O 'legado do PAN' foi abaixo. O da Copa vai pelo mesmo caminho. Maracanã entra em novas obras depois da Copa

Morador do Rio sabe: durante as desapropriações, os adendos bilionários aos contratos etc. para o PAN de 2007, realizado aqui, a expressão mais usada por autoridades foi a tal "legado do PAN".

Esse legado, pelo que eu sei, é que nada foi investigado, das mutretas denunciadas à exaustão.

Porque o tal legado mesmo está indo por água abaixo. O velódromo construído teve que ser demolido, pois não serve para Olimpíadas (e todos sabiam que o Rio era uma cidade potencialmente olímpica, inclusive com uma candidatura anterior).

O Engenhão, segundo recentes informações, é um prédio podre, onde não funciona o sistema hidráulico, os painéis são de última categoria, e agora se descobre que a construção da cobertura foi mais uma obra mal feita, que ocasionou a interdição do estádio por sabe-se lá quanto tempo.

Agora, para as Olimpíadas de 2016, novas e intensas desapropriações estão sendo feitas. Benesses para as construtoras, criadas.

O autódromo do Rio, onde se disputaram provas de Fórmula 1 e Fórmula Indy, vai abaixo.

O estádio de atletismo Célio de Barros, no Complexo do Maracanã, também.  Assim como o Complexo Maria Lenk, de natação, no mesmo local. E o antigo e tombado prédio do antigo Museu do Índio.

Assim como foi destruído (após ter passado por duas grandes reformas, uma específica para o PAN), o Maracanã, bem tombado que o Iphan autorizou vir abaixo, com justificativa que ainda vai ser apurada.

Como se não bastasse, leio horrorizado que o Maracanã (cujas obras iniciais estavam orçadas em menos de R$ 500 milhões e já alcançaram a estratosférica quantia de R$ 1 bilhão), o Maracanã, dizia, tem que entrar em obras novamente após a Copa, para atender exigências do Comitê Olímpico.

A atual reforma (mais correto seria dizer reconstrução) do Maracanã para a Copa de 2014 começou no dia 13 de agosto de 2010. Pouco menos de um ano antes (em 2 de outubro de 2009), o Rio fora escolhido sede dos Jogos Olímpicos de 2016. Já se sabia, portanto, que o outrora “maior e mais belo estádio do mundo” seria palco das duas principais competições esportivas do planeta.

Como é possível que toda a obra (que custou cerca de R$ 1 bilhão) não tenha sido concebida numa parceria da CBF com o COB, já pensando nos dois eventos? Como é aceitável que agora o Comitê Rio-2016 mande um ofício ao governo do Estado, avisando que novas reformas precisarão ser feitas, entre outras coisas, para aumentar os túneis de acesso ao campo e reforçar a cobertura, que necessita suportar 120 toneladas (para manter suspenso um gigantesco placar no meio-campo), em vez das 80 projetadas?

É muita incompetência, não? Ou algo bem pior. Afinal, novas obras geram novos (super?) faturamentos, novas comissões, eventualmente novas empreiteiras (algumas ligadas a bicheiros e que tais) etc. Vide a vergonhosa história do Engenhão, que, aliás, também está no pacote olímpico...

Possíveis cambalachos à parte, o mais grave é o risco (praticamente uma certeza) de se ter mais um ou dois anos de Maracanã fechado, em prol de duas cerimônias olímpicas: a de abertura e a de encerramento, pois para os Jogos em si, ou seja, para o torneio de futebol, o estádio já estaria pronto.

Se o governo do Estado e a prefeitura tivessem um mínimo de preocupação com o dinheiro público, com as finanças dos clubes e com o prazer e a segurança dos torcedores diriam, agora, um sonoro NÃO ao comitê da Rio 2016. Entre modificar e fechar novamente o Maracanã e alterar detalhes das cerimônias das Olimpíadas o que faz mais sentido? O que indica o bom-senso?

O problema é que, nos dias de hoje, esperar sensatez, austeridade e equilíbrio da maioria dos nossos dirigentes esportivos e dos nossos políticos, equivale mais ou menos a aguardar a chegada de Papai Noel, no pé da lareira, ou do Coelhinho da Páscoa, no jardim. Haja paciência para aturar tantos desmandos. Essa sim é uma tarefa olímpica...[Fonte]

Como a notícia foi publica numa coluna de O Globo, o vice-governador Pezão correu para responder ao colunista:

No domingo à tarde, um dia antes da nota oficial do Governo, o Vice-Governador Luiz Fernando Pezão me ligou para garantir que o Maracanã não voltará a ser fechado, nem sofrerá novas reformas depois do Mundial, como é desejo o Comitê Rio-2016:

 — Não vejo necessidade alguma de um placar pendurado no meio do campo. Teremos quatro novos, moderníssimos, que atenderão a qualquer demanda. Quanto a largura dos túneis, no Pan de 2007 era pior e mesmo assim demos um jeito de entrar com as alegorias criadas pela Rosa Magalhães (carnavalesca responsável pela cerimônia de abertura).

Coordenador de Infraestrutura do Governo, Pezão foi enfático na conversa que teve comigo:

— O Comitê Organizador da Rio-2016 terá que adaptar as cerimônias à conformação do Maracanã e não o contrário. Repito e garanto: não haverá qualquer obra de modificação do Maracanã após essa que está sendo finalizada agora. Apenas fora do Complexo (ou seja, do estádio propriamente dito) e que não implicarão no seu fechamento e constam como encargos do futuro concessionário, já discriminadas no Edital de Licitação.

Agora, você que me lê, raciocine comigo. A Copa vai acontecer em 2014. Mesmo ano em que acabam os mandatos do governador Sergio Cabral e de seu vice, Pezão. Se não vai ter poder algum (a não ser que se eleja governador), como Pezão pode afiançar uma coisa dessas?

A palavra dele deve ser mais um "legado da Copa".  Porque tenho certeza que o Comitê Olímpico vai impor as obras, e o carioca vai ficar mais um novo tempo sem o Maracanã. E ainda vai pagar por isso...
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“Uma vergonha para um país democrático”, diz Tarso sobre o monopólio da mídia


Daiani Cerezer/ CUT
Governador Tarso Genro expôs críticas ao modelo neoliberal durante a abertura do Fórum da Igualdade | Foto: Daiani Cerezer/ CUT-RS
Sul21 - por Débora Fogliatto -“Não há liberdade sem igualdade”. É este o lema do III Fórum da Igualdade, que teve início nesta segunda-feira (8) com a presença do governador do Estado, Tarso Genro.  O evento é promovido pela Coordenação dos Movimentos Sociais do RS (CMS/RS) e criado como um contraponto dos movimentos sociais e de esquerda ao neoliberal Fórum da Liberdade, que também começou nesta segunda. Realizado na Câmara Municipal de Porto Alegre, o fórum ainda conta com painéis nesta terça-feira (09).
Em seu discurso, o governador falou da evolução da liberdade, mencionando quatro etapas: a liberdade de pensamento, a liberdade de expressão, a liberdade de imprensa e a “liberdade de fazer circular livremente a opinião”. A primeira, articulada na Idade Média, era reivindicada pelas mulheres acusadas de bruxaria.  “Na época, a Igreja organizava a dominação através do pensamento”, argumentou Tarso.
Já o conceito de liberdade de expressão surgiu no Renascimento e representava um perigo para aqueles no poder. Com a Revolução Francesa, veio a necessidade da liberdade de imprensa, de “transformar a liberdade em palavras”. E isso se tornou central à luta pela democracia, de acordo com o governador. O monopólio das grandes empresas, no entanto, ameaça a efetividade dessa liberdade. A quarta etapa, a “liberdade de fazer circular livremente a opinião”, não é possível com esse monopólio. “Não temos esse direito (de fazer circular a opinião)”, afirmou Tarso.
“O que se discute na esfera pública é controlado pelos meios de comunicação monopolizados”, acrescentou. Para exemplificar o que ele chamou de “ataque” da grande imprensa aos políticos, Tarso lembrou de dois casos nos quais, enquanto ministro, tomou decisões que foram na época duramente criticadas pela mídia. O primeiro foi o da criação do ProUni, projeto proposto por ele enquanto era Ministro da Educação. Mais tarde, o mesmo aconteceu com a proposta da criação de cotas raciais nas universidades públicas.
“Eu sofri uma campanha difamatória das grandes empresas, que diziam que eu estava sendo racista e que a medida iria baixar o nível das universidades. Havia uma clara campanha articulada contra o ProUni e contra as cotas por parte da mídia”, expôs o governador.
O segundo exemplo foi o caso de Cesare Battisti, a quem Tarso concedeu refúgio por entender que ele havia sofrido perseguição política na Itália, seu país de origem. “Battisti era um jovem militante revolucionário que tinha entrado em confronto com o governo nos anos de chumbo, como muitos de nós. Ele foi acusado sem provas”, afirmou.
Daiani Cerezer/CUT-RS
“Eu sofri uma campanha difamatória das grandes empresas”, disse Tarso sobre a proposta de criação do ProUni e das cotas | Foto: Daiani Cerezer/ CUT-RS
A grande mídia na época se referia a Battisti  seguidamente como “terrorista”. “O mesmo foi feito no processo do mensalão”, disse Tarso, garantindo que não estava procurando defender os acusados. A questão, de acordo com ele, é que “os réus, antes do juiz proferir qualquer sentença, já haviam sido condenados pela mídia”.
Apesar de haver na constituição a proibição ao monopólio midiático, na prática é preciso criar um sistema de comunicação que não seja dependente dos financiamentos dos 
grandes grupos econômicos. O governador afirma que, ao contrário do que dizem os contrários à regulamentação midiática, ela não representa o fim da liberdade de expressão, mas sim o fim do monopólio. “Isso (o monopólio midiático) é uma vergonha para um país democrático”, afirmou Tarso.
Para o governador, o neoliberalismo, cujos defensores atacam a proposta de regulamentação da mídia, está em crise. Esse modelo, que propõe a privatização e a destituição do Estado, não se preocupa “com a real igualdade”, afirmou. “Existe um conflito entre os que acreditam no neoliberalismo e os que que não compactuam com guerra, com o preconceito, com a violência e com a exclusão de quem está fora do mercado”.  O desafio para o Brasil, de acordo com Tarso, é encontrar um modelo de desenvolvimento capaz de não isolar o país internacionalmente e, ao mesmo tempo, dar ao Estado soberania e autonomia, para que este não dependa das iniciativas privada. (...)
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