Sejamos sinceros. Esta Constituição é a coisa mais confusa do mundo. Não define o rito democrático da defesa do acusado.
Pior: Lugo terminou o governo da mesma maneira que atuou ao longo da sua gestão. Indeciso, oscilando. Disse que acatava o impeachment e agora forma um governo paralelo?
Os mais coerentes são os governos que formam o Mercosul. Podem chiar que tomam decisão ideológica. Mas tomam. Não deixam dúvidas. E utilizam suas prerrogativas regimentais. Bloqueio econômico é bobagem, mas pressão política é legítima.
O que me deixa pasmo é a falta de coerência de certa esquerda que se diz democrática. Fiquei, neste campo, positivamente surpreso com a postura de Míriam Leitão, deixando claro que nem sempre o que é legal é legítimo. Algo que Habermas já nos ensinou faz tempo. Numa entrevista magistral ao ex-ministro Rouanet (no antigo Mais!, da Folha), dizia que a defesa da vida é mais importante que o respeito à cultura e tradição local. Porque ninguém tem direito de tirar a vida ou mutilar um filho em nome da tradição.
Esta é a base do pensamento moderno, do humanismo.
Fico chocado com o relativismo pós-moderno de alguns que acham que a Constituição foi respeitada e que, portanto, pode tudo. É a estética acima da ética. O fim do humanismo. Algo, por sinal, que já contaminou Lula. É triste ler seus críticos argumentarem com o mesmo relativismo no caso paraguaio.
Em reunião de apresentação do projeto do Memorial da Democracia para conselheiros do Instituto Lula e convidados de diferentes segmentos sociais e regiões do país, Lula e Paulo Vannuchi, diretor do Instituto Lula, seguram proposta de lembrança que os visitantes poderão levar do Memorial da Democracia. Ela é composta de imagens de fotógrafos renomados e palavras relacionadas à democracia.
Não sei quanto a vocês, mas a mim me incomoda, desde o primeiro dia do golpe institucional, o riso de Fernando Lugo. Do que sorri? Por que sorri? Qual é a graça?
A foto ao lado, retirada da primeira página de O Globo, logo após o golpe, o mostra sorrindo.
O vídeo abaixo, de seu pronunciamento aceitando o golpe, dirigindo-se à Nação e a seus eleitores, rindo quase que acintosamente, como se fosse uma miss pronta para recitar o textinho decorado em que afirmaria que leu o Pequeno Príncipe e que tu te tornas eternamente responsável pelo que cativas, pra mim foi um tapa na cara de todos aqueles que, naquele instante, se dirigiam ao Palácio do Governo a fim de protestar contra o golpe.
Em vez disso, receberam o sorrisinho de miss Lugo e um discurso covarde. Comparem a disposição do povo de ir às ruas defendê-lo, com sua postura risonha. Confiram:
De que tanto ri Fernando Lugo?
Durante o tempo em que esteve no poder, não se articulou. Não deu ouvidos ao telegrama divulgado pelo Wikileaks, que denunciava, no ano passado, o golpe que lhe seria aplicado, exatamente como o foi.
Nunca teve maioria no Congresso, mas parece que não se importou com isso, a ponto de ser golpeado com apenas cinco votos a favor e mais de 110 contra, no total.
Agora, ao que parece, surpreso com a reação dos vizinhos, que na Unasul e no Mercosul condenaram o golpe, ele reaparece, afirmando o oposto, que não reconhece o governo de Franco (o vice que ficou em seu lugar). Mudou de posição, mas o sorriso é o mesmo, como mostram O Globo hoje e vários flagrantes da mídia internacional.
De que ri Fernando Lugo, que abandonou sem luta o povo que acreditou nele?
O que o destino reserva ao Forrest Gump paraguaio?
Mais: O que o destino reserva ao bravo povo paraguaio?