Florianópolis, “a cidade de Floriano”, 31 anos de Novembrada e as políticas do esquecimento

Fortaleza do Anhatomirim - Foto: Germano Schüur

Por Laurene Veras* especialmente para o blog.

Em 14 de outubro de 1893, o comandante Federico de Lorena declarou instalado o Governo Provisório da República dos Estados Unidos do Brasil na cidade de Nossa Senhora do Desterro, em Santa Catarina. Em plena revolução federalista, Desterro passou a ocupar o status de uma capital do país paralela, ilegítima para os legalistas, estratégica para os federalistas do sul do país. O novo governo considerava-se separado da União, enquanto Floriano Peixoto, que comandava o país desde o Rio de Janeiro, não fosse deposto. Esta ‘vitória’ do movimento federalista durou seis meses, após os quais, enfraquecido por dissidências internas, o movimento revoltoso foi desmembrado e derrotado em 16 de abril de 1894, três dias antes da chegada do interventor federal Antônio Moreira César. Moreira César iniciou então uma operação pente fino na ilha de Santa Catarina e colocou toda força à sua disposição no encalço dos remanescentes revolucionários. A partir daí, Desterro testemunhou um dos momentos mais sangrentos e traumáticos de sua história. Em maio de 1894, após meses de perseguição, execuções, tortura e todos os conhecidos meios de repressão e coação praticados pelo Estado, ocorreu o que ficou conhecido – ou desconhecido, dependendo da interpretação – como o “Massacre de Anhatomirim”, quando cerca de 200 homens teriam sido executados na ilha presídio num movimento revanchista e arbitrário de extermínio e profilaxia política. Em 1º de outubro do mesmo ano, o então governador Hercílio Luz − cujo próprio primo e cunhado havia sido assassinado pela mão de ferro de Moreira César −, sancionou a lei que mudaria o nome da capital do estado de Nossa Senhora do Desterro para Florianópolis, em homenagem a Floriano Peixoto, ninguém menos que o mentor político dos verdugos dos ilhéus revolucionários. A troca do nome da cidade foi uma tentativa de varrer os fatos traumáticos de Anhatomirim para baixo do tapete da história e passar um verniz sobre uma ferida que deveria ser bem cicatrizada pelas políticas do esquecimento articuladas pelas autoridades competentes.

           
No que diz respeito à tradição e à dor, a Ilha de Anhatomirim faz parte do imaginário dos florianopolitanos como um lugar mal assombrado. As narrativas oriundas da tradição local contam estórias de fantasmas e maldições relacionados ao lugar. Entretanto, para além do anedótico e folclórico, após quase um século de esquecimento gerado no trauma, a significância da memória cultural se faz notar em um dos mais importantes levantes populares da História da ditadura militar no Brasil. Em 30 de novembro de 1979, o então presidente General João Figueiredo fez uma visita a Florianópolis a fim de conhecer o projeto de implantação de uma indústria siderúrgica na região e para a cerimônia de descerramento de uma placa em homenagem a Floriano Peixoto. O Diretório Central dos Estudantes da Universidade Federal de Santa Catarina organizou uma manifestação contra o regime militar, e a manifestação acabou ganhando força e destaque por causa da indignação causada pelo monumento em homenagem ao ditador da revolução federalista. O general foi hostilizado pela população e reagiu com agressividade. A confusão na Praça 15 de novembro foi generalizada, e a famigerada placa foi arrancada do lugar e queimada pelos manifestantes. Com base nesse fato, é possível afirmar que neste dia, dois chefes de regimes autoritários de épocas diferentes foram desafiados pelo povo. O episódio da Praça 15 de novembro ficou conhecido como Novembrada, mas assim como o esquecimento de Anhatomirim, a Novembrada também teve existência curta na memória oficial do país, especialmente por se tratar de um levante que ocorreu em meio à repressão da ditadura militar, a qual tratou de acionar as usuais ferramentas do esquecimento.


*Mestranda em Literatura, UFRGS.
Imagens Novembrada: Banco de Dados/JSC
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O REPÓRTER-TODDYNHO DA FOLHA DE S.PAULO E O CASO DA “CABELEIREIRA DA DILMA”

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No último dia 10 de novembro, a advogada gaúcha Márcia Westphalen teve sua nomeação para o cargo Especial de Transição Governamental publicada no Diário Oficial da União. Na tarde daquele mesmo dia, Márcia recebe telefonema do repórter Breno Costa, do auto-denominado jornal Folha de S.Paulo. “Ele queria saber se eu havia trabalhado como cabeleireira, pois havia feito uma busca no Google, com meu nome, e encontrou essa informação”. O jornalista quis saber, também, como ela havia sido nomeada e qual seria o seu cargo.
Eis o relato de Márcia Westphalen: “Pacientemente, expliquei que havia trabalhado em um salão durante um período curto, que não chegava a cinco meses, em uma época de crise financeira, mas que aquela nunca foi minha atividade principal. Disse que era formada em Direito pela PUC-RS, que tinha inscrição na OAB,  que falava quatro idiomas, e que no período em que trabalhei no salão eu me ocupava mais com produção para desfiles, marcas e modelos do que com atendimento direto a pessoas físicas. Falei que havia trabalhado em diversas empresas, sempre com cargos que envolviam confiança, e que qualquer dos meu ex-empregadores poderia atestar. Contei ainda que havia morado na Inglaterra e na Argentina, sempre trabalhando. Disse que ele estava mal informado, pois no Governo de Transição não havia cargos, somente uma escala de nomeação que vai do número I ao V ou VI, não sabia bem, conforme ele poderia verificar no Diário Oficial, e que trabalharia na função de secretária executiva”.


Márcia Westphalen informou ainda que já havia trabalhado na coordenação de campanha de Dilma Rousseff, no escritório político, e que lá exercia a função de secretária/assistente do coordenador administrativo, e que, por isso, havia sido selecionada para o Governo de Transição. “Ele perguntou como eu havia entrado lá. Contei que foi por análise de currículo. Fui, pedi, fiz entrevista e fui contratada. Assim. Ele falou que só estava verificando, que eu não me preocupasse. Mas eu já tinha sentido a maldade...”


Segue o relato: “Logo depois, começo a telefonar para meus contatos, pois me ocorrera o seguinte: como ele tinha o número do meu celular de Porto Alegre, sendo que eu trabalhava aqui na Transição, que tem Assessoria de Imprensa e tudo?
Descubro que ele havia ligado para o XXXXXX, meu último empregador antes da campanha, uma produtora, fazendo-se passar por amigo meu, dizendo que sentia saudades de mim e pedindo o meu celular. O pessoal de lá, sempre ocupado, diz que não tem em mãos o meu número, mas que passaria o telefone da XXXXXX, que era minha amiga e que o teria, com certeza. Descubro que ele havia telefonado para ela da mesma forma baixa e anônima. E que ele mentira novamente. Falou que morria de saudades de mim, que queria saber como andava minha vida, como eu estava aqui em Brasília, se ainda cortava cabelos... A XXXXX, pessoa de boa-fé, disse que eu estava bem, que não trabalhava mais com cabelos, que estava superfeliz aqui etc. Não sei o que mais ela falou, mas sei que caiu na lábia dele, porque até achou que era algum ex-namorado meu... Quando eu falei para ela que aquele sujeito era um jornalista da Folha de S.Paulo, e que senti a maldade dele, ela queria morrer...”


No dia seguinte, uma nova versão da vida de Márcia Westphalen aparece estampada na Folha de S.Paulo, assinada por…Breno Costa. Em poucas horas, como um rastilho de pólvora, a "notícia" abaixo já está alastrada em emissoras de rádio, portais de internet e blogs limpinhos.  




O governo vai pagar mais de R$ 6.800 para uma cabeleireira gaúcha trabalhar como secretária na equipe de transição da presidente eleita Dilma Rousseff.
 Márcia Westphalen é uma das 13 pessoas nomeadas ontem para compor o governo de transição de Dilma Rousseff, até a posse da nova presidente.
Até 2009, ela trabalhava como cabeleireira num salão de beleza em Porto Alegre. Manteve até ontem à tarde no ar um blog sobre "cabelos, tendências e dicas de visual". O blog saiu do ar após a Folha entrar em contato com o governo de transição.
No blog, se apresentava dizendo já ter morado em "vários países" e trabalhado "em salões de diversos estilos". Afirmava ainda que, "por ideologia, não faço alisamento, escovas progressivas ou qualquer outro processo agressivo".
Segundo o governo de transição, Westphalen é formada em direito e foi selecionada por análise de currículo pela campanha de Dilma, quando passou a atuar, de acordo com a assessoria, como secretária trilíngue.
À Folha Westphalen informou outra função. Também disse que foi selecionada por análise de currículo, mas que trabalhou na área de "apoio de produção", auxiliando na organização de eventos da campanha de Dilma.
Sobre seu papel no governo de transição, disse que ainda não sabia qual seria sua função, mas negou que fosse trabalhar como cabeleireira.


Para saber quem republicou, acriticamente, a patifaria do desmunhecado funcionário de Otávio Frias Filho, clique aqui, ou aqui, ou aqui, ou aqui.


Para visitar o Talking Hair – novo blog de Márcia Westphalen – e conhecer a repercussão que o episódio teve na chamada imprensa gaúcha, clique aqui
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EUA vivem seu momento China

Estudantes que falam sobre o Wikileaks e o cablegate nas redes sociais podem não conseguir acesso a cargos no Partido, digo, em empregos públicos.

Via Huffington Post.
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Capital e Crime

No momento em que todas as atenções estão voltadas à operação contra traficantes no Rio de Janeiro, é bom lembrar, que ainda há muito a fazer em relação ao tráfico de drogas, como aponta o jurista Wálter Maierovitc em artigo de Weissheimer na Carta Maior:

Os verdadeiros chefes do narcotráfico no Rio de Janeiro são ligados à rede do crime organizado transnacional que movimenta no sistema bancário internacional cerca de 400 bilhões de dólares por ano. Esses são os grandes responsáveis pela violência e pelo tráfico de drogas e armas em todo o mundo.

E como é muito mais difícil e complexo desbaratar o crime organizado na sua origem, vale a pena reler parte de artigo de Maria Orlana Pinassi, já publicado no blog AQUI, em que a autora, acertadamente, relaciona o capitalismo com o crime:


A hierarquia classista e trágica do crime




Aqui chego ao ponto que me fez refletir sobre a essencialidade do crime para a sociedade burguesa e aperspectiva de classe tão fielmente reproduzida em sua hierarquia. Sim, porque é no interior de toda essa discussão que se deve tratar a realidade da explosiva população carcerária que, apesar de confinada, vem apavorando com as notícias sobre as rebeliões que organiza e as ações que efetivamente lidera nas ruas. Essa perspectiva, portanto, é muito diferente do senso comum que analisa o problema a partir dele próprio,como se a sua existência fosse algo em si ou, quando muito, um problema de má gerência do Estado, reflexo da corrupção que emana da representação política (no Brasil e mundo), um problema de educação, enfim.

À essa altura da discussão realizada, uma questão fundamental é saber: quem são os indivíduos amotinados e organizados em torno do PCC? São bandidos? Quanto a isso parece não haver muita dúvida. Todos eles, de algum modo, violaram, muitas vezes violentamente, regras essenciais e necessárias à sociabilidade humana, mesmo quando submetidas à lógica do capital.

Aqueles indivíduos, amontoados em celas como animais no abatedouro, sujeitos às piores humilhações e violência física, um dia roubaram, traficaram, mataram, realizaram, em muitos dos casos, o trabalho sujo reservado à “escória” de uma estrutura social, seja ela legal ou ilegal.

Assim, tanto quanto Sherlock ou Hercule Poirot o fariam, eu pergunto: qual o motivo do crime cometido por eles? Pois bem, aqui reside toda a diferença entre os bandidos-que-vão-para-a-cadeia e os bandidos-que-não-vão-para-a-cadeia, entre os bandidos visíveis e os bandidos invisíveis, estes em geral assentados nos setores mais importantes, e até mesmo insuspeitos, da sociedade capitalista (5). Em princípio, portanto, parece que para aqueles que não-vão-para-a-cadeia, o crime é a oportunidade de acumular e fortalecer ainda mais a condição de burguês, a fim de conquistar todos os benefícios materiais e imateriais que correspondem a esse status quo, cujo pré-requisito é a propriedade privada, independentemente dos critérios de moral e de princípios éticos, hipocritamente constituídos para a sociedade de classes. Para os que vão-para-a-cadeia, o trabalho desenvolvido no interior da atividade criminosa constitui um meio de reproduzir as condições de sua vida de bandidos que, conscientemente, vão-sempre-voltar-para-a-cadeia.
O bandido visível nasce em bairro de pobres, é subnutrido, aplaca a fome com cola, com crack, não estuda, apanha e é submetido a sevícias em casa, na rua, na Febem, mais tarde, nas delegacias de polícia.

Aprende a empunhar a arma desde cedo, único meio de afirmação da sua existência e da sua reduzida auto-estima. A violência sempre foi a mediação mais familiar que o liga à vida e no seu mundo, tão óbvio quanto manejar uma arma, não há lugar para a fantasia, para o glamour, nem para o romance; toda perspectiva é imediata, sem rodeios, inclusive a necessidade premente de recorrer ao crime.

Mas isso está muito longe de ser uma espécie útil de darwinismo social, como nos faz supor a imprensa que trata de modo tão leviano a questão. Paira, então, a dúvida: antes de serem simplesmente os bandidos que realizam o trabalho sujo do mundo em que vivemos, de onde eles vêm? Evidente que sua árvore genealógica não pactua consangüinidade com as elites. Como regra, o passado é rude e proletário, condição progressivamente negada pelo capital legal em sua fase de decadência histórica. Assim, durante a crise estrutural o capital os expulsa pela porta da frente para readmiti-los pela porta dos fundos, sob as piores e mais precarizadas condições possíveis. Para eles, inexistem leis a regulamentar limite de idade, jornada de trabalho, insalubridade. A situação, enfim, remete aos piores dias vividos pela classe trabalhadora nos primórdios da revolução industrial. E sobre isso, vale ainda pensar nas campanhas que visam coibir o trabalho infantil, enquanto a própria sociedade condena os “aviõezinhos” do tráfico.

Esses homens e mulheres inexistem para a sociedade, a não ser quando saem dos morros, favelas, presídios para ameaçá-la. É nestas ocasiões que os “pacatos cidadãos de bem” despertam sua ira para ressuscitar a pena de morte, o discurso da autoridade, da repressão (6).
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Trairas

#forajobim
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