas, mas se escalou o golpe. Minha memória é implacável. O PSDB e o DEM elegeram Severino Cavalcanti presidente da Câmara porque acreditavam que ele poderia aceitar um pedido de impeachment. Com o Aldo, conseguimos esconjurar essa escalada.

FOLHA - O PT não foi grato e leal ao Aldo?
CIRO - A questão não é essa. A questão é quem é o seu parceiro, com quem você conta de verdade? Na hora crítica, conta com o seu companheiro. Na hora da bonança, descarta o companheiro e faz uma aliança com quem não tinha nenhuma afinidade [acordo do PT com o PMDB] sem conversar com os aliados antigos. Conversei com o presidente e com seus articuladores para dizer que era preciso criar uma dinâmica. Se achou que era importante uma aliança com o PMDB, que tem volume [maior partido da Câmara], e concordou em colocar o Geddel [Vieira Lima] no ministério [da Integração Nacional], que era um violento crítico do governo, é da vida. Não tenho nada contra. O erro foi fazer isso derrotando um companheiro que na hora crítica salvou a institucionalidade brasileira. Se perdoar se perdoa, porque já perdoamos. Mas não se justifica.

FOLHA - O sr. disse que a oposição tentou "impedir Lula de governar" ao rejeitar a CPMF. O sr. e aliados de Lula não exageram ao tachar a oposição de golpista? No passado, a oposição não fez o mesmo com FHC?

CIRO - Não foi um dos mais graves erros do PT? Justifica? Apesar de hostil a FHC, eu censurei o fora FHC que o PT propôs. Esculhambei pessoalmente o Tarso Genro [hoje ministro da Justiça] num debate no Rio Grande do Sul. Disse que era golpismo. Falei que amanhã a oposição chegaria ao poder e, no primeiro instante, ela veria ser proposto um fora Lula. Não é porque sou profeta, não. É porque sou velho.

FOLHA - No caso dos cartões corporativos, o governo diz que a oposição faz luta política para enfraquecer Lula. Já a oposição vê novo escândalo de corrupção e julga uma manobra diversionista investigar FHC. O sr. é favorável à CPI e qual é a sua opinião sobre esse tema?
CIRO - É um tema vulgar, desagradável. Evidentemente, há erros que devem ser pesquisados pelos órgãos institucionais que já estão fazendo o seu trabalho, como o Ministério Público, o Judiciário, a Corregedoria Geral da União. É um caso que terá menos peso na vida do país. É tão fortemente artificial que não vai colar. Não é todo dia que se acha um mensalão.

FOLHA - A oposição está tentando achar um mensalão?
CIRO - Claro. Setores da oposição adoram isso, porque simplifica o debate. Eles estão desarvorados. O PSDB aqui na Câmara começou o debate da CPMF indo para a tribuna defender a CPMF, falando de coerência. E terminou o debate no Senado com o PSDB inteiro votando contra. Estão desarvorados, perdidos, num mato sem cachorro. Parte dos defeitos graves do governo Lula são similitudes com eles. Os tucanos dizem: vamos examinar os cartões corporativos. Ok, então o governo diz: desde 1998. Acabou a CPI.

FOLHA - Por que o sr. não gosta de José Serra e vice-versa?
CIRO - Na política, quase sempre quando alguém diz que não gosto de fulano, digo que não é nada pessoal. No Serra, é a falta de escrúpulo dele. Eu era muito amigo dele. Quando eu governava o Ceará, ele era o cara de maior mérito na bancada do PSDB. Por excesso de méritos, porque ele é muito qualificado intelectualmente. Ninguém tolerava a idéia de o Serra ser líder da bancada. Porque não conversava com ninguém, não cumprimentava ninguém. É arrogante, prepotente, só ele sabe a verdade. FHC vivia esculhambando o Serra. O esporte preferido de FHC hoje ainda é falar mal do Serra na intimidade. Ele fez a intriga do Serra comigo.

Quando governador do Ceará, ajudei a bancar a eleição do Serra. Tinha penetração na bancada de Minas, em setores do partido. No auge da negociação da dívida externa brasileira, ele tirou o tapete do FHC, sem o qual o real não podia ser lançado. FHC me ligou possesso de Nova York. Briguei com o Serra. Mas ele não tem escrúpulo, não tem limite. Para você ter idéia, devo estar respondendo a uns 20 processos, entre já ganhos e alguns pendentes. Basta eu mencionar o nome dele. Vou arrumar outro com essa entrevista. Outro dia soube que um jornal distribuído gratuitamente no metrô de São Paulo pôs lá uma opinião minha. Entre aspas, dizia que eu achava que o Serra não gostava de pobre. E, se fosse negro e nordestino, era pior ainda. Resultado: processo.

FOLHA - O sr. disse isso?
CIRO - Que eu me lembre, não. Que ele não gosta de pobre, eu sei. Posso responder a 50 processos, mas isso é uma opinião política. Ele pode dizer: o Ciro é feio. Qual o problema? Nunca processei ele. Mas processa para me constranger, para me obrigar a contratar advogado, para perder dinheiro, para penhorar o meu salário, como ele fez. Ele penhorou agora o meu salário, mas a Justiça mandou devolver. Eu passei aqui um mês sem dinheiro para pagar as minhas contas, porque só tenho essa fonte de renda. Imagina uma coisa dessas na política!

FOLHA - Entre Ciro e Serra, com quem ficaria Tasso [Jereissati, ex-presidente do PSDB e senador]?
CIRO - Sempre ficou comigo. Evidentemente, tem obrigações com o seu partido e eu o respeito.

FOLHA - Setores do PT e do PSDB sonham com uma aliança futura dos dois partidos, que fizeram coisas parecidas no governo...
CIRO - Já defendi publicamente. Só não acontece pelo excessivo paroquialismo das elites políticas paulistas. Tenho todo apreço e respeito pelo povo e pelo grande Estado de São Paulo, mas as atuais elites paulistas são dramaticamente paroquiais. PT e PSDB são iguais lá, muito mais do que se supõe.

FOLHA - Por que o sr. não tem boa relação com a imprensa, sobretudo a escrita?
CIRO - Minha relação é boa. Como acho que a imprensa presta grande serviço ao criticar, a imprensa também tem de ter tolerância de ser criticada.

FOLHA - Quais suas críticas?
CIRO - Primeiro, é nepotista. Lamento, mas são cinco famílias que controlam a grande imprensa do país. Isso não quer dizer que não tenho apreço e respeito por pessoas dessas famílias. Muitos têm espírito público. Tenho saudade do sr. Frias [Octavio Frias de Oliveira, publisher da Folha que morreu em 29 de abril do ano passado]. Eu ia almoçar com ele duas três vezes por ano. Ele adorava minhas maluquices. Ele perguntava eu respondia. Ríamos para caramba. Tenho respeito e boa relação com outras pessoas da imprensa, mas a imprensa brasileira não é neutra. É conservadora. Vamos tratar isso como? Mais imprensa, mais liberdade de imprensa.

FOLHA - Na eleição de 2002, o sr. chegou a liderar as pesquisas no primeiro turno. Dois episódios simbólicos, quando chamou de burro um ouvinte de uma rádio e respondeu a uma pergunta dizendo que a função de sua mulher, Patrícia Pillar, na campanha era dormir com o sr., foram determinantes para não passar ao segundo turno?
CIRO - Foram duas das maiores besteiras das muitas que eu já fiz na vida. Nenhuma delas alcançou um centavo do dinheiro público. Me arrependo muito, mas aprendi amargamente com essas duas grandes besteiras. Hoje, sei porque disse essas coisas.

FOLHA - Por quê?
CIRO - Era despreparado, muito arrogante. No caso da Patrícia, estava com a minha vaidade ofendida. Fui prefeito no Nordeste, onde há uma tradição machista, e nomeei mulheres para metade do secretariado. No governo do Ceará, a mesma coisa. Metade. Pode ir lá conferir.
No caso da Patrícia, havia um elemento contratado pela campanha do Serra, com uma câmara na entrevista. No caso da rádio, a mesma coisa, um elemento com uma câmera dentro do estúdio. Mas nos dois episódios a culpa foi minha.

No caso da Patrícia, aprendi duramente uma lição. Mereci a repulsa das pessoas porque não podia ter feito essa concessão à minha vaidade. A pergunta tinha o sentido de quer dizer que eu estava bem na pesquisa por causa da notoriedade da minha mulher, que é extraordinária, minha parceira, minha companheira. Foi vaidade por achar que os votos eram por minha causa, não por causa dela. Besteira, né? Vaidade mesmo. Isso era sempre perguntado. Eu respondia a mesma coisa: minha parceira, extraordinária, é minha principal conselheira. Disse a mesma coisa, mas falei uma besteira. Só foi divulgada a besteira. Não me perdôo. Mereci a repulsa dos eleitores porque não é sintoma de um bom presidente.

FOLHA - Considera-se preparado hoje para ser presidente?
CIRO - Estou muito mais maduro do que jamais estive.

FOLHA - A fama de cabeça quente continua. Hoje [quinta-feira], no Senado, o sr. discutiu asperamente com o bispo dom Luiz Cappio e a atriz Letícia Sabatella sobre a transposição.
CIRO - Sou uma pessoa indignada e quero morrer assim.

FOLHA - Esse temperamento não é um obstáculo para chegar à Presidência e, uma vez lá, não poderá estimular crises?
CIRO - Pode ser. Já disse e vou repetir, agora com muita mais serenidade e moderação. Não quero vender a alma para ser presidente do Brasil. Se for para ser presidente do Brasil conciliando com determinadas coisas, não quero ser, não deverei ser, não serei um bom presidente.

FOLHA - O sr. mesmo falou que temperança é boa para um presidente.
CIRO - Mais do que boa, é necessária. Aprendi com o Lula.

FOLHA - O sr. terá essa temperança?
CIRO - Só o tempo vai dizer.

FOLHA - O sr. acha que houve mensalão no governo Lula no sentido de uso de dinheiro público para comprar apoio no Congresso?
CIRO - Não.

FOLHA - O que foi o mensalão?
CIRO - Ficou demonstrado que o PT tinha uma dívida de campanha. Uma parte da direção caiu na tentação de cometer o crime perfeito e quis usar o esquema que o PSDB usou para financiar buraco de campanha. Aliás, financiamento é um drama, que deveria ter sido tratado com muito mais profundidade, mas já se abandonou o assunto. Novelizou-se um escândalo, o país quase vai para o abismo, e o que podia se tirar dali para inovar institucionalmente foi abandonado. No governo FHC, ficou demonstrado que exatamente isso foi feito, o caixa 2 da campanha de 1998.

FOLHA - O repasse da Visanet a Marcos Valério não é uso de dinheiro público?
CIRO - Tudo de errado deve ser apurado e punido sempre, seja de quem for. No caso Visanet, tanto quanto eu saiba, ela é uma empresa privada.

FOLHA - O Banco do Brasil é seu maior acionista.
CIRO - Ainda que seja, isto é uma fragilidade institucional, como o onguismo. As ONGs são importantes e não podem ser satanizadas. Mas tem muita frouxidão ainda, tem muito bacana viajando para o estrangeiro, como há abusos no fundo partidário. O que fazer? Matar a vaca porque tem carrapato? Trate o carrapato.

FOLHA - Por que a transposição do São Francisco provoca um debate tão acalorado?
CIRO - Porque há três grupos contrários, que já são minorias e, como tais, muito agressivos. O primeiro bloco é o da reserva de valor. É o mundo conservador de Sergipe e da Bahia, que perdeu as eleições. O PFL [DEM] desses Estados que quer guardar essa água para mais monocultura, cana-de-açúcar. É um bloco que foi derrotado nas ultimas eleições. Outro bloco é dos protocomunistas. O protocomunismo é assim: boa fé. Não tem má-fé como o primeiro. Eles acreditam que o "small is beautiful" [as pequenas soluções são as melhores, numa tradução livre do inglês], que a solução estratégica não é replicar um modelo de desenvolvimento assentado na tecnologia, na cultura extensiva, na exportação. Acreditam que isso são valores neoliberais.

FOLHA - Cappio e Sabatella estão nesse grupo?
CIRO - O Cappio mais. A Sabatella é uma mocinha meio ingênua, meio inocente. O Cappio um pouco mais respeitável. O Cappio tem um traço a mais que não comentarei, derivado de sua vocação. Ele tem uma atitude messiânica e tem vocação para o martírio. Não é a primeira nem a segunda que ele fez essas coisas [greve de fome, martirizar-se]. No passado, teve uma crise de fé, o que não faz dele uma pessoa desprezível, mas profundamente respeitável, e saiu a pé. Saiu a pé da Barra. Foi no rumo de São Luiz do Maranhão a pé. A transposição ou a não-transposição não pode ser resolvida com messianismo nem com martírio.

FOLHA - E o terceiro bloco?
CIRO - São os safados. Aqueles que não querem ver uma obra dessa capacidade emancipar milhões de pessoas. São os que não querem o fim do carro pipa, quem teve terras desapropriadas na beira dos canais.

FOLHA - O sr. é a favor da legalização do aborto? Em quais hipóteses?
CIRO - O aborto é um mal. Ponto. Para os religiosos, um pecado. Para uma jovem, uma tragédia. Criminalizar o drama de uma jovem pobre que engravidou de forma imprudente, incauta, ou porque lhe faltaram contraceptivos, só produzirá mais aborto, mais violência. O aborto deve ser uma decisão da mulher. O Estado não tem nada a ver com essa decisão.

FOLHA - O sr. é a favor da descriminalização das drogas?
CIRO - Já fui, não sou mais. Estudei muito esse assunto. Os EUA adotaram regime de tolerância zero. Não funciona. Países da Europa, como a Holanda e Bélgica, resolveram descriminalizar. Não funciona. A droga é um flagelo para os jovens e é o caminho para a violência urbana assustadora que hoje domina o Brasil.

FOLHA - Como combater esse problema?
CIRO - Para enfrentar o cartel, repressão na proporção necessária. Dou todo apoio às iniciativas do governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral (PMDB), nessa área.

FOLHA - Como tratar o usuário?
CIRO - É um doente. Como tal deve ser tratado. Deve ser cercado de muito carinho, muita compreensão. Cadeia jamais.

FOLHA - Acredita em Deus? Tem uma religião ou santo de devoção?
CIRO - Admiro a figura de São Francisco de Assis. Tenho uma crença em Deus. Crescentemente discordo da ritualística em que o amor a Deus deve ser materializado. Exemplos: o neopentecostalismo nos EUA, essa idéia de intromissão em nome de Deus no mundanismo da vida social, um garoto acreditar que vai para o paraíso se imolando, matando inocentes. Isso é uma tragédia.

FOLHA - Um ministro diz que o sr. faz um "cover honesto" do Fagner. Ele é seu cantor predileto? De quais canções gosta mais?
CIRO - É meu irmão querido. As músicas conheço todas. Já fiz "back vocal" dele, percussão em shows de verdade no interior do Nordeste, já me sentei ao lado dele horas a fio com ele compondo.

FOLHA - Tem uma canção preferida?
CIRO - Uma do Gonzaguinha que ele canta. É a canção que acho mais comovente de todas, chama-se "Guerreiro menino".

FOLHA - Como ela é?
CIRO - [Cantarolando] Um homem também chora, menina, morena. Também deseja colo, palavras amenas. Depois diz assim: "Porque o homem sem o seu trabalho, se morde, se humilha, se mata, não dá para ser feliz".

FOLHA - O sr. sente ciúme quando vê uma cena romântica da Patrícia Pilar numa novela ou filme?
CIRO - Já senti no passado. Hoje, compreendo que aquilo é pura arte. Ser casado com ela é mais um privilégio que Deus me deu. Ela não é só linda e de uma classe extraordinária. É uma pessoa humana fenomenal. Naquele momento estúpido meu? [na eleição de 2002] Quem me deu o maior apoio foi ela.

FOLHA - Quais são os seus programas de TV favoritos?
CIRO - Assisto quase nada nos canais abertos. Sou siderado no History Channel e no Discovery Civilization [TV a cabo].

FOLHA - Qual foi o último livro que leu e qual é seu predileto?
CIRO - Estou lendo uma biografia do Einstein. Meu livro predileto sempre é "Cem Anos de Solidão", do Gabriel García Márquez.

FOLHA - Qual foi o último filme que viu?
CIRO - Vejo todo dia. Ao cinema, vou com meu filho, com a Patrícia. Dois, três filmes por semana. Agora, com a Patrícia, vi um filme francês bonitinho, chamado "Melhor amigo.

FOLHA - Filme preferido?
CIRO - "Blade Runner" [de Ridley Scott].

FOLHA - É um dos meus prediletos.
CIRO - Já tem a última versão. Eu tenho todas.

FOLHA - Quais são suas bebidas preferidas?
CIRO - Não gosto do sabor, mas três uísques me dão uma descontração para uma grande festa, como essa que fui agora no Rio, no aniversário dos 70 anos do Martinho da Vila, a convite dele. Tomo sem gelo, engulo e toma uma Coca-Cola Zero em cima.

FOLHA - Três uísques são o limite?
CIRO - Não gosto de ficar bêbado. Nunca gostei.

FOLHA - Quantos maços de cigarro fuma por dia? Já tentou parar?
CIRO - Já parei uma vez e estupidamente voltei. É um péssimo hábito. Sou antitabagista. Minha geração foi vítima da desinformação. Cigarro na minha geração era símbolo de afirmação, de adultismo e de masculinidade. Fumei com 15 anos. O cigarro que fumo até hoje [Charm], eu vi pela primeira vez nas mãos de um educador. Achei bonito. Comecei a fumar detestando. Eu quero parar. Estou precisando parar. Vou parar. Hoje fumo um maço e meio por dia, um pouco menos do que fumava. Mas há épocas terríveis [fumou dois cigarros em 1h23min de entrevista].

FOLHA - Faz exercícios físicos? Qual é seu peso e altura? Controla o peso?
CIRO - Faço quando posso, mas não tenho regularidade. Meço 1,82 m e peso 86 quilos. Não preciso fazer dieta. Na campanha, emagreço drasticamente. Na última, emagreci 12 quilos. Simplesmente, esqueço de comer. Quando estou em paz, recupero os quilos.

FOLHA - Qual é seu time de futebol?
CIRO - Torço para o Guarani de Sobral, o único que me comove, fora a seleção brasileira.

FOLHA - O que tem achado da seleção do Dunga?
CIRO - Gosto.

FOLHA - Escalaria Kaká, Robinho e Ronaldinho Gaúcho para jogar juntos?
CIRO - Sem dúvida. Mais o Pato.

FOLHA - Os quatro no ataque?
CIRO - Os quatro, jogando em linha na intermediária ofensiva. Sou ofensivo. O futebol moderno é o futebol total. Tem de jogar com duas linhas de quatro, indo e voltando. Na Europa, os brasileiros aprendem isso. O Robinho, no Real Madrid, está jogando no campo inteiro. Volta para marcar. Sabia que fui comentarista esportivo em rádio no Ceará?

FOLHA - De zero a dez, que nota o sr. dá aos seguintes governos? Collor.
CIRO - Dois.

FOLHA - Sarney.
CIRO - Sarney tem uma contradição. A obra política dá a ele direito a uma nota muita alta. Eu diria 8. O desmantelo econômico e a vassalagem ao PMDB, nota dois. Oito mais dois, dez. Nota cinco. Só analiso o governo Sarney com esse critério.
FOLHA - Itamar.
CIRO - Nota oito. Não há nada que não tenha sido positivo. Houve crescimento econômico, emprego.

FOLHA - Por que não dez?
CIRO - Porque tinha problemas. Nota dez é difícil num governo. Nota dez eu vou dar para o Juscelino Kubitschek.

FOLHA - FHC.
CIRO - Quatro.

FOLHA - Lula.
CIRO - Sete.

FOLHA - Uma palavra ou definição sobre as seguintes personalidades: Getúlio Vargas.
CIRO - O conjunto da obra é uma das mais importantes intervenções de uma personalidade na vida do país. Devemos a ele a concepção do Brasil industrializado, moderno. Mas quando cedeu à tentação da ditadura, aconteceram coisas em seu governo impossíveis de serem contemporizadas a qualquer tempo que tenham acontecido.

FOLHA - Juscelino Kubitschek.
CIRO - O maior de todos.

FOLHA - Collor.
CIRO - Um equívoco.

FOLHA - FHC.
CIRO - Palavra muito forte veio aqui, mas, como agora sou um cara mais sereno, diria que foi uma grande frustração.

FOLHA - Lula.
CIRO - Uma grande surpresa.

FOLHA - Dilma.
CIRO - Extraordinária.

FOLHA - Marta.
CIRO - Uma mulher de valor.

FOLHA - Serra.
CIRO - Um homem de valor, porém, sem escrúpulos.

FOLHA - Aécio.
CIRO - O mais interessante jovem quadro da democracia brasileira.

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