POLÍTICA - A hora das fotos.

DE 2013

A hora das fotos

Pouco a pouco, o julgamento da ação penal 470 vai chegando a hora mais espetacular – aquela de tirar as fotos de José Dirceu, José Genoíno, Delubio Soares e outros mais na porta da prisão. 
Aprovado pelo placar de 11 votos a 0, o pedido de prisão teve uma característica muito particular. Não se limitava aos réus de culpa consolidada e sedimentada, que, formalmente, já haviam perdido direito legal a apresentar novos recursos. O pedido foi além. 
Fatiou as penas e incluiu aqueles condenados que têm direito assegurado aos embargos infringentes, o que dá à medida um componente político óbvio porque apenas com essa inclusão se garantiu a prisão imediata José Dirceu, José Genoíno, Delubio Soares e outros mais. Ou seja: sem a ampliação, não haveria a foto. 
Sei que esse fatiamento não é uma medida original. O professor de Direito Penal Claudio Lagroiva Pereira, da PUC de São Paulo, lembra que é uma situação que ocorre vez ou outra, em instancias inferiores da Justiça. Em qualquer caso, não é uma medida automática. Cabe a cada juiz decidir se aplica ou não essa regra. No caso dos condenados do PT, ela foi aplicada. 
Deve ser coincidência, concorda? 
Também são juízes do Superior Tribunal de Justiça que decidiram que as penas de cinco diretores do Banco Nacional, condenados a sentenças entre 8 e 17 anos de prisão, ainda não transitaram em julgado. Por isso eles não foram presos. 
O banco sofreu intervenção em 1995 depois de aplicar um golpe de 5 bilhões (700 vezes aquilo que se diz que o mensalão desviou). 
A condenação completou dez anos e até hoje o STF considera que não transitou em julgado. 
Não custa lembrar. O fundador do Banco Nacional foi um dos líderes do golpe de 64. Uma das sócias do banco foi nora de Fernando Henrique Cardoso. Deve ser outra coincidência.
O caso tem 18 anos, na prática. Se tivessem os mesmos direitos, os réus da ação penal 470 teriam direito a ficar em liberdade pelo menos até 2023. Bacana, né? 
A proposta de prisão imediata dos condenados não estava na pauta do julgamento e foi colocada de surpresa por Joaquim Barbosa. 
Atos de surpresa não são benvindos na Justiça mas, por 9 a 2, os ministros recusaram o pedido de abrir a palavra aos advogados de defesa, o que seria bastante razoável do ponto de vista dos direitos dos réus. Ricardo Lewandovski sugeriu um prazo de cinco dias para uma discussão melhor sobre o assunto. Foi apoiado por Marco Aurélio Mello e só. A pressa pagou seu preço inclusive no plano técnico. Como se viu depois do julgamento, o STF tinha necessidade de vários dias para recalcular as penas e examinar a situação de cada réu. 
Em vez do debate, do contraditório, que é a essência da Justiça, ainda mais quando envolve a privação de liberdade de uma pessoa, o que temos é um show, coerente com o princípio enganoso de que uma imagem vale por 1 000 palavras. 
Muita gente, até hoje, associa o mensalão a uma imagem, daquele diretor dos Correios que aceitou uma propina de 3 000 reais. Seria a primeira “prova.” Esqueceram das palavras: tratava-se de um flagrante forjado por amigos do bicheiro Carlinhos Cachoeira, interessados num acerto de contas entre fornecedores da estatal. O assunto não tinha a ver com o PT nem com José Dirceu. 
O caso ficou fora da ação penal 470 e, por uma coincidência negativa – não prejudica quem se gostaria de prejudicar -- ninguém sabe quando será julgado. 
Muitas pessoas lembram de Roberto Jefferson prestando depoimento no Congresso, com sua voz de barítono e oratória perfeita. Outras palavras: depondo à Justiça, ele disse que o mensalão era “criação mental.”
Em função dos mandados de prisão, já podemos ouvir vozes falando na recuperação da imagem do país. O próprio Joaquim disse”
“Quando as instituições se degradam, o País se degrada”. 
Vamos prestar atenção. Ainda que se recorde que os protestos de junho enviaram uma mensagem de descontentamento bruto, não é razoável perder a medida das coisas. 
É certo que há problemas em toda parte, inclusive no Supremo. A condução do julgamento do mensalão está longe de ser uma unanimidade entre juristas. Mestre insuspeito de simpatias petistas, Ives Gandra Martins sustenta que os réus da ação penal 470 foram ofendidos em seu amplo direito de defesa. É escandaloso que o próprio STF que decidiu desmembrar o mensalão PSDB-MG tenha negado os mesmos direitos ao réus da ação penal 470. Com isso eles teriam mais direitos, a começar por um segundo grau de jurisdição. 
O cirquinho talvez não fosse tão animado – quantas reportagens você já leu sobre o julgamento em Belo Horizonte? -- a hora de tirar a foto poderia demorar um pouco mais. Mas ninguém teria tantas dúvidas sobre aquela noção de que todos são mesmo iguais perante a lei, não é mesmo? Também seria possível debater com mais profundidade acusações que foram tão mal demonstradas que só era possível sustentar a denuncia com base numa teoria exótica para o caso, do domínio do fato. 
Escândalo internacional, o propinoduto do PSDB-SP bateu um recorde de engavetamentos. Ninguém sabe mais quantos inquéritos foram abertos e arquivados. Nenhum dos oito pedidos de informações da Justiça suíça foi atendido. O caso estava a caminho do esquecimento até que uma serie de reportagens corajosas de Alan Rodrigues, Pedro Marcondes de Moura e Sergio Parcellas, na Istoé, mostrou os fatos em toda sua dimensão. 
Cabe observar algumas questões, contudo. Do ponto de vista político, o Brasil atravessa o mais longo período democrático de sua história. As sucessões presidenciais se processam sem atropelos desde 1989, e a campanha de 2014 está aí, com 3 candidatos – ou melhor, 3 ½ -- em pleno fôlego. Na economia, o país não precisa se submeter ao FMI, como acontecia antes. A vida dos pobres melhorou, os negros nunca tiveram tantas oportunidades. Depois de passar uma década dizendo que o Bolsa Família era demagogia eleitoreira, a oposição agora quer cobrar direitos autorais. 
É por isso que eu acho que nossos sociólogo e profetas da crise deveriam ser mais atentos ao fatos. O país não está a caminho do precipício e, como se percebe pela presença de três herdeiros de Luiz Inácio Lula da Silva em campanha, o copo está bem mais cheio do que vazio. Quem não percebe isso está confundindo a realidade com seus desejos, e só pode querer abrir caminho para salvadores da pátria. 
Apenas crises artificiais se resolvem com medidas artificiais – como uma foto.
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POLÍTICA - Jango, Dirceu.........


Jango, Dirceu e as batalhas da história

Corpo de Jango, recebido com hornras em Brasília: a história em disputa
por Rodrigo Vianna

 Quis o destino que o corpo do presidente João Goulart chegasse a Brasília no mesmo dia em que o Supremo Tribunal Federal concluiu etapa substancial do julgamento do “Mensalão” – o que deve levar ex-dirigentes petistas para a cadeia, entre eles o ex-ministro José Dirceu.
Dilma emocionou-se ao lado da viúva de Jango, na homenagem ao presidente deposto. De alguma forma, Dilma é a ponte entre duas tradições políticas: o trabalhismo de Vargas/Jango/Brizola e o PT. Ao fim da ditadura (depois de pegar em armas, sendo presa e torturada), Dilma escolheu o PDT de Brizola para atuar politicamente. Dilma já fez elogios abertos a Jango e à tradição brizolista.
Curioso que o PT tenha surgido nos anos 70/80 com um discurso de crítica à herança trabalhista. Mas, no poder, Lula aproximou-se da simbologia e das tradições varguistas. Curioso também pensar que, se o “Mensalão” não tivesse existido, hoje o presidente talvez não fosse Dilma, mas exatamente o ex-ministro agora ameaçado de prisão. “Se”. Se Gighia não tivesse acertado aquele chute rente à trave, o Brasil não teria perdido do Uruguai em 1950… Como dizem os comentaristas, não existe “se” no futebol. Nem na política. Nem na vida.
Ainda assim, é possível estabelecer paralelos entre os ataques sofridos pelo PT e o lulismo e aqueles desferidos contra Vargas e Jango. Vargas – não resta dúvida – foi um ditador nos anos 30 e 40. Mas em 1950 voltou ao poder como líder democrático, e foi acuado pelo conservadorismo a serviço dos Estados Unidos. Lacerda tentou cobrir Vargas com o “mar de lama”. Nos anos 50, o discurso udenista sustentava que Vargas comandava um governo corrupto. Contra Jango, em 1964, pesavam as mesmas acusações, e ele ainda era apontado como líder de uma certa “República Sindicalista”.
Vargas deu um tiro no peito em 1954, dentro do Palácio. Jango foi derrubado por um golpe. Na época, a imprensa golpista comemorou: “Escorraçado, amordaçado e acovardado, deixou o poder como imperativo de legítima vontade popular o Sr João Belchior Marques Goulart, infame líder dos comuno-carreiristas-negocistas-sindicalistas” - era o que dizia a “Tribuna da Imprensa”, jornal de Carlos Lacerda. 
Mentira, claro. Jango tinha apoio popular – era o que indicavam as pesquisas às vésperas do golpe, como mostra Jorge Ferreira, em excelente livro sobre Jango. A imprensa golpista de 64 criou o clima de caos e deu a impressão de que todos queriam o golpe. Jango não saiu “escorraçado” do poder. Foi derrubado.
“O Globo” também curtiu e compartilhou a ditadura: “Ressurge a Democracia! Vive a Nação dias gloriosos” – dizia editorial de Roberto Marinho. Aqui, na Carta Maior, você lê outros textos publicados por nossa brava imprensa democrática, nos dias seguintes ao golpe.
Certos setores de esquerda cultivaram durante anos a tese de que Jango foi “covarde” por não reagir ao golpe. Quem acompanhava de perto o presidente deposto diz que ele estava preocupadíssimo com uma possibilidade: se resistisse, daria aos golpistas a desculpa para pedir a intervenção dos Estados Unidos. Numa conversa recente, o jornalista Mauro Santayanna disse a um grupo de blogueiros que teve o prazer de ouvi-lo: “Jango temia a divisão física do Brasil”. Assim como haviam feito na Koreia (e como fariam depois no Vietnã), os EUA poderiam intervir e dividir o Brasil em dois. Jango preferiu manter a integridade territorial brasileira. Teoria conspiratória?
Durante anos, a ideia de que Jango teria sido envenenado em 1976 (durante o exílio) também parecia uma “teoria conspiratória”. Por insistência da família Goulart, o Brasil finalmente vai tentar descobrir a verdade. Foram muitos anos, e talvez os traços de um suposto veneno já não possam ser encontrados. Mas o governo Dilma toma uma atitude de imenso valor simbólico. O corpo exumado em São Borja (RS) foi levado a Brasília.
Jango “acovardado-escorraçado” dizia Lacerda. Jango estadista, recebido com honras de chefe de Estado. A história se escreve lentamente. O passado está sempre em disputa.
Dirceu, em algumas horas, pode ser preso como símbolo do “maior escândalo da história” – como dizem os mesmos jornais golpistas de 64. A imprensa podre quer mostrar Dirceu algemado, humilhado – da mesma forma que Lacerda tentou humilhar o presidente deposto em 64.
Dirceu pode ter cometido erros. Mas está sendo condenado sem provas. Isso está claro.  “Escorraçado, amordaçado e acovardado”   - assim jornais e revistas gostariam de ver o homem que comandou a “virada” do PT rumo ao poder. Pelo que se conhece da história de Dirceu, não vai se acovardar.
No curto prazo, parece derrotado politicamente. Jango também parecia derrotado inexoravelmente em 64. Quase 50 anos depois, recebe as justas homenagens no Palácio. A vítima de 64 não foi Jango, mas a democracia brasileira.
Derrubado pela Guerra Fria, pelos Estados Unidos e o conservadorismo brasileiro, Jango é o estadista, vitorioso. Lacerda e os golpistas estão derrotados pela história.  ”O Globo” pede desculpas envergonhadas pelo apoio ao golpe criminoso.
Que papel estará reservado a Dirceu na história brasileira? “Maior vilão do país”? “Chefe da quadrilha”? É o que berram por aí blogueiros rotweiller, editorialistas decadentes, revistas ligadas a bicheiros…
Quem venceu a batalha? A Globo? A Veja e seus asseclas judiciais? Ou o homem que ajudou a construir um governo que – apesar de tantos erros e recuos - prestou homenagens a Jango,  e tenta acertas as contas com a Democracia?
A História se escreve lentamente. Ainda mais no Brasil.
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O ACRE DE CHICO MENDES.


Frei Betto

Repórter Sindical

Conheci Chico Mendes no início da década de 1980, quando ainda a esquerda encarava a questão ecológica com preconceito, sem compreender sua ilimitada força política, na medida em que supera partidarismos e agrega pessoas de todas as classes sociais, inclusive crianças.
Há 25 anos assassinaram Chico Mendes (1944-1988). Pagou com a vida a defesa da Amazônia, a integração entre o homem e a natureza, a criação de reservas extrativistas que, hoje, evitam que a floresta reine como santuário intocável ou sofra derrubadas vítima da ambição do capital.
Por enquanto, da parte do governo federal e dos ambientalistas, não há sinal de nenhuma homenagem ou comemoração (=fazer memória) do martírio de Chico Mendes.
Para celebrar a data, retornei ao Acre na última semana de outubro. Conheci Chico Mendes no início da década de 1980, quando ainda a esquerda encarava a questão ecológica com preconceito, sem compreender sua ilimitada força política, na medida em que supera partidarismos e agrega pessoas de todas as classes sociais, inclusive crianças. Estive em seu velório em Xapuri, na véspera do Natal de 1988.
Acompanhei de perto o surgimento da luta da nova geração de acreanos, como Chico Mendes, Marina Silva e os irmãos Jorge e Tião Viana, para livrar o estado do latifúndio, dos pistoleiros, das madeireiras irresponsáveis, da caça predatória, da rota do narcotráfico. Em meados da década de 1970, ali estive com frequência, a convite do bispo Moacyr Grecchi, para assessorar as Comunidades Eclesiais de Base, sementeiras de movimentos sociais que, transformados em força política, modificaram o perfil do estado.
Nesta visita recente, conversei com o governador Tião Viana, proferi palestras na universidade federal e, no dia seguinte, para o secretariado dos governos estadual e municipal, e visitei, em Xapuri, o memorial de Chico Mendes e o Seringal Cachoeira.
RETRATO DO ACRE
Com área de 164.221 km2, o Acre abriga 4,2% da Amazônia brasileira e conta, hoje, com quase 800 mil habitantes (350 mil na capital, Rio Branco). As terras indígenas compreendem 16% do território, onde vivem 15 diferentes etnias com cerca de 13 mil pessoas.
São consideradas Áreas Protegidas 32% das terras do estado, embora o desmatamento afete 13% da área total do Acre, devido sobretudo à abertura de pasto para o gado.
O IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) do Acre, calculado em 0,559 (2010), cresceu 218% nos últimos 10 anos. Já não é o estado dominado por máfias, como a do ex-deputado federal Hildebrando Pascoal, que mandava retalhar seus inimigos com serra elétrica, nem por pistoleiros a serviço de grileiros, como os que assassinaram Chico Mendes.
Enquanto a média nacional de crianças de 6 a 14 anos na escola é de 84,1% (2011), no Acre chega a 92,2%, embora falte ampliar o regime de tempo integral. A taxa de mortalidade infantil caiu de 31.3 (2000) em cada mil nascidos vivos para 13.9 (2011), aproximando-se da média nacional (13.5).
O Acre é um estado com potencial de riquezas pouco exploradas pelo Brasil. Além de produzir o mais resistente látex (utilizado, em especial, na fabricação de preservativos), e também castanha, madeira certificada e múltiplas frutas, como o açaí, hoje consumido em larga escala pelos europeus, o estado possui ampla possibilidade de turismo ambiental, que não é devidamente incentivado, ao contrário do que faz a Costa Rica. Em nosso país, o turismo ainda engatinha atrelado ao carnaval e ao litoral.
O Acre permanece isolado do resto do Brasil. Seus produtos, para saírem por nossos portos, precisam viajar 3.500 km até o Atlântico. Cuidasse melhor o governo da BR-317, a rodovia transoceânica, também conhecida como Rodovia do Pacífico, que liga os dois oceanos que banham a América do Sul, a distância entre Rio Branco e o litoral peruano seria encurtada para 1.500 km.
Em tempos de expansão de pastos Amazônia adentro, com a derrubada de árvores seculares, e a atividade predatória de mineradoras e garimpeiros, ressaltar a vida e os ideais de Chico Mendes deveria ser um dever cívico obrigatório em todas as nossas escolas.
Fonte: tribuna da imprensa
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POLÍTICA - Prisão do Zé Dirceu


Daniel Mello
Agência Brasil
São Paulo – O advogado José Luís de Oliveira, que defende o ex-ministro da Casa Civil, José Dirceu, disse que aguardará o julgamento dos embargos infringentes para pedir uma revisão penal ao plenário do Supremo Tribunal Federal (STF). Dirceu foi condenado a dez anos e dez meses de prisão na Ação Penal 470, o processo do mensalão, pelos crimes de formação de quadrilha e corrupção ativa.
Oliveira ressaltou que poderá recorrer à Corte Interamericana de Direitos Humanos para pedir a anulação do julgamento. “Nós entendemos que o duplo grau de jurisdição foi violado no caso do ex-ministro José Dirceu e dos demais que tinham o foro privilegiado”.
Havia a expectativa de que o STF decidisse ainda hoje a decretação das penas dos réus condenados no processo mas o assunto não foi levado ao plenário. Na sessão de ontem (13), a maioria dos ministros determinou o fim do processo para alguns réus e a execução imediata das penas, mas não definiu quem vai para a prisão. Como a defesa recorreu apenas do crime de formação de quadrilha, Dirceu pode ter que começara cumprir a pena por corrupção ativa imediatamente.
Oliveira disse que, caso o STF determine a prisão de seu cliente, o ex-ministro se entregará. “Tão logo tenha uma definição do Supremo, o ex-ministro José Dirceu vai se apresentar. Ele é um homem que cumpre a lei”, enfatizou. De acordo com ele, Dirceu aguarda pela definição da situação em Vinhedo, na região de Campinas, interior paulista.
Apesar de não concordar com a decisão, o ex-ministro está “sereno”, destacou o advogado. “Tanto a defesa técnica, quanto o ex-ministro José Dirceu [estão serenos]. Ninguém recebe uma decisão desta de uma maneira satisfatória. Há, sim, uma indignação quanto a esta decisão”, disse. “Nós entendemos que esse fracionamento do trânsito em julgado da decisão não corresponde ao melhor direito, não corresponde à jurisprudência do Supremo Tribunal Federal”, acrescentou sobre o fato de o Tribunal ter determinado a prisão dos réus antes de apreciar todos os recursos.
Fonte: Tribuna da Imprensa
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A hora das fotos

Pouco a pouco, o julgamento da ação penal 470 vai chegando a hora mais espetacular – aquela de tirar as fotos de José Dirceu, José Genoíno, Delubio Soares e outros mais na porta da prisão. 
Aprovado pelo placar de 11 votos a 0, o pedido de prisão teve uma característica muito particular. Não se limitava aos réus de culpa consolidada e sedimentada, que, formalmente, já haviam perdido direito legal a apresentar novos recursos. O pedido foi além. 
Fatiou as penas e incluiu aqueles condenados que têm direito assegurado aos embargos infringentes, o que dá à medida um componente político óbvio porque apenas com essa inclusão se garantiu a prisão imediata José Dirceu, José Genoíno, Delubio Soares e outros mais. Ou seja: sem a ampliação, não haveria a foto. 
Sei que esse fatiamento não é uma medida original. O professor de Direito Penal Claudio Lagroiva Pereira, da PUC de São Paulo, lembra que é uma situação que ocorre vez ou outra, em instancias inferiores da Justiça. Em qualquer caso, não é uma medida automática. Cabe a cada juiz decidir se aplica ou não essa regra. No caso dos condenados do PT, ela foi aplicada. 
Deve ser coincidência, concorda? 
Também são juízes do Superior Tribunal de Justiça que decidiram que as penas de cinco diretores do Banco Nacional, condenados a sentenças entre 8 e 17 anos de prisão, ainda não transitaram em julgado. Por isso eles não foram presos. 
O banco sofreu intervenção em 1995 depois de aplicar um golpe de 5 bilhões (700 vezes aquilo que se diz que o mensalão desviou). 
A condenação completou dez anos e até hoje o STF considera que não transitou em julgado. 
Não custa lembrar. O fundador do Banco Nacional foi um dos líderes do golpe de 64. Uma das sócias do banco foi nora de Fernando Henrique Cardoso. Deve ser outra coincidência.
O caso tem 18 anos, na prática. Se tivessem os mesmos direitos, os réus da ação penal 470 teriam direito a ficar em liberdade pelo menos até 2023. Bacana, né? 
A proposta de prisão imediata dos condenados não estava na pauta do julgamento e foi colocada de surpresa por Joaquim Barbosa. 
Atos de surpresa não são benvindos na Justiça mas, por 9 a 2, os ministros recusaram o pedido de abrir a palavra aos advogados de defesa, o que seria bastante razoável do ponto de vista dos direitos dos réus. Ricardo Lewandovski sugeriu um prazo de cinco dias para uma discussão melhor sobre o assunto. Foi apoiado por Marco Aurélio Mello e só. A pressa pagou seu preço inclusive no plano técnico. Como se viu depois do julgamento, o STF tinha necessidade de vários dias para recalcular as penas e examinar a situação de cada réu. 
Em vez do debate, do contraditório, que é a essência da Justiça, ainda mais quando envolve a privação de liberdade de uma pessoa, o que temos é um show, coerente com o princípio enganoso de que uma imagem vale por 1 000 palavras. 
Muita gente, até hoje, associa o mensalão a uma imagem, daquele diretor dos Correios que aceitou uma propina de 3 000 reais. Seria a primeira “prova.” Esqueceram das palavras: tratava-se de um flagrante forjado por amigos do bicheiro Carlinhos Cachoeira, interessados num acerto de contas entre fornecedores da estatal. O assunto não tinha a ver com o PT nem com José Dirceu. 
O caso ficou fora da ação penal 470 e, por uma coincidência negativa – não prejudica quem se gostaria de prejudicar -- ninguém sabe quando será julgado. 
Muitas pessoas lembram de Roberto Jefferson prestando depoimento no Congresso, com sua voz de barítono e oratória perfeita. Outras palavras: depondo à Justiça, ele disse que o mensalão era “criação mental.”
Em função dos mandados de prisão, já podemos ouvir vozes falando na recuperação da imagem do país. O próprio Joaquim disse”
“Quando as instituições se degradam, o País se degrada”. 
Vamos prestar atenção. Ainda que se recorde que os protestos de junho enviaram uma mensagem de descontentamento bruto, não é razoável perder a medida das coisas. 
É certo que há problemas em toda parte, inclusive no Supremo. A condução do julgamento do mensalão está longe de ser uma unanimidade entre juristas. Mestre insuspeito de simpatias petistas, Ives Gandra Martins sustenta que os réus da ação penal 470 foram ofendidos em seu amplo direito de defesa. É escandaloso que o próprio STF que decidiu desmembrar o mensalão PSDB-MG tenha negado os mesmos direitos ao réus da ação penal 470. Com isso eles teriam mais direitos, a começar por um segundo grau de jurisdição. 
O cirquinho talvez não fosse tão animado – quantas reportagens você já leu sobre o julgamento em Belo Horizonte? -- a hora de tirar a foto poderia demorar um pouco mais. Mas ninguém teria tantas dúvidas sobre aquela noção de que todos são mesmo iguais perante a lei, não é mesmo? Também seria possível debater com mais profundidade acusações que foram tão mal demonstradas que só era possível sustentar a denuncia com base numa teoria exótica para o caso, do domínio do fato. 
Escândalo internacional, o propinoduto do PSDB-SP bateu um recorde de engavetamentos. Ninguém sabe mais quantos inquéritos foram abertos e arquivados. Nenhum dos oito pedidos de informações da Justiça suíça foi atendido. O caso estava a caminho do esquecimento até que uma serie de reportagens corajosas de Alan Rodrigues, Pedro Marcondes de Moura e Sergio Parcellas, na Istoé, mostrou os fatos em toda sua dimensão. 
Cabe observar algumas questões, contudo. Do ponto de vista político, o Brasil atravessa o mais longo período democrático de sua história. As sucessões presidenciais se processam sem atropelos desde 1989, e a campanha de 2014 está aí, com 3 candidatos – ou melhor, 3 ½ -- em pleno fôlego. Na economia, o país não precisa se submeter ao FMI, como acontecia antes. A vida dos pobres melhorou, os negros nunca tiveram tantas oportunidades. Depois de passar uma década dizendo que o Bolsa Família era demagogia eleitoreira, a oposição agora quer cobrar direitos autorais. 
É por isso que eu acho que nossos sociólogo e profetas da crise deveriam ser mais atentos ao fatos. O país não está a caminho do precipício e, como se percebe pela presença de três herdeiros de Luiz Inácio Lula da Silva em campanha, o copo está bem mais cheio do que vazio. Quem não percebe isso está confundindo a realidade com seus desejos, e só pode querer abrir caminho para salvadores da pátria. 
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