Eta esquadrão de ouro!

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Reforma agrária

Hoje pela manhã eu estava conversando com um colega sobre a desapropriação da Fazenda Southall e a concessão da posse da área aos assentados. Comentava sobre o fato de que as ocupações e as reintegrações de posse eram amplamente divulgadas pelos jornalecos guascas, mas o assentamento passou em brancas nuvens. Nada de surpreendente, em se tratando da nossa imprensa.

Um pouco mais tarde, comecei a procurar por umas charges sobre ecologia, para um trabalho que me encomendaram, e acabei encontrando o cartum abaixo. É de 2006 e foi feito para uma exposição que foi organizada pelo MST, com curadoria do Fraga, se não me falha a memória.

Para ver em tamanho decente, clique na imagem.

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Carta a meus filhos sobre os Fuzilamentos de Goya.

Há quase cinquenta anos, Jorge de Sena (1910-1978), um dos maiores poetas portugueses do século XX, escreveu uma belíssima carta-poema intitulada "Carta a meus filhos sobre os Fuzilamentos de Goya", a partir do quadro "El tres de mayo", pintado em 1814 por Francico Goya. Hoje, ao findar 2008, os seus versos permanecem tristemente atuais em um mundo onde estão ocorrendo atualmente, pelo menos, catorze conflitos armados de grandes proporções. Não pude deixar de pensar nesta carta-poema neste momento em que o ano termina e em que o "Espírito Natalino" se apresenta como sinônimo de consumo e não de solidariedade. Assim, os desejos de Jorge de Sena para seus filhos são os de todos nós que acreditamos que resistir é possível e preciso.

Não sei, meus filhos, que mundo será o vosso.
É possível, porque tudo é possível, que ele seja aquele que eu desejo para vós.
Um simples mundo, onde tudo tenha apenas a dificuldade que advém de nada haver que não seja simples e natural. Um mundo em que tudo seja permitido, conforme o vosso gosto, o vosso anseio, o vosso prazer, o vosso respeito pelos outros, o respeito dos outros por vós.

E é possível que não seja isto, nem seja sequer isto o que vos interesse para viver. Tudo é possível, ainda quando lutemos, como devemos lutar, por quanto nos pareça a liberdade e a justiça, ou mais que qualquer delas uma fiel dedicação à honra de estar vivo.

Um dia sabereis que mais que a humanidade não tem conta o número dos que pensaram assim, amaram o seu semelhante no que ele tinha de único, de insólito, de livre, de diferente, e foram sacrificados, torturados, espancados, e entregues hipocritamente à secular justiça, para que os liquidasse «com suma piedade e sem efusão de sangue.»

Por serem fiéis a um deus, a um pensamento, a uma pátria, uma esperança, ou muito apenas à fome irrespondível que lhes roía as entranhas, foram estripados, esfolados, queimados, gaseados, e os seus corpos amontoados tão anonimamente quanto haviam vivido, ou suas cinzas dispersas para que delas não restasse memória.

Às vezes, por serem de uma raça, outras por serem de uma classe, expiaram todos os erros que não tinham cometido ou não tinham consciência de haver cometido. Mas também aconteceu e acontece que não foram mortos.

Houve sempre infinitas maneiras de prevalecer, aniquilando mansamente, delicadamente, por ínvios caminhos quais se diz que são ínvios os de Deus.
Estes fuzilamentos, este heroísmo, este horror, foi uma coisa, entre mil, acontecida em Espanha há mais de um século e que por violenta e injusta ofendeu o coração de um pintor chamado Goya, que tinha um coração muito grande, cheio de fúria e de amor. Mas isto nada é, meus filhos.

Apenas um episódio, um episódio breve, nesta cadeia de que sois um elo (ou não sereis) de ferro e de suor e sangue e algum sémen a caminho do mundo que vos sonho.

Acreditai que nenhum mundo, que nada nem ninguém vale mais que uma vida ou a alegria de tê-la. É isto o que mais importa - essa alegria.
Acreditai que a dignidade em que hão-de falar-vos tanto não é senão essa alegria que vem de estar-se vivo e sabendo que nenhuma vez alguém está menos vivo ou sofre ou morre para que um só de vós resista um pouco mais à morte que é de todos e virá.

Que tudo isto sabereis serenamente, sem culpas a ninguém, sem terror, sem ambição, e sobretudo sem desapego ou indiferença, ardentemente espero. Tanto sangue, tanta dor, tanta angústia, um dia - mesmo que o tédio de um mundo feliz vos persiga - não hão-de ser em vão.

Confesso que muitas vezes, pensando no horror de tantos séculos de opressão e crueldade, hesito por momentos e uma amargura me submerge inconsolável.
Serão ou não em vão? Mas, mesmo que o não sejam, quem ressuscita esses milhões, quem restitui não só a vida, mas tudo o que lhes foi tirado?

Nenhum Juízo Final, meus filhos, pode dar-lhes aquele instante que não viveram, aquele objecto que não fruíram, aquele gesto de amor, que fariam «amanhã».

E, por isso, o mesmo mundo que criemos nos cumpre tê-lo com cuidado, como coisa que não é nossa, que nos é cedida para a guardarmos respeitosamente em memória do sangue que nos corre nas veias, da nossa carne que foi outra, do amor que outros não amaram porque lho roubaram.


Lisboa, 25/6/1959
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Seitas suicidas

Esta charge não é sobre nada em particular. Mas serve para quase tudo o que se discute no RS: Ford, papeleiras, estádios-arenas-fifas, pontais e outros que tais.

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Pensem, por favor

Minhas profundas divergências ideológicas com a Folha de S.Paulo abundam até para a critica de cinema. Não é a primeira vez. O crítico Inácio Araújo não gostou de “Rebobine, por favor”, de Michel Gondry, segundo ele de um humor sem brilho. Não, não é. Não esperem apenas boas piadas, embora existam. O filme tem uma bela poesia e traz uma reflexão interessante para todos, paradoxalmente feita pela própria indústria cultural: o cinema tem agora um novo desafio com a digitalização e a internet. Como será esse novo modelo de negócio? O que amplas massas querem e estão dizendo a esse monopólio? Basta pensar. Sugiro que leiam Felipe Macedo, no Diplô. Segundo ele, o cinema mudou pouco até o advento das tecnologias digitais. O modelo básico de produção, de circulação e de exibição permaneceu o mesmo. Agora há um paradigma novo, com novos processos onde até a difusão já não precisa ser física. E acrescenta que este novo desafio tem muitas semelhanças com a época do surgimento do cinema. Quando, por duas décadas, muito foi tentado e discutido para formatar o cinema como o conhecemos hoje.

É o que a comédia consegue provocar. Elroy Fletcher (Danny Glover) é dono de uma decadente locadora de blockbusters. Vive pressionado pela prefeitura para mudar ou adaptar seu prédio a novas posturas. Sem dinheiro, faz uma viagem para pensar e deixa seu negócio nas mãos do atolado empregado Mike (Mos Def) e inadvertidamente na de seu amigo mecânico Jerry (Jack Black). A primeira e decisiva trapalhada de Jerry é desmagnetizar todo o arquivo de fitas VHS. Em pânico, a dupla resolve refilmar cada fita, conforme sua demanda. São os melhores momentos, onde títulos notórios do cinemão americano são recriados nos mais toscos e criativos recursos. Um exemplo: descobrem que na antiquada câmera há um botão para a imagem ficar em negativo, o que poderia sugerir a filmagem à noite. Mas como os atores ficavam irreconhecíveis, xerocam seus rostos em negativo para serem usados como máscaras. O resultado é hilário.

O negócio bomba quando a comunidade local descobre a nova arte da dupla. E de meros espectadores passam para participantes ativos nas produções, como técnicos e atores. Uma ótima metáfora com a nova geração YouTube, onde alguns toscos filmes são hoje mais vistos do que muitas produções da indústria. Quando sabemos que no Brasil mais de 60% dos jovens entre 15 e 29 anos nunca foram ao cinema e 92% dos municípios não têm sequer uma sala para exibição, o filme da indústria americana tem muito mais a dizer além das piadas.
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