Cartões Corporativos do governo: uma vitória da transparência

Há sem dúvida uma celeuma em torno dos cartões corporativos. Evidentemente que deve servir para alguma coisa, como melhorar o controle das despesas realizadas nessa modalidade. Transformar o tema em bandeira ética, como querem alguns, é um verdadeiro despropósito, que não ajuda em nada a melhora nos gastos públicos. Como disse em outra ocasião, não gosto muito de aventurar na seara ética, pois entendo ser canoa furada. Grupos descontentes por estarem fora do poder se enveredam pela defesa da ética ditando boas maneiras. Na política, é sempre alta a possibilidade de inimigos de hoje serem aliados no dia de amanhã. Um grupo partidário (ou mais partidos) prega pela ética, supostamente por ser seu adversário corrupto, porém lá na frente podem estar de braços dados. São as conveniências políticas. Quer dizer que o partido ou governo era corrupto, mas agora são aliados (ou seja, não é mais corrupto). Estranho não é mesmo. Como ficam todos aqueles que pegaram carona na onda ética anterior? Realmente, esse não é um bom ponto de partida.

A imprensa tem o dever de informar, e não é meu papel criticá-la nesse sentido. Só que às vezes o que se tem de menos é informação, mas sobram análises fundamentalistas e nada isentas. Alguém pode me chamar atenção de que exigir isenção é tolice, porém seria interessante fornecer mais informação. A cobertura da mídia em relação aos cartões corporativos sofre desse mal. Se não fosse a blogsfera, que tem ajudado a melhorar a qualidade da informação, o déficit de informação seria gigantesco. O problema é que pode levar parcela da sociedade a acreditar que menos transparência é bom. Digo isso porque há sinais de que parte da opinião pública (ou publicada como preferirem) adquiriu uma certa resistência à utilização dos cartões corporativos. A forma com que o tema foi colocado até agora pode levar o cidadão comum (inclusive a classe média instruída) ao erro de preferir o retorno da sistemática antiga: o servidor deverá portar dinheiro e trazer notas fiscais e papéis para justificar os gastos.

Os cartões corporativos do governo são um avanço para a administração pública. Ingenuidade é imaginar que papel e dinheiro na caixinha dos órgãos públicos para gastos com suplementos de fundos seriam uma melhor solução para promover transparência das despesas para a sociedade. A sistemática anterior é obsoleta e ficou para trás. Nos tempos da informática, os cartões corporativos permitem controlar mais eficazmente os gastos de servidores públicos no trabalho. Como tudo fica registrado, o usuário não poderá alegar futuramente que não realizou tal despesa. Portanto, cartão corporativo eleva a transparência. Pode-se ser contra ou a favor do governo, mas elevar a utilização do cartão é uma medida acertada.

Isso não quer dizer que não possa existir má utilização dos cartões corporativos. As notícias da imprensa nas últimas semanas mostraram indícios de que algumas despesas com cartões não foram corretas. A questão é que não há evidência de que esse seja um problema específico do cartão corporativo. A ausência de cartão não impede que despesas sejam realizadas incorretamente. Não há razão para supor que uma despesa realizada indevidamente com cartão corporativo não teria sido com a sistemática de portar dinheiro e comprovar posteriormente o gasto. A diferença é que a identificação do dinheiro gasto com cartão é feita com maior agilidade. Pode-se saber mais rapidamente dos desvios.

Antes da disseminação dos cartões corporativos na estrutura do governo federal gastava-se mais com a rubrica de suplementos de fundos (que envolvem os cartões corporativos e as chamadas contas tipo B – dinheiro nas caixinhas dos órgãos públicos). Prova disso é que as despesas nessa modalidade foram bem superiores nos anos de 2001 e 2002, em que o governo FHC gastou R$ 213,60 milhões e R$ 233,2 milhões respectivamente. Com maior utilização dos cartões, essa despesa caiu em 2003 para R$ 145,1 milhões; em 2004 de R$ 145,9 milhões: em 2005 de R$ 125,4 milhões; em 2006 de R$ 127,1 milhões; e no ano de 2007 em R$ 176,9 milhões. O governo diz que a elevação das despesas foi resultado de despesas extraordinárias como dois censos do IBGE em regiões isoladas, Jogos Pan-americanos e ações especiais da Polícia Federal. A explicação é razoável, quem quiser contestar que apresente dados mais consistentes, pois isso ainda não ocorreu.

A idéia de que houve uma explosão de gastos com cartão corporativo, sem contextualização, não é justa. Como justiça é algo utópico, a cobertura deveria apresentar simplesmente mais informação. E deixar que a opinião pública decida sozinha. Afinal, somos todos adultos. Análises distorcidas, fundamentalistas e com pouca informação, não ajudam em nada a formação de opinião. O que os números mostram é que houve uma redução nas despesas gerais de suplementos de fundos, não o contrário (como a cobertura jornalística tenta passar). Evidentemente, se há maior uso do cartão corporativo, sua despesa cresce. Mas não houve elevação do gasto geral na modalidade de suplementos de fundos. Isso é também uma informação. É uma informação tão relevante quanto aquela dos desvios (embora possam ser menos sensacionalistas). Ajudariam ao cidadão comum avaliar a verdadeira dimensão do cartão corporativo.

No caso do uso do cartão corporativo, é preciso separar o joio do trigo. O que é abuso daquilo que é absolutamente normal. A cobertura da imprensa deve conseguir separar gastos legítimos dos ilegítimos. O que se vê é uma corrida dos jornalões para apresentar todas as despesas com cartões corporativos, sem uma devida análise, como se fossem todos ilegítimos. O noticiário cobriu de gastos com a família do presidente Lula como se fossem ilegítimos, mas não deu qualquer destaque às explicações do governo (ver aqui as explicações do Ministro Chefe da Segurança Institucional - Má fé da imprensa). Nesse caso, o único erro que parece ter havido por parte do governo foi a publicação dos gastos no sítio Portal da Transparência, pois são informações que deveriam ser realmente sigilosas.

Compreendo a ansiedade da sociedade, que exige sempre mais transparência (não menos), mas não há qualquer cabimento publicar na internet, gastos do presidente, da segurança de seus familiares ou mesmo de ministros mais importantes do governo. Transparência é sempre desejável, mas há limites. Ninguém está falando que não deva ter controles (TCU, CGU ou alguma comissão especial do Legislativo), mas não deve estar disponível para quem queira acessar. Há razões de Estado que merecem prevalência nesse quesito. A segurança dos mandatários é uma delas. O governo pecou pelo excesso de transparência.

Um exemplo do absurdo na cobertura jornalística foi destacado pelo Blog do jornalista Josias de Souza, hospedado no sítio da Folha de São Paulo. O jornalista divulgou gastos do Planalto, como padarias, supermercados, casa de carnes. E sugeriu que foram gastos ilegítimos, pois os cartões corporativos seriam apenas para gastos emergenciais. Finalmente, o jornalista sugere que deveriam ser realizadas licitações públicas, pelo menor preço, para comprar os mantimentos e bebidas que servem as instalações do presidente. O pior que ele se diz espantado. Espantado estou agora com essa tese ridícula de que o presidente deveria comer carne licitada pelo menor preço. Tudo direitinho, publicado no Portal da Transparência. Realmente, a discussão tem pouca racionalidade e muito sensacionalismo. Ninguém é obrigado a gostar do governo, como também do presidente Lula, que é bem avaliado, mas um pouco de bom senso e serenidade não fariam mal.

Se há mau uso do cartão corporativo, quem fizer que assuma as conseqüências, e pronto. Porém, é preciso ser razoável. Não é possível condenar qualquer despesa simplesmente por causa do cartão corporativo. A maioria das despesas com o uso do cartão é legítima, inclusive daquelas realizadas com saque em dinheiro. Não se aprende muito transformando o tema dos cartões em bandeira ética ou instrumento de luta política. Parece que alguns, inclusive da imprensa, embarcaram nessa onda.

Se o problema for a simples luta política, seria desejável um pouco de isenção na cobertura. Como isenção é algo praticamente impossível, talvez mais informação e equilíbrio. Destacar os gastos realizados pelo Governo Serra, por exemplo. Conforme dados coletados pelo SIGEO (Sistema de Informações Gerenciais da Execução Orçamentária), informados no sítio do IG pelo Conversa Afiada do jornalista Paulo Henrique Amorim, em 2007 foram gastos mais de R$ 108 milhões em cartões corporativos do governo Serra. Desse total, mais de R$ 48 milhões foram saque em dinheiro, ou seja, 44,58% do total. Comparando com o governo federal, que tem em sua estrutura o IBGE, a Polícia Federal, a ABIN e outros órgãos que usam intensamente cartões corporativos (inclusive saques em dinheiro) pela sua especificidade, os valores do governo Serra são substantivos. Apesar do líder do PSDB na Câmara dos Deputados, Antônio Carlos Pannunzio, negar a existência dos cartões, o Secretário da Casa Civil do Governo Serra, Aloysio Nunes Ferreira, confirmou sua existência e defendeu o uso, sob o argumento de que facilita a identificação da despesa. Ou seja, seria um instrumento mais transparente.

Da mesma maneira, é dever da imprensa informar - e já que está tudo publicado no sítio do Portal da Transparência -, que o segurança do ex-presidente FHC, Eduardo Maximiano, em um único dia, 06/08/2006, encheu o tanque de gasolina do carro seis vezes. Pelos valores envolvidos, o tanque estava bem vazio. Na verdade, considerando o valor mais alto obtido pela pesquisa semanal de combustíveis da ANP (Agência Nacional de Petróleo) em Higienópolis (SP), local em que foi usado o cartão, é possível que o tanque também seja maior que o encontrado nos carros normais. Há ainda situações que o segurança do ex-presidente encher o tanque de gasolina algumas vezes até quando o ex-presidente estava em viagem ao exterior, como no dia 30/10/2007. Tudo registrado, no Portal da Transparência.

A análise política não tem espaço para a ingenuidade. Por essa razão, não espero que a imprensa forneça mais informação para seu público. A informação que ela fornece é filtrada com seus interesses maiores. O que é uma pena. Porém, o mínimo que se exigiria é uma análise mais equilibrada e razoável. O que não pode acontecer é que o instrumento do cartão de corporativo caia no desuso, voltando-se para os métodos obsoletos e pouco transparentes. Ao se fazer uma cobertura condenando qualquer despesa com uso do cartão corporativo, sem distinção, corre-se o risco de em vez de aprimorar o uso dos cartões passar-se a condena-los. O que seria um retrocesso, pois implicaria em menos transparência. Isso não significa que não se deva controlar mais eficazmente sua utilização, principalmente no tocante aos saques em dinheiro (que, em certas ocasiões, é a única forma de realizar a despesa), bem como sua distribuição. A tecnologia dos cartões eleva a transparência dos gastos públicos. Certamente não representa obstáculo.
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Um Marx pouco conhecido e valorizado

“A separação momentânea é boa porque o contato constante faz com que as coisas se tornem muito monótonas, semelhantes e difíceis de serem distinguidas. Até as torres não parecem tão altas quando vistas de perto, ao passo que as coisas pequenas e cotidianas da vida crescem sobremaneira. Assim acontece com as paixões. Os hábitos tradicionais, que mediante a proximidade se apoderam do homem por inteiro e adquirem forma passional, desaparecem assim que seu objeto imediato perde-se de vista. As grandes paixões, que em virtude da proximidade de seu objeto se convertem em hábitos tradicionais, crescem e recuperam seu vigor sob a influência mágica da distância. Assim é com meu amor. Tal como o sol e a chuva quando agem nas plantas, o tempo só faz com que ele cresça. Meu amor por você, quando você está longe, surge tal como é na realidade: um gigante, que absorve toda a energia do meu espírito e todo o ardor do meu coração. Por sentir uma grande paixão, sinto-me de novo um homem.

A diversidade de temas em que o estudo e a cultura moderna nos enredam, tanto quanto o ceticismo com que necessariamente viciamos todas as impressões subjetivas e objetivas, têm o dom de nos tornar pequenos, fracos, ranzinzas e indecisos. Mas o amor – não o amor pelo homem feuerbachiano, não pelo metabolismo de Woleschott, não pelo proletariado, mas o amor pelo amorzinho, ou seja, por você – transforma novamente o homem em homem”.

[Marx, Carta a Jenny von Westphalen, 21/06/1856. Citada por Ernst Fischer, O que Marx realmente disse, Ed. Civilização Brasileira, p. 11]

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CPI dos Jabás!

Quero lançar uma campanha a favor da CPI dos Jabás.
Relacionando os presentinhos dos mais pequenininhos até os impublicáveis às matérias favoráveis aos "presenteadores" nos jornais do dia seguinte. Não sobraria um, hein?
O que a Veja faz não é sua prática exclusiva... jornalismo de venda de notas e feito com releases recebidos por email, com zero de apuração.
O clima das *grandes redações*, centradas em si mesmas, e com uma relação mais que promíscua com as assessorias me leva a crer que em pouco tempo o Nassif só vai fazer post sobre a decadência do nosso "jornalismo"...
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Eleições americanas 2008: superterça deixa indefinida indicação democrata e aumenta a vantagem do republicano Jonh Mccain

As primárias americanas para a eleição presidencial de 2008 colocam em xeque alguns dogmas da política americana. Um freqüente é de que jamais uma mulher seria eleita presidente dos EUA. Outro é que um negro não seria indicado candidato numa eleição majoritária. E também há a crença de que a população hispânica não vota em candidato negro. Todas essas declarações estão sendo reescritas nesta eleição. Obama tem surpreendido não só entre os negros, como também entre hispânicos, tradicional reduto eleitoral dos Clinton. E, certamente, tornou bastante árdua a antes quase certa indicação de Hillary Clinton. Hillary, por outro lado, sendo indicada é grande sua possibilidade de chegar à Casa Branca. O problema é que sua indicação é cada vez mais incerta, ainda mais após os resultados da superterça.

Do lado republicano, é fácil apontar um vencedor: John McCain. Apesar do resultado da superterça não ter sido suficiente para confirmar sua indicação, sua vantagem sobre os oponentes no Partido Republicano Mitt Romney, ex-governador de Massachussets, e Mike Huckabee, ex-governador de Arkansas, o deixam em condições de lutar pela união do partido, o que poderá converte-lo em forte candidato para as eleições presidenciais de novembro. McCain tem a desconfiança dos setores mais conservadores do partido, mas certamente temem muito mais a vitória democrata.

No campo democrata, a superterça deixou embolada a disputa, sem uma definição. Barack Obama venceu em 13 (treze) estados, porém obteve menor número de delegados. Isso aconteceu por que Hillary Clinton venceu em três dos quatros maiores – Nova York, Califórnia e Nova Jersey - estados americanos. Perdeu em Illinois, estado do pré-candidato Barak Obama. Com vitória em 08 (oito) estados, Hillary Clinton contabiliza 825 delegados, contra 732 delegados de Obama, segundo a rede de tv americana CNN. A vitória de Hillary é parcial, tendo em vista que até duas semanas atrás liderava em 17 estados da superterça, mas só teve vitória em oito. Colorado ainda permanece indefinida a disputa. Como a contagem de delegados democratas é proporcional à votação, o resultado de Colorado não deve mudar em muito a situação de Hillary e Obama.

É emocionante essa disputa democrata. O que está praticamente certo é que nenhum dos candidatos obterá a indicação nas primárias do partido, ou seja, um total de 2025 delegados necessários para a indicação. A percepção que fica da superterça é de empate, em que cada um dos lados apresentará como vitória. A vantagem de Hillarry contrasta com suas dificuldades de manter o favoritismo. Não há qualquer dúvida de Obama cresceu perigosamente, e mesmo perdendo em estados maiores, tem alguns pontos a seu favor.

O primeiro e talvez mais importante é o dinheiro. Barack Obama arrecadou em janeiro 32 milhões de dólares para sua campanha, enquanto Hillary Clinton arrecadou apenas 13 milhões. Outro problema da campanha de Hillary é que a maioria de seus doadores bateu o limite legal. São lobistas e grandes doadores. Hillary poderá ter dificuldades em angariar mais fundos. Obama bate recorde de arrecadação em outra fonte de doadores, o cidadão comum. Há um vasto número de pequenos doadores mobilizados pela internet, que estão longe de qualquer limite legal. Dessa forma, a campanha Hillary pode ter um problema financeiro, o que dificultará para ela comprar tempo na televisão para continuar a campanha. Nesse cenário, Hillary deve começar a pedir debates, o tempo gratuito da televisão.

O segundo ponto a favor de Obama é a tendência geral do voto que favorece seu crescimento. Até pouco tempo atrás, Hillary Clinton parecia inevitável sua candidatura. Em pouco menos de um mês, Obama virou o jogo em estados em que era certa sua derrota. E conquistou apoio de figuras de Hollywood e de políticos de peso, como o senador democrata Ted Kennedy. A Obamania é um fenômeno cada vez mais forte nessas eleições americanas. A mensagem de mudança parece ter encantado parte do eleitorado americano, cansado da paralisia provocada pelas disputas partidárias de Washington. O infalível cálculo político de Hillary, bem como a experiência de primeira-dama, não favorece a esse desejo de mudança. São os clãs dos Clinton contra a esperança de renovação política de Barack Obama. Persistindo esse cenário, a candidatura de Obama deve continuar em crescimento, seguindo a tendência do voto.

Finalmente, o calendário das próximas primárias democratas não favorece Hillary Clinton. No próximo dia 09 de fevereiro, os democratas realizarão prévias em Washington State, Nebraska, Ilhas Virgens e Louisiana. No dia 12, as primárias democratas acontecem em Maryland (que tem uma significativa população negra) e Virgínia, onde Obama é favorito. Definitivamente, o calendário mais recente não favorece a candidatura de Hillary, que pode ver seu oponente aproximar-se ainda mais na quantidade de delegados para a convenção democrata nacional.

Um fator, no entanto, favorece Hillary Clinton. É o establishment do partido democrata. Na convenção nacional votam também os chamados super-delegados, os membros da hierarquia do partido. O peso do voto de um super-delegado supera a de um delegado eleito nas primárias. Essa foi uma maneira que o partido encontrou para dar poder as forças que controlam a máquina democrata, impedindo que as primárias definissem isoladamente os candidatos democratas. Obama obteve alguns apoios importantes na máquina democrata, como o senador Ted Kennedy. Mas ela é ainda amplamente favorável a Hillary Clinton.

A verdade é que Hillary pode ainda ter alguma vantagem. Não só sai com maior número de delegados na superterça como também poderá ter apoio da maioria dos super-delegados. Porém, a candidatura de Obama mexeu com o tabuleiro do jogo. A percepção é de que Barack Obama foi vencedor, embora Hillary possa dizer que venceu nos estados maiores. Essa percepção pode induzir o voto dos eleitores de outros estados que ainda não realizaram prévias, contribuindo para elevar a tendência de voto em Barack Obama. Se o pré-candidato Obama virar o jogo e super Hillary no número de delegados, e ainda mostrar-se o mais competitivo para chegar à Casa Branca, atraindo jovens eleitores, negros e hispânicos, a tendência de voto dos super-delegados pode não se confirmar. E a política americana poderá ter superado dois dogmas importantes: (a) um negro jamais seria indicado para uma eleição majoritária; (b) um negro eleito presidente. Só faltaria uma mulher chegar à presidência dos EUA, mudando completamente os dogmas da política americana.
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Do Blog do Ildelber Avelar: Guia completo da super terça-feira democrata

Um blog que vem cobrindo as primárias democratas americanas é “O biscoito fino e a massa”, de Ildelber Avelar. Suas análises, gráficos e dados, são uma boa referência para aqueles que desejam saber algo mais sobre as eleições americanas. Olha o que ele colocou em seu blog.

Aí vão algumas observações sobre o estado atual das pesquisas nos estados da Super Terça. Estas primárias democratas não serão do tipo “vencedor leva tudo”, mas também não são exatamente proporcionais. Na maioria dos estados, o vencedor de cada distrito leva a totalidade dos delegados do dito cujo. O saldo de gols, portanto, importa, mas vencer um estado por 60 x 40 não garante 60% dos delegados. Todos os gráficos abaixo foram retirados do Talking Points Memo e parte da minha análise também é baseada na do Josh Marshall, que tem sido um ótimo guia da campanha. Boa parte dos outros blogs democratas se perderam neste ano. A observação vale para os dois lados.



Alabama, 52 delegados: Hillary chegou a estar na frente por 20 pontos em algumas pesquisas, mas a situação atual é de empate técnico. A diferença caiu 10 pontos em uma semana. No Alabama, o eleitorado negro é parte significativa da primária democrata e há motivos para acreditar que a goleada de Obama na Carolina do Sul terá impacto por lá. A curva da pesquisa é clara.

Alaska, 13 delegados: Não há pesquisas. É um dos estados mais “vermelhos” (Republicanos) da União e os Clinton não são exatamente populares por lá. Tudo aqui é chute, mas eu cravaria um 8 x 5 ou um 7 x 6 para Obama.

Arizona, 56 delegados: O TPM está trabalhando com uma pesquisa que mostra Hillary na frente por 10 pontos, mas a Rassmussen de hoje já mostra 46 x 41, quase um empate técnico. A popular governadora Janet Napolitano apóia Obama e o congressista Raul Grijalva pulou do barco de Edwards para o de Obama. Este é um estado que você já pode cravar Republicano em novembro. McCain não perde lá de jeito nenhum. Nas primárias democratas, no entanto, o Arizona é importante. Escrevam aí: esta pesquisa do AZ Central, dando vantagem de 21 pontos para Hillary, está maluca.

Arkansas, 35 delegados: Não há pesquisas, mas é goleada de Hillary, claro. É o seu antigo estado. Bill Clinton lá é mais popular que Elvis Presley. A esperança da campanha de Obama é abocanhar alguns delegados graças à população afro-americana de Little Rock.

Califórnia, 370 delegados. Não há dúvidas: é o estado chave. Acompanhe com interesse qualquer movimentação de 1 ponto na Califórnia na terça-feira. Hillary chegou a estar na frente por 25 pontos. O gráfico abaixo mostra um 45 x 37, mas a Rassmussen de hoje já registra um empate técnico: 43 x 40 para Clinton. O dado mais interessante da pesquisa de hoje é que Edwards ainda consegue 9%, número que ele dificilmente manterá na terça, apesar de que seu nome ainda consta da cédula. A migração desses votos é decisiva. Para tornar a coisa mais emocionante, só 69% dos eleitores declaram ter certeza de seu voto. É um número baixo, considerando que estamos na antevéspera das primárias.

Colorado, 55 delegados. Obama lidera por 2 pontos, ou seja, a situação é de empate técnico. Como o antigo prefeito de Denver, Federico Peña, só há pouco tempo declarou o apoio o Obama, seus números entre o importante eleitorado hispânico devem crescer.

Connecticut, 48 delegados. Outro importantíssimo estado. Hillary teve enorme vantagem aqui, mas os apoios de Caroline e Ted Kennedy, do vizinho Massachusetts, sem dúvida tiveram seu impacto. A pesquisa que está manejando o TPM mostra empate, mas a Survey USA dá Obama 48 x 44. Não se assuste se essa diferença aumentar.

Delaware, 15 delegados. Não há pesquisas.

Geórgia, 87 delegados. Obama está na frente por 6 pontos. Os negros representam 47% dos eleitores das primárias democratas. Ali é batata: quanto mais gente votar em Atlanta e na cidade universitária de Athens, terra do nosso querido REM, melhor para Obama. Quando mais gente votar nos subúrbios ricos e no meio do mato, melhor para Hillary.

Idaho, 18 delegados. Acreditem em mim: qualquer pessoa que disser que sabe o que vai acontecer lá está chutando.

Illinois, 153 delegados. Goleada fácil de Obama, senador pelo estado. É possível que seja a maior diferença de toda a Super Tuesday. Não se espante se Obama vencer com o dobro de votos de Hillary. Quanto maior for o comparecimento, evidentemente, melhor para ele.

Kansas, 32 delegados. Não há pesquisas, mas é o estado em que moraram os avós maternos de Obama e ele tem o apoio da governadora Kathleen Sebelius. O Biscoito aposta numa vitória de Obama por margem que pode ir de pequena até bem significativa.

Massachusetts, 93 delegados. Estado importante, e não só pelo número de delegados. Hillary tinha uma vantagem imensa, mas o apoio dos nativos Ted e Caroline Kennedy fez toda a diferença. A Hassmussen ainda registra 43 x 37, mas a diferença vem caindo em ritmo vertiginoso. Se Obama vencer Massachusetts, será a virada do século. Comparável àquele 4 x 3 do Vasco no Palmeiras.

Minnesota, 72 delegados. Há uma vantagem pequena de Clinton. Outra batata demográfica: Obama vence nas “cidades gêmeas” (Minneapolis e Saint Paul) e Hillary vence nos subúrbios ricos. As áreas rurais registravam forte apoio a Edwards e podem decidir a parada.

Missouri, 72 delegados. Quadro muito parecido, com vantagem pequena para Clinton.

New Jersey, 107 delegados. A vantagem de Clinton aqui é bem grande. A pesquisa da Quinnipiac registra Clinton 49 x 32 Obama.

New Mexico, 26 delegados. Não há pesquisas. Um espirro do Governador Bill Richardson aqui, para um lado ou outro, pode decidir a parada. Ele é bem popular.

New York, 232 delegados. Será uma vitória de Clinton, sem dúvida. Ela é senadora pelo estado. Mas o que se esperava era uma goleada e talvez não seja bem assim. A pesquisa da Rassmussen registra um 52 x 34. A curva é semelhante a dos outros estados, com crescimento de Obama, especialmente na cidade de Nova York. No norte do estado e nos subúrbios, é goleada de Clinton.

North Dakota, 13 delegados. Não há pesquisas. Sim, há seres humanos morando lá.

Oklahoma, 38 delegados. Vantagem bem significativa de Clinton. Edwards tinha muito apoio aqui e estava em segundo nas pesquisas, na frente de Obama. A Survey USA de 27/01 dava Hillary com 44%, Edwards com 27, Obama com 19. Para onde migrarão os 27 de Edwards é chave, claro. É bem possível que migrem majoritariamente para Hillary, aumentando ainda mais a vantagem sobre Obama.

Tennessee, 68 delegates. Vantagem bem razoável de Hillary. Tennessee deve seguir o padrão de outros estados do sul, com voto racializado. O eleitorado negro lá, no entanto, é bem menor que o da Carolina do Sul ou da Geórgia (representarão não mais que 23% das primárias democratas). Minha aposta é que Clinton leva, não sei por quanto.

Utah, 23 delegados. Num dos estados mais “vermelhos” (Republicano) e mais brancos (racialmente) do país, Hillary lidera com boa margem. Mas Obama viaja para lá amanhã. Deverá haver gente no comício que estará vendo, pela primeira vez na vida, um negro ao vivo fora da arena de basquete do Utah Jazz.

Como se vê, a tendência é de curva ascendente de Obama na maioria dos estados. Não se sabe se ela é acentuada o suficiente. O jogo estava 4 x 1 para Clinton no primeiro tempo. Estamos a 30 minutos do segundo e Obama já encostou, 4 x 3. Os quinze minutos finais serão eletrizantes. O Biscoito acompanhará, na noite de terça-feira, em tempo real.



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