BRASILEIRO SEGUE OTIMISTA COM ECONOMIA, aponta Datafolha

[OBS deste blog ‘democracia&política’: o jornal tucano “Folha de São Paulo” publica resultado de pesquisa do seu instituto Datafolha. A notícia abaixo informa isso, mas demonstra a decepção do jornal. Sua raiva e a continuação da tradicional pregação implícita do ‘quanto pior, melhor para os tucanos voltarem ao poder’ transparecem na redação do texto: inflação será mais alta em 2013; 2012 fraco; o "pibinho" decepcionante; desempenho pífio da economia etc].


Por Patrícia Campos Mello, da “Folha”:

“Datafolha mostra que, após um 2012 fraco, 44% acreditam em melhora neste ano, mas com inflação mais alta.


Para 57%, situação econômica pessoal vai progredir; otimismo é menor entre aqueles de maior renda.

O "pibinho" não abalou as expectativas dos brasileiros.

Apesar do desempenho pífio da economia em 2012, com crescimento que deve ficar abaixo de 1%, quase metade dos brasileiros acredita que a economia do país vai melhorar nos próximos meses.

Esse otimismo moderado apareceu em pesquisa nacional feita pelo Datafolha em 13 de dezembro, em 160 municípios. Para 44% dos 2.588 entrevistados, a economia vai melhorar; 38% acreditam que ficará como está e 13% acham que vai piorar. Não opinaram 5%. A margem de erro é de dois pontos percentuais.

Em janeiro de 2012, antes, portanto, do PIB decepcionante, a percepção dos brasileiros sobre o futuro da economia era praticamente a mesma: 46% achavam que ia melhorar, 13% apostavam em uma piora e 37% acreditavam que ficaria igual.

Os brasileiros com renda entre cinco e dez salários mínimos são os mais otimistas: 48% apostam na melhora da economia. Os mais pessimistas são os de maior renda (mais de dez salários mínimos) -16% acreditam que a situação vai piorar. A renda dos 10% mais pobres da população foi a que mais cresceu entre 2001 e 2009.

SITUAÇÃO PESSOAL

Os entrevistados se mostram esperançosos quanto à sua situação econômica. A maioria, 57%, acha que sua situação pessoal vai melhorar, enquanto 31% acreditam que ela não vai mudar. Apenas 8% dizem que vai piorar.

O desemprego tampouco desperta preocupações. A taxa medida pelo IBGE ficou em 4,9% em novembro, a menor para o mês desde 2002.

Segundo o Datafolha, 33% dos brasileiros acham que o desemprego vai diminuir; 31%, que vai ficar como está, e 33%, que vai subir -resultado semelhante ao da pesquisa de janeiro.

Mas o brasileiro se mostra mais receoso em relação à inflação, que deve ficar acima do centro da meta de 4,5% em 2012. Segundo última pesquisa do Banco Central de 2012, a estimativa de mercado é que o IPCA feche o ano em 5,71%. Segundo o Datafolha, 44% das pessoas acham que a inflação vai subir; 13%, que vai diminuir, e 37%, que vai ficar como está.”

FONTE: reportagem de Patrícia Campos Mello, da “Folha de São Paulo”  (http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mercado/86524-brasileiro-segue-otimista-com-economia.shtml) [Imagem e trechos entre colchetes adicionados por este blog ‘democracia&política’].
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FELIZ 2013!

Por Benjamin Steinbruch

“O melhor hoje é lembrar as boas notícias de 2012, e não ficar apontando problemas e dificuldades para o ano.

Tenho a rara oportunidade -e a responsabilidade- de escrever neste espaço em 1º de janeiro. Num dia como este, não dá para ficar apontando problemas e citando dificuldades que o país vai enfrentar no exercício que se inicia. Afinal, as pessoas só pensam em desejar feliz ano novo e querem passar longe de aborrecimentos.

Então, imaginei que a melhor ideia seria lembrar notícias boas, que não deixassem ninguém preocupado nem nervoso com problemas e deficiências a superar.

A primeira lembrança que me veio à mente não é de economia, nem muito recente, mas de dez anos atrás. Em junho de 2002, a seleção brasileira ganhou sua última Copa do Mundo.

Num domingo de manhã, todos acordamos cedo, ligamos a televisão e lavamos a alma de verde-amarelo quando o segundo gol contra a Alemanha, de Ronaldo, garantiu o pentacampeonato. Foi um dia feliz. Esperamos revivê-lo no ano que vem, na Copa do Brasil. O competente Luiz Felipe Scolari vai dirigir a seleção e poderá repetir a proeza.

Lembrei-me disso porque uma boa notícia do ano que acabou foi a inauguração dos dois primeiros estádios brasileiros que serão usados na Copa: o Castelão, em Fortaleza, e o Mineirão, em Belo Horizonte. Nada mal. Essa conclusão, 18 meses antes da Copa, serve para aplacar críticas de quem sempre diz que o país não tem condição de sediar o megaevento de futebol.

Notícia alegre do ano foi também a da menina de sete anos, de Filadélfia, nos EUA, curada de um câncer por meio do uso de vírus HIV deficientes, causadores da Aids. Os médicos programaram geneticamente o vírus, inocularam-no na menina e a doença desapareceu. Um surpreendente resultado, que deixa esperanças sobre a descoberta da cura do câncer, uma das maiores aspirações da humanidade no século 21.

Também nos EUA, o brasileiro Alexandre Lopes foi eleito o melhor entre os 180 mil professores da rede estadual de ensino da Flórida e vai concorrer ao título de melhor professor dos EUA. Quem sabe ele possa nos ensinar e inspirar a melhorar a qualidade de nossas escolas públicas e privadas.

A população mundial ganhou mais de dez anos de esperança de vida. Em 187 países, os homens tinham expectativa de viver 56,4 anos, em média, em 1970. Hoje, são 67,5 anos. No caso das mulheres, o salto foi de 61,2 anos para 73,3 anos. O brasileiro nasce hoje com a esperança de viver 74 anos e 29 dias, três anos e sete meses a mais do que no ano 2000.

Notícia edificante também foi a do morador de rua Rejaniel Jesus dos Santos. Ele e a mulher encontraram um pacote com R$ 20 mil em notas de R$ 100, R$ 50, R$ 20 e R$ 10. O embrulho estava embaixo do viaduto, ao lado da cama improvisada em que dormiam. Ligaram para o 190 e entregaram o dinheiro à polícia, que o devolveu ao dono, um comerciante de São Paulo. Brasileiros simples e honestíssimos, foram recompensados.

O Rio de Janeiro deu continuidade ao projeto de pacificação de favelas, cujo principal objetivo é recuperar territórios ocupados há décadas por traficantes de drogas e milicianos. No fim do ano passado, 28 favelas haviam sido devolvidas a seus moradores, pacificadas e com segurança pública. Até 2014, o número deve subir para 44.

Os juros básicos da economia brasileira fecharam o ano abaixo de dois dígitos. A taxa anual está em 7,25%, dois pontos acima da inflação, e não deve subir neste ano inteiro, segundo as previsões do próprio mercado. Um grande estímulo ao investimento produtivo.

O Brasil criou 1,77 milhão de empregos formais de janeiro a novembro do ano que terminou, apesar do fraco crescimento econômico. Nos últimos dez anos, o número de novas vagas atingiu 18,5 milhões. Em novembro, a taxa de desemprego no país era de 4,9%, uma das mais baixas do mundo.

É difícil encontrar notícia melhor do que essa última para a economia e o bem-estar do brasileiro. Então, termino com ela, não sem antes observar que, para cada um de nós, a boa notícia é a saúde e a felicidade de nossas famílias e a possibilidade de viver com dignidade, em paz e segurança. Tudo de muito bom a todos. Feliz 2013!

FONTE: escrito por Benjamin Steinbruch, empresário, diretor-presidente da Companhia Siderúrgica Nacional, presidente do conselho de administração da empresa e primeiro vice-presidente da FIESP. Artigo publicado na “Folha de São Paulo”  (http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mercado/86540-feliz-2013.shtml).
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DILMA FALA SOBRE INVESTIMENTOS NA EDUCAÇÃO, MODERNIZAÇÃO DAS FORÇAS ARMADAS E AEROPORTOS REGIONAIS

“Conversa com a Presidenta”, em 01/01/2013


Gildásio Brito dos Santos, 23 anos, professor em Barra do Corda (MA) - Presidenta Dilma, quando vai começar a construção dos aeroportos regionais? E a minha cidade irá receber um?

Presidenta Dilma – Gildásio, lancei o “Programa de Investimentos em Logística – Aeroportos” para melhorar a qualidade dos serviços e da infraestrutura aeroportuária que já existe no Brasil. Temos 720 aeroportos públicos e mais de 1.900 privados. Então, na maioria dos casos, não precisamos construir, mas ampliar e qualificar o que já existe. Na primeira fase, vamos investir R$ 7,3 bilhões para ampliar e reequipar 270 aeroportos regionais – com reforma e construção de pistas, melhorias em terminais de passageiros, ampliação de pátios, revitalização de sinalizações e de pavimentos, entre outros. No Maranhão, vamos investir R$ 270,5 milhões em 11 aeroportos, e um deles fica em sua cidade. No Nordeste, serão investidos R$ 2,1 bilhões em 64 aeroportos regionais. No caso de voos regionais estratégicos, para garantir a existência das linhas, vamos subsidiar a passagem, e os aeroportos que movimentem até 1 milhão de passageiros por ano serão isentos das tarifas aeroportuárias e aeronáuticas. Queremos fortalecer a malha aeroviária regional do Brasil, encurtar as distâncias, e garantir oportunidades de crescimento econômico e mais qualidade de vida para a população.

Alan Marcelo de Oliveira Santana, 19 anos, repositor de mercadorias de Chapecó (SC) - O Brasil está se preocupando bastante com a Copa e com as Olimpíadas. Por que, ao invés de gastar dinheiro com a Copa e Olimpíadas, não investir na educação?

Presidenta Dilma – Alan, a educação é nossa prioridade, pois é o passaporte para o Brasil se consolidar como nação desenvolvida. Nos últimos cinco anos, por exemplo, mais que triplicamos os recursos federais para estados e municípios, responsáveis pela educação básica. O orçamento do Ministério da Educação cresceu de R$ 31,7 bilhões em 2003, em valores atualizados, para R$ 86,2 bilhões, em 2012. Atingimos o investimento total de 6,1% do Produto Interno Bruto (PIB) para a educação, e o objetivo é elevar ainda mais esse investimento. Por isso, enviei medida provisória ao Congresso para que todos os recursos de royalties do petróleo gerados pelos novos campos do pré-sal sejam destinados, exclusivamente, à educação, nos três níveis - federal, estadual e municipal. Além disso, o governo federal passou a financiar os planos de recuperação e desenvolvimento da educação nos 5.565 municípios e nas 27 unidades da federação. Ao mesmo tempo, Alan, a Copa do Mundo e as Olimpíadas são grandes eventos que vão atrair a atenção do mundo para o Brasil, para nossos atrativos turísticos, para nossos produtos, gerando emprego e desenvolvimento. E deixarão um legado em obras e outros benefícios para a população. Por isso, investimos nesses dois grandes eventos.

Ismael Telmista de Lima, 42 anos, pastor evangélico de Lençóis Paulista (SP) – Presidenta, já li que o nosso país não investe nas Forças Armadas. Como o nosso país tem investido para garantir a soberania?

Presidenta Dilma – Ismael, com a Estratégia Nacional de Defesa, avançamos na modernização das Forças Armadas, com transferência de tecnologias. Sob a coordenação do Ministério da Defesa, estamos desenvolvendo o submarino à propulsão nuclear, sob a responsabilidade da Marinha, em parceria com a França. Criamos o “Centro de Defesa Cibernética” e já começamos a produzir a nova família de blindados Guarani, sob a responsabilidade do Exército. Demos partida ao SISFRON, um sistema integrado que fortalecerá a defesa territorial da faixa de fronteira. Investimos nos projetos do novo avião cargueiro reabastecedor KC-390 e do VLS, o veículo lançador de satélites, por meio da Força Aérea. Propiciamos a instalação da primeira fábrica de helicópteros de grande porte do Brasil, que fornecerá 48 aeronaves para as três Forças, com 50% de conteúdo nacional.

Na área espacial, a construção do satélite geoestacionário nacional dará autonomia às nossas comunicações militares. E novos projetos poderão ser desenvolvidos. Temos cuidado, também, dos nossos homens e mulheres militares, absolutamente dedicados na defesa da nossa pátria. Sabe, Ismael, o Brasil forte, desenvolvido e soberano que construímos requer Forças Armadas cada vez mais preparadas, e estamos trabalhando para isso.”

FONTE: Blog do Planalto  (http://www2.planalto.gov.br/imprensa/conversa-com-a-presidenta/conversa-com-a-presidenta-73).
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ARGENTINA, A EQUAÇÃO DIFÍCIL

Obelisco, Buenos Aires
“Um ano depois da clara vitória eleitoral que renovou o mandato da presidente Cristina Fernandéz Kirchner (CFK), a Argentina encontra-se numa encruzilhada. Sob o impacto da crise do capitalismo o crescimento econômico afunila-se e o governo em Buenos Aires perde campo de manobra para a adoção de medidas redistributivas que não colidam frontalmente com os interesses dos grandes grupos econômicos.


Por Luís Carapinha, no “Avante!”, de Portugal

O espectro da alta inflação e da austeridade volta a pairar num país que só recuperou parcialmente do desastre capitalista de 2001, após anos de incubação neoliberal pura e dura, seguindo à linha o receituário do FMI e os ditames do então Consenso de Washington. Nas últimas semanas, a agitação política e social desbordou as ruas com manifestações e contramanifestações.

Na contestação à presidente e ao kirchnerismo, a corrente mais avançada no interior do partido peronista que chegou ao poder em 2003 através do ex-presidente Nestor Kirchner, falecido em 2010, confluem forças e setores diversos que vão da oposição de direita (incluindo desde o interior do peronismo) e da social-democracia à extrema-esquerda.

Com as centrais sindicais CGT e CTA divididas e em parte cooptadas, os representantes do grande capital tomam, demagogicamente, a "defesa" das reivindicações dos trabalhadores, como aconteceu na greve geral de 20 de Novembro, esperando, assim, que estes ajudem a transportar a água ao seu moinho.

O complexo quadro argentino torna evidente que a contraofensiva dos EUA na América Latina aposta muito forte no cone Sul para poder inverter a correlação de forças, estancar os variados processos de cooperação e integração latino-americana que desafiam o seu domínio, como a UNASUL, MERCOSUL, ALBA e CELAC, e liquidar os processos progressistas e revolucionários em curso. A aposta na desestabilização argentina e na reversão da política latino-americana de Buenos Aires – que dispensou o FMI e foi palco do enterro da ALCA –, o golpe perpetrado no Paraguai e as ameaças militares representadas pela reativação da IV Frota dos EUA e a instalação de bases na América do Sul são peças do mesmo puzzle.

Acrescente-se aqui a ocupação por Londres das ilhas Malvinas da Argentina que, dentro de dias, completará 180 anos, e a deslocação de modernos meios militares e funcionamento no território das Malvinas de uma base militar da OTAN, em violação da resolução da ONU sobre a preservação do Atlântico Sul como zona de paz e cooperação.

Rafael Correia, presidente do Equador, lembrava há dias que os avanços progressistas dos últimos anos na América Latina não são irreversíveis.

Na Argentina, no rescaldo da descida ao abismo de 2001, foram implementadas políticas de soberania, abertas as portas a uma viragem para a integração e cooperação regionais e adotadas medidas de conteúdo social importantes, ainda que insuficientes.

O corte com o FMI e a consequente reestruturação da colossal dívida externa argentina é, por alguns, considerada a maior expropriação sofrida pelo capital financeiro à escala mundial. A Argentina é o único país sul-americano onde os esbirros da ditadura militar (1976-83) foram julgados e condenados, incluindo o general Videla.

Os julgamentos prosseguem e, nestes dias, foi conhecida a sentença do primeiro alto funcionário civil da ditadura. No seu primeiro ano depois da reeleição, CFK avançou para a nacionalização da petrolífera YPF e tenta aplicar nova Lei contra a concentração nos “media”.

Contudo, o agravamento da contestação social e das contradições no interior do peronismo, a pressão dos interesses da grande burguesia argentina aliada das potências imperialistas indicam o esgotamento das medidas progressistas do ciclo kirchnerista. Para os comunistas argentinos (PCA) que, conservando a sua base independente, apoiam o Governo de CFK, o grande desafio é o de avançar no caminho do aprofundamento de mudanças estruturais ou soçobrar à "restauração" exigida pelos interesses da oligarquia.”

FONTE: escrito por Luís Carapinha, no “Avante!”, de Portugal. Artigo transcrito no portal “Vermelho”  (http://www.vermelho.org.br/noticia.php?id_noticia=202375&id_secao=7). [Imagem do google adicionada por este blog ‘democracia&política’].
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O LIVRO “COMO FOI ‘INVENTADO’ O POVO JUDEU”

[De acordo com o historiador Shlomo Sand, o exílio do povo judeu da sua própria terra nunca aconteceu]

Embora crescentemente desmentidos pela arqueologia, pela genética e pela historiografia séria, os mitos de que se alimenta o sionismo continuam a constituir a base em que assenta a reivindicação de legitimidade do estado etnocrático, confessional, racista e colonialista de Israel.

Por Miguel Urbano Rodrigues, no "Diário.Info", de Portugal

O "Estado do Povo Judeu" assume-se como democrático. Mas a realidade nega a lei fundamental aprovada pelo Knesset. Não pode ser democrático um Estado que trata como párias de novo tipo 20% da população do país, um Estado nascido de monstruoso genocídio em terra alheia, um Estado cuja prática apresenta matizes neofascistas.

Uma chuva de insultos fustigou Shlomo Sand em Israel quando publicou um livro cujo título - "Como foi inventado o povo judeu”. [No livro,] desmonta mitos bíblicos que são cimento do Estado sionista de Israel. [Shlomo Sand, "Comment fut inventé le peuple juif" Flammarion, Paris 2010].

Professor de Historia Contemporânea na Universidade de Telavive, ele nega que os judeus constituam um povo com uma origem comum e sustenta que foi uma cultura específica e não a descendência de uma comunidade arcaica unida por laços de sangue o instrumento principal da fermentação protonacional.

Para ele, o "Estado judaico de Israel", longe de ser a concretização do sonho nacional de uma comunidade étnica com mais de 4 mil anos, foi tornado possível por uma falsificação da história dinamizada no século 19 por intelectuais como Theodor Herzl.

Enquanto acadêmicos israelenses insistem em afirmar que os judeus são um povo com um DNA próprio, Sand, baseado em documentação exaustiva, ridiculariza essa tese acientífica.

Não há, aliás, pontes biológicas entre os antigos habitantes dos reinos da Judeia e de Israel e os judeus do nosso tempo.

O mito étnico contribuiu poderosamente para o imaginário cívico. As suas raízes mergulham na Bíblia, fonte do monoteísmo hebraico. Tal como a “Ilíada”, o “Antigo Testamento” não é obra de um único autor. Sand define a Bíblia como "biblioteca extraordinária" que terá sido escrita entre os séculos 6 e 2 antes da Nossa Era. O mito principia com a invenção do "povo sagrado" a quem foi anunciada a “terra prometida de Canaã”.

Carecem de qualquer fundamento histórico a interminável viagem de Moisés e do seu povo rumo à Terra Santa e a sua conquista posterior. Cabe lembrar que o atual território da Palestina era então parte integrante do Egito faraônico.

A mitologia dos sucessivos exílios, difundida através dos séculos, acabou por ganhar a aparência de verdade histórica. Mas foi forjada a partir da Bíblia e ampliada pelos pioneiros do sionismo.

As expulsões em massa de judeus pelos Assírios são uma invencionice. Não há registro delas em fontes históricas críveis.

O "grande exílio da Babilônia" é tão falso como o das grandes diásporas. Quando Nabucodonosor tomou Jerusalém, destruiu o Templo e expulsou da cidade um segmento das elites. Mas a Babilônia era, há muito, a cidade de residência, por opção própria, de numerosa comunidade judaica. Foi ela o núcleo da criatividade dos rabinos que falavam aramaico e introduziram importantes reformas na religião mosaica. Sublinhe-se que somente uma pequena minoria dessa comunidade voltou à Judeia quando o imperador persa Ciro conquistou Jerusalém no século 6 antes da Nossa Era.

Quando os centros da cultura judaica de Babilônia se desagregaram, os judeus emigram para a Bagdá abássida e não para a "Terra Santa".

Sand dedica atenção especial aos "Exílios" como mitos fundadores da identidade étnica.

As duas "expulsões" dos judeus no período Romano, a primeira por Tito e a segunda por Adriano, que teriam sido o motor da grande diáspora, são tema de reflexão aprofundada pelo historiador israelense.

Os jovens judeus aprendem nas escolas que "a nação judaica" foi exilada pelos Romanos apos a destruição do 2º Templo por Tito em 70, e posteriormente, por Adriano, em 132. Por si só, o texto fantasista de Flavius Joseph, testemunha da revolta dos zelotas, retira credibilidade a essa versão, hoje oficial.

Segundo ele, os romanos massacraram então 1.100.000 judeus e prenderam 97.000. Isso numa época em que a população total da Galileia era, segundo os demógrafos atuais, muito inferior a meio milhão…

As escavações arqueológicas das últimas décadas em Jerusalém e na Cisjordânia criaram, aliás, problemas insuperáveis aos universitários e teólogos sionistas que "explicam" a história do povo judeu tomando a “Torah” e a palavra dos Patriarcas como referências infalíveis.

Os desmentidos da arqueologia perturbaram os historiadores. Ficou provado que Jericó era pouco mais do que uma aldeia sem as poderosas muralhas que a Bíblia cita. As revelações sobre as cidades de Canaã alarmaram também os rabinos. A arqueologia moderna sepultou o discurso da antropologia social religiosa.

Em Jerusalém, não foram encontrados sequer vestígios das grandiosas construções que, segundo o Livro, a transformaram no seculo 10, a época dourada de David e Salomão, na cidade monumental do "povo de Deus" que deslumbrava quantos a conheceram. Nem palácios nem muralhas, nem cerâmica de qualidade.

O desenvolvimento da tecnologia do carbono 14 permitiu uma conclusão. Os grandes edifícios da região Norte não foram construídos na época de Salomão, mas no período do reino de Israel.

"Não existe, na realidade, nenhum vestígio – escreve Shlomo Sand – da existência desse rei lendário cuja riqueza é descrita pela Bíblia em termos que fazem dele quase o equivalente dos poderosos reis da Babilônia e da Pérsia". "Se uma entidade política existiu na Judeia do seculo 10 antes da Nossa Era, acrescenta o historiador, somente poderia ser uma microrealeza tribal, e Jerusalém apenas uma pequena cidade fortificada".

É também significativo que nenhum documento egípcio refira a "conquista" pelos judeus de Canaã, território que então pertencia ao faraó.

O SILÊNCIO SOBRE AS CONVERSÕES

A historiografia oficial israelense, ao erigir em dogma a pureza da raça, atribui a sucessivas diásporas a formação das comunidades judaicas em dezenas de países.

A “Declaração de Independência de Israel” afirma que, "obrigados ao exílio, os judeus esforçaram-se ao longo dos séculos por regressar ao país dos seus antepassados",

Trata-se de uma mentira que falsifica grosseiramente a História.

A grande diáspora é ficcional, como as demais. Apos a destruição de Jerusalém e a construção de Aelia Capitolina, somente uma pequena minoria da população foi expulsa. A esmagadora maioria permaneceu no país.

Qual a origem, então, dos antepassados de uns 12 milhões de judeus hoje existentes fora de Israel?

Na resposta a essa pergunta, o livro de Shlomo Sand destrói, simultaneamente, o mito da pureza da raça, isto é, da etnicidade judaica.

Uma abundante documentação reunida por historiadores de prestígio mundial revela que, nos primeiros séculos na Nossa Era, houve maciças conversões ao judaísmo na Europa, na Ásia e na África.

Três delas foram particularmente importantes e incomodam os teólogos israelenses.

O Alcorão esclarece que Maomé encontrou em Medina, na fuga de Meca, grandes tribos judaicas com as quais entrou em conflito, acabando por expulsá-las. Mas não esclarece que, no extremo Sul da Península Arábica, no atual Iêmen, o reino de Hymar adotou o judaísmo como religião oficial. Cabe dizer que chegou para ficar. No seculo 7, o Islã implantou-se na região, mas, transcorridos treze séculos, quando se formou o Estado de Israel, dezenas de milhares de iemenitas falavam o árabe, mas continuavam a professar a religião judaica. A maioria emigrou para Israel onde, aliás, é discriminada.

No Império Romano, o judaísmo também criou raízes, mesmo na Itália. O tema mereceu a atenção do historiador Díon Cassius e do poeta Juvenal.

Na Cirenaica, a revolta dos judeus da cidade de Cirene exigiu a mobilização de várias legiões para a combater.

Mas foi, sobretudo, no extremo ocidental da África que houve conversões em massa à religião rabínica. Uma parcela ponderável das populações berberes aderiu ao judaísmo e a elas se deve a sua introdução no Al Andalus.

Foram esses magrebinos que difundiram na Península o judaísmo, os pioneiros dos sefarditas que, após a expulsão da Espanha e Portugal, se exilaram em diferentes países europeus, na África muçulmana e na Turquia.

Mais importante pelas suas consequências foi a conversão ao judaísmo dos Khazars, um povo nômade turcófono, aparentado com os hunos, que, vindo do Altai, se fixou no seculo IV nas estepes do baixo Volga.

Os Cazares, que toleravam bem o cristianismo, construíram um poderoso estado judaico, aliado de Bizâncio nas lutas do Império Romano do Oriente contra os Persas Sassânidas.

Esse esquecido império medieval ocupava uma área enorme, do Volga à Crimeia e do Don ao atual Uzbequistão. Desapareceu da História no século 13 quando os Mongóis invadiram a Europa, destruindo tudo por onde passavam. Milhares de cazares, fugindo das Hordas de Batu Khan, dispersaram-se pela Europa Oriental. A sua principal herança cultural foi inesperada. Grandes historiadores medievalistas como Renan e Marc Bloch identificam nos cazares os antepassados dos asquenazes, cujas comunidades na Polônia, na Rússia e na Romênia viriam a desempenhar papel fulcral na colonização judaica da Palestina.

UM ESTADO NEOFASCISTA

Segundo Nathan Birbaum,o intelectual judeu que inventou, em 1891, o conceito de sionismo, é a biologia e não a língua e a cultura quem explica a formação das nações. Para ele, a raça é tudo. E o povo judeu teria sido quase o único a preservar a pureza do sangue através de milênios. Morreu sem compreender que essa tese racista, a prevalecer, apagaria o mito do povo sagrado eleito por Deus.

Porque os judeus são um povo filho de uma cadeia de mestiçagens. O que lhes confere uma identidade própria é uma cultura e a fidelidade a uma tradição religiosa enraizada na falsificação da História.

Nos passaportes do Estado Judaico de Israel, não é aceita a nacionalidade "israelense". Os cidadãos de pleno direito escrevem "judeu". Os palestinos devem escrever "árabe", nacionalidade inexistente.

Ser cristão, budista, mazdeísta, muçulmano, ou hindu resulta de uma opção religiosa, não é nacionalidade. O judaísmo também não é uma nacionalidade.

Em Israel, não há casamento civil. Para os judeus, é obrigatório o casamento religioso, mesmo que sejam ateus.

Essa aberração é inseparável de muitas outras num Estado confessional, etnocracia liberal construída sobre mitos, um Estado que trocou o iídiche, falado pelos pioneiros do "regresso a Terra Santa", pelo sagrado hebraico dos rabinos, desconhecido do povo da Judeia que se expressava em aramaico, a língua em que a Bíblia foi redigida na Babilônia e não em Jerusalém.

O "Estado do Povo Judeu" assume-se como democrático. Mas a realidade nega a lei fundamental aprovada pelo Knesset. Não pode ser democrático um Estado que trata como párias de novo tipo 20% da população do país, um Estado nascido de monstruoso genocídio em terra alheia, um Estado cuja prática apresenta matizes neofascistas.

O livro de Shlomo Sand sobre a invenção do Povo Judeu é, além de lúcido ensaio histórico, um ato de coragem. Aconselho a sua leitura a todos aqueles para quem o traçado da fronteira da opção de esquerda passa hoje pela solidariedade com o povo mártir da Palestina e a condenação do sionismo.”

FONTE: escrito por Miguel Urbano Rodrigues, no Diário.Info, de Vila Nova de Gaia, Portugal, em 31 de Dezembro de 2012. Transcrito no portal “Vermelho”  (http://www.vermelho.org.br/noticia.php?id_noticia=202459&id_secao=9). [Imagem do google adicionada por este blog ‘democracia&política’].
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