BORIS C. E AS PULSÕES REPRIMIDAS: UM CAÇADOR DE COMUNISTAS À LUZ DA PSICANÁLISE













Este é um caso real, relatado com maestria pelo Dr. Julius Sodemberg.
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Boris C.: os Garis como Bodes Expiatórios das Pulsões Reprimidas
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O caso de Boris C. tem como chave de compreensão o preconceito e a agressividade. Pesquisando a vida desse personagem observa-se que esses dois comportamentos já se manifestavam em sua juventude, seguramente como reflexos de processos anteriores que construíram uma mente fragilizada e sujeita à sublimação constante de seus desejos. Veja-se a reportagem de 1968 revela sua filiação a organizações criminosas na juventude (1), em um tipo de gangsterismo pseudo-politizado e com forte componente de tentativa de afirmação da masculinidade. Para mim, está evidente que o recurso à violência é uma forma de construir uma imagem que oculte os verdadeiros desejos mantidos prisioneiros pelo superego.
Para entender melhor, é preciso pensar nas raízes do preconceito e da agressividade. Vamos entender como cada um desses se manifesta no caso em questão.
O preconceito e a resposta à frustração
A psicanálise não tem uma explicação única para o preconceito. É preciso saber que tipo de preconceito é apresentado pela pessoa analisada, para daí identificar os processos que levaram à construção do preconceito.
O preconceito pode surgir como imitação do comportamento de familiares, especialmente na tentativa de imitar a figura paterna para aproximar-se da mãe. Também pode surgir como resultado de processos mais complexos, normalmente baseados em alguma experiência de frustração ou sofrimento extremo. No caso em estudo, não foi possível obter informações sobre a forma como seus pais e outros familiares se referiam aos garis (ou “lixeiros” como se dizia antigamente e ainda se usa hoje de maneira preconceituosa e depreciativa). Pode ser que o menino Boris, em sua infância nos anos 1940-1950, ouvisse referências negativas aos profissionais da limpeza pública. Mas isso, aconteceu com milhões de outras pessoas, e sozinho não é um fato que justifique o tipo de comentário que gerou a recente execração pública do indivíduo aqui estudado. Assim, é recomendável procurar outros processos que, pelo menos, complementem a explicação.
O preconceito pode se originar do medo. É comum, por exemplo, que o preconceito contra imigrantes acirre-se em momentos de crise econômica, quando as pessoas têm medo de perder seus empregos. Medos atávicos são retomados, muitas vezes recorrendo a estereótipos que correspondem a figuras arquetípicas. Talvez o medo de Boris C. surja ao compreender que sua decadência como jornalista é inexorável, e que simboliza, de certa forma, a decadência de um tipo de jornalismo e de sociedade e dominação a que ele tem servido por décadas. Em reação, Boris C. mira aqueles que para ele representam melhor seu grande e odiado inimigo, o presidente Lula: os trabalhadores manuais menos qualificados.
Em um belo texto que se refere coincidentemente ao preconceito contra os ancestrais de Boris C., os judeus, Mauricio Waldman mostra como o preconceito está ligado às pulsões e aos sentimentos reprimidos (2):
Neste âmago, convivem todos os sentimentos reprimidos, formando uma reserva pulsante do irracional (…) tais pulsões se atiram decididamente na tarefa de conspurcar, violentar e profanar, macular o belo, o gentil, o virtuoso, o piedoso e o maravilhoso. Em especial, elas encontram o seu alvo nas formas que foram eliminadas do espaço, desqualificadas pelo tempo, atiradas para fora da História e da Geografia.

Se formos olhar para os “lixeiros” de Boris C., eles são exatamente aqueles que estão fora da História, ignorados pela cidade enquanto trabalhadores invisibilizados pelo preconceito; e também expulsos da Geografia, moradores das áreas periféricas, dos cortiços e das favelas, expulsos da cidade da elite Esse medo não pode ser buscado apenas em sentimentos objetivos. Não sem motivo, Waldman nos fala sobre a reserva pulsante do irracional. E o que está instalado nesse irracional? Que pulsões serão essas? A psicanálise nos ensina que “existem essencialmente duas classes diferentes de pulsões: as pulsões sexuais, percebidos no mais amplo sentido – (Eros) e pulsões agressivas, cuja finalidade é a destruição” (3). A Pulsão de Morte, central entre as pulsões agressivas, muitas vezes tem sua gênese ligada às pulsões sexuais. Assim, devemos buscar as origens das pulsões na repressão sexual.
Lendo-se atentamente a reportagem sobre ele e seus amigos de juventude, acima citada, é fácil identificar, apesar da reserva com a qual o repórter trata o tema, que se trata de um ambiente de extrema repressão de pulsões sexuais. O que é a choperia onde se reuniam, senão o espaço de sublimação das pulsões recalcadas por meio da construção de uma camaradagem de rapazes que tentam provar sua masculinidade uns aos outros? E a presença da violência como código e valor básico de conduta do grupo de criminosos com o qual Boris C. convivia, segundo o repórter? Novamente, é preciso recorrer às pulsões reprimidas para entender como aqueles rapazes associam-se, na verdade, não para caçar comunistas, mas para caçar os fantasmas das fantasias sexuais que recalcavam dentro de si.
A agressividade como expressão da negação do eu
E, assim, identificando a violência como peça central no mecanismo de recalque de fantasias associadas a pulsões de ordem sexual, chegamos à agressividade.
Freud aborda a agressividade já ao tratar das experiências analíticas de Dora (1905) e de Hans (1909). A partir do estudo desses casos, Freud associou agressividade ao sintoma, responsabilizando-a pela sua produção e reprodução (3). A agressividade muitas vezes é manifestação e válvula de escape do medo, da frustração ou do recalque.
Ao assumir a agressividade como modus operandi da sublimação, o indivíduo muitas vezes toma o caminho da construção do fetiche. Busca, assim, associar a prática da violência com objetos que, de alguma maneira, ofereçam-lhe a segurança que seu eu fragilizado não é capaz de oferecer a si próprio. Não é sem motivo, portanto, que a reportagem de sua juventude menciona que Boris C. gostava de andar armado. Se hoje não tem mais esse hábito, muniu-se de outra arma, o microfone, um outro objeto fálico que evoca o mesmo poder masculino que uma pistola.
Ao desviar a garantia de sua segurança emocional para um objeto que evoque esse poder, o indivíduo normalmente projeta para o exterior um eu que não sente como o seu, mas que vê-se obrigado a projetar. Ao agarrar-se à agressividade baseada em um instrumento e postura arquetipicamente masculinizante, pode fantasiar que é capaz de esconder dos outros o Eu doloroso e frágil com o qual convive, mas não consegue aceitar.
Nem sempre é possível, no entanto, manter isso. Não é sem motivo que seus colegas do tempo de militância na organização criminosa CCC – Comando de Caça aos Comunistas diziam que ele era “mole” com os comunistas. Esse tipo de desvio comportamental tem essa característica: por trás dessa agressividade normalmente esconde-se um grande covarde, que apenas consegue atacar os fracos, mas costuma abaixar-se para os mais fortes e poderosos.
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Referências
(1) CCC ou o Comando do Terror. Reportagem de Pedro Medeiros. Revista O Cruzeiro, 9 de novembro de 1968.
(2) WALDMAN, M. Arquétipos, Fantasmas e Espelhos. GEOUSP – Espaço e Tempo, São Paulo, Nº 23, pp. 44 – 64, 2008.
(3) PAULON, W. Agressividade e psicanálise (2009). Disponível em:
http://www.webartigos.com/articles/26980/1/agressividade-e-psicanlise/pagina1.html
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Para ler o relato de outros casos, tão extraordinários quanto esse, visite o consultório do Dr. Julius agora mesmo.
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Dica de Leitura para Entender Melhor "Lula, O Filho do Brasil".

Algumas das melhores cenas de “Lula, O Filho do Brasil” acontecem na segunda parte do filme – inclusive a mais bem-feita de todas, a da lendária assembléia no Estádio da Vila Euclides - quando um então despolitizado Lula começa a sua militância no movimento sindical. Nesse momento aparece o personagem "Feitosa”, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo e Diadema, que acaba se tornando uma espécie de “padrinho” de Lula em sua militância sindical e que nesta cinebiografia é retratado de forma um tanto quanto caricata. Na verdade, “Feitosa” é o nome dado no filme a Paulo Vidal, presidente do SMSBD entre 1969 e 1975 - depois sucedido por Lula - e que foi um dos principais nomes do chamado "Sindicalismo Autêntico", que se consolidou nos anos seguintes ao golpe de 1964 e à implantação do regime ditatorial .

Para entender melhor o movimento sindical no ABC paulista durante esse período – e conseqüentemente ter uma compreensão mais ampla da trajetória pessoal e política do futuro Presidente da República – recomendo a leitura do excelente artigo “Depois daquele limo: os termos do divórcio entre revolução e sindicalismo operário (1964-1978)", de Antonio Luigi Negro, publicado no livro Tempo Negro, Temperatura Sufocante: Estado e Sociedade no Brasil do AI-5, organizado por Oswaldo Munteal Filho, Adriano de Freixo e Jacqueline Freitas (Contraponto Editora/Editora da PUC-Rio, 2008). Professor da UFBA e um dos grandes especialistas brasileiros na obra de Edward P. Thompson, Negro tem estado à frente de algumas das mais interessantes pesquisas sobre o movimento sindical brasileiro na segunda metade do século XX, individualmente ou em colaboração com outros pesquisadores, como Alexandre Fortes, da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. Neste artigo, ele recupera e analisa o processo de ascensão do “sindicalismo autêntico” – definido por Paulo Vidal como “antiempresarial e anticomunista” – no ABC paulista, nas décadas de 1960 e 1970. Porém, ironicamente, foi deste sindicalismo - que era estranhado e mesmo hostilizado pela esquerda e que pregava que “partidos só atrapalhavam a autenticidade e a independência dos sindicatos”- que emergiu a liderança daquele que se tornaria o principal fundador e o nome central de um partido que se transformou em referência para a esquerda latino-americana e mundial. Para aqueles que querem conhecer esta história e que buscam entender a complexidade e as peculiaridades de um personagem como Lula, a leitura do artigo de Antonio Luigi Negro é imprescindível.
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"O cara" da Merda

Charge Sponholz

Stalinácio não deu uma palavra (nem centavo) sobre as tragédias de fim de ano no Brasil.

Mas já fez “minuto de silêncio” midiático e deu 15 Mi pras Ongs petistas no Haiti.

REAJA BRASIL!!!

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Remo no Gasômetro (foto)

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Arco-íris noturno (foto)

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